Como um adolescente em sua fase de conflitos a inclusão digital no Brasil tenta buscar a sua identidade. Mesmo sendo reconhecida como uma política pública, ela (os programas de Inclusão Digital) continua sendo tratada pelos governantes de nosso país como em sua infância, um simples projeto de alfabetização digital. Neste sentido, devemos sim considerar que este estágio de alfabetização digital de certa forma está sendo resolvido e superado pelo próprio mercado de consumo, onde naturalmente os computadores e os smartphones estão entre os principais bens de consumo da população brasileira.
Entretanto, as avaliações precipitadas sobre o funcionamento de um telecentro são recorrentes. A falta de conhecimento acerca dos impactos dos telecentros nas comunidades e na vida dos usuários, bem como a obsessão pela quantidade de pessoas atendidas por estes espaços, induzem boa parte dos envolvidos na promoção destes projetos a realmente questionar se de fato os telecentros estão cumprindo seu papel de promover a inclusão social de seus usuários.
Neste sentido, o que podemos entender por inclusão social? O dicionário Houaiss define inclusão social como “integração de uma pessoa ou um grupo de indivíduos especialmente das classes menos privilegiadas na sociedade, possibilitando-lhes os benefícios da plena cidadania”.
Muitos avaliam que o tipo de acesso realizado pelos usuários dos telecentros não promove a inclusão social simplesmente porque o acesso é voltado para a “diversão”, ou seja, se concentram em acessos a jogos e redes sociais. Ainda que o acesso a jogos e redes sociais sejam considerados por alguns especialistas atividades sem fins pedagógicos, vale ser considerado os números divulgados em sites de pesquisas em que são apresentados os acessos realizados por usuários já alfabetizados digitalmente. Segundo o site Alexa (www.alexa.com, acesso em maio de 2013), entre os dez sites mais visitados por usuários brasileiros, 8 estão relacionados a sites com conteúdos criados pelos usuários (blog, vídeos, posts) e redes sociais e apenas 2 são portais de notícias. Neste sentido, seguindo a lógica da experiência dos usuários já alfabetizados digitalmente o acesso a redes de produção e compartilhamento de conteúdo pode ser considerado, sim, inclusão social.
Além dos cursos de alfabetização digital poucos projetos de telecentros oferecem cursos ou até mesmo algum tipo de atividade que possam ser significativos para a comunidade local. São projetos genéricos que não buscam potencializar as características e a cultura de uma região. Estes projetos não reconhecem tampouco capacitam de forma correta os monitores destes espaços para que os mesmos possam agir como verdadeiros agentes de inclusão digital. Com propostas de cursos já ultrapassados, estes espaços cada vez mais perdem a sua essência de inclusão e cada vez mais são vistos simplesmente como espaços para a informatização de seus usuários.
Os telecentros não devem ser avaliados apenas pelos números de acessos e as questões relacionadas às tecnologias e sim os seus impactos na comunidade que está além desta visão míope. As avaliações sobre a eficácia dos projetos ou programas de inclusão digital não verificam o grau de satisfação dos usuários, muito menos se este contribuiu para algum tipo de mudança na vida de quem o utiliza.
Após uma década de investimentos e incentivos fiscais para fomentar a compra de computadores de mesa ou portáteis, no Brasil segundo a Pesquisa TIC Domicílios e Usuários 2011, estes equipamentos estão presentes em 45% das residências brasileiras. Mas segundo a pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil (TIC Domicílios e Usuários 2011), 48% da população brasileira ainda não teve acesso a um computador. Pelo lado do acesso a rede mundial em recente pesquisa divulgada pelo IBGE a internet ainda é inacessível para 104,7 milhões de brasileiros com mais de 10 anos. Estes números reforçam cada vez mais a necessidade de investimentos mais objetivos e intensos dos projetos de inclusão digital em nosso país.
Por fim, os projetos de inclusão digital deverão ser administrados considerando as culturas regionais, propondo cursos coerentes com a realidade local e menos genéricos, além de atividades que possam potencializar iniciativas empreendedoras, culturais e a articulação comunitária, enfim mostrar a sua nova identidade.