Alexandre Zaballa Dias é geógrafo, funcionário do Tribunal de Justiça e trabalha com a Dona Patroa – não necessariamente nessa ordem de importância…
E não, ele não é o cara dessa foto aí de cima!
Dia desses ela me trouxe uma carta – na verdade, um par delas – que ele elaborou de si para si mesmo. Escrever uma carta para você mesmo no futuro é semelhante a uma cápsula do tempo: ficará arquivada, talvez escondida, aguardando seu eu do futuro recebê-la, talvez com mensagens de esperança, lembranças ou advertências sobre coisas importantes.
Da mesma forma, escrever uma carta para você mesmo no passado é uma forma de gerar reflexões importantes sobre sua própria vida, compreender melhor os rumos que o levaram até o dia (e a pessoa) de hoje e até mesmo inspirar outros indivíduos.
Mas, neste caso, o interessante não é só a carta que ele mandou para o amanhã, mas, também, que foi respondida!
Acompanhem com que leveza e objetividade ele desenvolve estes saborosos textos…
Caro Alexandre mais velho:
Aqui quem te escreve é o Alexandre de muitos anos atrás. O motivo desta mensagem é o seguinte: eu já sei o que quero ser quando crescer. Quero ser caminhoneiro. Amo viajar, contemplar as paisagens, ver a beleza que é o nosso país. A prova disso é que amo ir para a casa de nossa avó no Rio Grande do Sul, não durmo na viagem, sempre atento a tudo. Nossos irmãos são divertidíssimos, gostamos de brincar de tudo, às vezes brigamos, mas logo voltamos a brincar. Mudamos para esta cidade nova e na nova escola me apaixonei pela Fernanda, uma menina linda, quero muito namorar com ela e casar. Nossa mãe é muito brava, nos coloca para estudar a toda hora e fazer deveres de casa, como lavar louça, arrumar o quarto e varrer a casa. Detesto isso, acho que ela não me ama. Gosto muito de gibis, principalmente da Turma da Mônica. Nossos primos são muito legais, mas agora estamos em outra cidade, quase não os vejo. Nosso pai foi embora de casa, nunca mais o vi, tenho saudades.
É por isso que te escrevo, Alexandre-mais-velho. Para te esclarecer algumas coisas sobre o futuro. Em primeiro lugar, nunca deixe de ter um coração de criança, brincar com seus irmãos e primos, ler gibis da Mônica e sonhar. Envelheça parecido com nossos avós, que são super legais, faça coisas diferentes e seja muito feliz.
E, aqui, sua resposta!
Caro Alexandre mais novo:
É com muito desconforto que te escrevo essa mensagem. Para começar, só temos a nossa avó, mãe do nosso pai, os outros morreram. Dá pra acreditar? Sei que é uma surpresa, mas as pessoas morrem. Não adianta perguntar, não vou conseguir responder, mas as pessoas legais do mundo morrem. O fato é que não sou quem você esperava ser, não me tornei caminhoneiro. Aquela menina que você conheceu, a Fernanda, você foi apaixonado por ela até os 15 anos, um dia ela mudou (não sei para onde) e você nunca disse a ela o que sentia. Você se afastou da família do seu pai, passou 32 anos sem ver ninguém, acredita nisso? Dos nossos irmãos, cada um tomou um rumo e você só os encontra me ocasiões especiais. Sim, meu amiguinho, o tempo muda as pessoas. Você se casou e tem duas filhas, continua a ler gibis da Mônica, só que agora para elas – são maravilhosas! Sua mãe continua brava, mas agora você entende porque ela é assim. Apanhou muito dos pais que não queriam que ela estudasse. Ela, contrariando as expectativas, tem três graduações, pós, fala espanhol e está aprendendo inglês. Ela faz tudo isso com você porque te ama e quer o seu melhor. Por muito tempo você foi acomodado, não terminava nada que começava e ainda por cima carregou malas indesejadas como o rancor, ódio, frustração, não sabia perdoar. Você se separou, entrou em depressão, aí conheceu seu melhor amigo: Jesus.
Começou e terminou sua graduação, trabalha no Tribunal de Justiça em São José dos Campos, em um cartório maravilhoso, onde tem aprendido muito. Você agora tem sonhos palpáveis, você tem planos de crescer espiritualmente e financeiramente. Aprendeu que você só colhe o que planta, então você está semeando novas sementes. Não carrega mais pesos desnecessários e valoriza muito sua mãe, filhas e amigos.
Super bem feita essa carta, parece até realmente um escritor, parabéns pai, muito orgulho de ti!
Alexandre, fui procurado no Palácio da Justiça, por um senhor que portava o documento de um veículo que ja foi teu, e precisava te localizar para reconhecer firma e regularizar a trânsferência. Tentando ajuda-lo encontrei essa página e me emocionei. percebi quão longe estou do Marcelo que lia os gibis da turma da Mônica na década de oitenta. Lembrei de amigos,colegas,professores e familiares que se foram ou afastaram-se.
A lista de pessoas que entraram e sairam da minha vida e que me vieram à mente foi imensa, lembrei de O Pequeno Príncipe e quantos cativei e por quantos fui cativado ao longo dessas décadas
Entendo os momentos e os motivos de cada um, e tenho consciência de que, às vezes, os caminhos levam as pessoas para longe. O problema é que essa consciência não faz doer menos.
Obrigado pelos sentimentos despertados.