De volta à Prefeitura
Continuei com minha pacata vidinha de estagiário na Justiça do Trabalho, aprendendo cada dia um pouquinho a mais sobre esse tal do mundo do direito… Às sextas tinha o estágio obrigatório na universidade na parte da tarde, o que me consumia o dia inteiro. E nos demais dias? Ampliava minha rede de clientes, vendia microcomputadores para uns, visitava outros para configurar suas máquinas em suas próprias casas, essas coisas.
Por conta dos meus antigos contatos, no primeiro semestre de 96 acabei conseguindo um outro trabalho de Instrutor de Informática para um grupo de gerentes que trabalhavam em empresas de gás, lá pro lado do bairro Cerejeiras – ou seja, longe bagarái! O único horário disponível que eles tinham era o do almoço, de modo que eu terminava o estágio e já pegava o ônibus para o outro lado da cidade para dar conta do compromisso.
Após alguns meses nessa batida, extamente em 11 de março de 96, estava eu de volta à Prefeitura de São José dos Campos, desta vez como Estagiário de Direito.
E vejam só como minha vida era “fácil”: morava na Zona Norte da cidade e de manhã ia para o estágio na Justiça do Trabalho no Centro, na hora do almoço atravessava a cidade de busão para dar aulas de informática lá na Zona Leste, voltava para o Centro para o estágio na Prefeitura na parte da tarde, subia à pé para as aulas na Univap à noite e, de quebra, montava e configurava computadores pela madrugada adentro.
Não me perguntem como eu conseguia, só sei que conseguia…
Quanto ao estágio na Prefeitura, foi riquíssimo! Como já conhecia toda a estrutura e boa parte do povo desde a minha primeira passagem pelo Paço, foi muito mais fácil a “adaptação”. Aprendi a elaborar pareceres, peticionar em processos judiciais, conhecer um pouco mais sobre como é o direito “do lado de lá”, ou seja, sob a ótica da Administração Pública e, sobretudo, dei meus primeiros passos na área de licitações – o que viria a ser essencial para meu próprio futuro profissional.
Fiz novos contatos e conquistei novas amizades para uma vida inteira!
Entre advogados e estagiários, essa era a nossa turma!
Mas, em especial, foi gratificante fazer parte da equipe da então Prefeita Ângela Moraes Guadagnin! Mulher digna, humilde, forte e de caráter incontestável. Eu, que desde sempre já tinha uma percepção diferenciada no que diz respeito às questões sociais – mas deixava esse negócio de “política” para conversas nos botecos da vida e ainda assim de vez em quando – bem, ali, trabalhando com todo aquele povo em prol da cidade, ficou tudo muito claro. Ela ganhou meu voto para sempre e eu me defini de vez como sendo de esquerda. Com orgulho. E continuo sendo.
Aliás, também foi lá que conheci aquela que viria a ser minha futura esposa e mãe de meus três filhos…
Eliana Mieko Miura, futura Dona Patroa…
Mas tudo que é bom um dia acaba… Naquela época ainda não havia sido instituída a possibilidade de reeleição e a administração em vigor não conseguiu fazer seu sucessor, de modo que o final do ano de 96 foi permeado tanto de festas quanto de despedidas.
Lembrança de uma de nossas últimas festas…
Mais uma…
E meu casamento de então, pelos mais variados motivos, estava cada vez mais se esfacelando. Não duraria muito mais.
Meu estágio na Prefeitura, minha principal fonte de renda, encerrou-se em 31 de dezembro de 96. Já meu casamento, bem, isso foi um pouco antes. Deixei tudo pra trás, tendo levado comigo somente minhas roupas, minha coleção de gibis e meu computador (que logo também seria vendido). Até tentei encontrar alguma pensão baratinha, mas no final acabei mesmo indo me alojar “por uns tempos” num quartinho na casa de meu irmão mais velho.
Apesar de ter me formado, ainda precisava passar no Exame da OAB, sem o que não teria sequer como pensar em começar a querer advogar.
Comportados formandos da Turma de Direito de 96.
Resumo da ópera: do alto dos meus 27 anos, lá estava eu, mais uma vez desempregado, separado, morando de favor, formado e sem poder advogar…
Dramático, não?