Veredas da Vida – VII

Outro interlúdio

Janeiro de 97 começou daquele jeitão, quente, modorrento, sem muita vontade de saber pra onde ia…

Eu tinha prestado o Exame da Ordem no final de 96 – e adivinhem? REPROVEI.

Já havia passado na primeira fase e, na segunda, escolhi uma matéria com a qual sempre havia me dado bem: Direito do Trabalho. Mas fui fazer a prova com uma CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) desatualizada e a “pegadinha” da prova foi que a peça era baseada exatamente em uma lei que alterou a legislação em agosto de 96. Carái! Nem que eu tivesse comprado uma CLT novinha eu teria conseguido passar!

Enfim, estagiário por estagiário, não me custava nada oferecer meus serviços para começar a trabalhar – ainda que fosse sem nenhuma remuneração. Afinal de contas, o “NÃO” eu já tinha…

E quem me deu essa oportunidade foi o Luisinho (a.k.a. Luís Henrique Homem Alves), advogado que conheci na Prefeitura e franqueou as portas do escritório para que eu de fato trabalhasse no ramo. Como ele continuava trabalhando na Prefeitura (ao menos ainda por mais algum tempo) e a Mieko (a.k.a. futura Dona Patroa) já cuidava das ações dele, fui meio que colando ali, ajudando no que podia, atrapalhando no que não devia e a cada dia aprendendo um pouquinho mais com a experiência que ele já tinha. E, de quebra, passava o dia inteiro com ela – o que, convenhamos, não era nada mau…


Meu primeiro cartão num escritório de advocacia!
(E, sim, era daqueles de formulários de impressão…)

Nesse meio tempo eu já havia passado no Exame da OAB e o Luisinho havia se associado com outros amigos de longa data (Arlei, Nanau, Fabião e Doni) para formar uma sociedade de advogados: Rodrigues, Sanchez e Ribeiro – Advogados Associados.


Não era integrante da sociedade, mas fazia parte do time!

A Mieko já estava por lá e logo vieram também a Nani (irmã do Nanau), Andréa Prado e o Luiz Eduardo, dentre outros. A casa, bem na esquina oposta aos “Três Patetas”, próxima ao Fórum, era grande e tranquilamente (quase) comportava todo mundo. Cada qual tinha suas próprias ações, em alguns casos trabalhávamos em conjunto e também havia a clientela específica do escritório, enquanto sociedade, e nesse caso todo mundo cobria todo mundo.

Sem deixar minhas “aptidões informáticas” de lado, fui eu que instalei toda a rede interna do escritório (naquele tempo ainda através de cabos coaxiais), bem como montei um “mini-servidor” para hospedar o programa gerenciador de processos judiciais. Isso facilitou muito os próximos passos: a instalação e o compartilhamento da Internet, que ainda estava dando seus primeiros (e caros) passos na área comercial do Brasil, bem como a configuração de “programas coletivos antiestresse para o final do expediente” – os preferidos eram Doom, Quake e Duke Nukem…

Já do ponto de vista profissional, eu e a Mieko assumimos as ações do Luisinho, dentre elas muitas trabalhistas. Para dar conta do recado nós construímos um sistema de planilhas para cálculos de liquidação de sentença que, modéstia às favas, ficou pra lá de excepcional! Mesmo anos depois de já termos saído do escritório as fórmulas que criamos para apurar valores continuaram plenamente funcionais. E, lógico, rendendo uma graninha…

Foi uma boa época, bastante divertida, aprendendo com quem já conhecia do ofício, conhecendo novos profissionais, fazendo novos amigos, desenvolvendo minhas próprias técnicas e por aí afora. E, lógico, comemorando de vez em quando porque ninguém é de ferro!


Festinha de fundo de quintal, no próprio escritório!


Uma boa churrascaria que já não existe mais…

O ano de 97 se encerrou e o de 98 chegou. Minha clientela particular, bem aos poucos, foi aumentando (na realidade levou quase 9 meses para ter o meu primeiro cliente, meu, meu mesmo…), comecei a escrever e publicar regularmente na Internet e o derradeiro fim de meu casamento se deu com a audiência de divórcio, exatamente no dia 23 de abril de 1998. Nesse meio tempo até que houve algumas tentativas de reconciliação, mas eu já não tinha mais nada a oferecer para aquela relação. Foram dez anos, mas acabou. Nunca mais ela voltaria a falar comigo.

Mas a vida continua.

No final desse mesmo ano, em 12 de dezembro de 1998, já não tendo “aprendido” da primeira vez, pela segunda vez casei-me.


Casado novamente!

Um pouco antes disso a Mieko havia passado num concurso para Escrevente (ela já havia sido escrevente por vários anos, antes de ter passado quatro anos no Japão – mas isso é para uma outra história…) e seu local de trabalho seria no Fórum da cidade de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo.

O ano de 1999 chegou e vejam só a sina do caboclo: apesar de casado, morando num quartinho na casa dos pais, pois aquele “bem bolado” com meu irmão tinha prazo de validade (aliás, com meu outro irmão, também), com uma boa clientela no escritório, onde eu ficava a semana inteira e, nos finais de semana, obrigatoriamente ia para a praia viver minha “vida de casado”. Êita tempinho bão!

Também foi nesse ano que tivemos nosso primeiro filhote: o Kevin.


Ô fotinho mal tirada! Ainda não havia câmeras digitais…

O ano acabou, 2000 chegou (e o mundo continuava inteiro), ainda que com alguma dificuldade e depois de muitas negociações a Mieko havia conseguido ser transferida para o Fórum de São José dos Campos (tendo passado – vejam só! – um curto período no Fórum de Jacareí), já tínhamos nossa casa própria (ou melhor, aluguel próprio), uma boa clientela e somente boas perspectivas pela frente!

Mas a vida – A VIDA! – é uma caixinha de surpresas… Tendo caído parte da clientela do escritório (o da sociedade de advogados, lembram-se?) todos nós, “agregados”, fomos chamados para ajudar nas despesas. Mas, para mim, a conta não fechava. Cheguei à conclusão que acabaria sendo mais negócio montar meu próprio escritório, ainda que em conjunto com outrem.

E assim o fiz.

E em abril de 2000 despedi-me da sociedade de advogados, mas jamais dos amigos que a integravam, partindo – mais uma vez – para novos rumos inesperados.

(Continua…)