Juridiquês avançado

Essa mensagem foi encaminhada à Dona Patroa pela amiga Fernanda Mizumoto, colega de trabalho, de Fórum, de almoço, de aniversários, de risadas, etc.

A fonte dessa pérola foi o finado site No Mínimo, em 22/06/07:

Com fincas ao dealbar…

‘Declino à conspícua escrivania o presente encartado, com fincas ao dealbar nesta urbe do luculento arconte, que inaugura a comarca.’

O despacho datado de 17 de maio de 2007 e assinado pelo juiz substituto Marcus Abreu de Magalhães, da recém-instalada comarca de Sonora (MS), é uma obra-prima. A prova do crime está aqui.

Tradução? Não, eu jamais estragaria a diversão dos leitores.

Há quem separe a clamorosa ineficiência da Justiça brasileira de sua paixão mórbida pela prosopopéia. Eu não.

O que “dá um post”?

Outro dia a Ana Téjo falou, ainda que indiretamente, sobre isso. Foi através de um vídeo do Youtube – o qual demorei um bocado pra assistir, pois no trabalho esse acesso é bloqueado…

Mas, ainda assim, ei-lo aqui:

 
A idéia sobre esse post ficou meio que martelando em minha cabeça depois de uma conversa ontem com a Dona Patroa, quando, pela tricentésima quinquagésima oitava vez, eu tentava convencê-la a escrever um post de vez em quando. “Mas eu escrevo”, ela disse. Expliquei-lhe que não estava falando dos comentários, mas sim de algum texto mesmo, completo, de sua autoria, esse sim a ser aberto a comentários, afinal ela tem tanta experiência – tanto pessoal quanto profissional -, idéias de vanguarda, posicionamentos técnicos, sensibilidade a questões jurídicas e sociais, dentre inúmeras outras qualidades, que seria um desperdício não compartilhar isso com outrem.

Não sei se a convenci. “Falta tempo”, diz ela sempre. Mas acho que ficou plantada uma sementinha…

Mas isso também nos leva à questão seguinte: afinal de contas, o que “dá um post”?

Comentar sobre as matérias, posicionamentos, idéias e mesmo comentários de outros blogueiros de plantão dá um post.

Compartilhar ideias criativas, interessantes, diferentes ou exóticas encontradas nos meandros da Internet ou até em revistas impressas dá um post.

Comentar notícias do mundo afora dá um post.

Idéias que ficam martelando dentro da cabeça, suplicando pela liberdade, querendo se manifestar no mundo físico, bem, isso dá um post.

Situações do dia a dia, quer sejam corriqueiras, quer sejam estapafúrdias, dá um post.

Ligar para um departamento da Prefeitura e eles informarem que não é daquele departamento, mas da Prefeitura, dá um post.

Pegar um dos chefes de mais alto escalão, que é totalmente introvertido, caladão mesmo, e obrigá-lo a fazer um discurso de abertura num evento, dá um post. Sacaneá-lo colocando nesse discurso apenas palavras complexas de mais de dez sílabas também dá um post…

Falar sobre o caboclo que passou na rua com uma bicicleta de carga, carregando o filho (com a maior cara de alegre) em lugar da carga, dá um post.

Descrever como seria a troca de dois garçons pentelhos por uma única garçonete simpática, dá um post.

Falar sobre a “norinha”, a linda menininha filha de um casal de amigos, donos de um restaurante, dá um post.

Contar as travessuras, disparates, bagunças, encrencas, manhas, sacadas, e outros reveses mais dos próprios filhos, meu, isso dá muitos e muitos posts!

Enfim, já deu pra perceber que qualquer coisa dá um post. Basta escrever e lançar ao léu. Que comente quem quiser comentar, pois nem sempre é possível ser interessante, mas, numa sacada ou outra, às vezes é possível que saiam algumas pérolas. Nesse sentido considero-me um mero escrevinhador (seria muita petulância utilizar a palavra “escritor”), que vem teimosamente exercitando sua vontade de algum dia se tornar algo próximo a um cronista.

E, como já disse meu amigo Bicarato, o maior dom do cronista é a sua própria percepção da realidade que o cerca, aliada à sua capacidade de passar isso adiante, fazendo-se entender por seus leitores.

E não é exatamente essa a intenção de qualquer um que se aventure a escrever e disponibilizar um texto ao público?

Só falta convencer a Dona Patroa disso…

A casa e a desigualdade

Outra ótima do Mino, ainda que de anteontem:

Um perfeito retrato da elite (elite?) brasileira, e mais especificamente paulistana, está hoje nas páginas do jornal Valor em reportagem assinada por Caio Junqueira. Muito bem feita e a seu modo implacável, embora redigida com extrema correção, sem descurar, nas entrelinhas, do senso de humor. Conta a passagem do ex-governador Geraldo Alckmin pela Casa do Saber, na qualidade de professor, a ministrar em três aulas um curso sobre “Eleição e Gestão”. A Casa do Saber tem convocado a minha atenção faz tempo, em virtude do auto-elogio implícito no seu nome. Aprendo, ao ler a reportagem de Caio Junqueira, que ela se apresenta como “centro de debates e disseminação do conhecimento que oferece acesso à cultura de forma clara e envolvente”. Mas não lecionam ali Kant e Maquiavel, Marx e Weber, e sim Geraldo Alckmin. Setenta pessoas participaram do curso ao preço de 300 reais por cabeça, além dos “paideias”, com acesso a qualquer curso por 4 mil semestrais. Junqueira relata que a larga maioria dos participantes, quase todos segundo entendi, consideram o governo Lula uma desgraça, quando não tem como um monstro, e atribuem a culpa pela eleição e reeleição do ex-metalurgico à insensibilidade do povo brasileiro. Achei especialmente notáveis dois registros. O primeiro. Uma médica de 42 anos afirma ser impossível fazer “mudanças estruturais” se o povo “não entende o que são essas mudanças”. Sempre imaginei que mudanças não há porque esta pobre elite ignorante, provinciana e feroz não as quer. O segundo registro explica tudo. Um funcionário do governo de São Paulo, de 29 anos, diz que a aula do curso sobre Problemas Brasileiros que teve menor participação foi a do professor Luiz Gonzaga Belluzzo, sobre a desigualdade social. Também pudera, digo eu, Belluzzo é autor da proposta, divulgada neste meu blog, pela qual diários e revistas deveriam sair com uma advertência do ministério das Comunicações estampada, respectivamente, na primeira pagina e na capa: Cuidado, este órgão de imprensa apoiou o golpe de 1964 e suas consequências. Imagino que o pessoal saiu da Casa do Saber e foi fazer compras na Daslu e na Expand.

O tráfico mapeado

Essa eu li no blog do Mino Carta. É de espanar…

Um livro de geografia, aprovado pelo ministério da Educação para alunos de sexta série das escolas publicas do Rio, oferece o mapa do tráfico na cidade outrora Maravilhosa. Ali aparecem, perfeitamente delimitadas, as áreas de atuação de cada quadrilha. Questionado, o ministério diz que o livro expõe a realidade do País. Trata-se, ao que parece, do reconhecimento de um estado paralelo. Sugiro que o livro seja distribuído também às delegações que participarão do Pan, a fim de instruí-las a respeito dos recantos de menor risco. Quanto a mim, encomendei um: quero aprender.

Hora de dormir

E então chegou a hora de dormir. Pelo menos, a da criançada. Todos no mesmo quarto, cada qual na sua cama.

Cubro o filho nº 1 e lhe dou um beijo de boa noite.

“Boa noite, pai.”

Cubro o filho nº 2 e lhe dou um beijo de boa noite.

“Bá noite pai!”

Cubro o filho nº 3 e lhe dou um beijo de boa noite.

“B’noiti…”

Apago a luz do quarto e no milésimo de segundo seguinte, o filho nº 3, coincidentemente de 3 anos, decreta:

– Paiêêê! Tá luuuz!

– Hein? Mas o papai já apagou a luz, filho.

– Tá luuuz!

– Ah! A do corredor? É pra apagar?

– É.

(Um detalhe: esse “É” dele é um negócio engraçado, posto que definitivo – vem lá do fundo do estômago e se manifesta como num sopro bem curto, encerrando qualquer questão de uma vez por todas. Ou quase.)

Então, apaguei a distante luz do corredor e já estava voltando para meu quarto, quando:

– Paiêêê! Tá luuuz!

– Como assim, filho? Papai acabou de apagar! Não tem mais luz nenhuma, não…

– Cártu…

– Quê? A do quarto do papai? Mas a mamãe tá no banho e daqui a pouquinho vem pra cá e vai precisar da luz, filho. Vamos fazer o seguinte: papai vai ler só um pouquinho e já, já apaga a luz. Combinado?

– Binádu…

Foi o tempo de me deitar, puxar o edredom, abrir o livro, e…

– Paiêêê! Tá luuuz!

Dali mesmo já soltei: “Filho, DÁ UM TEMPO! Nós já não combinamos que daqui a pouquinho o papai vai apagar a luz? Vai dormindo aí, que já já apago, tá bom?”

Silêncio.

Dez segundos depois:

– Paiêêê! Tá luuuz!

Nesse meio tempo a Dona Patroa chegou, contei-lhe (em tom de súplica) toda a desventura, e ela, pacientemente foi lá conversar com o pequerrucho. Ufa! Finalmente eu conseguiria voltar à minha leitura…

Alguns minutos depois ela voltou e se aconchegou ao meu lado, com frio. Foi o tempo exato de ela se aninhar:

– Paiêêê! Tá luuuz!

– SERÁ POSSÍVEL? TÁ BOM, TÁ BOM! JÁ VI QUE PERDI MESMO! EU APAGO A BENDITA DA LUZ E TODO MUNDO DORME FELIZ, TÁ BOM? TÁ BOM?

Apaguei a malfadada luz (pra não dizer outra coisa), me enfiei debaixo do edredom (confesso que ainda bufando) e mal tive tempo de fechar os olhos, quando ouvimos a vozinha dele no quarto ao lado:

– Paiêêê! Tá escuuuro!…

Sinistro…

“Disaôje” – ao menos era assim que minha bisa começava a falar sobre algo que houvesse lhe acontecido naquele mesmo dia – eu estava lendo o blog do jornalista Marco Aurélio e achei curioso uma citação dele sobre sua editora preferida.

Fui lá conferir e conheci, virtualmente, um pouquinho da cabeça da tal da menina, blogueira e editora de livros.

Cinco minutos depois, abri meu embornal (vulgo “imborná”) onde carrego toda a papelada e tranqueirada digna de um cavalheiro transportar e saquei uma edição de um jornal de informática que recebi do meu chefe há semanas e que ainda não havia lido.

Adivinhem quem estava lá, na última página?

Ela mesma, a “A Editora”, numa matéria sobre “Como transformar blogs em livros”

Como não acredito em coincidências, me pergunto o que raios o Universo está conspirando pra me dizer desta vez?

Não tenho a mínima intenção de transformar estas garatujas que chamo de linhas em algum tipo de livro. Conheço virtualmente gente muito mais capacitada pra isso e pessoalmente outros mais ainda.

Paciência.

Vou deixar num cantinho de minha cabeça o trabalho de pensar sobre isso em background. Quem sabe surge daí alguma idéia mirabolante?…

Desconstruindo um produto

Através do site da Lala fiquei sabendo dessa campanha publicitária do iogurte Itambé – levada a cabo pela agência Salles Chemistry. O texto diz: “Esqueça. O gosto dos homens nunca vai mudar. Iogurte Fit Light”.

Horrível.

Dêem uma lida no post dela para mais detalhes; porém, como já tive oportunidade de comentar antes, num país que prima pela excelência dos profissionais da área de publicidade, é de se estranhar que tenham criado uma campanha de tão mau gosto assim, que acaba desconstruindo o produto e, consequentemente, a própria marca…