Lembranças sobrepostas

De minha adolescência, uma das figuraças que lembro bem é um sujeito que, em nome da discrição, vamos chamar de “Toni”. Um cara boa pinta, magro, loiro, alto, olhos claros, galanteador e de um bom humor a toda prova.

Das inúmeras situações pelas quais passamos juntos, lembro-me de uma em especial. Estávamos todos sentados, toda a molecada, proseando e conversando com duas amigas. Vamos chamá-las de Ivone e Cláudia. Estava um papo animado, divertido, até que duas motos pararam do outro lado da rua. Num átimo, antes mesmo que pudéssemos perceber, as duas nos deixaram falando sozinhos, atravessaram a rua, e começaram a conversar com os rapazes das motos.

Encaramo-nos uns aos outros com aquela cara de “uééééé…”

Foi quando o Toni disse: “Deixa comigo”.

Entrou na casa dele, que ficava logo atrás de onde estávamos, e uns minutos depois voltou com um enorme galão de gasolina – mas cheio d’água – e começou a jogar o conteúdo na rua, com movimentos largos e espalhafatosos.

– Mas o que é isso, Toni? – foi o que a Ivone, do outro lado da rua e no meio de um riso, perguntou.

– Gasolina! Se as coisas continuarem do jeito que vocês estão, isso aqui vai encher de mulheres!!!

Pois é. Esse era o “Toni”…

Há cerca de uns dois meses e meio ele me ligou, dizendo que precisava conversar comigo sobre um inventário – acho que do pai dele. “Tudo bem, no final de semana estarei na casa de meus pais, aí perto, daí conversaremos” – foi o que eu propus. No domingo seguinte estive na casa de meus pais e, como ele não me procurou, não voltei a pensar no assunto.

Isso até anteontem quando, numa conversa com meu pai, fiquei sabendo. O “Toni” morreu. Há uns dois meses. Mais uma vítima da AIDS.

Pelo que fiquei sabendo, conheceu, transou e resolveu viver com uma mulher soropositiva. Infelizmente tornou-se um portador do vírus, e não teve coquetel que o ajudasse.

Que droga.

Fim de bimestre

E ontem a Dona Patroa foi até a escola de meus filhos para a famigerada reunião de fim de bimestre. No caso, a do Erik, meu pequerrucho do meio, de quatro anos. É quando explicam em detalhes qual foi o método de ensino adotado, como foi o desempenho da classe, dos alunos individualmente, etc. E também é quando entregam em mãos os “trabalhinhos” feitos.

Pois é. Cheguei em casa à noitinha e fui dar uma conferida nesses trabalhinhos – colagens, montagens, pinturas e desenhos, muitos desenhos. Deu pra perceber a evolução do traço do danadinho. Dentre eles tinha uma folha, dividida em duas partes com um monte de rabiscos à esquerda em uma espécie de letra “L” à direita. O tema: “o que é que tem cheiro gostoso e o que é que não tem”.

– Filho, estão muito bonitos seus desenhos, mas isso aqui, do lado esquerdo, o que é?

– Ah, é o que cheira gostoso. Essa aqui é a Suzi tomando banho, essa aqui é a bacia, essa aqui é a água e essa aqui é a casinha.

Pra quem não sabe, Suzi é uma das duas cachorrinhas que temos em casa. Um misto de lhasa com maltesa e com capacho felpudo.

– Legal, então isso é o que cheira gostoso, né? Então o outro seria o que não cheira gostoso… E por que você pôs uma letra aqui?

– Nãããão, papai. Não é uma letra. É sua meia.

(…)

Definitivamente. Estou cercado de comediantes em casa.

Metareciclagem

Ainda que a palavra “metareciclagem” seja de difícil definição mesmo entre os experts da área, vamos dizer de um modo simplista e beeem genérico que trata-se do reaproveitamento de materiais, conceitos e atitudes; ou seja, um verdadeiro ato de ecologia social…

Pois bem. O camarada e copoanheiro Bicarato teve notícias de uma série de equipamentos de informática (é, computadores mesmo) que simplesmente iriam para o lixo. Se não me engano, trata-se de uma escola que recebeu uma doação de equipamentos e alguns pais de alunos fizeram uma triagem, separando o que daria para ser utilizado e condenando o resto.

Nesse momento entrou em ação o dito ser, intervindo junto à turminha da Capital que prontamente vieram reivindicar uma “doação da doação”. Já que ia pro lixo mesmo, levaram.

E pro orgulho pessoal do nosso amigo e benfeitor indireto esse equipamento será utilizado numa oficina que se realizará no próximo domingo, dia 09/07 – confiram em http://integracaosemposse.zip.net.

Como eu não entendi muito bem qual seria o intuito dessa oficina, ele me explicou. Os interessados no aprendizado de informática (hardware & software) podem comparecer e gratuitamente aprender como trabalhar nesses equipamentos. Cada um recebe lá seu joguinho de chaves de fenda e vai desmontando a máquina, aprendendo na prática o que é uma placa-mãe, um pente de memória, um drive, um disco rígido, etc. Uma vez desmontado, toca a montar tudo de novo! Já com o computador montado, passa-se então para a parte do software, através da instalação de uma distro, provavelmente a Ubuntu.

Pra quem não sabe, “distro” nada mais é que uma das muitas distribuições do Linux. Ao contrário dos softwares proprietários, que vão se atualizando ($) através de novas versões, o Linux é um sistema operacional totalmente aberto, onde qualquer pessoa (qualquer mesmo) pode desenvolver seu próprio software, com “sabor próprio”.

Como são máquinas já bem velhinhas, as mesmas serão conectadas num pequeno servidor através de uma rede “montada na hora”, onde provavelmente se aprenderá a instalação local e remota, fazendo com que funcionem como terminais burros.

E aqueles computadores que de tão velhos ou imprestáveis não servem realmente pra mais nada? Nada se cria, nada se perde – tudo se transforma! Até mesmo bijuterias, colares, pulseiras, brincos, etc, são feitos a base de chips e outros componentes…

Enfim, nota dez pra essa turma do bem. E a menção honrosa vai para o Bicarato, lá do Alfarrábio. Pra concluir, é lógico, o lema:

“Inclusão digital: solução para a exclusão social!”

Horror, horror, horror!

Empregador é condenado por exibir partes íntimas ao empregado

Publicado em 4 de Julho de 2006 às 15h58 no clipping da Síntese Publicações

Em audiência realizada no dia 28/06, o Juiz do trabalho, Marcelo Segal, da 26ª VT/RJ, julgou procedente o pedido de indenização por dano sofrido pelo empregado, em decorrência da prática dolosa do empregador contra a sua moral.

Na inicial, o autor afirmou que era maltratado pelo gerente da empresa e pelo titular da acionada, que “tinha o péssimo hábito de mostrar seu pênis em estado rígido para o autor e demais empregados, com a finalidade de se exibir, dizendo sempre que possuía uma enorme hérnia”.

Ao prestar depoimento, a testemunha da própria empresa confirmou os fatos ao dizer que o titular da empresa ficava excitado diante dos empregados, mostrando o seu órgão sexual a todos e que isto era feito para descontrair o ambiente. Não vejo nada demais nisso,- declarou. Em sua defesa, a empresa negou todos os fatos.

De acordo com Marcelo Segal, se o titular da empresa tem uma atitude desse quilate, não espanta que seu gerente seja a pessoa cruel que destrata e humilha os empregados. No mais, a testemunha do empregado, confirmou integralmente os fatos descritos em relação a ambos (gerente e titular da empresa).

Para o magistrado, pelo aspecto jurídico, danos morais são lesões sofridas pelas pessoas em algum aspecto da personalidade. Traduzem-se, via de regra, em constrangimentos, dores íntimas ou situações vexatórias. É de clareza o dano intencionalmente praticado contra a moral do reclamante, que se obrigou através de contrato a labutar nas tarefas para as quais foi contratado. Porém, o empregado não pode se ver obrigado a periodicamente deparar-se com as partes íntimas de seu patrão.

Sentenciou o Juiz pela existência do dano moral, e acrescentou que “a condenação também poderá se revelar um poderoso impotente sexual, o que também atende aos reclames da justiça, ainda que por via reflexa”. Na decisão, a empresa foi condenada ao pagamento de indenização fixada em R$ 10.000,00 (dez mil reais) em favor do reclamante. (dados do processo não informados na fonte)

Fonte: Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região

E não é que Orwell tinha razão?

Página no Orkut é citada em decisão que negou assistência judiciária gratuita

Publicado em 30 de Junho de 2006 às 13h40 no clipping da Síntese Publicações

“Verifica-se que a situação financeira dos agravantes (…) efetivamente não é verdadeira – isso porque, quem passa por dificuldades financeiras, evidentemente, não tem condições de efetuar viagens ao Velho Continente anualmente, consoante demonstram as fotos obtidas no site www.orkut.com (…) em cidades como Veneza, em junho de 2005 e 2006, e Paris em junho de 2005”. A Desembargadora Elaine Harzheim Macedo assim considerou e depois arrematou em seu voto: “Ou seja, para se valer do erário público, não há condições financeiras, situação diversa quando se trata de viagens à Europa”.

A magistrada, entendendo que não houve comprovação da necessidade de assistência judiciária gratuita, havia negado seguimento ao recurso contra a decisão da Justiça de Esteio que indeferira o pedido de um casal que discute a compra e venda de um imóvel. Contra a decisão, as partes propuseram recurso ao Colegiado da 17ª Câmara Cível.

O entendimento da Desembargadora foi acompanhado pelos Desembargadores Alexandre Mussoi Moreira e Alzir Felippe Schmidt. (dados do processo não informados na fonte)

Fonte: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

Mundo cão



Então você passou por aqui esperando aquela famosa mensagem animadora, pra cima, de bom tom, otimista, toda up, que iria dar um gás no seu dia, certo?

Errado.

Tem um zilhão de blogs e pseudo-blogs diferentes pra isso. Aqui – sinto muito dizer – você estará refém de meu humor. OU falta dele.

Já que continuou a leitura, deixe-me lembrá-lo que se existe uma constante no Universo material que nos cerca, e deixando a metafísica de lado, é a capacidade que a vida tem de nos surpreender. Mesmo quando pensamos que tudo está nos conformes, que todos os problemas existentes NO MUNDO foram superados, e que nada mais resta senão ser feliz – AAA-HÁÁÁÁÁ! Eis que a mesa vira, o jogo muda, e tudo o mais sai fora dos eixos.

Não, não. Estou me lixando se o Brasil ganhou ou perdeu na Copa (se bem que ainda torço por Portugal), sempre fui apático à política e tampouco me importa a situação econômica do país – já que nem a minha própria consigo resolver…

Sei lá. Se alguém quiser arranjar algum motivo, diga que surtei. E pronto.

Pra quem conhece História em Quadrinhos, basta lembrar do ato final de Morpheus na série Sandman, antes de encontrar-se com sua irmã pela última vez. A compreensão de sua motivação torna fácil a compreensão de seus atos…

Volto dentro de alguns dias, quando a pilha de serviço baixar, meu humor melhorar e o sol voltar a brilhar.