Tá lá no Alfarrábio e presente tanto no Twitter quanto no Facebook…
E vamo que vamo!
Tá lá no Alfarrábio e presente tanto no Twitter quanto no Facebook…
E vamo que vamo!
O problema deste mundo são esses amores não-correspondidos e desperdiçados a toda hora, entende? Como paixões que são despertadas negligentemente, ilusões platônicas que acabam com gosto de soco na alma, noites de sexo mal intepretadas, amores exilados que não encontram seu lugar no mundo, como peças extraviadas de um quebra-cabeça. O problema todo se resume nisso: corações e cérebros não falam a mesma língua. A vida seria muito menos dolorida se a gente tivesse o dom de se apaixonar por aquela pessoa que nos oferece o coração. (…)
Alexandre Inagaki
De seu texto “Bons Amigos”
No livro Blog de Papel
Este post foi originalmente ao ar em AGO/2005, no finado blog Respira pela Barriga – “Reflexões, aventuras e desventuras de alguém que come com os olhos, fala pelos cotovelos, pensa com o coração e tenta, honestamente, respirar pela barriga”.
Sou a típica moradora low-profile. Quase não transito pelo térreo do meu prédio. Quando passo, estou invariavelmente com pressa. Geralmente saio pela garagem, quase sempre cantando pneu. Nas poucas ocasiões em que cruzo com o porteiro, meus diálogos se limitam a “bom dia” e “obrigada”. Como gosto muito de receber amigos em casa, de vez em quando desço à noite para receber uma pizza, mas mesmo nesses dias é “boa noite e obrigada”. Nada mais. Achava, na minha santa ingenuidade, que era intocável. Errei.
Personagem 1: Marcondes, o porteiro brejeiro. Marcondes é um mulato jeitoso, sorridente e educado. Sempre perfumado e engravatado, tem 5 filhos reconhecidos: 3 meninas e 1 menino com a esposa e outro menino, quase da mesma idade, com a namorada preferida. De dia, dedica-se a seduzir as empregadas do prédio e a dar uma olhada na portaria nas horas vagas.
Personagem 2: a síndica. Uma solteirona taciturna e aposentada de meia idade, que parece ter encontrado um novo sentido na vida: criar burocracias impossíveis e uma muralha de “firewalls” para um simples prédio de classe média, sem qualquer glamour.
Personagem 3: essa que vos escreve. Separada, 2 filhos, 35 anos, pacata, condomínio pago em dia.
Coadjuvantes: os demais porteiros (principalmente os da noite), o zelador (que está no prédio há uns 20 anos), as babás e as empregadas.
Aí, a síndica recém empossada, inebriada pelos eflúvios do poder, resolve aumentar a “segurança” do prédio e “otimizar” o consumo de energia elétrica.
Medida: sensor de presença em todos os andares, na garagem e na portaria. A luz só acende quando o sensor detecta movimento.
Conseqüência: no térreo, os fios do sensor foram ligados na caixa da TV a cabo. De dia, tudo bem. De noite, quando alguém entrava na portaria, a luz acendia e os canais a cabo funcionavam. Quando a pessoa saía, a luz apagava e a TV saía do ar. Levou 10 dias para o técnico entender o que estava acontecendo. E eu perdi um capítulo decisivo de ER!
Outro dia, o sensor da garagem quebrou e todo mundo teve que manobrar “por instrumentos” por dias e dias.
Medida: todo e qualquer prestador de serviço deve ser acompanhado por um morador nas dependências do prédio.
Conseqüência: aí, eu chamo o técnico do fogão e tenho que ir buscar o cara no térreo e trazê-lo até a minha casa. Mesmo que diga, que jure por Deus e por todos os santos para o Marcondes que, sim, eu pedi, efetivamente, um técnico para o fogão. Mesmo que o técnico esteja uniformizado e que porte a carteira funcional da assistência técnica. “Por segurança”, diz a síndica. “Ah, então tá.” Se o técnico do fogão que “eu” chamei for um assaltante, vai se inibir com a minha imponente presença e não assaltará nada. A propósito, quando terminam o serviço, todos os prestadores de serviço descem desacompanhados porque morador nenhum tem saco para acompanhá-los até o térreo.
Medida: todos os funcionários do prédio e funcionários de moradores devem ser devidamente registrados.
Conseqüência: eu e o resto da galera do Mengão tivemos que submeter à Dona Síndica cópias “autenticadas” do RG, CPF e Carteira de Trabalho dos empregados domésticos, inclusive da minha babá, que está comigo há mais de dez anos, bem mais tempo do que a síndica, que se mudou para o prédio há uns dois, no máximo.
Medida: todo visitante deve ser identificado na portaria e apresentar o documento de identidade para cadastramento. Ah, os horários de sua entrada “e” saída são anotados em uma planilha.
Conseqüência: de manhã, quando o Marcondes chega, tem, para seu deleite, um relatório completo do movimento noturno do prédio, que faz questão de partilhar com quem estiver por perto. A coisa funciona mais ou menos assim:
_ Ooooolha, ontem vieram “dois” pro apartamento da Dona Ju. E saíram depois da uma da manhã!
_ Era o barbudo da semana passada? _ pergunta uma empregada, de passagem.
_ Nããããão, Cleuzineide. Eram dois “meninos”. Olha só a data de nascimento. Beeem mais novos que ela! E eles pediram pizza, viu? Olha aqui, o registro do entregador. Quase onze da noite!
_ Ah, essa Dona Ju, depois que se separou… _ emenda o zelador, meneando a cabeça.
_ Justo ela, que parecia tão séria… _ completa a viúva portuguesa do 32.
Detalhe: (informado posteriormente pela minha amiga, Gi) de mulher, eles não pedem qualquer identificação, nem anotam entrada, nem saída.
Dica para assaltar meu prédio: mandem uma mulher.
Meninos, eu vivi:
Aí, uns meses atrás, meu ex-namorado estava em casa e, juntos, esperávamos um amigo, diretor de arte, para discutir um freela meu. Íamos comer uma pizza, os três.
Toca o interfone.
_ Dona Ju…
_ Sim, “porteiro da noite”. Pois não.
_ É… é que tem um rapaz aqui para a senhora…
_ Sim. Quem é?
_ É o “seu” Sérgio.
_ Ok. Pode mandar subir.
_ Mas… mas… é que… o namorado da senhora não está aí?
_ Como assim? COMO ASSIM? COOOOOMMMMOOO ASSSIIIIIMMMMM?
(Quando a vontade era responder:
“_ Está. Vamos fazer uma orgia. Ah, e quando as cabras de cinta-liga, o rapaz de máscara de couro, o travesti de lamê dourado e o meu entregador de ecstasy chegarem, pode mandar subir direto, viu? Nem precisa interfonar.”)
Meu mentor intelectual sugeriu corrompê-los com comida. Disse:
_ Esses porteiros ficam babando com todas aquelas pizzas, sanduíches, comidas chinesas e outras coisas entregues todas as noites nos apartamentos. De vez em quando, compre uma pizza e mande entregar a eles. Você vai ganhar um aliado para toda a vida.
_ O QUÊÊÊÊ? Você está me sugerindo “comprar” o silêncio deles? Como se eu fosse uma criminosa? Como se estivesse fazendo algo errado? Como se devesse satisfações??? Ora, faça-me o favor!!!!
Mas fiquei pensando e acho que tive uma idéia: poderia combinar com “os homens” de deixarem o carro uma quadra antes da minha casa. Aí, eles me ligariam, eu iria buscá-los de carro e os colocaria no porta-malas. Na garagem, só precisaria passá-los para um saco ou mala, para evitar a câmera no elevador. Na saída, faria o mesmo, ao contrário.
Difícil vai ser esconder as cabras de cinta-liga…
Êta mundinho machista, coronelista, chauvinista, de cocô, xixi e meleca! Pronto. Disse.
Nota: Post (re)publicado com o consentimento (até agora) da autora…
Sei que não é num “bom momento”. Mas simplesmente venero a maneira como esse caboclo sabe trabalhar com as palavras…
A morte de um jornalista
MINO CARTA
Um amigo partiu desta vida, e dizer amigo sem adjetivos basta, são poucos os amigos cuja lealdade não admite dúvidas e cuja lembrança é para sempre. Elpidio Reali Jr., que nunca chamei Elpidio, era o Reali e ponto final, pertencia e pertence a esta categoria. Faz pouco tempo saiu o livro das suas memórias, Às Margens do Sena, longo depoimento recolhido por meu filho, Gianni, e prefaciado pelo acima assinado. E ali eu dizia que quando nos encontrávamos, frequentemente nas cercanias de uma garrafa de bom vinho, podíamos conversar horas a fio sem tropeçar em um único, escasso ponto de discordância. Conhecíamos um ao outro passo a passo no espaço alastrado entre o coração e a alma.
Sim, verdade factual é que já tivemos opiniões diferentes no confronto entre vinhos franceses e italianos, mas também a respeito desta questão crucial acabamos por convergir para uma posição comum. A amizade tinha raízes. Meu pai, Giannino, conhecera em 1947 o pai do Reali, o primeiro Elpidio, então diretor da Interpol, policial culto e competente. Ambos estavam em ação por causa do rapto presumido de um filho de Francisco Matarazzo II, cada qual ao sabor de suas funções, o policial e o jornalista.
Descobriu-se finalmente que o plano do sequestro era da lavra do sequestrado, Eduardo, e contava com a desastrada colaboração de dois empregados italianos das IRFM, Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, os engenheiros Malavasi e Comelli dispostos a arcar com o papel de sequestradores. Resgate entregue, tramoia revelada logo após. Eduardo, o filho que pretendia extorquir dinheiro do pai Chiquinho, safou-se incólume, embora cuidasse de levar vida apartada. Os italianos, em compensação, passaram uma esticada temporada na cadeia. O policial e o jornalista lamentaram o desfecho e ficaram amigos.
Quanto a mim, dei com o Reali pela primeira vez no vídeo. Eu acabava de regressar da Itália, onde havia exercido a profissão por três anos e meio, primeira metade de 1960, e o Reali era repórter de campo em jogos de futebol televisados, o repórter Canarinho da Record como o apelidara Silvio Luiz. Acabamos por nos conhecer em Paris, na década de 70, onde ele voluntariamente se exilara com a mulher, sua eterna companheira Amelinha, e filhas, depois de receber o Prêmio Governador do Estado de São Paulo como melhor radialista esportivo. Na hora da entrega, dedicou-o aos colegas presos pelo terror de Estado, infelizmente impossibilitados de concorrer.
Há o indivíduo, o cidadão, o profissional. Entre eles, os elos indissolúveis da coe-rência no respeito dos princípios e dos valores. Leio nos obituários que Reali foi um grande jornalista. Eu diria que, sobretudo, foi raro, jornalistas que honram a profissão há poucos. Pouquíssimos. A maioria vive no terror de perder o emprego, quando não se trata de um daqueles que se aboletaram em posições de comando na qualidade de sabujos do patrão. Pergunto-me se têm consciência da adulação desbragada a que se entregaram, se ao se olharem no espelho percebem o lacaio, ou se são sinceros na submissão porque a carregam no sangue ou se compartilham em harmonia integral das ideias de quem lhes paga o salário e lutam bravamente a favor dos interesses do próprio.
Por exemplo. O que vai pelas entranhas da revista Época, que há duas semanas dedicou uma reportagem de capa ao relatório da PF sobre o famigerado valerioduto para divulgar uma versão manipulada, esconder a personagem principal do enredo, o banqueiro Daniel Dantas, e esquecer a Globo, também envolvida no episódio? Sei tão somente que a mídia nativa reservou estrondoso silêncio ao texto autêntico publicado por CartaCapital, em seus trechos principais na semanal e integralmente pela internet. Não é surpresa, está claro, que Época não peça desculpas aos seus leitores, ou que a mídia nativa não repercuta a verdade factual, a soletrar o que até hoje impávida sustenta, ou seja, a existência do mensalão que o relatório nega. Contra esta caterva de escribas e oradores a soldo do privilégio não há verdade factual que resista.
A diferença, no caso de Reali, e a raridade estão no fato de que ele serviu antes de mais nada à sua consciência. E eu aqui estou, saudoso, e de súbito me ocorre a imagem do jovem loiro a correr à margem de um gramado com os cachos ao vento.
Este post foi originalmente ao ar em 02/06/2005, no finado blog Respira pela Barriga – “Reflexões, aventuras e desventuras de alguém que come com os olhos, fala pelos cotovelos, pensa com o coração e tenta, honestamente, respirar pela barriga”.
Por que “respira pela barriga”?
Porque um dia disseram que a minha vida mudaria e eu seria muito mais
– feliz
– calma
– paciente
– pacata
– cordata
– produtiva
– tranqüila
– equilibrada do ponto de vista energético
– alinhada do ponto de vista dos chacras
– resolvida se aprendesse a respirar pela barriga em momentos cruciais da minha vida.
No começo, ri. Logo eu, a pragmática das pragmáticas, a prática das práticas, a que se arrepia só de ouvir falar em horóscopo, falando em chacras, em equilíbrio energético, respirando pela barriga? Ora, pelamordedeus! Daqui a pouco, vão me pedir para comprar um duende e conversar com ele!
Aí, me pediram para parar só um pouquinho e reparar em como a minha respiração acontecia exclusivamente no peito – é lógico, pensei. É aí que ficam os meus pulmões! – e às vezes até no pescoço. Comecei a perceber que quando ficava tensa, o que é, no mínimo, freqüente para alguém que faz dez coisas ao mesmo tempo, minha respiração “subia” mesmo.
Me ensinaram a deitar, colocar a mão no umbigo e respirar, profundamente, até sentir a barriga ficar inflada de ar. Em seguida, pra dar certo, soltar o ar totalmente e fazer tudo de novo. Com calma, sem pressa (coisa rara na minha rotina), uma meia dúzia de vezes pelo menos. Fiz uma vez e achei bom.
Me disseram que com um mínimo de prática, eu conseguiria fazer isso sem deitar e sem precisar colocar a mão no umbigo. Ótimo, pensei. Imagina eu, voando, estressada, no meio do trânsito, atrasada para uma reunião, falando no celular, trocando o CD da Macy Gray pelo do Castelo Rá Tim Bum, tentando convencer a minha filha de dez anos de que “não, essa blusa não marca a barriga” e o meu filho de três que “com certeza nós veríamos um caminhão-caçamba, ou um caminhão-baú, ou um caminhão-tanque, ou uma betoneira, ou uma motoniveladora até chegarmos ao nosso destino”, tendo que parar o carro, deitar no asfalto, botar a mão no umbigo e respirar pela barriga?
Sugeriram que eu colocasse bilhetinhos para mim mesma em lugares estratégicos como o monitor do computador, o painel do carro, o espelho do banheiro, me lembrando de respirar. Soube até que há cursos que ensinam a gente a respirar…
Comecei a respirar pela barriga sempre que me lembrava e, impressionantemente, acalma mesmo. Ainda não fiquei mais calma, feliz, paciente, tranqüila, equilibrada, pacata, produtiva, alinhada, cordata ou resolvida. Mas juro que tenho tentado, honestamente, respirar cada vez mais pela barriga.
Assim, sem querer parecer zen, ou mística, ou outros babados do gênero, sempre que der vontade de
– quebrar o CD de Sons da Amazônia ou o dos Monges Beneditinos contra o painel do carro;
– esquartejar o motorista do ônibus da frente;
– afogar o filho caçula no Tietê;
– matar a empregada (ou o chefe, ou o estagiário, ou o ex-marido, ou a sogra) no beliscão;
– abrir a machadadas a cabeça do homem super zen que a gente gosta para fazê-lo entender que, sim, você é ansiosa, apressada, vertiginosa, enlouquecida mas o ama, de todo o coração, não se esqueça: RESPIRA PELA BARRIGA que a vida há de melhorar.
Nota: Post (re)publicado com o consentimento (até agora) da autora…
Diretamente das catacumbas de meu computador, eis resgastado um antigo post – lá dos idos de 2006 – do finado blog Respira pela Barriga. Tudo a ver…
Quando inventou o chuchu, Deus devia estar muito sem inspiração. Mesmo. Provavelmente, foi num dia em que acordou com o pé esquerdo, pisou no penico, xingou o Filho, brigou com o Espírito Santo, teve crise de identidade, arrumou encrenca com os apóstolos e, mesmo assim – ah, as obrigações… – teve que trabalhar.
A gente sabe que quando não está a fim de trabalhar, trabalha do mesmo jeito, mas que os resultados são qualquer nota. Por que é que com Deus seria diferente? Em um dia assim, ele fez o chuchu.
O chuchu é a prova definitiva da existência palpável do nada. É um não-alimento incorporável tanto a doces, quanto a salgados, que agrega um sabor de absolutamente nada ao que quer que acompanhe. Que outro elemento dos reinos animal, vegetal ou mineral pode ser colocado junto com carne, ovo, camarão, peixe, carne de porco, suflê, doce de abóbora ou de marrom glacê e não fazer, absolutamente, nenhuma diferença?
Chuchu é o sonho de consumo de todo restaurante por quilo, porque pesa que é uma desgraça e pode ser enfiado em virtualmente todos os pratos do buffet para aumentar a conta do cliente, ao mesmo tempo em que alivia bolso do empresário. Quem conhece, mesmo que remotamente, a dinâmica perversa de um restaurante por quilo, sabe que nada melhor que um ou dois quilos de chuchu para elevar à enésima a rentabilidade de um strogonoff, de uma peixada, de um pavê…
Êta coisa mais sem graça! O chuchu algo que, por princípio, não deveria existir. Meu pai, por exemplo, se gaba de fazer um excelente camarão com chuchu que, por sinal, eu até já provei. De fato, é saboroso mas ficaria ainda melhor sem o chuchu. Por quê? Porque haveria mais camarão por centímetro quadrado de prato, oras! Simples assim.
O chuchu está para os vegetais, como o escargot está para os animais. Misture qualquer coisa com chuchu (ou com escargot), que você terá 100% do gosto da coisa. Até porque, chuchu não tem gosto!
Em suma, eu detesto chuchu. Não que não aprecie o sabor – isso seria uma impossibilidade física. O que não suporto é a sensação de estar enchendo a barriga de limbo. E como se tanto “nada” não fosse o bastante, o maldito ainda é infernalmente chato de descascar! Ninguém merece…
E, para quem me conhece bem, ao ler esta crônica parece ser impossível não lembrar de mim.
Não sei o porquê…
Tá certo que eu amo praias.
Sério!
Podem conferir aqui…
Bem, talvez a lembrança tenha sido em função de meu lado <ironia>sempre bem-humorado</ironia> de encarar a vida. Aliás, talvez isso seja genético! Meu irmão, quando trabalhava na Embraer, devido ao seu “bom humor insuportável”, ganhou o carinhoso apelido de “vinagre”. E quando alguns de seus amigos resolviam tratar de minha nobre pessoa a referência ficou sendo – como bom irmão do vinagre – “vinagrão”. Ainda na época que eu mantinha escritório, meus queridos sócios faziam questão dessa referência.
E olha que nem de vinagre eu gosto!
A prova tá aqui…
Mas chega de protelar!
Vamos à crônica!
Diga-se de passagem: é atribuída ao Veríssimo – mas, particularmente, duvido…
Chegou o verão!
Verão também é sinônimo de pouca roupa e muito chifre, pouca cintura e muita gordura, pouco trabalho e muita micose.
Verão é picolé de Kisuco no palito reciclado, é milho cozido na água da torneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca.
Verão é prisão de ventre de uma semana e pé inchado que não entra no tênis.
Mas o principal ponto do verão é… A praia!
Ah, como é bela a praia.
Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam pra fazer coleção.
Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias.
Os jovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a prancha pra abrir a cabeça dos banhistas.
O melhor programa pra quem vai à praia é chegar bem cedo, antes do sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estão chegando.
Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa, toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de férias.
Em menos de cinquenta minutos, todos já estão instalados, besuntados e prontos pra enterrar a avó na areia.
E as crianças? Ah, que gracinhas! Os bebês chorando de desidratação, as crianças pequenas se socando por uma conchinha do mar, os adolescentes ouvindo walkman enquanto dormem.
As mulheres também têm muita diversão na praia, como buscar o filho afogado e caminhar vinte quilômetros pra encontrar o outro pé do chinelo.
Já os homens ficam com as tarefas mais chatas, como furar a areia pra fincar o cabo do guarda-sol.
É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer o guarda-sol ficar em pé.
Mas tudo isso não conta, diante da alegria, da felicidade, da maravilha que é entrar no mar!
Aquela água tão cristalina, que dá pra ver os cardumes de latinha de cerveja no fundo.
Aquela sensação de boiar na salmoura como um pepino em conserva.
Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquita cheia de areia, vem aquela vontade de fritar na chapa.
A gente abre a esteira velha, com o cheiro de velório de bode, bota o chapéu, os óculos escuros e puxa um ronco bacaninha.
Isso é paz, isso é amor, isso é o absurdo do calor!!!!!
Mas, claro, tudo tem seu lado bom.
E à noite o sol vai embora.
Todo mundo volta pra casa tostado e vermelho como mortadela, toma banho e deixa o sabonete cheio de areia pro próximo.
O shampoo acaba e a gente acaba lavando a cabeça com qualquer coisa, desde creme de barbear até desinfetante de privada.
As toalhas, com aquele cheirinho de mofo que só a casa da praia oferece.
Aí, uma bela macarronada pra entupir o bucho e uma dormidinha na rede pra adquirir um bom torcicolo e ralar as costas queimadas.
O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga em família.
Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha e torcendo, pra que na manhã seguinte, faça aquele sol e todo mundo possa se encontrar no mesmo inferno tropical…