O Pequeno Príncipe

Um clássico da literatura universal

(Recortado-e-colado diretamente daqui).

Entenda o livro:

A obra O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint Exupéry, traz em seu corpo alguns temas universais. Em princípio, é um texto que pode parecer infantil, mas, na verdade, é próprio não só para crianças como também para adultos, pois as mensagens que carrega nas entrelinhas são lições de amor, amizade e pureza, além de críticas à maneira de como os adultos enxergam as coisas e as pessoas ao seu redor.

O texto fala sobre um aviador que é desencorajado a desenhar quando ainda era criança e que, em meio ao deserto, encontra uma figura extraordinária. Começa, então, a fabulosa história sobre o Pequeno Príncipe, um menino que mora em um planeta muito pequeno e que tem somente uma flor como companhia. Ela é muito vaidosa, mandona e fala demais. Cansado de sua vaidade, um dia ele resolve partir em busca de respostas e faz uma jornada por seis planetas (até chegar à Terra). Cada planeta é habitado por apenas uma pessoa.

O primeiro planeta é habitado por um rei que gosta muito de dar ordens e de ser obedecido. O problema é que ele só ordena aquilo que é possível acontecer como, por exemplo, mandar o sol se pôr somente na hora natural desse acontecimento. Ele representa aquela pessoa que vive só de aparências, que deseja mostrar aos outros aquilo que não é. Também, aquela que é autoritária e gosta de se sentir importante.

Quem habita o segundo planeta é um homem muito vaidoso que adora ser aclamado; não escuta críticas, só elogios. Ele representa a vaidade do ser humano. Não a vaidade natural, mas aquela que se torna mais importante do que tudo na vida.

O terceiro planeta é habitado por um bêbado que bebe para esquecer a vergonha de beber. Ele tem consciência de sua desgraça, porém, não faz nada para mudar. Representa a pessoa fraca, que não tem forças para lutar contra aquilo que lhe abate e acha mais fácil atirar-se ao problema do que lutar para superá-lo.

No quarto planeta, há um empresário que só está preocupado com os números, quer possuir tudo, até as estrelas. É tão ocupado que não tem tempo sequer para acender o cigarro apagado em sua boca. Ele representa a ganância do ser humano, a preocupação em ter, em possuir.

No quinto planeta, há um acendedor de lampião. De dia ele apaga o lampião e à noite ele acende. Apesar de ser uma ocupação útil, é ruim, pois o acendedor não tem tempo nem para dormir, porque os dias se passam tão rapidamente que, assim que apaga o lampião, já tem de acendê-lo novamente. Ele representa as pessoas que, mesmo sendo boas, só trabalham e não têm tempo para mais nada, não desfrutam o que mais a vida tem a lhes oferecer.

O sexto planeta é o maior de todos os outros já visitados. É habitado por um geógrafo que sabe tudo sobre mares, rios, cidades, montanhas e desertos, e onde exatamente eles se encontram, mas que nunca andou pelo seu planeta para vê-los, explorá-los e conhecê-los pessoalmente. Fica o tempo inteiro sentado em sua mesa estudando. Ele representa as pessoas que não agem, são apenas teóricas; gostam de ter razão e de saber muito, mas nada fazem de prático; ficam inertes, esperando a vida passar.

Dando continuidade às críticas feitas aos tipos humanos na obra, certamente não poderiam ficar de fora aqueles que o Pequeno Príncipe encontrou na Terra, o sétimo planeta visitado. O capítulo XVI, que corresponde à chegada do Pequeno Príncipe ao nosso planeta, inicia com uma afirmação que diz que a Terra não é um planeta qualquer, pois nela existem centenas, milhares e milhões de exemplares iguais àqueles encontrados nos outros visitados por ele (reis, geógrafos, negociantes, beberrões e vaidosos), ou seja, “pessoas grandes”, como denomina nosso pequeno amigo. A Terra seria uma espécie de concentração de todos aqueles tipos aos quais a obra faz sua crítica.

Quando o Pequeno Príncipe chega ao solo terrestre, encontra uma serpente, com quem conversa. Em meio ao diálogo, o principezinho diz que se sente um pouco só no deserto. A serpente responde dizendo que entre os homens também é possível sentir-se só. Essa crítica é universal, pois em todos os lugares do mundo é possível sentir solidão mesmo entre centenas de pessoas, pois os seres humanos são, em geral, cada vez mais individualistas.

Depois, o Pequeno Príncipe encontra uma flor de três pétalas. Ele pergunta pelos homens e ela diz que um dia vira passar uma caravana, mas que no momento não sabe deles, pois nunca se pode saber onde eles estão. Segundo ela, o vento os leva; eles não têm raízes, porque não gostam delas. A resposta da flor também apresenta um perfil do homem universal, que geralmente é confuso e não sabe para onde deseja ir. Vive, respira, trabalha, mas não sabe em prol de quê.

Em seguida o príncipe encontra uma grande montanha, a qual ele escala. Pensa que do alto enxergará os homens, mas isso não acontece. Começa, então, a chamar por eles. Ouve apenas o eco, que lhe responde a mesma coisa que diz. O principezinho acha engraçado e critica a falta de imaginação dos homens, porque apenas repetem o que já fora dito. O que está nas entrelinhas, nessa parte do texto, é que os homens são vazios, sem personalidade e apenas repetem os atos dos outros. Isso é universal, pois há pessoas com esse tipo de comportamento em todos os lugares do planeta.

Mais tarde, o Pequeno Príncipe encontra a grande personagem da obra: a raposa. Ela faz vários comentários sobre os homens dizendo, por exemplo, que eles já se esqueceram o que é um ritual, que é aquilo que faz um dia ser diferente do outro, ou então que cativar é algo também quase sempre esquecido, e que significa criar laços. Os homens, em geral e em todo o mundo, vivem apressados e se esquecem das pequenas coisas da vida, como ter um ritual para realizar qualquer tipo de atividade, ou então não desejam perder tempo conquistando a amizade e o carinho de alguém.

A raposa é quem ensina ao principezinho a amar um ser de forma única e particular. Ela lhe passa as grandes mensagens da obra, entre elas a principal, que ela denomina como o seu segredo: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos” (p. 72). Essa lição serve para qualquer pessoa, em qualquer local. É totalmente verdadeira, pois as aparências não nos mostram o que há no interior de alguém, o que uma pessoa verdadeiramente é. Em qualquer lugar do mundo, só poderemos conhecer alguém de verdade se estivermos desprovidos de preconceitos e visões estereotipadas.

Após despedir-se da raposa, o Pequeno Príncipe segue viagem e encontra um manobreiro. Ele diz que seu trabalho consiste em separar os passageiros dos trens e despachar os trens que os carregam. Quando o principezinho pergunta sobre a pressa e o destino das pessoas que estão seguindo viagem, o manobreiro responde dizendo que nem elas sabem seus destinos. Estão sempre com pressa e insatisfeitas com os lugares onde estão, mas não sabem para onde desejam ir. Ainda diz que as únicas que estão felizes e sabem o que procuram são as crianças. Essa mensagem também pode ser considerada como universal, já que esse é um comportamento do homem em qualquer lugar, não importando a sua cultura. Em geral, os seres humanos nunca estão satisfeitos com o que têm e com o que são. Buscam evoluir, o que é louvável quando se sabe onde se deseja chegar, mas que é um grande problema quando apenas se deseja melhorar sem saber o objetivo dessas mudanças.

Depois de ter conversado com o manobreiro, o Pequeno Príncipe encontra um vendedor que comercializa pílulas especiais que saciam a sede. Este, quando questionado, responde que suas pílulas geram uma grande economia de tempo. As pessoas que fizessem uso do medicamento ganhariam até 53 minutos por semana. Com esse tempo, poderiam fazer o que quisessem. Os homens, em todo o mundo, correm desesperadamente atrás do tempo perdido. Lamentam-se pelo tempo, que passa rápido demais, fazendo com que a vida, consequentemente, também passe depressa. A contradição está em saber que a maioria das pessoas não aproveita seu tempo para dedicar-se às coisas que realmente importam.

Mais tarde, o principezinho encontra um aviador que havia sofrido um acidente no deserto. O aviador, conforme já mencionado, é um homem um tanto frustrado por ter sido desencorajado, na infância, a desenhar. Sentia-se inconformado com a insensibilidade dos adultos. Cresceu com essa angústia dentro de si, mas acabou se tornando, mesmo que forçadamente, “gente grande” como os outros adultos, e perdeu um pouco do encantamento, situação que se reverte após ser cativado pelo Pequeno Príncipe, que lhe ensina a mesma lição ensinada a ele pela raposa. O aviador representa grande parte dos homens em todo o mundo, aqueles que, ao se tornarem adultos, enrijecem seu espírito e seus pensamentos, passando a desacreditar nos seus sonhos de infância.

Cada habitante dos planetas visitados pelo Pequeno Príncipe, e até mesmo aqueles que ele encontra na Terra, representam um tipo de pessoa, e todos são vistos com olhar crítico sobre como a maioria dos adultos veem as coisas, como pensam e agem. Esses tipos de pessoas existem em qualquer lugar do mundo, pois a essência do ser humano é a mesma, não importando de qual lugar ele é e em qual cultura está inserido. Os sentimentos de amor e de amizade que aparecem ao longo da história também são considerados como temas comuns a todos, e por esses aspectos, a obra O Pequeno Príncipe pode ser chamada de universal.

Ensaio apresentado na disciplina Literatura Universal – Curso de Letras – Centro Universitário La Salle – Canoas – RS – 2008/2

Dez estratégias de manipulação midiática

Será que recentemente alguém viu algo assim na mídia?…

Direto lá do Escrevinhador:

O lingüista estadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através da mídia:

1- A estratégia da distração.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

2- Criar problemas, depois oferecer soluções.
Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A estratégia da gradação.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

4- A estratégia do deferido.
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- Dirigir-se ao público como crianças de baixa idade.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

6- Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7- Manter o público na ignorância e na mediocridade.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossível para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

8- Estimular o público a ser complacente na mediocridade.
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

9- Reforçar a revolta pela autoculpabilidade.
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!

10- Conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem.
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

O que é PNDH-3, afinal?

Simples, objetivo e colocando os “pingos nos is”…

Direto lá do Conversa de Bar.net (tinha que ser):

Quando publiquei o post sobre a péssima cobertura do PNDH-3 pela imprensa, que deveria informar e não explorar a desinformação, não levei em conta que muitos leitores não sabiam exatamente em que consistia esse Programa.

O PNDH é o resultado de um compromisso assumido pelo Brasil no Tratado de Viena durante a  Conferência Mundial Sobre Direitos Humanos de 1993. Trata-se de um programa plurianual elaborado por setores da Sociedade Civil _ movimentos sociais e entidades de classe _ que propõe diretrizes e metas a serem implementadas em políticas públicas voltadas para a consolidação dos direitos humanos. O programa em si não é auto-executável, como a mídia faz parecer. Para que cada uma das propostas entre em vigor é necessária a aprovação pelo Congresso Nacional. Os dois primeiros Programas, o PNDH-1 (1996) e o PNDH-2 (2002) foram elaborados no governo FHC. Não é  um plano de governo, mas um programa de Estado.

A falta de qualquer referência à Conferência Internacional dos Direitos Humanos, realizada em Dezembro, em São Paulo, na qual o governador José Serra se comprometeu a observar o Tratado de Viena, bem como o Programa Nacional do Direitos Humanos, deixa evidente a manipulação política  da notícia. É curioso como a mesma mídia que denuncia o PNHD-3 como uma tentativa do governo Lula de cercear a liberdade de expressão não demonstrou a mesma preocupação com os os artigos 5.4 e 5.5 do  Programa Estadual de Direitos Humanos, aprovado pelo governador Mário Covas, que também prevê o monitoramento dos meios de comunicação. E por que? Porque sabe que não se trata de uma tentativa de censurar a imprensa, nem por parte do PNDH estadual, nem por parte do PNDH nacional.

Se deseja saber mais a respeito, sugiro alguns blogs e sites que trazem informações valiosas sobre o PNDH-3. É o caso do Blog do Nassif, do Arlesophia, do Polítika etc…, e do JusBrasil. Recomendo também um resumo dos pontos mais importantes do PNDH-3 postado no blog “Nosso Direito”, por Mônica Filomena, além do site do Movimento Nacional de Direitos Humanos e, lógico, a íntegra do documento, que também pode ser baixado em pdf.

Fascismo à brasileira?

Direto lá do Luis Nassif (sugerido pelo amigo Zé Luiz):

A psicologia de massa do fascimo à brasileira

Há tempos alerto para a campanha de ódio que o pacto mídia-FHC estava plantando no jogo político brasileiro.

O momento é dos mais delicados. O país passa por profundos processos de transformação, com a entrada de milhões de pessoas no mercado de consumo e político. Pela primeira vez na história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de lançar o país na primeira divisão da economia mundial

Esses movimentos foram essenciais na construção de outras nações, mas sempre vieram acompanhados de tensões, conflitos, entre os que emergem buscando espaço, e os já estabelecidos impondo resistências.

Em outros países, essas tensões descambaram para guerras, como a da Secessão norte-americana, ou para movimentos totalitários, como o fascismo nos anos 20 na Europa.

Nos últimos anos, parecia que Lula completaria a travessia para o novo modelo reduzindo substancialmente os atritos. O reconhecimento do exterior ajudou a aplainar o pesado preconceito da classe média acuada. A estratégia política de juntar todas as peças – de multinacionais a pequenas empresas, do agronegócio à agricultura familiar, do mercado aos movimentos sociais – permitiu uma síntese admirável do novo país. O terrorismo midiático, levantando fantasmas como MST, Bolívia, Venezuela, Cuba e outras bobagens, não passava de jogo de cena, no qual nem a própria mídia acreditava.

À falta de um projeto de país, esgotado o modelo no qual se escudou, FHC – seguido por seu discípulo José Serra – passou a apostar tudo na radicalização. Ajudou a referendar a idéia da república sindicalista, a espalhar rumores sobre tendências totalitárias de Lula, mesmo sabendo que tais temores eram infundados.

Em ambientes mais sérios do que nas entrevistas políticas aos jornais, o sociólogo FHC não endossava as afirmações irresponsáveis do político FHC.

Mas as sementes do ódio frutificaram. E agora explodem em sua plenitude, misturando a exploração dos preconceitos da classe média com o da religiosidade das classes mais simples de um candidato que, por muitos anos, parecia ser a encarnação do Brasil moderno e hoje representa o oportunismo mais deslavado da moderna história política brasileira.

O fascismo à brasileira

Se alguém pretende desenvolver alguma tese nova sobre a psicologia de massa do fascismo, no Brasil, aproveite. Nessas eleições, o clima que envolve algumas camadas da sociedade é o laboratório mais completo – e com acompanhamento online – de como é possível inculcar ódio, superstição e intolerância em classes sociais das mais variadas no Brasil urbano – supostamente o lado moderno da sociedade.

Dia desses, um pai relatou um caso de bullying com a filha, quando se declarou a favor de Dilma.

Em São Paulo esse clima está generalizado. Nos contatos com familiares, nesses feriados, recebi relatos de um sentimento difuso de ódio no ar como há muito tempo não se via, provavelmente nem na campanha do impeachment de Collor, talvez apenas em 1964, período em que amigos dedavam amigos e os piores sentimentos vinham à tona, da pequena cidade do interior à grande metrópole.

Agora, esse ódio não está poupando nenhum setor. É figadal, ostensivo, irracional, não se curvando a argumentos ou ponderações.

Minhas filhas menores freqüentam uma escola liberal, que estimula a tolerância em todos os níveis. Os relatos que me trazem é que qualquer opinião que não seja contra Dilma provoca o isolamento da colega. Outro pai de aluna do Vera Cruz me diz que as coleguinhas afirmam no recreio que Dilma é assassina.

Na empresa em que trabalha outra filha, toda a média gerência é furiosamente anti-Dilma. No primeiro turno, ela anunciou seu voto em Marina e foi cercada por colegas indignados. O mesmo ocorre no ambiente de trabalho de outra filha.

No domingo fui visitar uma tia na Vila Maria. O mesmo sentimento dos antidilmistas, virulento, agressivo, intimidador. Um amigo banqueiro ficou surpreso ao entrar no seu banco, na segunda, e captar as reações dos funcionários ao debate da Band.

A construção do ódio

Na base do ódio um trabalho da mídia de massa de martelar diariamente a história das duas caras, a guerrilha, o terrorismo, a ameaça de que sem Lula ela entregaria o país ao demonizado José Dirceu. Depois, o episódio da Erenice abrindo as comportas do que foi plantado.

Os desdobramentos são imprevisíveis e transcendem o processo eleitoral. A irresponsabilidade da mídia de massa e de um candidato de uma ambição sem limites conseguiu introjetar na sociedade brasileira uma intolerância que, em outros tempos, se resolvia com golpes de Estado. Agora, não, mas será um veneno violento que afetará o jogo político posterior, seja quem for o vencedor.

Que país sairá dessas eleições?, até desanima imaginar.

Mas demonstra cabalmente as dificuldades embutidas em qualquer espasmo de modernização brasileira, explica as raízes do subdesenvolvimento, a resistência histórica a qualquer processo de modernização. Não é a herança portuguesa. É a escassez de homens públicos de fôlego com responsabilidade institucional sobre o país. É a comprovação de porque o país sempre ficou para trás, abortou seus melhores momentos de modernização, apequenou-se nos momentos cruciais, cedendo a um vale-tudo sem projeto, uma guerra sem honra.

Seria interessante que o maior especialista da era da Internet, o espanhol Manuel Castells, em uma próxima vinda ao Brasil, convidado por seu amigo Fernando Henrique Cardoso, possa escapar da programação do Instituto FHC para entender um pouco melhor a irresponsabilidade, o egocentrismo absurdo que levou um ex-presidente a abrir mão da biografia por um último espasmo de poder. Sem se importar com o preço que o país poderia pagar.

Dilma e a fé cristã

Nessa onda maluca que tomou conta da discussão política, onde, independentemente do projeto de governo, é o posicionamento pessoal dos candidatos sobre determinado tema que acaba se tornando “relevante” para a sociedade, vem em muito boa hora a opinião do sempre lúcido Frei Betto (direto daqui):

Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em Belo Horizonte.

Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência.

Anos depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho.

Nada tinha de “marxista ateia”.

Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.

Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em que participei do governo Lula. De nossa amizade, posso assegurar que não passa de campanha difamatória – diria, terrorista – acusar Dilma Rousseff de “abortista” ou contrária aos princípios evangélicos.

Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade.

Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo.

Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica.

Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem comprovar, por suas atitudes, que “a árvore se conhece pelos frutos”, como acentua o Evangelho.

É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na dedicação ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam.

Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria fazendas e sítios produtivos; implantaria o socialismo por decreto…

Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente.

Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de ecoar boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.

Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem os que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem quem se julga dono da doutrina cristã e se arvora em juiz de seus semelhantes.

A resposta de Jesus surpreendeu: “Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; oprimido, e me libertastes…” (Mateus 25, 31-46). Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcance de quem, por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos vida digna e feliz.

Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.

Sobre a escrita

CLARICE LISPECTOR

Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.

Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.

Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo – é por esconderem outras palavras.

Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.

Simplesmente não há palavras.

O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.

Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranqüilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas. Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.

Simplesmente as palavras do homem.