Sobre o sifu presidencial

Direto lá do Blog do Mino – mas vale a pena dar uma passada lá para conferir o original (pelos comentários)…

Respondo aos navegantes perplexos, ou irritados, diante das reações ao sifu presidencial. Um excelente comentário ao tal discurso de Lula é da autoria de Marcelo Parada, feito na Band na semana passada, não recordo o dia. Parada disse que para uma platéia de artistas e publicitários, o presidente pronunciou um discurso magistral, rico de idéias e muito bem articulado. No entanto, os analistas da mídia prendiam-se ao sifu e esqueciam o resto. Sem contar que, naquele cenário, o sifu era no mínimo perdoável e, de todo modo, suscitara as palmas e a diversão da audiência. Agora, vejamos. Vale a pena surpreender-se ainda com a hipocrisia, a desfaçatez, a mediocridade, a raiva da mídia nativa?

Desafio 21 dias – Edição 2008

Essa é da virtual amiga Lu Monte, lá do Dia de Folga. Bastante interessante (em especial a conclusão nº 3). Sei que ela prefere a referência à bricolagem, mas, sacumé, ieu num arresisti…

O que aprendi com blogs em 2008 [Desafio 21]

A Nosphie pergunta: o que você aprendeu sobre blogs em 2008? Ela quer 5 itens. Lá vou eu fazer Top 5, curto e grosso, porque o tempo ruge.

1. Que a blogosfera feminina é firme, forte e atuante. Quando a Tânia Morales me perguntou sobre blogs femininos no começo deste ano, falei que os homens são maioria na rede. Hoje, percebo o meu erro. Homens fazem mais barulho, gritam, batem os pés e cantam de galo. Nós somos mais quietas, mas não somos minoria, não, em nenhum sentido.

2. Que BlogCamp é um formato bacana, mas precisa de um complemento. As oficinas no BlogCamp SP supriram muito bem essa necessidade.

3. Que surgem mais boas idéias do que tempo para executá-las. E nem falo dos posts. Esses, multiplicam-se em cadernetas, notas mentais e evernote, mas cadê tempo para concretizá-los?

4. Que não importa o quanto se faça, tem sempre gente pra reclamar e/ou atrapalhar, mas não pra colaborar – isso é raro. Não é assim apenas no mundo dos blogs, claro, mas na vida.

5. Que blogar não pode ser fonte de estresse. Tem que ser leve. De pesado, já basta o trabalho que me remunera. Blogo por prazer. Não blogo para aparecer, para ganhar dinheiro, receber mimos ou figurar em rankings. Vejo muita gente que não tira nem 100 dólares por mês estressando-se como se a própria vida dependesse da tal blogosfera. Eu ando zen. “Zen” paciência para um monte de coisas desse mundinho podre, como disse certo dia numa mesa de bar.

Quero só a parte boa de blogar. Aquela que existia sozinha em 2003, 2004. O resto é resto.

Também cumpri esse desafio no ano passado. Tá aqui, ó: O que aprendi com blogs em 2007.

O maior crime ambiental de 2008 (até agora)

Procurador da República Tranvanvan da Silva Feitosa denunciou à Justiça Federal o empresário Gilmar Chinelli Pereira por crime ambiental no município de Bom Jesus, localizado no cerrado piauiense.

O Ministério Público Federal no Paiuí (MPF/PI) apresentou denúncia contra Gilmar Chinelli Pereira por crime ambiental. Consta que o acusado promoveu a derrubada de floresta de cerrado, desmatando o equivalente a uma cidade inteira sem nenhuma preocupação ambiental, sem licenciamento e sem autorização e conhecimento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Uma área de 11.673 hectares foi desmatada de forma contínua, o equivalente a quase 12 mil campos de futebol ou 116,73 quilômetros quadrados na região da Serra do Quilombo, no município de Bom Jesus, no Piauí. Para se dimensionar o estrago, a maioria das cidades de nosso estado não tem sequer área urbana de cem quilômetros quadrados, caracterizando o maior desmatamento individual do Brasil de que se tem notícia neste ano.

Segundo o procurador da República Tranvanvan da Silva Feitosa, a região desmatada é área crítica que vem sendo objeto de especulação imobiliária e grilagem, em face da expansão das fronteiras agrícolas do Piauí, especialmente da monocultura de grãos. Por conta disso foi aplicada uma multa pelo Ibama de 5,8 milhões de reais ao réu e embargada a atividade econômica da propriedade. Na prática, o crime ambiental está consumado: a floresta derrubada, pronta para vender ao próximo especulador dos cerrados.

Chinelli já foi autuado pelo Ibama em março deste ano por promover o desmatamento de 3.664,51 hectares de floresta do cerrado na mesma região e município, tendo sido o empreendimento embargado com multa no valor de R$365.500,00.

“Com a derrubada da floresta à sua maneira o acusado destruiu o meio ambiente, toda a biodiversidade local, causando a perda da cobertura vegetal de proteção dos recursos hídricos, promovendo a aceleração do processo de erosão e desertificação”, conclui Tranvanvan.

Fonte: Ministério Público Federal

Quente, quente, muito quente (de novo)

Esse meu texto é de quase dois anos atrás, mas reflete EXATAMENTE o que se passa na minha cabeça no dia de hoje…

Nos verões insuportáveis de outrora – há uns vinte e tantos anos atrás – a molecada costumava se reunir com suas bicicletas e pegar a chamada “Estradinha de Monteiro” (que vai pra cidade de Monteiro Lobato) pra dar uns mergulhos no rio.

Eram bicicletas de todos os tipos: Monareta, Berlineta, Barra-circular, Barra-forte, Caloi 10, Sprint 10, BMX (sem tanquinho) e as invejadas Caloicross… Toda a tropa pedalava coisa de uns cinco a dez quilômetros até chegar na hoje extinta ponte de madeira do Rio Buquira, onde nadávamos por toda a tarde.

Nós chegávamos, empilhávamos todas as bicicletas na margem do rio, arrancávamos a roupa (não toda, o short ficava), e nos posicionávamos sobre o corrimão da ponte para o merecido mergulho após toda aquela árdua pedalada.

Lembro-me como se fosse hoje. O sol quente batendo nas costas, ainda arfando e suando devido ao trajeto de bicicleta, eu subia no corrimão (sei lá a quantos metros de altura do rio) e preparava-me para o mergulho. Esticava-me todo, numa pseudo-preparativa (como um nadador olímpico), abaixava-me, jogando os braços para trás e… IMPULSO!

Indescritível aquele momento de vazio, em pleno ar, antevendo as águas geladas do rio…

O próprio “cair”, totalmente envolvido pelo vento, já era o início do processo para refrescar…

E então o choque!

O corpo mergulhava totalmente na água e – por um breve momento – todos os problemas do mundo simplesmente não existiam. Ainda submerso, tudo que importava era aquele frescor vivenciado num momento de puro êxtase.

É lógico que tínhamos que voltar à superfície algum dia. Muitas vezes perdíamos a noção do tempo e quando emergíamos já estávamos adiantados, sendo arrastados pela correnteza, além da curva do rio. O chato era ter que voltar até a ponte, pela margem, a pé. O divertido era que podíamos começar tudo de novo.

Ah, bons tempos…

O fio

Saboroso texto do Sérgio Rodrigues, sendo de se destacar o excelente conselho de Dorothy Parker.

Apontamentos levianos para um ensaio gravíssimo: o fio

A boa escrita é a atualização, que parece se dar no ato mesmo da leitura, de um certo potencial literário da linguagem, coisa obviamente intangível: um jogo desesperado, uma dança sedutora, tapeçaria vaporosa de ritmos, vírgulas, climas e sabedoria vocabular lançada sobre um relevo concreto de topoi, de pressupostos culturais e sensoriais que compõem o território compartilhado por escritor e leitor. Um relevo de lugares-comuns que a escrita ora aceita, acariciando, ora confronta, batendo de frente nas pedras – mas esta é outra conversa. O que importa destacar aqui é que toda essa algazarra se dá, como se acontecesse pela primeira vez, no ato mesmo da leitura, aparecendo antes de mais nada sob a forma de um comboio de palavras. E já que estamos no terreno do intangível: quanto mais charmoso esse comboio, quanto melhor a escrita, maior o fio, o gume com que fere a página naquele momento.

É o fio, para não deixar de explorar a polissemia da palavra, que nos leva a passar de uma palavra à próxima, de uma frase às frases seguintes, e virar as páginas fascinados num mundo em que a cada dia há mais páginas, páginas excessivas, implorando nossa atenção como crianças malabaristas nos sinais. E é a consciência da ausência de fio que nos leva a ler cinco páginas e meia do romance cult recém-lançado como quem encara um suflê de alfafa, garfada a garfada, penosamente, antes de tomarmos coragem para seguir o conselho de Dorothy Parker: “Este não é um livro que se possa deixar de lado de forma leviana. Deve-se atirá-lo longe com toda a força”. Teríamos cometido uma injustiça? Brilharia milagrosamente a partir da página dezoito o gume até então cego? Nós e Dorothy jamais saberemos.

Mas como se dá, afinal, a avaliação da escrita por um critério tão impressionista? Quem diz onde está o fio, ou pior, quem diz o que é o fio? Quem leu o suficiente para dizer, é claro. Mas diz em primeiro lugar – e isso é importante – a si mesmo. Assim como a realidade do texto para o leitor se dá sempre agora, não importa quanto tempo o autor tenha investido nele nem quantos séculos tenham se passado entre escrita e leitura, da mesma forma esse leitor-juiz, se tiver dois gramas de sabedoria, saberá que é irremediavelmente idiossincrático ao julgar o fio. Isso não significa decretar um vale-tudo estético baseado apenas no “gosto pessoal”. Nenhum gosto é exclusivamente pessoal, mas sempre enraizado num patrimônio de cultura que pertence à sociedade. Ocorre apenas que, de tanto ler, o leitor, submisso leitor, acaba dando um jeito de instaurar sua própria tirania sobre os escritores: se puder, não permitirá de modo algum que aquelas palavras lhe arranhem a retina, a mente ou a alma. Eis porque uma boa pedra de amolar é mais importante na mesa de trabalho do escritor do que papel e caneta – ou um computador.

Licitação do metrô de São Paulo

Bizarro.

É o mínimo que posso dizer.

Trabalho diariamente com licitações, em suas mais diversas formas e modalidades, e ver uma coisa desse tipo realmente me choca. É uma falta de respeito, de dignidade, de profissionalismo e, sobretudo, de moral. Conchavos e acertos de qualquer espécie têm que ser rechaçados em busca de uma imagem decente da Administração Pública. E se ainda existe esse tipo de coisa é porque também existe quem se deixe levar. Fiquei sabendo da história lá pelo efeefe e fui conferir no bugio. Segue, na íntegra.

O resultado da licitação para a construção da via permanente 2-Verde do Metrô, obra de mais de R$ 200 milhões, foi antecipado pela Folha Online oito horas antes da abertura dos envelopes, ontem, em São Paulo. O nome da vencedora e detalhes do processo foram ocultados em texto sobre a ópera “Salomé”, que entrou em cartaz ontem na Sala São Paulo.

A antecipação mostra que a concorrência pode ter sido direcionada, de forma a dar vitória ao consórcio liderado pela Camargo Corrêa. Procurada, a empresa se recusou a falar sobre o assunto.

Mundo globalizado?

Que sirva de lição aos grandes amantes das modernidades e de todas essas traquitanas tecnológicas. Nossa realidade é bem outra. O mundo lá fora existe, sim senhores. Eu mesmo somente acabei me lembrando disso ao – só hoje! – ler o post  do último dia 10 de junho lá no Lente do Zé.

Ficamos tão preocupados com as novidades, com o virtual, com as posturas, com os movimentos sociais na rede, e, no meu caso ainda pior, com posturas jurídicas, correntes doutrinárias, decisões de tribunais, sentenças incongruentes, que acabamos esquecendo que o mundo não gira em torno de nosso umbigo. O ser humano foi “inventado” bem antes dos computadores e costumava ter seu próprio modus operandi antes dessa era digital. Eu sou o primeiro a sempre me dar esse puxão de orelha para me lembrar disso – mas também sou sempre o primeiro a esquecer…

Bem, segue o texto na íntegra, que foi publicado pelo Zé sob o título de “Rosário e Chapada do Norte”.

Alguém já ouviu falar em Chapada do Norte?

Trata-se de uma cidadezinha mineira de apenas 15 mil habitantes (destes, 9.000 na zona rural), 555 km pra cima de Belo Horizonte – mais precisamente no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais miseráveis do país.

Minha diarista, a Rosário, é de lá. Há mais de vinte anos trabalhando comigo, em quatro casas eu morei, nas quatro ela me ajudou a organizar o caos semanal. Também faz faxina no Villaggio, na casa da Rô e até na gravadora Lua, ainda hoje. Trabalha duro seis dias por semana, incansável.

Vinte anos trabalhando pra mim e até hoje não sei seu sobrenome – até porque nunca precisei saber. Também nunca soube seu endereço, e só passei a ter como falar com ela fora de casa depois lhe dar um celular que havia trocado por um modelo mais novo, cerca de dois anos atrás. Não porque tivesse necessidade ou motivos pra ligar – já que nunca faltou sequer um dia. Simplesmente perguntei se ela queria a geringonça e a resposta foi sim, aceito, obrigado.

Perto dos seus sessenta anos, sempre foi do tipo caladona, séria. Nos últimos anos é que começou a rir um pouco das minhas brincadeiras, a conversar timidamente. Solteira e sem filhos, mora num desses subúrbios da Capital com uma “sobrinha”, moça (des) casada que era filha de uma de suas ex-patroas e que, quando perdeu a mãe, foi morar com a amada faxineira – vejam só.

Das poucas coisas que sei dela, uma é que, há anos, vem economizando e mandando caraminguás pra construção de uma casinha para os pais, velhinhos, lá em Minas. Nesse “palácio”, que nunca termina de ser construído, é que planeja morar quando se aposentar.

Já faz três anos que Rosário não vai a Chapada do Norte. Um pouco por falta de dias livres, outro pra não deixar a “sobrinha” sozinha com seu bebê, já que praticamente sustenta todo mundo em casa. “Este ano ano eu vou dar um jeito de ir”, vinha dizendo.

Ontem ela soube, através de um telefonema – que nem teve chance de atender -, que seu pai falecera. Na verdade, já tinha até sido enterrado, no último sábado.

Veio trabalhar assim mesmo, mais calada do que de costume. Hoje cedo sua tristeza só não era maior do que a frustração e a sensação de impotência diante de um simples detalhe: não tem como falar com seus familiares. Não pode saber como está a mãe, só soube – por quem ligou e deixou recado na sua casa – que a velha senhora “não estava bem”.

Ora, mas como – em pleno 2008 – alguém não consegue falar com alguém neste país por telefone, questionei? Resignada, respondeu que na zona rural de Chapada do Norte só tem um telefone, comunitário, e que não consegue completar uma mísera ligação pra lá. “Deve estar quebrado, como sempre”, concluiu, com pesar. Quem ligou e avisou sobre a perda do pai, explica, teve que rodar pelo menos 40 minutos em estrada de terra até a cidade, sabe-se lá em que condução, pra ter como mandar a triste mensagem.

“Meu pai tinha 84 anos, mas sua saúde era boa”, falou. “Nem sei do que ele morreu, vamos tentar mandar um telegrama amanhã e pedir notícias”.

E continuou seu trabalho, calada, como sempre fez nesses vinte anos.