Foi amor ao primeiro escrito com português correto

Rebeca Bedone

Ela se rendeu aos aplicativos de paquera. Tímida e conservadora, nunca acreditou muito nessas tecnologias do amor. Mas acontece que a solidão torna-se uma insistente companheira para aqueles que não tomam alguma atitude, como sair de casa mais vezes ou até encarar sites de relacionamento. Encorajada pelas amigas que arrumaram seus “crushs” na internet, ela montou seu perfil. Escolheu algumas fotos e ficou pensando se colocaria informações pessoais. Melhor não, vai saber quem é que leria sobre a sua vida. No começo, ela tinha que decidir se apertava o xis ou o coraçãozinho: não ou sim. Com qual critério decidir se o cara era um paquera em potencial? A foto. Até ali, era só a aparência física que estava valendo? Ok. Ela resolveu jogar o joguinho de encontrar um “crush”: não; não; não; não; não; não; não. Tinha alguma coisa errada. Será que ela estava sendo exigente demais? Com certeza, sempre foi (deve ser por isso que anda sem sorte no amor). Mas essa maneira de escolher não parecia muito justa. E se os nãos anteriores fossem pessoas legais e interessantes? Ela só saberia se conversasse, certo? Então despiu-se mais uma vez de seus preconceitos e começou a espalhar coraçãozinhos: sim, sim, sim, sim, sim, sim! Mais uma barreira vencida. Ela estava se sentindo orgulhosa. Ficou esperando para ver o que aconteceria em seguida, quando chegou a primeira mensagem: “oi linda”. Hum. Curioso. A abordagem, que para muitas mulheres deve ser uma delícia, para ela pareceu invasiva. O cara nem tinha intimidade e já ia chamando-a de linda. Mas, ok, ela estava decidida a romper barreiras. Papo veio, papo foi e o dia correu com uma variação de cantadas digitais. Mas alguma coisa estava esquisita. Não era que os moços não parecessem bacanas, até pareciam. Uns mais atirados, outros, discretos; fazia parte do processo, como na vida real. Mas um detalhezinho a incomodava: quanto erro de português, meu Deus! Veja bem: ela não é nenhuma literata nem professora de Língua Portuguesa. Mas, quanto mais madura e independente é uma mulher, mais seletiva ela fica em seus relacionamentos. Se isso é bom? É e não é; cada experiência que o diga! E, em se tratando dela, escrever o básico de forma correta é imprescindível (fazer o quê?!). Como sentir tesão com um “moro aqui a cinco anos” e “concerteza você vai gostar”? Ela, com absoluta certeza, não gostou. E gostou menos ainda quando leu “pra mim fazer”, “fazem 3 dias” e “agente vamos”. Sobre os porquês, ela até deu um tempo na sua implicância. A língua portuguesa é difícil mesmo, não seria justo julgar alguém só por ele não saber por que os porquês são escritos de forma junta ou separada. Mas, porque chegou a próxima mensagem, ela quase surtou: “linda agente podia marca um rapi”. Será que ele estava convidando-a para dançar rap? Não. Era “happy hour”! As pessoas escrevem mensagens com um ritmo acelerado nos dias de hoje. Ela entendia que abreviaturas como vdd (verdade), blz (beleza), vc (você), ctz (certeza), n (não) e bj (beijo) fossem aceitas na era da escrita digital. Mas, mesmo assim, ela chegou a pensar que a profecia de José Saramago seria cumprida algum dia: “De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido”. Entretanto, o que a chateava era ver a “última flor do Lácio, inculta e bela” ser tão maltratada. O seu coração doía ao ler tanta coisa errada. Por que assaltaram a gramática e assassinaram a nossa lógica? Para ela, havia uma grande diferença entre licença poética e erro de português. Foi então que seu celular apitou: “Boa noite. Tudo bem com você?”. Os olhos dela brilharam. Como era bonito ler palavras que não estavam abreviadas. E a mensagem tinha até pontuação! Ela ficou interessada e respondeu. A conversa prosseguiu tão deliciosamente pelo aplicativo de paquera que, logo, eles passaram para o WhatsApp — e não “Zap”, como disse um outro candidato ao coração dela. E depois? Será que rolou o encontro ao vivo? Bom, isso é uma outra história (ou estória, para quem preferir).

O Spider-Man Mexicano e a Gwen Stacy que não morreu

O Spider-Man Mexicano nunca deveria ter existido, mas por obra do Destino tornou-se uma curiosidade muito mais interessante que suas próprias histórias.

Carlos Cardoso, em 30/09/2019 às 18:16, no meiobit.com.

Ok, não ESSE Spider-Man Mexicano.

Se você nunca ouviu falar do Spider-Man Mexicano, não se sinta excluído. É um dos lados mais obscuros do personagem, mas um dos mais divertidos e inacreditáveis. Nas imortais palavras do Lito, senta que lá vem história:

Se você pegar um pacote de revistas da Marvel hoje, publicadas nos EUA, vai perceber que a cronologia é uma zona, personagens aparecem em títulos diferentes vivendo momentos diferentes de suas vidas, mas isso já foi bem pior. No Brasil na década de 80 a editora Abril publicava títulos da Marvel que às vezes estavam dois ou três anos defasados uns dos outros.

Quando em 1984 foi lançada a saga Secret Wars, a Gulliver comprou os direitos para vender brinquedos associados à série, e pressionou a Abril a lançar as 12 edições, començando naquele ano mesmo. Para cumprir o contrato a editora criou um verdadeiro Frankenstein.

Alguns uniformes foram redesenhados, personagens foram apagados da existência, e até o final foi mudado.

Alterações menores são normais, tipo o A da mesa dos Vingadores ser invertido e virar um V, ou quando rebatizaram um personagem de Magnum (com um bigode ele tinha uma remota semelhança com o Tom Selleck), ao invés de manter o nome original, afinal se Wonder Man virasse “Homem-Maravilha” os leitores achariam que ele era mais gay que o Robin mordido por um Liberace radioativo.

O que era mais que incomum, mais que raro era a criação de histórias inteiras por parte das editoras locais. Não era o estilo da Marvel. A Disney, sem problemas, respeitando as regras de conduta, cada país tinha suas histórias próprias, e por isso o Zé Carioca conhecia tanto do gingado brasileiro.

Entra o Spider-Man Mexicano

O Aranha apareceu pela primeira vez em 1962, e já no começo de 1963 estreou em revista própria, a Amazing Spider-Man #1. O sucesso foi imediato, com o personagem atraindo leitores de todos os cantos. A Marvel, sempre disposta a faturar um trocado, licenciava as revistas que eram traduzidas, adaptadas e impressas nos mercados locais.

Em três meses El Sorprendente Hombre Araña chegava às bancas, publicado no méxico pela Prensa. O público adorou, as vendas foram incríveis mas surgiu um problema: Excesso de demanda. As pessoas queriam mais histórias.

Outros títulos foram importados e traduzidos, mas os Avengeiros (ou seja lá como for Vingadores em espanhol) não atraiam tanta atenção.  As pessoas queriam o Aranha.

A editora começou a catar histórias de outros títulos do Spider-Man, mas como as edições americanas eram mensais e depois de oito números as mexicanas se tornaram quinzenais, logo o material acabou, mas na mais nobre tradição mexicana, disseram aos fãs: “Todo o problema acabou, La Prensa chegou”.

Com Raúl Martinez escrevendo e José Luis González Durán desenhando, histórias locais do Hombre Araña começaram a ser publicadas. A Marvel não gostou, não eram histórias autorizadas, mas como a Casa das Idéias sempre foi meio casa da luz vermelha, e a regra era calcinha na mão dinheiro no chão (ou algo assim) e a Prensa mal ou bem continuava pagando royalties, fizeram vista-grossa.

Spider-Man Mexicano e a edificante Gwen Stacy.

No começo as capas eram kibadas do John Romita Jr, entre outros, e as ilustrações internas eram quase colagens, mas com o tempo Durán foi pegando jeito e se soltando, se soltando até demais. Ele nutria uma obsessão quase patológica pela Gwen Stacy, ela aparecia em quase todas as histórias, e, digamos assim, Durán a desenhava em um estilo bem… latino. Nenhuma americana loirinha do Queens teria essa… saúde.

As muitas “faces” de Gwen Stacy.

As capas chegavam a ser constrangedoras mesmo pros padrões de quadrinhos, onde homens vestem cueca por cima da calça e a mulherada ia pro combate de maiô. A arte de Durán era excepcionalmente boa pros padrões locais e da época, ele pecava por kibar muito material alheio, usava outros quadrinhos como referência o tempo todo, mas era uma necessidade. Ele tinha que trabalhar no dobro da velocidade dos artistas gringos, e ainda acumulava as tiras do Araña para publicação em jornais.

Seja por seu caráter ou suas tuberosidades calipígias, Gwen Stacy era extremamente popular, e por causa disso a Prensa começou a encher linguiça publicando histórias próprias, para não chegar ao fatídico The Amazing Spider-Man #121, quando (spoilers!) Gwen morre nas mãos do Duende Verde. Ou melhor, nas mãos de Peter Parker, o que é melhor ainda pra deixar a vida dele mais desgraçada ainda.

Mais de 45 edições foram produzidas, adianta a morte de Gwen Stacy, com direito a uma muito especial:

El Casamiento de Pedro Prado.

Como casar os dois daria muito trabalho e teriam que reescrever todo o material de fora, o casamento todo não passou de uma alucinação do Parker, mas deu aos leitores o que eles queriam, um momento final de telenovela para o casal número um dos quadrinhos, depois de Batman e Robin.

Quanto à Prensa, no melhor estilo dramalhão mexicano a má-gestão fez com que a editora se endividasse e fechasse as portas em 1974, mas como vitória final, eles nunca chegaram a publicar a morte de Gwen Stacy!

Mais tarde os direitos foram comprados pela OEPISA, que mantendo a tradição de transformar a cronologia da Marvel num samba do crioulo doido, publicou a revista Arañita (Spidey, no original) e entre histórias prontas e inventadas localmente, fizeram até um desautorizadíssimo crossover entre o Homem-Aranha e… Planeta dos Macacos.

versão 2.0 do Spider-Man Mexicano – Agora com mais kibe

Agora o final feliz que você não esperava: José Luis González Durán está vivo e bem, tem uma página no Facebook e mal acreditou quando sua arte (que era ótima, diga-se de passagem) foi redescoberta, e tanta gente foi atrás do homem que não deixou Gwen Stacy morrer.

José Luis González Durán, el padre del spider-man mexicano.

A FLIP está certa: a literatura é inútil

Edson Aran

O escritor Hilaire Belloc (1870-1953), um anglo-francês amigo de G.K. Chesterton, disse: “Metade do que escrevemos é prejudicial; o resto, inútil”.

Belloc foi poeta, político, ensaísta, católico fervoroso e esquizoide. Eu acho, pelo menos. Um “anglo-francês” é uma esquisitice tão grande quanto um “argentino-brasileiro”. Um ser imaginário que não faz sentido algum aos olhos de deus e dos homens. No entanto, Belloc está certo quando diz que escrever é uma atividade ridícula e desprezível. Pra quê serve a literatura, afinal? Pra nada. Absolutamente nada. Fez muito bem a FLIP em se transformar numa feirinha de ativistas. A turba bolsonarista que tentava impedir a palestra de Glenn Greenwald é a imagem que vai ficar do encontro. O resumo.

Livrarias fecham, editoras agonizam e só funcionários públicos podem se dedicar à literatura no Brasil, mas está tudo bem. Afinal, pra que serve a literatura? Pra nada. O que os dramas burgueses de Machado fizeram pela emancipação do proletariado? Nada. O que o indeciso príncipe dinamarquês de Shakespeare fez pela restauração do catolicismo na Inglaterra? Nada. O que Euclides fez pelo banimento dos canudos? Acertou: nada. Eu poderia comentar ainda o papel de Cervantes na emancipação da mulher negra (nenhum) ou de Mário de Andrade na demarcação de terras indígenas (zero), mas acredito que o argumento esteja claro. A literatura é uma atividade inútil e é uma absoluta perda de tempo se ocupar com essa bobagem. Ativismo, sim! Essa é a glória que fica, eleva, honra e consola.

Afinal, pra que serve a literatura? Só pra uma coisa, que é, no entanto, desprezível, desnecessária e dispensável: criar o imaginário de um povo. Uma ideia de nação. Uma ideia de país. Uma ideia de cultura. Uma ideia de futuro. Uma ideia de passado. Mas quem precisa disso? Não o Brasil, muito obrigado.

Passamos da barbárie à decadência sem fazer escala na civilização. Ficamos reduzidos a duas tribos políticas antagônicas que só se encontram no atraso. De um lado, a corrupção corporativista primitiva e cínica comandada por uma triste figura sebastianista endeusada por padres sem fé. De outro, o fascismo ignorante violento e tosco liderado por uma patética figura endeusada por pastores com fé apenas no dinheiro. Em 500 anos, foi isso o que conseguimos produzir. Quer dizer, 500 não, que isso é de um eurocentrismo pra lá de abjeto. São 13.500, a contar da chegada de Luzia na nossa horta. Luzia, o fóssil mais antigo das Américas. Aquele que quase virou cinzas quando o Museu Nacional pegou fogo, lembra?

Diante desse abissal tempo perdido, para que serve a literatura? Para construir um imaginário diferente desse que está aí? Para unir as tribos belicosas numa cultura comum? Ah, fala sério. Quem precisa disso? A Terra é plana, a cabeça é oca e a FLIP está certa em se encher de lobbystas em vez de autores.

Afinal, se todo mundo bater bumbo o tempo inteiro, ninguém vai ouvir o brasileiro gritando: “O horror! O horror! O horror!”

Educação para a vida deveria incluir aulas de solidão

Rebeca Bedone

Nem todo mundo entende que algumas pessoas vivem melhor quando têm seus momentos sozinhas. Chamam-nas de solitárias e individualistas. Mas a verdade é que existem homens e mulheres que curtem a solidão, dure ela poucas horas ou muitos dias. No silêncio, essas pessoas escutam melhor a si mesmas. É uma necessidade genuína de ser unidade. Não tem a ver com individualismo egoísta ou autossuficiência, mas com o aprendizado que se adquire com o tempo: como nas vezes em que, acompanhada, a pessoa se sentiu sufocada ou incompleta. Ou, simplesmente, não conseguiu pensar com clareza. São muitas as cobranças de quem não entende a escolha da solidão. O parceiro que não entende que o outro precisa ter seus momentos sozinho, mesmo que dentro do relacionamento. O amigo que insiste em virar a noite em baladas com vodca e energético e não aceita a opção pela madrugada com vinho tinto e sessões de filmes na Netflix. Outros acham insuportável estarem desacompanhados — seja por parentes, amigos ou amores — e precisam ficar com alguém o tempo todo. Cada um tem a sua própria maneira de enxergar a si mesmo. Cada vez mais acredito que minha força está na solidão. Em meu exílio, sou tempestade em dia de verão. Encontro meus medos, segredos e saudades em meio à calmaria de estar só. Minha própria companhia pode até me apavorar de vez em quando, mas são estes raios tempestivos que me guiam para dentro de mim mesma: o lugar onde tudo é mistério e solução. Quem se reconhece em si mesmo não teme o silêncio da espera e o vazio do quarto. Aproveita a leitura na madrugada e a ressonância dos pensamentos. Supera o cansaço e resgata anseios esquecidos. Entende que sempre existirão tristeza e alegria, estando só ou acompanhado. Mas este processo nem sempre é fácil. Para estar só, é preciso abandonar o comodismo e ir de encontro aos próprios defeitos. É preciso encaixotar sonhos impossíveis. Encarar despedidas e aceitar o que não tem explicação. E, às vezes, é necessário sofrer para entender o amor. Algumas pessoas precisam ficar sozinhas para encontrar o equilíbrio sobre a frieza da vida, como um dançarino que patina sobre o gelo. A alma silenciosa desliza na musicalidade que expressa sentimentos escondidos. A solidão se torna solitude quando se harmonizam sonho e realidade, sem se preocupar demais com as quedas que a dança da existência pode trazer; a quietude surge na decisão de erguer-se sempre. Depois da solidão, tenha ela a duração de uma noite, várias semanas ou o tempo que for necessário, chega o tempo de recomeçar. Surge a vontade de ir ao encontro das pessoas queridas, uma necessidade honesta de lhes distribuir atenção e carinho. Porque é o reinício do voo sem a certeza de onde se irá pousar, pois o que importa é o caminho. O caminho de ser uma pessoa mais feliz e serena, e não um pedaço incompleto de si mesma.

We need to talk about Jean

Exílio de Jean Wyllys mostra que democracia
se tornou perigosa no Brasil

Leonardo Sakamoto

Por medo de ser assassinado, o deputado federal reeleito Jean Wyllys (PSOL-RJ) desistiu do mandato e afirmou que não pretende voltar ao país tão cedo – ele está fora por conta das férias. Jean, que sempre recebeu ameaças de morte por conta de sua atuação parlamentar em defesa da população LGBTT e dos direitos humanos, sentiu sua situação piorar após a execução da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes e das eleições do ano passado.

O deputado, que vive sob escolta policial, disse em entrevista ao jornalista Carlos Julianos Barros, na Folha de S.Paulo, que pesou na decisão as informações de que familiares de um policial militar suspeito de chefiar uma milícia no Rio de Janeiro trabalhavam no gabinete do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro. “O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim”, disse.

Você não precisa gostar de Jean Wyllys ou concordar com ele para entender que uma democracia pressupõe a garantia que pessoas não sejam ameaçadas de morte por aquilo ou por causa daqueles que defendem. Principalmente quando essas pessoas são políticos eleitos pelo voto popular para falar em nome de uma parcela dos cidadãos no Congresso Nacional. Porque, quando isso acontece, não é apenas o representante que está sendo expulso pelo clima de terror contra ele, mas é a opinião de cada eleitor e eleitora que está sendo amordaçada e violentada.

Uma democracia incapaz de investigar com rapidez e seriedade as ameaças de morte contra um congressista é perigosa. Uma democracia em que uma desembargadora divulga ameaças de morte contra um deputado federal nas redes sociais é disfuncional. Uma democracia em que políticos ironizam um parlamentar que deixa o país com medo de morrer é ridícula.

Não deixo de sentir uma certa vergonha alheia com relação às autoridades que afirmam, com peito estufado, que as “instituições estão funcionando normalmente”. Qual o referencial histórico que adotam para tal avaliação? O Ato Institucional número 5 do Brasil de 1968? A Noite dos Cristais da Alemanha de 1938?

Nosso país sempre matou seus pobres, suas mulheres, seus negros, suas minorias em direitos, seus sem-terra e sem-teto, seus trabalhadores rurais, seus ativistas, seus jornalistas, seus políticos e qualquer um que resolvesse se insurgir contra a desigualdade e a injustiça social. No ano passado, contudo, inauguramos um novo ciclo de violência política. Marielle Franco e Anderson Gomes foram executados em março. Os ônibus da caravana do ex-presidente Lula foram alvos de tiros no mesmo mês. O então candidato Jair Bolsonaro sofreu um atentado em setembro que quase lhe custou a vida. Em outubro, o mestre capoeirista e compositor Moa do Catendê foi esfaqueado e morto por um eleitor de Bolsonaro após uma discussão. Isso não resume a violência, claro.

Esse ciclo encomenda mortes, mas também permite que elas aconteçam, através da omissão e do incentivo.

Em “Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal”, a filósofa Hanna Arendt conta a história da captura do carrasco nazista Adolf Eichmann, na Argentina, por agentes israelenses, e seu consequente julgamento. Ela, judia e alemã, chegou a ficar presa em um campo de concentração antes de conseguir fugir para os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

Ao contrário da descrição de um demônio que todos esperavam em seus relatos, originalmente produzidos para a revista New Yorker, o que ela viu foi um funcionário público medíocre e carreirista, que não refletia sobre suas ações e atividades e que repetia clichês. Ele não possuía história de preconceito aos judeus e não apresentava distúrbios mentais ou caráter doentio. Agia acreditando que, se cumprisse as ordens que lhe fossem dadas, ascenderia na carreira e seria reconhecido entre seus pares por isso. Cumpria ordens com eficiência, sendo um bom burocrata, sem refletir sobre o mal que elas causavam.

A autora não quis com o texto, que acabou lhe rendendo ameaças, suavizar os resultados da ação de Eichmann, mas entendê-la em um contexto maior. Ele não era o mal encarnado. Seria fácil pensar assim, aliás. Quis ela explicar que a maldade foi construída aos poucos, por influência de pessoas e diante da falta de crítica, ocupando espaço quando as instituições politicamente permitiram. O vazio de pensamento é o ambiente em que o “mal” se aconchega, abrindo espaço para a banalização da violência. Já fiz essa reflexão sobre o livro aqui, mas é pertinente retomá-lo neste momento.

Líderes políticos, sociais ou religiosos afirmam que não incitam a violência através de suas palavras. Porém, se não são suas mãos que seguram o revólver, é a sobreposição de seus argumentos e a escolha que fazem das palavras ao longo do tempo que distorce a visão de mundo de seus seguidores e torna o ato de atirar banal. Ou, melhor dizendo, “necessário”. Suas ações e regras redefinem o que é aceitável, visão que depois será consumida e praticada por terceiros. Estes acreditarão estarem fazendo o certo, praticamente em uma missão divina.

Os envolvidos nesses casos colocam em prática o que leem todos os dias na rede e absorvem em outras mídias: que seus adversários político e ideológico são a corja da sociedade e agem para corromper os valores, tornar a vida dos outros um inferno e a cidade, um lixo. Seres descartáveis, que nos ameaçam com sua existência, que não se encaixa nos padrões estabelecidos do “bem”.

Jean Wyllys foi vendido, ao longo dos anos, como uma dessas pessoas descartáveis, que ameaçam a existência de “homens e mulheres de bem”. Nesse sentido, o agressor pode ser qualquer um.

A discussão não é entre direita e esquerda, mas entre civilização e barbárie.

Com o exílio de Jean Wyllys por medo de morrer, a barbárie marca mais um ponto.

Armas foram feitas para matar

Élida Ramirez

Tânia era uma tia para mim. Foi morta pelo irmão esquizofrênico que usou uma pistola com silenciador. Rodrigo, irmão mais novo de um amigo, tinha 19 anos quando foi atingido por uma bala no peito disparada por um militar que fazia bico em uma festa universitária. Edma fazia minhas unhas e sumiu. O corpo foi achado em um lote vago, cheio de tiros. Nos três casos, armas legalizadas e ilegais. Que cumpriram o papel do armamento: matar. Fico pensando que se fosse uma faca, talvez, os atos violentos não tivessem sido fatais. Conjecturas de quem perdeu afetos. Antes dessas mortes, já era contrária à política do armamento. A discussão sobre o tema gera polêmica há décadas no Brasil. A falta de consenso vai desde o copo sujo aqui perto de casa aos especialistas. E, para mim, a informação parcial desencontrada e o uso político do assunto são tão perigosos quanto ter um revólver no travesseiro em uma casa cheia de crianças.

O uso de arma, suas consequências e simbolismos desde sempre conferiram ao assunto o troféu de abacaxi histórico. Por que tanto bafafá em relação ao assunto? Pois desde a criação da pólvora na China até os fuzis e metralhadoras mais potentes de hoje, as armas cumprem a mesma função: tirar a vida das pessoas. Não vim aqui para convencer ninguém pois as redes sociais já estão lotadas de opiniões de todo tipo. Mas proponho reflexões. A violência não acontece porque estou desarmada. Ela é conjuntura de fatores socioeconômicos. Portanto, ter revólver só ajuda a matar mais.

Muito dirão: “ah, se o estado não me protege 100%, tenho direito a fazê-lo”. De fato. Se a função da arma é matar e é liberado a civis a ter em seus lares, indiretamente é dada a licença para atirar. Rejeito veementemente a noção infantil, rasa e preconceituosa que anda circulando por aí de cidadão do bem. A falta de dinheiro não é a única responsável pelo crime. Meu pai passou fome e nunca tirou um centavo de ninguém. Jamais mataria. Reconheçamos, a conjuntura interfere. E justificar assassinatos de supostos bandidos com o argumento da autoproteção é optar pelo conformismo imediatista, primitivo e perigoso do “olho por olho, dente por dente”.

A solução de problemas por meio da morte não pode ser naturalizada. Quando cobria crimes, como jornalista, tratava o morto informalmente como “presunto”. O maior desrespeito. É que estava tão imersa naqueles cenários de assassinatos, que o corpo era sempre mais um. Horrível e vergonhoso. Reconheci, assumi e saí daquilo. E, olha, sou bastante sensível. Gente, não tem jeito. Mesmo que permitam possuir armas. E hajam brechas, entendimentos, circunstâncias jurídicas atenuantes de homicídios garantindo a absolvição. Quem mata nunca deixará de ter sido autor da morte de alguém. Eu não conseguiria conviver com esse peso.

“Redes sociais formaram geração de pessoas inseguras”, diz criador do Orkut

Juliana Carpanez

Orkut Buyukkokten é um sujeito que parece gostar de se conectar com pessoas. Na entrevista ao UOL, na cafeteria de um hotel em São Paulo na terça-feira (3), o criador da plataforma que levava seu nome conversou por quase uma hora, olho no olho, sem encostar uma única vez no celular. Quem dos seus amigos altamente ligados em tecnologia faz isso?

Na sessão de fotos, mesmo com hora marcada para outro compromisso, topou fazer poses e trocar de roupa a pedido do fotógrafo. Conhecido por suas camisas exóticas, subiu duas vezes até seu quarto no hotel para variar o look. Apenas quando terminado o dever, pegou o celular e postou no Instagram com apenas 882 seguidores, as imagens que sua assessora havia feito durante a sessão de fotos para o UOL (a tal foto da foto). Em seus stories, esse registro apareceu numa sequência do evento de marketing digital Digitalks 2018 e de muita comida – fartos buffets, amendoim, pudim, pão de café e caipirinha estavam na lista.

No encontro, conversou sobre como as redes sociais prejudicam as pessoas e mostrou como acha que dá para melhorar esse cenário – aqui aproveitou para divulgar sua nova rede, Hello, lançada no Brasil há um ano. Também contou que viu as fake news se aproximando, negou ter lucrado com a criação do Orkut, revelou usar o Tinder e se declarou para o Brasil, que visita pela segunda vez, agora para uma série de palestras. Só se mostrou reservado quando questionado sobre a idade, que prefere não revelar.

Cientista da computação formado em Stanford (EUA), ele deixou o Google em 2014, mesmo ano em que a rede social Orkut foi extinta. Antes disso, Orkut já havia parado de trabalhar em sua plataforma para virar gerente de produto da gigante de tecnologia. Hoje ele mora em San Francisco (Califórnia, EUA), onde disse dedicar seu tempo ao Hello e aos amigos. Seu dinheiro vem dos investidores que apostam neste novo projeto.

Antes de apresentar os principais trechos da entrevista, com as respostas editadas para melhor compreensão, duas curiosidades. Primeira: o turco Orkut fala Orkut.com para referir-se à rede social (e diferenciá-la de seu nome). Segunda: o plano inicial era chamar essa plataforma de Eden. Como a palavra não estava mais disponível para registro de domínio, os chefões do Google decidiram usar Orkut.

UOL – Você é importante para o Brasil, pelo fato de tanta gente ter usado sua rede social. Quanto o Brasil é importante para você?

Orkut Buyukkokten – Vim para o Brasil em 2009, quando conheci as pessoas, a cultura, a comunidade. Fiquei encantado em como todos eram amigáveis, receptivos, apaixonados, cheios de vida. Eu já tinha essa impressão por causa dos brasileiros com quem eu trabalhava no Orkut.com.

Chegamos a ter cerca de 70% dos internautas brasileiros no Orkut, criando momentos mágicos: essas pessoas fizeram amigos, se casaram, encontraram melhores empregos. Queremos trazer de volta todos esses valores e essas conexões autênticas com o Hello.

UOL – Como você quer fazer isso? As outras redes também começaram com propostas parecidas, mas de alguma forma as pessoas acabam transformando a maneira de usá-las.

Orkut – As redes sociais são hoje especialmente desenvolvidas para as pessoas se promoverem: essas plataformas ganham dinheiro quando você mostra interesse no que as outras pessoas exibem. Os algoritmos e feeds de notícia são otimizados para aumentar o engajamento e os minutos gastos nesses serviços, criando valor para os anunciantes, os cocriadores de conteúdo, as marcas e os acionistas. Não são desenvolvidos para aumentar a felicidade humana.

O que acaba acontecendo é que estamos mais atentos à vida das pessoas do que nunca: vemos seus casamentos fabulosos, as férias sem fim de nossos amigos, jantares incríveis, gente de aparência maravilhosa. Criamos assim uma geração insegura, que olha para esses feeds de notícias e acha que nunca poderá se comparar aos outros, nunca poderá fazer o bastante, nunca poderá ser o bastante.

Então além das expectativas de nossas famílias, amigos, vizinhos, temos hoje toda essa ansiedade que vem das redes sociais ao nos compararmos com os outros. Temos uma sociedade que é realmente insegura, ansiosa, deprimida, estressada, infeliz e solitária. E as redes sociais têm um papel nisso. Elas não aumentam a felicidade, não melhoram a qualidade de vida. Elas a torna pior.

Se usarmos a tecnologia da maneira certa, ela pode abrir portas, nos conectar mais, servir às comunidades. Vimos isso acontecendo nos bons tempos do Orkut.com. Hoje as redes sociais não criam engajamentos autênticos, as pessoas pararam de mostrar quem realmente são. Elas compartilham o que pensam que os outros querem ver.

Como resultado, nossa vida é repleta de cascatas de momentos falsos perfeitamente orquestrados. Paramos de nos arriscar, de ser genuínos, criando paredes que nos protegem dos outros. Não nos conectamos, não criamos intimidade, não somos vulneráveis.

UOL – E como você pretende fazer diferente?

Orkut É preciso desenvolver uma plataforma na qual os usuários sejam os campeões, eles devem vir sempre em primeiro lugar. A interação com as pessoas precisa ser divertida, precisa haver um engajamento autêntico. E a forma mais natural de nos conectarmos uns com os outros na vida real é com as comunidades: eram elas as características mais populares no Orkut.com.

Além disso, existe uma combinação de tecnologia, de algoritmos, de aprendizado das máquinas. É possível fazer as iniciativas positivas suprimirem o que não é bom. Para postar anonimamente no Hello, por exemplo, temos um sistema de monetização. Então a pessoa pode falar sobre política ou sexualidade sem se expor. Mas, como é preciso pagar por isso, ela nunca usará o anonimato para praticar bullying ou espalhar o ódio. Trata-se de uma forma de equilibrar o ecossistema e melhorar a experiência do usuário.

UOL – Quando você começou a perceber os impactos ruins das redes sociais?

Orkut – Vi esses primeiros sinais no meu próprio feed de notícias. Um amigo havia postado uma foto feliz em um piquenique com sua mulher, quando eu sabia que eles estavam se separando. Não era um momento real, era um momento falso. Vejo isso o tempo todo.

Vejo pessoas gravando vídeos em um show, não vivendo aquela experiência. Recentemente, na Europa, fui a uma balada e tinha três jovens sentados que estavam o tempo todo olhando seus telefones. Eles não se falavam e só foram dançar para gravar um vídeo.

É preciso olhar nos olhos e para o coração das pessoas. Mas estamos olhando para o smartphone, o que é uma violência contra a humanidade. Somos humanos, não máquinas.

UOL – Você percebeu esses primeiros sinais já no Orkut?

Orkut – Não, foi depois. O Orkut tinha um sistema muito diferente, em que o engajamento acontecia principalmente nos scraps. As pessoas colocavam lá as mensagens para elas mesmas ou para seus amigos. Era mais autêntico: não tinha um feed de notícias que mostrava todo esse conteúdo patrocinado.

Isso é outra coisa que está acontecendo hoje. Tem muito conteúdo que as pessoas postam em benefício próprio e não conseguimos mais distinguir o que é real daquilo que não é. Você vê como isso pode influenciar a política, tem as fake news. As coisas foram se tornando mais superficiais, mais falsas, e assim foi possível ver as fake news chegando.

Olhamos o feed e compartilhamos coisas falsas, mas não acreditamos naquelas que são reais. É muito triste isso.

UOL – O Orkut também teve um final ruim, depois de muitas denúncias de crimes e mau uso.

Orkut – Esse tipo de uso indevido e ilegal realmente vai acontecer, porque são as mesmas pessoas na vida real e no online. Acontece em todas as plataformas, isso eu posso garantir para você. Qualquer serviço que conecta as pessoas, que permite a comunicação, será usado também para fins maliciosos.

UOL – Existe um movimento contrário às redes sociais que denuncia a forma descontrolada como usamos essas ferramentas. Qual sua opinião sobre isso?

Orkut – O problema não é usar muito seu telefone, nem as redes sociais. O problema é usar serviços que o deixam infeliz e, no topo dessa lista, estão coisas como “Candy Crush”, Facebook, Grindr. Acredito do fundo do meu coração que a tecnologia pode estar ligada à felicidade, se você gastar tempo conectado a pessoas e conteúdo de uma maneira significativa.

Não quero falar especificamente do Facebook nem do Instagram. Vou falar do Tinder, Happn, esses aplicativos para encontrar parceiros.

Estou solteiro há dois anos [Orkut teve um longo relacionamento com Derek Holbrook] e, quando interajo com pessoas no Tinder, o que vejo é desespero, solidão, insegurança. As pessoas se esqueceram como se comunicar umas com as outras, como ser respeitosas. Aplicativos como o Tinder tornam as relações descartáveis, você julga alguém em um segundo considerando apenas sua foto. É muito cruel para a sociedade, para a humanidade.

Ghosting virou uma palavra de dicionário. É quando você começa a falar com alguém e depois desaparece. Trata-se de uma das coisas mais cruéis, emocionalmente, que você pode fazer com outro humano, pois é muito doloroso. E quem pratica o ghosting são os mais inseguros, aqueles com mais problemas. Isso tudo me aterroriza e por isso estou tão motivado a criar um ambiente de conexões significativas para as pessoas

UOL – Voltando ao Orkut, você ganhou dinheiro com o site?

Orkut – Desenvolvi esse projeto dentro do Google [na política de 20% do tempo livre] e, quando você é contratado, tudo o que faz é daquela empresa. Então era um produto do Google. Tinha até um rumor que eu ganhava US$ 0,10 por cada scrap postado, mas era um rumor [risos].

A princípio eu era a única pessoa que trabalhava no projeto: eu era o engenheiro, o designer, o gerente de produto e até mexia nos servidores. Quando estava tudo pronto para o lançamento, em uma reunião com [o então CEO] Eric Schmidt e [a então diretora] Marissa Mayer, eles sugeriram usarmos o nome Orkut.com. Isso porque eu era o único funcionário, tinha aquele domínio registrado e era uma palavra de cinco letras, fácil de identificar. No último minuto, decidiram lançar como Orkut.com.

UOL – Como era o outro nome?

Orkut – O nome interno do projeto era Eden, que significa paraíso, um lugar incrível para as pessoas estarem juntas. Mas o domínio não estava disponível e não tínhamos tempo suficiente para comprá-lo.

UOL – Ficou triste com o fechamento?

Orkut – Sim, foi um momento muito triste para mim. Tínhamos uma comunidade com mais de 300 milhões de pessoas, ele as aproximou. Foi triste para mim e para todos. Mas vi isso como o fim de um capítulo, e o Hello como o começo de outro. É uma continuação, uma espécie de sucessor espiritual do Orkut.

Teve vários momentos mágicos que me tocaram. Meu melhor amigo conheceu a mulher no Orkut e pediu que eu fosse padrinho de seu filho.

Hoje, em uma palestra, eu contei como me sentia excluído: nasci na Turquia, cresci na Alemanha, muitas vezes eu não me encaixava. Ou porque era um programador nerd, porque era baixo, porque tinha sotaque, porque era gay. E depois da palestra uma pessoa veio até mim e contou que, quando era mais novo, seus amigos e sua família não sabiam que ele era gay. Mas, por causa do Orkut, ele podia se conectar com outras pessoas que o aceitavam e isso o ajudou.

Essas histórias me tocam, é quando sinto que fiz a diferença na vida das pessoas.

UOL – Os brasileiros dominaram o Orkut. Isso de alguma forma foi negativo para o site?

Orkut – A comunidade cresceu muito rápido e, logo depois de lançarmos, tivemos problemas com os servidores. Havia muitos atrasos, perda de conexão: tinha até aquela mensagem engraçada do “bad, bad service. No donut for you“. Com isso perdemos nossa base de usuários nos Estados Unidos, mas no Brasil ela crescia, crescia, crescia. É difícil dizer se os brasileiros tinham mais paciência ou se estavam acostumados com conexões lentas: na época, muitos usavam cybercafés [o que inclui LAN houses] e conexão discada.

Conseguimos resolver esse problema com os servidores em um ano e chegamos a ter cerca de 70% de todos os internautas brasileiros na plataforma. O Brasil foi incrível para o Orkut.