O flerte

E então aqueles dois resolveram passear em Sampa.

Passeio revigorante para o casal, ver coisas novas e – por que não? – fazer suas comprinhas de praxe!

Num local cheio de novidades, cheio de lojas com fantásticas bugigangas, com traquitanas tecnológicas de última geração, ainda assim acabaram indo no trivial…

Entram, conferem, se interessam, se separam.

Cada um para um lado para conferir o que havia por ali.

Ele, dando voltas e revoltas, se interessando ou não por este ou aquele produto, vai, volta, anda caminha, passeia e se perde.

Ela, concentrada, vendo o que realmente lhe interessava (afinal elas são elas, não é mesmo?), de repente percebe sua solidão. Mas com isso não se preocupa. Afinal ele deveria estar por ali, por perto e tudo bem.

Então ela vê.

De costas.

Entretido com algo – sabe-se lá o quê.

Dentro de seu gosto, de sua preferência, da altura perfeita, com o físico ideal. Não tem como não olhar. Não tem como não cobiçar.

Sente – mais que momentaneamente – um quê de vergonha (afinal seu marido ainda estava por ali, ainda que não às vistas). Mas inevitavelmente aquele sujeito lhe chamou a atenção. Uma ligeira pontada de desejo lhe estremeceu o corpo…

Afinal, apenas olhar e admirar não seria errado, certo?

Mas não poderíamos ficar apenas nisso.

Pois, vagarosamente, aquela figura de seu inesperado desejo, volta-se e a olha nos olhos.

Fixamente.

E lhe sorri.

E ela se assusta.

E se confunde.

Pois aquele pequeno flerte jamais consubstanciado, que sequer veio à tona, tinha por objeto algo ainda mais inesperado.

O sujeito, afinal de contas, ao voltar-se para ela, revelou-se como sendo seu próprio marido!

E agora?

Em que situação ele fica?

Traído consigo mesmo?…

Ou orgulhoso de ser o que é?…

Alguém se habilita a opinar?…

A pílula e a gravidez

Numa bem-humorada conversa com algumas das meninas de lá onde trabalho, eis que surgiu o assunto acima. E este velho escriba digital que vos tecla, do alto de sua infindável cultura inútil, pôs-se a explicar que a pílula surgiu de pesquisas a partir da década de cinquenta, tendo chegado ao mercado no início da década de sessenta. Na origem de seus estudos teria por finalidade agir meramente como reguladora do ciclo menstrual, inclusive para auxiliar os casais na concepção. Mas um “efeito colateral” percebido logo no início foi o que acabou lhe garantindo o sucesso: era, na realidade, um contraceptivo!

Assim acabou funcionando como um verdadeiro divisor de águas, em se tratando de liberdade sexual. Isso porque, antes, toda e qualquer relação entre homem e mulher poderia resultar num pãozinho no forno. Ou, no mínimo, numa bela duma preocupação… Já com a pílula o sexo poderia ser visto simplesmente como “recreativo”, sendo a gravidez uma opção, já que a área industrial podia – ainda que temporariamente – ser transformada em área de lazer.

Bem, daí à revolução sexual, rebeldia, contestação de valores sociais tradicionais, movimento feminista, etc, foi só um pulo. Bem pequeno. Woodstock que o diga. De um modo geral – e com o passar do tempo – o advento da pílula pode ser visto até mesmo como um dos fatores que permitiu um maior ingresso de mulheres no mercado de trabalho. Prosseguir nos estudos e desenvolver uma carreira passou a ser uma realidade, uma vez que tornou-se possível o adiamento da maternidade e a mera submissão à vida doméstica.

Mas, voltando ao foco da conversa, por essas e outras é que a pílula anticoncepcional, na verdade, vai bem além da mera prevenção da gravidez, existindo uma série de benefícios que traz à mulher.

Confiram o porquê, neste ótimo artigo escrito pela médica e professora Angela Maggio da Fonseca:

Cólicas, irritabilidade, acne, seborreia, corpo inchado e aumento do volume de pelos no corpo são alguns dos incômodos que muitas mulheres passam por causa de alguma alteração no ciclo menstrual. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, estes sintomas atingem cerca de 70% das brasileiras.

Existe tratamento para ajudar a amenizar os sintomas: a pílula anticoncepcional. Para eliminar os mitos sobre o medicamento, a especialista explica detalhadamente todos os benefícios apresentados pelos contraceptivos.

1. Controle da tensão pré-menstrual (TPM)

Depressão, irritabilidade, fadiga, alteração do apetite, dores de cabeça, inchaço e distúrbio do sono estão na lista de queixas das mulheres que sofrem com a TPM. A pílula anticoncepcional é indicada nesses casos, pois a tensão pré-menstrual nada mais é do que o nível de hormônio alterado no corpo da mulher e a pílula controla a taxa hormonal do organismo. Além disso, algumas pílulas ajudam a diminuir a retenção de líquido, como aquelas à base de drospirenona.

2. Menstruação irregular

Muitas mulheres apresentam irregularidades no ciclo menstrual, fugindo do padrão normal de intervalos entre uma menstruação e outra. Em muitos casos a menstruação irregular ocorre por desequilíbrio hormonal. Desta maneira, a melhor “arma” para combater o problema é o uso do anticoncepcional, que ajuda a regularizar a taxa hormonal no corpo da mulher.

3. Síndrome do Ovário Policístico

A Síndrome do Ovário Policístico (SOP) é um dos distúrbios mais frequentes em mulheres em idade reprodutiva. Aproximadamente, entre 4% e 7% das brasileiras nesta faixa, que se estende do início da menstruação à menopausa, apresentam o problema, que é uma das maiores causas de infertilidade. Essa condição afeta a produção hormonal e provoca aumento dos hormônios masculinos, os androgênios, no organismo da mulher.

Estas alterações decorrem de duas causas distintas: ou porque os ovários respondem de maneira anormal aos estímulos dos hormônios do cérebro; ou porque os estímulos do cérebro são irregulares. Como consequência, a mulher deixa de ovular todos os meses e passa a apresentar diversas manifestações no corpo. A partir do diagnóstico positivo, o médico define junto com a paciente o tratamento que será seguido. Caso a intenção seja a melhora do ciclo menstrual e da pele, pode-se optar por tratamento de controle hormonal com uma pílula que contenha acetato de ciproterona. Hoje, é a terapia mais indicada para esta patologia.

4. Uso precoce do medicamento

A pílula anticoncepcional pode ser tomada, desde que o caso seja orientado e acompanhado por um médico. Seu uso não confere risco de infertilidade futura e não interrompe o crescimento. As doses de estrogênio (hormônio feminino) nas pílulas atuais são extremamente baixas e, por isso, não causam danos no desenvolvimento da mulher e nem para uma futura gravidez planejada.

5. Outras indicações

Devido ao controle hormonal a que os anticoncepcionais estão atrelados, quando a mulher apresenta algum sintoma indesejado relacionado com o período menstrual, o medicamento é recomendado.

6. A baixa dosagem

As pílulas de baixa dosagem têm as taxas hormonais mais baixas, porém o efeito de contracepção é o mesmo, assim como o de diminuição do fluxo menstrual.

7. Reduz o risco de doenças em geral

O uso da pílula anticoncepcional reduz os riscos de gravidez ectópica, acne, queda de cabelo, diminui o crescimento dos pelos e ameniza os sintomas da pré-menopausa. É fundamental que seu uso seja sempre orientado e acompanhado por um ginecologista, pois, como qualquer medicamento, a pílula anticoncepcional pode ter efeitos colaterais indesejáveis.

Casórios modernos

(Aviso aos Navegantes: os gnomos revisores/censores que vivem nas entranhas deste blog classificaram este post como altamente herege e sarcástico. Se você for do tipo que fica indignado com coisas desse tipo, então pare agora e aguarde algum próximo texto não tão carregado. Pode voltar à sua leitura de Pollyana Moça, aos seus afazeres normais ou seja lá o que for que pessoas como você costumam fazer. Não diga que não avisei.)

Resolveu continuar, hein? Além de herege, curioso…

Pois bem. Disaôje (como dizia minha Bisa) fomos a um casamento. A filha mais velha de um antigo amigo de uma outra vida. Literalmente, a vi nascer – o que comprova que eu estou mais pra curva de pra lá de Marrakesh, mas não ainda do Cabo da Boa Esperança.

Bem, enfim. Fomos ao casamento. Lugarzinho longe mas bem agradável: um clube, no campo, com muita mata, muito verde, muita estrada, muita chuva, etc. A noiva atrasou somente uma hora, o que está dentro dos padrões internacionais aceitos pela ABNT e homologado pela ONU para eventos de igual porte e estilo. Chegou, com a habitual pompa e circunstância (sempre adorei esse termo) que lhe é peculiar, foi adentrando o recinto, toda sorridente, até engatar no braço do noivo de uma maneira tal que, estou certo, nunca mais deve largar.

Até aí estava tudo indo muito bem.

Então ouvimos uma voz chamando a atenção de toda a congregação. Ou melhor, dos convidados. De imediato a Dona Patroa ressaltou que o pastor tinha uma voz muito feminina. “Será que talvez não seja porque ele é uma mulher?” Perguntei-lhe. Ela foi obrigada a concordar comigo. E olha que já é a segunda vez neste semestre! É sempre bom pro ego quando a gente usualmente tem razão…

Bem, os noivos posicionados, eis que ela começa a preleção. E de uma maneira inusitada! Agradeceu a presença de todos e ressaltou que ainda estava faltando alguém muito importante. Seriam os avós de algum deles, perguntei para mim mesmo. Mas não. Ela continuou: “Convido a adentrar este recinto aquele que está faltando nesta reunião, alguém muito importante e que não poderia faltar! Convido ao Todo Poderoso para que entre por este corredor, por este tapete, e venha nos abençoar a todos! Vamos, Senhor, pode vir! Venha, Senhor!” Automaticamente todos olharam pra trás, pelo tapete, pelo corredor, pela porta afora. Juro que quase fui. Já me imaginei ali, entrando, a passos largos, um falso sorriso constrangido, acenando para todos, piscadelas para as moçoilas, o escambau. Mas algo me disse que era melhor me conter. Talvez o olhar de fúria da Dona Patroa quando me propus a isso. E, assim, me contive.

Dali em diante ela passou a hora seguinte (eu disse “hora”? pareceu bem mais…) pregando, na minha opinião, toda e qualquer idéia relacionada a casamento que lhe viesse na cabeça. Nem pouco, nem menos. Professores de cursos de oratória de todo esse lado do estado devem ter passado mal com a energia emanada da tamanha falta de coesão, métrica e foco demonstrada em tão pouco tempo (eu disse “pouco”?).

Aliás, ela não estava sozinha, não! O gentil cavalheiro que pairava ao lado da distinta também era pastor! E ela, já nas primeiras palavras, ressaltou que estava ali presente juntamente com o pastor sei-lá-o-nome-do-caboclo. Ainda que ele não abrisse a boca um momento sequer. “Deve ser alguma espécie de pastor-estagiário”, pensei comigo mesmo.

Como se já não bastasse, após tudo isso, ela ainda me soltou a seguinte frase: “Tô percebendo, pela carinha de vocês, que já deve estar na hora de trocar as alianças!” Putz, eu também já estava percebendo! Juro! Eu e as demais 1.469 pessoas do salão. Mas esse ainda não foi o ponto. O ponto foi quando da surreal sequência:

– Vamos lá, então, gente, vamos ver o que ele responde! E daí, o que você responde?

– Siiiiiiiiiiimmm! (Brincadeira, não foi assim não, foi muito mais sério que isso. O que não altera em nada o desfecho.)

– Ele disse sim! ELE DISSE SIM! Gente, ai que chique!

“Ai que chique”? Em quantos missais vocês já ouviram isso, hein? Não contente, logo na sequência, quando da noiva, ela me soltou:

– Ah! Ela TAMBÉM disse sim! Gente, ai que ma-ra-vi-lha!

É sério. Olhei para os lados para dar uma conferida onde a gente estava. Em qual centro fomos parar. Não, somente a noiva estava de branco, então não podia ser algum outro onde a Hebe tivesse baixado ali e reencarnado para dar o ar de sua graça, presença e pieguice. Aquilo era DELA mesmo… Mas ainda teríamos mais! Logo após os votos dos noivos um para o outro – coisa bonita, que nem aqueles dos filmes (por mais curtos que tenham sidos) – ela deu uns dois passos para trás, quase caiu, olhou para os nubentes e com aquele sorriso puro e franco de um filme de terror, soltou mais essa, no melhor estilo Sazón:

– Ai, gente, olha como o amor é lindo!

Ok, sei que eu estava com o meu sarcasmo em mode on e carregado com a bateria até no talo, mas foi complicado estar ali, viu, gente? As sequências seguintes foram acompanhadas externamente por meu semblante sereno e dedicado a uma cerimônia do porte, mas internamente eu, irônico que sou, só aguardava a próxima tirada para soltar das minhas – ainda que somente em pensamento. Me sentia fazendo escárnio num programa de auditório. Cruel, eu sei, mas este sou eu, que fazer? Vamos lá:

“Agora vamos consagrar as alianças, mergulhando-as no no azeite.” Por quê? Senão não entra? Tudo bem que os noivos parecem estar meio gordinhos, mas não me parece que seja pra tanto…

“Olha, gente, como ela está tremendo de emoção!” Emoção? Com aqueles ombros de fora, o vento que está fazendo e a chuva que está caindo? Ela está é com frio, caramba!

“E vocês deverão lembrar que o homem é a cabeça do casal.” Hah! Piada pronta! Não conhecem? Então tá. De fato o homem é a cabeça do casal; mas a mulher é o pescoço: vira a cabeça pra onde quiser!

Bem, foram tantas tiradas que acho que não vai dar pra lembrar de todas. Dentre outras, vamos combinar que não é lá muito comum alguém, ainda que seja uma pastora em suas orações, referir-se ao Senhor ora pelo respeitoso termo “Deus Altíssimo Onipotente”, ora pelo intimista e quase infantil “Papai”. Ao menos não numa cerimônia de casamento…

Mas ainda teríamos a homenagem final. Uma dançarina. Não, cambada de hereges! Não ESSE tipo de dançarina! Não tinha nenhum dos costumeiros sete véus nela. Se bem que, dada a performance e a silhueta, talvez tenha sido até bom… Mas o que de fato aconteceu é que uma moçoila, vestida com o que eu achei ser uma espécie de túnica, desenvolveu toda uma performance ao som da mais apurada e decibelística música gospel que o momento pedia. Pedia? Bem, manjam aquelas pessoas que dançam “interpretando” a música? Então. Dava até para ver os lábios se movendo em conjunto… Ainda bem que Jennifer Beals (aquela, do filme Flashdance) não estava por ali pra ver aquilo…

Bem, finalmente fomos para as orações finais. E, é lógico, desta vez em conjunto com a platéia a congregação os convidados.

“Quem é a noiva de Jesus?” Nessa hora fui sumariamente aquietado com um bom chute na canela e não tive oportunidade de tecer nenhum comentário sobre Madalena, enquanto que os demais respondiam “é a Igreja!”

“Agora vamos pedir a Deus que nos dê direção!” Mais piada pronta, ao menos na minha cabeça. Não teve como não lembrar de uma tirinha do Laerte – esta aqui.

“E agora o beijo! O pessoal tá esperando o beijinho de vocês! Vamos lá! Não, não valeu! De novo! Ainda não valeu! De novo! Não vale-eu! De novo! Ai, geeeeente, que liiiiindo!!!”

Agora acho que já sei o porquê de o buffet não ter deixado talheres nas mesas. Facas, pulsos, pensamentos suicidas… Com tudo isso já deu pra imaginar, né?

Mas enfim, após os cumprimentos à noiva – que sim, estava linda – e ao noivo – que estava muito bem apessoado (jamais me ouvirão chamar um ser masculino de “lindo”) – o ponto alto de tudo isso ainda estava por vir e eu não tinha sequer me tocado.

Bem, não foi difícil para vocês perceberem que estávamos num casamento evangélico, certo?

AH – HA! Exatamente!

Isso mesmo.

Absolutamente nem uma gota de álcool!

De novo.

Bodas de Marfim

Antes de mais nada, vamos esclarecer: o termo “bodas” vem do latim. Significa promessa – no caso, os votos matrimoniais, feitos no dia do casamento. Assim, a cada ano que passa, comemoramos o aniversário de bodas, o aniversário daquela promessa feita um para o outro. Em sua origem comemorava-se apenas a de Prata (25 anos) e a de Ouro (50 anos), mas com o tempo foram surgindo outras simbologias para os demais anos.

E, conforme a tradição, as bodas de quatorze anos são representadas pelo marfim.

Marfim é uma substância dura, branca e opaca. É a massa do dente e dos caninos de animais como elefantes, hipopótamos, morsas, mamutes, etc. Possui altíssimo valor comercial.

Bodas de Marfim…

Quatorze anos…

Sete mais sete…

Eu e você…

Um sete de lá, outro de cá.

Sete são os dias da semana, sete são as cores do arco-íris, sete são as notas musicais, sete saias usavam as mulheres de Nazaré, sete são os véus da dança, sete são as maravilhas da antiguidade, sete são os pecados capitais, sete são as virtudes, sete são os deuses da felicidade, sete são os céus, sete cabeças possuía a hidra, sete são as léguas do conto, a sete chaves guardamos nossos segredos, a sétima onda é sempre a maior e a mais forte, em sete dias o mundo foi criado…

Sete é um número mágico e afortunado.

Um sete de lá, outro de cá.

Quatorze anos.

Magia dobrada, força acumulada.

Há exatos quatorze anos cruzávamos o tapete vermelho para nossas bodas. Como testemunhas, um vasto gramado era nosso piso, a própria natureza, em conjunto com nossos amigos e parentes, formavam nossa catedral e tínhamos ainda o céu e as nuvens como teto fulgurante.

Feliz aniversário, Mi.

E como já me foi dito há mais de quatorze anos, por uma pessoa mais sábia que eu, “A vida dá muitas voltas… O importante é não se perder nelas, continuar sempre, recomeçar e nunca pensar que é um obstáculo, são apenas… etapas de nossas vidas – e ela é bela, digo, e repito sempre! Pois encarar tudo com otimismo não deve ser um esforço e sim um hábito, pois o humilde sabe sempre identificar e reconhecer seus próprios erros, aprender e seguir caminho, avante, passos à frente… Às vezes não temos coragem suficiente, mas devemos ter coragem para juntar coragem e ir à luta.”

Amo você.

Simples assim.

E eis um pouquinho de quatorze anos em quatorze momentos antes dos quatorze anos:

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E eis um único momento que faz valer todos os quatorze anos passados, futuros e muito mais:

Ah, e por fim: a “pessoa sábia” a qual me referi é você mesma. Aquelas foram palavras extraídas diretamente de um texto com o qual você me presenteou quando do início de nossa história…

😀

Vento, ventania

Causticante domingo se passou… Na realidade um cansativo repouso pontuado com os afazeres de sempre, as realizações de nunca e os devaneios de quando em quando…

Ponto alto do dia é o fim da noite quando, da varanda, me ponho a apreciar um pouco da rua e da lua matando a sede numa geladíssima cerveja e vendo a espirais da fumaça de meu cigarro se desmancharem ao vento.

Vento…

O que foi um dia seco e quente começou a se desfazer numa quase que fria noite, com o soprar de um vento refrescante, a espalhar meus pensamentos tal qual essa fumaça que desaparece. As copas das árvores, inertes até então, balouçando-se ao bel-prazer dessa agora ventania, quando até mesmo seus troncos fazem-se levemente envergar.

Fecho os olhos e sinto na face o frescor desse sopro divino, inundando-me, oxigenando-me, expulsando pensamentos e sentimentos mesquinhos arraigados na fina galharia do marasmo, nascida na mesmice da alma. E penso e concluo como é bom o vento, o ventar, a ventania, que nos reforça a frágil sensação de simplesmente estarmos vivos. Ventos de mudanças, mudanças de dependência única e exclusiva de nossos próprios méritos e ações. Em meu pensar revisito costumes que viraram hábitos, hábitos que viraram manias, manias que viraram vícios. Costumes que merecem ser revistos, hábitos que demandam ser mudados, manias para serem abandonas, vícios para serem extirpados.

Venta.

Venta e me faz pensar cada vez mais nessas mudanças, do que é possível e plausível, bem como do que deve ser perene e estático. Vento que sopra e varre a poeira, enverga e molda a árvore, contorna e se perde na rocha. Mas, afinal, o que é poeira, o que é árvore, o que é rocha? Onde cada uma dessas metáforas se encaixam na minha vida em particular?

Não sei, com certeza, nunca saberei. A ansiedade por mudanças que se avizinham se conjugam com a necessidade de me expressar que se completam com o conforto e a segurança sem surpresas. Nenhum tipo de surpresa.

Venta!

E na ventania que me varre, que me molda, que me contorna, vejo meus insensatos sonhos de despertar em manhãs que passam muito rápido, de avelhantadas visitas a lugares que jamais irei, de dias que se passaram, que passam e que passarão. E, com tudo isso, com minhas ansiedades, necessidades e seguranças, ainda assim o vento, por mais benfazejo que seja, não me demove de minha certeza acerca da mantença do que não é fácil – e como não! -, do conforto, do carinho e da ternura de a cada dia poder acordar onde desejo estar.

E, fora isso, o que sobrar, por inquebrantável que sou, que o vento envergue em minha vida.

E, além disso, o que restar, por desnecessário que seja, que o vento varra de minh’alma.