Eterna fuga

Algumas elucubrações mentais baseadas nesta pequena estória de minha vida que não é minha…

Isso mesmo.

Em minhas entranhas uma criatura rosna e diz do que eu preciso.

É a noite que piora tudo.

É quando não suporto mais ficar dentro de nada. Paredes físicas, relacionais ou virtuais.

Eu sou um zumbi, um Holandês Voador, um cadáver… morri há anos. Ninguém sequer percebeu.

E a criatura me impele. E gargalha. E me faz lembrar.

Você é frágil…

Você é pequeno…

Você é menos que nada…

Uma carcaça vazia…

Um trapo que não pode me conter!

Eu queimo sua pele…

E brilho cada vez mais forte e feroz!

Você não pode me conter…

Nem mesmo com o uísque…

Ou com a velocidade…

Ou com o peso da idade…

Você não tem como me deter…

E, mesmo assim, ainda tenta…

Ainda foge!

Saint Young Men

Ou, do original, “Saint Onii-san”. E, se é que já não perceberam, isso aí é japonês, sim – até porque estamos falando de um mangá. Mas dá pra traduzir, literalmente, como Jovens Homens Santos

E quem seriam esses jovens? Ninguém mais, ninguém menos que os próprios Siddartha Gautama (Buda) e Jesus Cristo! Sim, esses mesmos, os “fundadores” do Budismo e do Cristianismo.

Trata-se de um mangá lançado já há alguns anos (2007) e que acabou virando também uma animação (dois curtas e um longa), no qual se conta como ambos, após tantos séculos de trabalho ininterrupto para o bem da humanidade, resolvem tirar férias. E o local escolhido é a cidade de Tóquio dos dias atuais.

Já pensaram nisso? Desde o primeiro momento não tive como não associar com a obra Ilusões – As Aventuras de um Messias Indeciso, de Richard Bach. Só que, no caso, nenhum deles está indeciso. Ambos têm plena compreensão de sua missão e/ou fardo que devem carregar. A questão aqui é que eles estão de férias – ou seja, querem passar incógnitos perante o resto da humanidade e, para isso, passam a dividir um pequeno apartamento no subúrbio. O que se torna um tanto quanto difícil por dois motivos basilares: sua falta de compreensão do dia-a-dia das pessoas no mundo moderno, bem como as involuntárias manifestações de seus poderes divinos.

Já perceberam que essa é uma espécie de comédia extremamente absurda – e, por isso mesmo, hilariante – mas com um humor bastante refinado, que traz as sacrossantas imagens desses homens santos para situações do cotidiano. A autora, Hikaru Nakamura, se aprofundou bastante nos conceitos místicos e divinos tanto do Cristianismo quanto do Budismo, dando aos personagens um tratamento leve e divertido – mas jamais ofensivo! Se bem que isso sempre vai depender da ótica de quem lê. Sei que para alguns somente o fato de cogitar um trabalho desses já seria uma gigantesca ofensa (blasfêmia?) para suas próprias convicções religiosas. Paciência. O mundo é assim mesmo.

Mas, voltando aos personagens, a autora teve o cuidado de traçar o perfil de cada um conforme suas próprias origens. Melhor dizendo, como Jesus nasceu e viveu entre os humanos, sua figura é extremamente humana. Quase pop. Apesar da coroa de espinhos que sempre carrega na testa (!), na maior parte das vezes está relaxado e vestindo camisetas com slogans. Tem um apelo mais jovem, mais descolado, amistoso, generoso, bem-humorado, ingênuo, algumas vezes até mesmo imaturo, e uma imensa dificuldade de controlar seu hábito de comprar coisas… Como é uma pessoa sagrada, quando suas emoções estão no auge (por qualquer motivo que seja), invariavelmente um halo de luz começa a brilhar em sua cabeça, ou sua testa começa a sangrar, ou, ainda, pequenos milagres acontecem à sua volta sem que perceba. Isso sem nem falar dos anjos superprotetores que, de quando em quando aparecem, para seu desespero. Possui um blog de relativo sucesso na Internet – o que vai ao encontro de seu perfil, que apresenta uma certa dependência por seguidores e por popularidade…

Já Buda, que, afinal, representa a sabedoria, de um modo geral acaba sendo o “mais maduro” entre os dois. Mais realista, calmo e racional. Até porque, se avaliarmos toda sua história de peregrinação e desprendimento mundano para alcançar a sabedoria, não teria como ser de outra forma. Mas, nesta série em particular, no que diz respeito a poupar o dinheiro do aluguel, ele chega a ser quase um sovina! Quando encara determinadas situações com mais rigor, levando tudo muito a sério, acaba sendo “salvo” pela simplicidade de Jesus. Aliás, tal qual este, às vezes tem dificuldade para controlar manifestações de sua própria divindade.

A série é repleta de referências culturais, místicas e religiosas, de modo que, ainda que você seja um completo ignorante no que tange à religiosidade cristã e budista, ainda assim tenho certeza de que vai perceber essas nuances – se bem que muito do impacto do humor pode acabar se perdendo, afinal, não tem como você achar graça de uma tiração de sarro de algo que nem tem conhecimento! As principais sacadas dizem respeito ao uso de piadas bem estruturadas e, muitas vezes, irônicas, sobre o cristianismo, o budismo e todas as coisas relacionadas a essas religiões, bem como as tentativas da dupla para esconder suas identidades e compreender a sociedade moderna no Japão. Cada capítulo mostra como esses homens santos vão falar ou reagir a um dia normal – embora também participem da hora do rush, visitem parques de diversões, piscinas públicas e outros lugares.

Saint Oniisan ganhou dois OVA’s (“Original Video Animation”) – espécies de curta-metragem lançados somente para o mercado de vídeo, sem prévias na televisão ou cinema. O primeiro, de 26 minutos, mostra a vinda deles para a Terra e a difícil relação no condomínio onde foram viver, pois a senhoria está sempre desconfiada de algo com relação aos dois. Já no segundo, de apenas uns 10 minutos, após completarem um ano por aqui, eles resolvem fazer uma viagem de trem para comemorar o Ano Novo. Recentemente foi lançado, também, um longa metragem – aproximadamente 90 minutos – que retrata a vida de ambos no decorrer de um ano, passando por cada uma das estações, mas não necessariamente de uma forma linear. Ainda que muito bem humorado, acho que é preciso destacar como funciona a dupla de comédia que Jesus e Buda formam. Jesus faz a comédia mais leve, sempre contando piadas, sempre sendo atraído facilmente para os prazeres mundanos, chegando até mesmo a ser egoísta em alguns momentos – mas sem nenhum medo de ser feliz… Já Buda é o mais sério, controlador e preocupado, de modo que suas piadas acabam sendo mais elaboradas, mais refinadas. Isso quando ele simplesmente não entra em pânico por causa das trapalhadas de Jesus. E é assim, através dessa química que os dois juntos formam, que acabam se completando nesse mangá pra lá de sensacional, que anarquicamente consegue misturar a exata dose de humor com uma quase, quase heresia…

E, talvez seja por isso mesmo que seja tão difícil de encontrá-lo, mesmo nos usuais “cantões” da Internet… Parece que o tema do mangá meio que intimida os costumeiros scans e legendas elaborados pelos fãs. No que diz respeito aos vídeos, apesar de algumas edições disponíveis até mesmo no Youtube, somente consegui baixar com uma resolução decente e uma legenda idem, lá no Dollars Fansub. Já no que diz respeito aos mangás propriamente ditos, com legenda em português até a edição 20 pode ser encontrada no MangaHost – mas para liberar o download tem que se inscrever (nem que seja com sua conta do Facebook). Do 21 em diante vocês, por enquanto, somente vão encontrar ou no original ou em inglês. Como minha língua japonesa anda enferrujada (em todos os sentidos), recomendo a versão do Tio Sam lá do Starkana.

E é isso.

Recomendo – principalmente os filmes.

E boa diversão!

Ou não… 😉

Sabe aquela série?…

Clique na imagem para ampliar!
( Roubartilhei lá do Mentirinhas… )

Então.

Esse negócio de “séries” acabou por se tornar algo complicado na vida dos seres humanos hodiernos…

É como um bom filme que você não quer que acabe. E, de fato, não acaba. Não tão rápido, ao menos.

E dá-lhe o acompanhamento nos “sites especializados” (ou seja, no “submundo” da Internet) para saber se já está disponível lá fora o torrent com a legenda daquela(s) série(s) que você acomapanha. Hm? “Netflix”? Tá. Eu sei que é legal, eu sei que é barato, eu sei que é seguro. Mas, caríssimos, por que é que eu vou pagar alguma coisa – ainda que seja meros quinze contos por mês – por algo que posso ter de graça? Comodidade? Tá bom. É um ponto de vista. Mas prefiro guardar essa grana pro meu sacrossanto uisquezinho…

E, só pra constar (ainda que estejamos atravessando um período de inquisição e fogueiras no que diz respeito a “listas”…), abaixo tem uma pequena lista de algumas séries que eu, a Patroa e as crianças acompanhamos. Bem, algumas só eu e a Dona Patroa. Outras, só eu e as crianças. Tá, também tem algumas que só eu. Enfim, tá aí!

– Once upon a time
– Beauty and The Beast
– Arrow
– The Flash
– Gotham
– Agent Carter
– Agents of S.H.I.E.L.D.
– Constantine
– Supernatural
– Sherlock

E, desde já, agradeço as recomendações – até porque muita gente já disse que eu iria adorar e que “tinha minha cara” – mas tentei, juro que tentei, mas algumas séries, por melhores que sejam, jamais emplacaram comigo ou em casa, tais como: “Dexter”, “Walking Dead”, “Game of Thrones” e “House of Cards”

Aliás, daquelas recentes encerradas – muito boas – e das quais ainda sinto saudades, posso tranquilamente citar “House”, “Smallville” e “Battlestar Galactica”.

E falo em somente em “recentes” porque se eu tiver que listar aqui as séries antigas – e clássicas – que eu acompanhava desde pequeno, bem, essa lista vai ficar muito, muito grande… 😉