Superman – IX

Biografia de Joe Shuster

Joe Shuster é um artista de HQs e tiras nascido no dia 10 de junho de 1914 em Toronto, Canadá. sua família se mudou para Cleveland, Ohio, em 1923, e foi ali que ele conheceu o argumentista Jerry Siegel. Juntos, quando adolescentes, os dois começaram a publicar fanzines de ficção científica. Em uma das edições, fizeram um artigo sobre o romance Gladiator, de Philip Wylie, que foi a base para a maior criação deles, o Super-Homem, concebido em 1933.

Ao mesmo tempo, Shuster estava estudando Arte e cursava o John Huntington Polytechnical Institute e a Cleveland School of Art. Em 1936, Siegel e Shuster entraram no negócio de revistas em quadrinhos através da New Fun Comics, Inc. – que, mais tarde, se tornaria Detective Comics e depois National Periodics -, produzindo histórias convencionais de aventura, como Dr. Occult, Henry Duval, Spy, Federal Men, Radio Squad e Slam Bradley.

Em 1938, porém, a companhia comprou deles a primeira história do Super-Homem por 130 dólares. Fazendo sua primeira aparição na edição inaugural de Action Comics, o Homem de Aço foi um sucesso imediato e, desde então, avançou até se tornar o mais conhecido personagem de aventuras dos quadrinhos.

A arte de Shuster era primitiva, chapada, até mesmo primária, mas lindamente projetada e bem concebida. De certo modo, seu estilo simples tornou-se a receita para os primeiros gibis de aventuras, mas seu trabalho era em geral melhor e mais inspirado do que as imitações que se seguiram. Ele gostava de usar planos distantes, que mostravam o personagem inteiro; sua arte nunca foi pretensiosa ou experimental. Em vez disso, Shuster se contentou com o trabalho narrativo direto, que o crítico e artista James (Jim) Steranko uma vez comparou ao estilo dos cartunistas editoriais.

Embora Siegel e Shuster tenham ganho bastante dinheiro com o Super-Homem – o Saturday Evening Post estimou a renda deles em 75 mil dólares em 1940 – e embora tenham aberto um estúdio para produzir as quantidades sempre ascendentes de material solicitadas pela National, eles nunca tiveram nenhum direito sobre o personagem. Shuster desenhou o kryptoniano até 1947 – para os gibis e para as tiras de jornal do McLure Syndicate – e terminou sem nada.

Após trabalhar um período com o Bell Syndicate na tira Funnyman, escrita por Siegel, o canadense abandonou completamente a indústria quadrinística.


Mário L. C. Barroso

(anterior)                        (próximo)
  (Publicado originalmente em algum dos sites gratuitos que armazenavam o e-zine CTRL-C)

Superman – VIII

Biografia de Jerry Siegel

A primeira criação de Jerome “Jerry” Siegel para gibis foi o Super-Homem, o personagem quintessencial dos quadrinhos e bisavô de milhares de super-heróis, que desde então tomaram o meio. A carreira de Siegel foi assombrada pelo personagem desde sua concepção, em 1933, e sua primeira aparição no número um da revista Action Comics, da editora National Periodics, em junho de 1938. Siegel e o artista Joe Shuster, um amigo de infância, venderam o personagem por 130 dólares e receberam pouco mais a partir de então. Na verdade, Siegel gastou boa parte de sua vida adulta tentando inutilmente reconquistar um pouco dos direitos sobre o que é indiscutivelmente o personagem mais lucrativo dos quadrinhos.

Nascido em Cleveland, Ohio, em 17 de outubro de 1914, Siegel baseou frouxamente seu conceito de Super-Homem no romance Gladiator, escrito por Philip Wylie em 1930. A origem do Homem de Aço foi incorporada às tradições norte-americanas, naturalmente, e centenas de imitações o seguiram. Em retrospectiva, porém, o personagem de Siegel era único, pois mostrava um ser superpoderoso adotando o disfarce de um repórter tímido, Clark Kent. Os contemporâneos do Super-Homem costumavam ser humanos normais que se transformavam em super-heróis. As implicações psicológicas de sua criação têm sido estudadas há anos.

Mas, apesar de sua posição atual de destaque, o Super-Homem foi inicialmente rejeitado por todas as grandes agências de tiras de jornal da época. Somente em 1938, os editores da revista especializada em histórias policiais e de aventura, Detective Comics, compraram os direitos do Super-Homem e o publicaram na revista Action Comics: o personagem de Siegel e Shuster decolou imediatamente. Siegel continuou a trabalhar no herói até 1948 – com histórias que consistem em pequenas peças de moralidade. Sua caracterização do Homem de Aço era mais sóbria que a de escritores posteriores – e a disputa em torno da propriedade do herói se seguiu quase imediatamente. Até hoje, Siegel e a National (agora DC Comics) estão nos tribunais por causa do personagem.

Todavia, apesar de Jerry afirmar constantemente que foi incluído na lista negra da indústria de gibis por causa do processo contra a National, seu rol de créditos é tão longo quando o de qualquer um da área. Siegel trabalhou em muitas tiras de jornal – incluindo Super-Homem, Funnyman, Reggie Van Twerp, Ken Winston, Tallulah – e também foi o primeiro diretor de revistas em quadrinhos da Ziff-Davis. Mas muitos especialistas acham estranho que nenhuma de suas criações tenha alcançado sucesso prolongado. Muitos acreditam que, embora Siegel possa não estar na lista negra, talvez ele tenha sido punido constantemente por suas tentativas de reconquistar o Super-Homem.


Mário L. C. Barroso

(anterior)                        (próximo)
  (Publicado originalmente em algum dos sites gratuitos que armazenavam o e-zine CTRL-C)

Superman – VII

Supermoça

A Supermoça foi criada pelo editor Mort Weisinger e pelo argumentista Otto Binder como série de apoio para o Super-Homem na revista Action Comics, a partir do número 252 (maio de 59). A nova série estreou após uma fantástica reação dos leitores a uma edição de Superman, publicada um ano antes, na qual Jimmy Olsen usava um totem para criar uma Supermoça, que posteriormente sacrificou sua vida para salvar o Super-Homem. A partir do enorme sucesso dessa edição, decidiu-se criar uma nova Supermoça para aparecer em Action Comics.

A nova “Moça de Aço” era a última sobrevivente (na época) da cidade de Argo, parte do planeta Krypton. Quando o astro explodiu – explicava a história de origem -, Argo foi lançada ao espaço num grande bloco de rocha que logo se transformou na letal kryptonita. Folhas de chumbo foram usadas para cobrir o solo, mas, anos depois, uma chuva de meteoros perfurou a proteção, liberando as radiações mortais para os kryptonianos. O cientista Zor-El (irmão do pai de Super-Homem, Jor-El) enviou sua filha adolescente, Kara, para a Terra, do mesmo jeito que Jor-El havia feito com seu filho anos antes. Nesse período, Kal-El tinha crescido e se tornado o Super-Homem. Como a nova Supermoça era prima do Defensor de Metrópolis, isso eliminava qualquer possibilidade de um romance entre os dois alienígenas, não interferindo no namoro entre o Homem de Aço e Lois Lane.

A loura e adolescente Supermoça recebeu uma peruca castanha e o alter ego de Linda Lee, moradora do Orfanato Midvale. Durante algum tempo, a existência de uma Supermoça foi mantida cuidadosamente em segredo e Linda Lee, continuando a viver no orfanato, evitava a adoção. Finalmente, em agosto de 1961, ela foi adotada pelo casal Danvers (mudando a identidade para Linda Lee Danvers), e, em fevereiro do ano seguinte, o Super-Homem anunciou que o “período de treinamento” dela havia terminado e que o mundo deveria saber de sua presença.

A primeira história de Supermoça foi desenhada por Al Plastino, que foi substituído por Jim Mooney até 1968, quando Kurt Schaffenberger assumiu. As histórias eram fornecidas por Binder, Leo Dorfman, Edmond Hamilton e muitos outros. Ao longo dos anos, a Supermoça também apareceu com frequência em todas as outras revistas derivadas do Super-Homem, inclusive, na Legião dos Super-Heróis. Linda Lee Danvers cresceu e se matriculou na faculdade.

Em junho de 1969, a Supermoça começou a aparecer em Adventure Comics (nº 381) e, tempos depois, tomou a revista inteira, abandonando a vaga secundária em Action Comics. Schaffenberger e Winslow Mortimer ilustraram a série até o ano seguinte, quando Mike Sekowsky assumiu edição, argumento e arte da Moça de Aço. Linda Lee Danvers se formou na faculdade por essa época, e, pouco depois, Sekowsky foi substituído por uma série de escritores e artistas, como Bob Oskner, Art Saaf, vince Colleta, John Albano, Steve Skeates e, mais tarde, Sekowsky novamente. Em 1972, a Supermoça deixou a Adventure Comics e apareceu numa revista, Supergirl, começando do número 1 (novembro). A revista durou apenas dez edições, mas, após o cancelamento do seu título próprio, a Supermoça passou a aparecer regularmente na revista The Superman Family.

Como foi visto em Crise nas Infinitas Terras, a heroína morreu lutando contra o Anti-monitor.

Entretanto, há rumores de que Byrne ressuscitou a Moça de Aço…


Mário L. C. Barroso

(anterior)                        (próximo)
  (Publicado originalmente em algum dos sites gratuitos que armazenavam o e-zine CTRL-C)

Superman – VI

As Origens do Super-Homem – Quinta Parte

Numa tentativa final de atualizar a imagem do Super-Homem, Clark Kent deixa o Planeta Diário. O jornal tinha sido comprado por Morgan Edge, uma mescla de Rupert Murdoch e Don Corleone. Engolido completamente pelo Sistema Galáxia de Telecomunicações de Edge, o venerável Planeta tornou-se apenas uma pequena engrenagem num grande império da mídia, e Kent transformou-se em âncora do SGT. Com o cabelo devidamente tratado, gravatas largas e chamativas, o “novo” Clark parecia distante da criação de Siegel e Shuster. E, para muitos, o conceito de Clark como personalidade televisiva pareceu problemático desde o início. Se, digamos, o Cid Moreira fosse secretamente o Homem de Aço, como ele poderia cobrir um desastre natural ou um sequestro ao vivo e ainda cumprir seu dever heróico? O trabalho de Clark como repórter de jornal dava exatamente a mobilidade de que ele necessitava para, simultaneamente, cobrir histórias chamativas e ainda salvar a pátria como Super-Homem. No entanto, estar diante das câmaras comprometia demais sua tão necessária liberdade.

Durante essa era, por um curtíssimo período, uma lenda dos quadrinhos passou a trabalhar com o Super-Homem. Jack Kirby, assim como Siegel e Shuster, fôra um dos precursores dos quadrinhos de super-heróis e, em quase meio século de carreira, esteve envolvido na criação de uma infinidade de personagens com apelos quase tão duradouros quanto os do Homem de Aço.

Contratado para trabalhar na revitalização do personagem, Kirby preferiu atuar mais perifericamente, indicando o caminho, em vez de comandar sua revista principal. Ele assumiu o título Superman’s Pal: Jimmy Olsen a partir do nº 133, de outubro de 1970, e deixou naquelas páginas a marca de seu impressionante gênio criativo. O resultado foi puro brilhantismo num título anteriormente chinfrim. As histórias em Jimmy Olsen nunca tinham sido mais do que histórias do Super-Homem com outra roupagem, mas, sob a tutela de Kirby, Jimmy conquistou um espaço bem maior.

Kirby ressuscitou a Legião Jovem – equipe criada com Joe Simon na década de quarenta – e, com ela, enviou Jimmy numa frenética jornada pelo mundo da contracultura do início da década de 70. Ali estavam os Cabeludos, um grupo quase tribal de motoqueiros hippies que habitava uma cidade arbórea na Área Selvagem. Ali estava o Projeto, um experimento ultra-secreto que produzia super-criaturas geneticamente alteradas de todas as formas e todos os tamanhos, inclusive o grupo de agentes especiais conhecido como os DNAlienígenas. Ali também estava a Montanha do Julgamento, um colosso motorizado que cruzava velozmente o interior do país numa missão misteriosa e incompreensível. Em páginas de três quadros, Kirby despejava conceitos que um roteirista menos capacitado teria espalhado por três ou quatro revistas.

No título The Forever People, Kirby apresentou ao Super-Homem os Deuses de Nova Gênese. Pela primeira vez, o Homem de Aço encontrava seres que eram iguais ou talvez superiores a ele.

Lamentavelmente, esta torrente de criatividade teve vida curta. O principal interesse de Kirby estava voltado para seu ciclo do Quarto Mundo, os Novos Deuses, o Povo da Eternidade e o Senhor Milagre. Esta tapeçaria de intrincado tecido, retratando um Novo Ragnarok, uma guerra cósmica entre seres de estatura divina, tomava todo o seu tempo. Quando acabou sua participação em Jimmy Olsen, ele havia contribuído para o panorama geral, mas não tinha influenciado os outros títulos o suficiente. O Super-Homem ainda enfrentava sérios problemas.

Foi nessa época que o roteirista Dennis O’Neil apontou o que ele acreditava ser o maior defeito no herói. O Homem de Aço havia se tornado poderoso demais. O’Neil afirmava que era impossível criar histórias empolgantes e dinâmicas com um ser praticamente divino. Ao lado do editor Julius Schwartz e do veterano desenhista Curt Swan, O’Neil iniciou sua reformulação do personagem.

Teria sido difícil selecionar uma equipe melhor. Schwartz já era um dos Grandes Anciões tanto das revistas em quadrinhos quanto da ficção científica. Sua carreira era tão longa quanto a do Super-Homem, e ele já tinha renome por revitalizar personagens conhecidos.

Swan havia começado a desenhar o Super-Homem em meados da década de 50, e seu trabalho estava entre os melhores. Seu estilo limpo e realista era o mais identificado com o Homem de Aço. O’Neil era um roteirista premiado, vindo da surpreendente revitalização do Lanterna Verde e, principalmente, do Batman, com histórias que tinham recuperado muito do conceito original do Cavaleiro das Trevas.

O’Neil tomou uma atitude bem simples: privou o personagem de um terço de seu poder. Isto foi concretizado a partir de janeiro de 1971, na edição Superman 233, com a criação de uma duplicata do Super-Homem. A enigmática criatura recebeu um terço do poder do Homem de Aço e, dessa perda, emergiu um herói mais gerenciável. Para sorte do desenergizado Super-Homem, toda a kryptonita da Terra foi transformada em ferro inofensivo por uma reação em cadeia gerada pelo mesmo acidente que criara a duplicata. Ao fim deste ciclo, a duplicata havia drenado metade dos poderes do Homem de Aço.

Schwartz humanizou um pouco mais Clark Kent, deixando-o de costeletas e usando ternos de outras cores além de azul. Ele também começou a integrar mais o Super-Homem com o universo DC. Em grande parte por causa da “realidade” intrincada e interativa criada pela Marvel Comics, leitores de toda parte exigiam aventuras mais complexas e ambientações mais perenes para os personagens DC. Mort Weisinger havia criado uma continuidade bastante coerente entre os títulos do Super e, agora, Schwartz se dispunha a fazer com que o herói interagisse mais com os outros personagens da editora.

Depois da saída de O’Neil, o Homem de Aço recuperou seus poderes perdidos. Afinal, muitos afirmavam que os dons de qualquer kryptoniano eram infinitos, e dois terços do infinito são… bem… ainda infinito (esta leitura dos poderes do personagem tinha o efeito colateral lamentável de implicar que Krypto e Beppo, o supermacaco eram tão poderosos quanto o Super-Homem, mas, uma vez que nenhum dos dois continuava aparecendo, o problema potencial havia sido habilmente jogado para debaixo do tapete.

No início da década de oitenta, outra reavaliação entrou em andamento. O editor-executivo Dick Giordano e a diretora Jenette Kahn perceberam que toda a linha DC estava irremediavelmente bagunçada. Uma enorme faxina se fazia necessária.

Grandes mudanças foram possibilitadas por uma mega-saga sem precedentes na história: Crise nas Infinitas Terras, um massacre calculado. Os leitores ficaram sem fôlego. E, mais importante ainda, foram preparados para outras mudanças. Era a ocasião perfeita de se fazer outra reformulação no Super-Homem. Na verdade, a mais completa de todas elas. Dick Giordano me procurou e, em íntima colaboração com os editores Mike Carlin e Andrew Helfer, eu estabeleci os parâmetros de um novo Super-Homem.

Ele fez sua estréia nos EUA em 1986 e, para falar a verdade, não era tão “novo” assim. Foi uma aproximação do personagem de Siegel e Shuster. Eliminamos os poderes divinos e sua carreira como Superboy. O planeta Krypton foi reprojetado e redefinido. Jor-El e Lara pareciam diferentes. O casal Kent estava mais jovem quando encontrou o bebê. Os dois disseram ao mundo que o garoto era filho natural, e não tiveram de passar por um elaborado ritual de adoção.

Mais uma vez, como no início, ele chegou à idade adulta sem assumir a identidade de Superboy. Na verdade, uma vez que nesta versão seus superpoderes se desenvolveram lentamente, o jovem Clark não precisou esconder suas capacidades, pois ainda não as tinha. Quando visto pela primeira vez, com a idade de dezoito anos, ele havia se tornado campeão pelo time de futebol americano do Colégio Pequenópolis, para irritação dos outros jogadores. Ao ver a chateação dos colegas de equipe de Clark, Jonathan Kent decidiu contar ao filho a verdadeira história de seu nascimento e deixou bem claro para o rapaz que ele jamais deveria usar suas habilidades extraordinárias para se fazer superior aos outros, mas sempre para ajudar a todos.

Adquirindo humildade por meio das palavras do pai, Clark resolveu assumir a responsabilidade inerente a seus poderes de maneira secreta. Ele não queria que o mundo soubesse que um “anjo da guarda” estava à disposição.

Somente depois de ser forçado a agir abertamente para salvar um ônibus espacial em Metrópolis, Clark Kent voltou a Pequenópolis e, com a ajuda de seus pais, criou a identidade uniformizada de Super-Homem. Só então ele decidiu alterar sua aparência como Clark, assumindo o tradicional penteado para trás e os óculos fundo-de-garrafa.

Numa grande inversão filosófica, Clark tornou-se o verdadeiro personagem, que se fazia passar pelo Homem de Aço, e não o contrário. Mais ainda, ninguém na Terra, exceto Martha e Jonathan Kent, sabia que o Super-Homem tinha dupla identidade. Livre da compulsão exaustiva de fingir que não era Super-Homem, Clark pôde se tornar um personagem mais dinâmico, exibindo orgulhosamente seus troféus de futebol americano, que também serviam para justificar seu físico magnífico.

Lois ficou livre para se tornar a personagem inteligente e segura de si de cinquenta anos antes. Uma vez que ninguém suspeitava que o Super-Homem tinha um alter ego, Lois não precisava mais perder tempo tentando revelar o segredo.

O Planeta Diário voltou a seu local original na história. Perry White foi apresentado como editor-chefe, e não executivo, tornando mais lógico o relacionamento íntimo com seus repórteres.

Talvez a maior de todas as mudanças tenha sido proposta pelo meu colega Marv Wolfman. Ele sugeriu “ajeitar” Lex Luthor. Não mais um cientista maluco, Luthor tornou-se um “super-homem” dos negócios, o mais poderoso de Metrópolis… até a chegada do Homem de Aço. O herói tirou de Luthor sua posição privilegiada. Como o Salieri em Amadeus, reconhecendo o gênio de Mozart, Luthor sabia que, para voltar a ser o Número Um, deveria eliminar seu rival. Porém, diferente de Salieri, Luthor não aceita a idéia de que o Homem de Aço é melhor do que ele e, por isso, está condenado a fracassar sempre.

Desta forma, nosso herói decola rumo ao seu segundo meio-século. Ele passou por situações difíceis nas suas cinco primeiras décadas de vida. Voou mais alto do que qualquer outro personagem, mas também caiu a pontos baixíssimos. Conquistou a glória em histórias empolgantes e mergulhou na tolice e na pretensão. Serviu como um orgulhoso emblema para a nação e foi constrangido pelos excessos dela. Brega, cultuado, clássico.

Ele foi essas coisas e muito mais. Mas, acima de tudo, sempre foi o Super-Homem.

E sempre será.



John Byrne

(anterior)                        (próximo)
  (Publicado originalmente em algum dos sites gratuitos que armazenavam o e-zine CTRL-C)

Superman – V

As Origens do Super-Homem – Quarta Parte

A veia trágica sempre correu profunda na lenda do Super-Homem. Tendo começado com a morte de bilhões de pessoas, não podia ser de outro jeito. Curiosamente, nesse período de histórias que agora até podemos encarar como mais bobas, a temática trágica foi desenvolvida ainda mais, com repetida ênfase em Krypton e na herança perdida do Super-Homem. O papel do Homem de Aço como um “estranho numa terra estranha” foi introduzido e desenvolvido durante essa época. Não importava o fato de ele ter sido criado como ser humano, com todos os valores judaico-cristãos de nossa sociedade ocidental. Quanto mais o tempo passava, mais nosso herói lamentava a perda de Krypton. Ele fazia juras em seu nome (“Grande Krypton!”) e, em sua Fortaleza da Solidão, construiu um enorme altar em memória de seus pais e de seu planeta.

Então, de repente, surgiu Kandor. Primeira capital do governo mundial de Krypton (substituída por Kryptonópolis, cidade natal do Bebê de Aço), Kandor era uma cidade com cerca de um bilhão de habitantes, reduzida ao tamanho de uma lista telefônica e aprisionada numa garrafa pelo alienígena maligno Brainiac. Anos depois, quando Brainiac chegou à Terra e começou a roubar nossas principais cidades, Super-Homem descobriu esse remanescente de sua herança, completa, com uma população ativa, e dedicou a ela um lugar de honra em sua Fortaleza no Ártico, prometendo aos kandorianos que ele não pouparia esforços a fim de descobrir um meio de restaurá-los a seu tamanho original.

Mais tarde, quando Jimmy Olsen foi agraciado com a realização de três desejos por uma fonte mágica, ele usou um deles para enviar o Homem de Aço ao passado para uma breve visita a Krypton. Para evitar que seu superamigo soubesse o que estava planejando, Jimmy datilografou o seu desejo em vez de falar em voz alta. Sua intenção era que o Super-Homem “encontrasse seus pais”. Mas, ao chegar a Krypton, o herói descobre que Lara está prestes a se casar com outro homem e, numa antecipação a De Volta para o Futuro, ele é obrigado a arquitetar as circunstâncias em que seus pais se conheceram e se casaram. Jimmy, ao que parece, inadvertidamente datilografara “mate” (em inglês, mais ou menos, bancar o cupido) em vez de “meet” (em inglês, encontrar).

No decorrer dos anos, quase todo mundo acabou indo parar em Krypton de uma forma ou de outra. Em World’s Finest Comics, título partilhado por Super-Homem e Batman, a dupla teve algumas aventuras na cidade miniatura de Kandor, muitos anos antes de o Homem de Aço finalmente cumprir sua promessa e devolver a cidade ao tamanho original. Numa dessas aventuras, nosso herói se defendeu contra meia dúzia de capangas de Luthor, mesmo após perder seus poderes no ambiente kryptoniano de Kandor. Um dos criminosos chegou a comentar: “Mesmo sem seus superpoderes, esse cara é um osso duro de roer!”. Os leitores jamais duvidaram disso.

Nessa época, entre os roteiristas do Super-Homem, estavam Edmond Hamilton e Otto Binder. Foi Binder quem acrescentou Supermoça e Brainiac à lenda e elaborou uma das melhores histórias do Superboy nesse período, tão boa que passou a fazer parte do histórico do Homem de Aço adulto.

Criada como uma analogia ao monstro de Frankestein, a primeira criatura a se chamar Bizarro era uma duplicata imperfeita do Menino de Aço, gerada num acidente de laboratório. Um cientista amigo do Superboy estava tentando produzir urânio artificial para uso em medicina nuclear. No entanto, suas tentativas redundaram em fracasso, uma vez que seu “raio duplicador” tinha produzido urânio não-radiativo. Em dado momento, a máquina sofreu um solavanco e o próprio Superboy foi exposto aos raios, resultando no surgimento da versão quase cristalina do jovem herói, dotada de pele branca e traços que pareciam ter sido lapidados, com uma rebelde cabeleira espetada e de cor preta.

Como era típico na época, esta história foi uma adaptação de uma aventura apresentada originalmente nas tiras de jornal do Super-Homem. Muitos roteiros dessas tiras eram aproveitados e apresentados no formato de quadrinhos.

Concomitantemente, a história do Super-Homem continuava a se expandir, tornando seu passado mais complexo. Assim como Lana Lang foi introduzida retroativamente na lenda, o mesmo se deu com outros personagens bastante conhecidos. Em 1960, revelou-se que o maligno Luthor havia sido outrora amigo do Superboy em Pequenópolis. Seu ódio contra o Homem de Aço teve origem naqueles tempos antigos. Seu primeiro nome, Lex, foi revelado nessa história, cerca de vinte anos depois de sua estréia.

Pequenópolis, à medida que se desenvolveu no decorrer dos anos, tornou-se um local muito ativo, graças à fluidez da realidade nos gibis. Em World’s Finest, revelou-se que a dupla Super-Homem & Batman teve sua gênese em Pequenópolis, quando Thomas e Martha Wayne passaram por lá com seu filho, Bruce. Este primeiro encontro ocorreu mais de uma vez, já que as histórias eram contadas e recontadas para tornar ainda mais complexa a lenda. Em uma versão, o jovem Bruce até mesmo trajou uma fantasia que lembrava um morcego, autodenominando-se Raposa Voadora e combatendo, por um breve período, o crime em Pequenópolis.

Os anos 60 foram tempos difíceis para nosso herói. Num período de transformação cultural para a América e o mundo, a filosofia maniqueísta e, alguns diriam, simplista de bem versus mal das histórias do Super-Homem soava ainda mais caduca. Tentativas de abordar a situação do mundo pareciam apenas um esforço para acompanhar os novos tempos e frequentemente erravam feio o alvo. Os gibis sempre seguiram os modismos da sociedade, tentando, na medida do possível, capitalizar os movimentos populares. Mas, para o Super-Homem, os temas abordados se mostraram esforços fracassados de fazer o personagem caber numa forma para a qual ele não fôra feito.

Clark Kent poderia deixar crescer costeletas e Lois Lane poderia se transformar numa mulher negra para explorar o dia-a-dia de Metrópolis. Porém, de alguma forma, era tudo muito difícil de engolir. A Metrópolis do Super-Homem simplesmente não parecia ser um lugar onde pudesse haver guetos ou gente pobre de qualquer cor. Por muito tempo, a cidade havia sido a pedra precisosa mais reluzente no diadema das cidades imaginárias da DC: Nova Iorque sem as pichações, Chicago sem a máquina política corrupta, Los Angeles sem a poluição.

Os elementos do passado trágico do Homem de Aço foram retratados durante os anos sessenta e setenta, mas com um efeito alienante. A paixão por Krypton tornou-se praticamente ofensiva. Cada exclamação de “Grande Krypton!” era um insulto ao mundo que havia sido lar do Super-Homem por quase toda sua vida. Uma espiral decadente teve início e parecia muito improvável que se pudesse fazer alguma coisa para reverter a derrocada final do personagem.

A lenda continuou a crescer com revisionismos retroativos. À medida que o planeta Krypton era deslocado no espaço, avançando para posições cada vez mais distantes da Terra, segundo o critério de uma sucessão de roteiristas e editores, justificativas cada vez mais engenhosas e complexas iam se fazendo necessárias para que o pequeno foguete atravessasse a distância espacial que se interpunha entre Krypton e a Terra. Em 1938, era o suficiente dizer que Jor-L tinha construído um buscapé vitaminado no qual ele havia colocado seu filho e apontado para a Terra. Ninguém se indagava a respeito da distância ou da trajetória. O deslumbramento com o acontecido era tudo o que importava e a cruel ditadura da lógica podia ser posta de lado se uma história tivesse um ritmo suficientemente ligeiro. Podia-se engolir numa boa a visão simplista que Siegel tinha sobre navegação espacial.

Na década de setenta, o foguete foi equipado com um “propulsor estelar”, e a dobra ou fenda espacial que esse estranho motor abriu também foi responsável por um verdadeiro dilúvio de artefatos kryptonianos que acompanhou o pequeno Kal-El até a Terra. Todavia, tantos foram os destroços da explosão que chegaram ao sistema solar que, às vezes, a destruição de Krypton parecia ter sido unidirecional, como que apontada para a Terra. Fazendo o pequeno foguete gerar uma espécie de buraco negro, um redemoinho no espaço, roteiristas mais recentes puderam justificar muito do que havia sido relatado anteriormente.

Em outra revisão, o foguete havia explodido ao chegar à Terra, antes do efeito da radiação solar ter chance de tornar o metal, o plástico e o vidro invulneráveis. Esta explosão foi usada para criar dois pedaços perfeitamente circulares de supervidro para que Clark Kent pudesse usar em seus óculos. Alguém finalmente havia percebido que Clark não teria sido capaz de cortar o vidro com sua unha por mais super que ela fosse. Seria o mesmo que dizer que um homem normal é capaz de cortar vidro comum com sua unha normal.



John Byrne

(anterior)                        (próximo)
  (Publicado originalmente em algum dos sites gratuitos que armazenavam o e-zine CTRL-C)

Superman – IV

As Origens do Super-Homem – Terceira Parte

A introdução da kryptonita nas histórias do Super-Homem aumentou a importância do principal inimigo do herói: Lex Luthor, o mais louco de todos os cientistas. Luthor rapidamente soube não só da existência deste veneno letal para o Super-Homem, mas também descobriu como sintentizá-lo (em uma história baseada tanto no programa de rádio quanto no segundo seriado cinematográfico, ele consegue enganar o Homem de Aço e fazê-lo reunir todos os elementos necessários para produzir kryptonita artificial).

A atenção sobre Krypton foi transferida para outros elementos ligados ao passado do Super-Homem: kryptonianos vivos! Em uma edição de agosto de 1950, nosso herói confronta-se com três criminosos, lançados em órbita por Jor-El, o que lhes permitiu escapar à destruição do planeta. Jor-El, ao que parece, tinha mais de um foguete guardado em seu laboratório. Ele também estava mais envolvido nos trâmites judiciários kryptonianos do que se poderia esperar de um cientista, ainda que excepcional. À medida que a lenda progredia, podíamos ter a imagem de um Albert Einstein sendo convidado a participar da Suprema Corte.

Por fim, revelou-se que Jor-El era o inventor/descobridor de um aparelho que, com o passar dos anos, seria uma ameaça quase tão grande quanto a kryptonita: o projetor da Zona Fantasma. Esta dimensão espectral era vista pela população de Krypton como um castigo mais benevolente do que o tradicional exílio em órbita. Numa cena significativa, Jor-El era visto prometendo ao criminoso condenado que ele criaria algo mais piedoso do que cem anos em animação suspensa. O leitor pode julgar se a Zona Fantasma era mesmo um bem maior. Projetados nesta dimensão crepuscular, os criminosos tornavam-se espíritos desencarnados, capazes de ver e ouvir tudo que se transpirava em seu mundo natal, mas incapazes de tocar ou fazer contato com qualquer pessoa fora desse limbo.

Tendo descoberto a existência da Zona Fantasma, o Homem de Aço ficou sabendo que muitos dos criminosos internados nela estavam no fim de suas sentenças, e se sentiu naturalmente compelido a libertá-los. No entanto, a maioria não havia aprendido nada com o castigo e, possuindo os poderes do Super-Homem, esses criminosos kryptonianos iniciaram várias investidas maléficas. Inevitavelmente, acabaram voltando para a Zona Fantasma, rosnando de ódio e jurando vingança.

A essa altura, Siegel e Shuster já haviam partido. Eles deixaram de trabalhar com o personagem em 1947, e o controle de criação passou a vários editores, escritores e desenhistas. A primeira destas pessoas a causar impacto considerável na lenda do Super-Homem foi Mort Weisinger, que assumiu o controle das tarefas editoriais depois da Segunda Guerra Mundial. Sob a influência de Weisinger, o nosso herói começou a assumir a forma mais conhecida pelo público de hoje.

Weisinger, segundo consta, tinha o hábito de conversar com as crianças de seu bairro, perguntando o que gostariam de ver acontecer com o personagem cujas aventuras eram, afinal, ainda endereçadas quase que inteiramente a elas. Foi neste período que a proliferação de superpoderes teve início. Seja por sugestão das crianças ou por causa da astuta intuição do que elas gostariam de ver, as histórias desta época se encheram de uma infinidade de personagens com poderes idênticos aos do Homem de Aço. O primeiro a chegar, retroativamente, foi Krypto, o Supercão.

Pelo visto, Jor-El tinha um modelo daquele foguete que lançou seu filho rumo à Terra. E, sendo um pai zeloso e amoroso, ele não desejava arriscar a vida de Kal-El numa nave ainda não testada, e por isso havia lançado antes o cachorro da família rumo ao espaço no protótipo.

Krypto aparece em algumas histórias ao acaso, tanto em Pequenópolis quanto em Metrópolis e até mesmo no espaço sideral, seu território favorito. Sua longevidade sugere que o tempo de vida provável do Super-Homem é extremamente longo, uma vez que nada no texto jamais tinha indicado que os cães kryptonianos tivessem um tempo de vida maior do que seus equivalentes terrestres.

O surgimento de Krypto se fez seguir da aparição de um personagem muito mais significativo nas lendas do Super-Homem, a prima do herói, Kara, conhecida em todo o mundo como Supermoça. Tendo aparecido pela primeira vez em maio de 1959, a Supermoça rapidamente desenvolveu uma origem quase tão complexa quanto a do Super-Homem. Agora, uma cidade inteira tinha sobrevivido à destruição de Krypton, com uma bolha de ar de alguma forma atada ao fragmento lançado ao espaço. Revisões posteriores acrescentaram uma “abóboda climática” que realmente continha o ar.

Entre os residentes de Argo City estavam Zor-El e sua esposa, Alura. Zor-El, como logo ficou claro, era o irmão caçula de Jor-El (ô mundinho pequeno, esse Krypton!). Alguns anos depois da destruição de Krypton, os habitantes de Argo descobriram que o fragmento do planeta no qual estavam viajando através do espaço estava se transformando em anti-kryptonita, através de uma reação estranhamente retardada. Foram feitas tentativas de cobrir o solo com chumbo, para bloquear a radiação mortífera, mas, como Krypton, o povo de Argo percebeu que estava condenado.

Imitando seu ilustre irmão, Zor-El colocou sua filha, uma adolescente, num foguete e a enviou rumo à Terra. Depois de ser encontrada por Super-Homem, ela adotou a identidade de Linda Lee. Supermoça operou em segredo por anos, até seu primo julgar que o treinamento estava completo, e revelou sua existência a um mundo surpreso e empolgado em fevereiro de 1962.



John Byrne

(anterior)                        (próximo)
  (Publicado originalmente em algum dos sites gratuitos que armazenavam o e-zine CTRL-C)

Superman – III

As Origens do Super-Homem – Segunda Parte

Na Terra, depois de um pouso forçado, o sobrevivente da pequena astronave enviada de Krypton é encontrado por um casal que passava de carro pelo local. Originalmente não identificados, eles mais tarde se tornariam Jonathan e Martha Kent. Seus nomes, também, variaram no início. Em 1942, George Lowther escreveu um romance do Super-Homem, detalhando sua origem com muito do que estava presente nos quadrinhos, e finalmente deu aos pais adotivos os nomes de Sarah e Eben Kent (com estes nomes eles ficariam conhecidos no seriado de cinema Superman de 1948 e no episódio-piloto do seriado televisivo The Adventures of Superman). O romance de Lowther também foi o primeiro a revelar o sobrenome kryptoniano do Super-Homem por inteiro, soletrando “EL” em vez de “L”, além de alterar o nome da mãe do herói de “Lora” para “Lara”.

Na versão em quadrinhos de 1938, os Kent, ainda sem nome, eram um casal idoso, sem filhos, que levava a criança perdida a um orfanato próximo, voltando depois para adotar o bebê. Numa redefinição, foi revelado que esse retorno era a intenção dos Kent desde o começo. Quando o casal voltou, os funcionários do orfanato ficaram mais do que felizes com a partida do bebê. Já possuindo os fabulosos poderes de um nativo de Krypton, a criança tinha quase demolido o orfanato.

Batizado de Clark Kent, o menino cresceu e tornou-se adulto antes de vestir o conhecido uniforme vermelho, azul e amarelo. Há versões conflitantes de como Clark recebeu esse nome. Nas próprias histórias, foi revelado que era o nome de solteira de sua mãe adotiva. No entanto, ninguém sabe o que Siegel e Shuster tinham em mente ao tomar tal decisão. Uma versão conta que a escolha do nome foi inspirada nos atores Clark Gable e Kent Taylor. Outra versão diz que foi uma homenagem às antigas revistas pulp que tinham alimentado a imaginação dos criadores do Super-Homem: Doc Savage, o heróico “Home de Bronze”, chamava-se Clark Savage Jr. e seu criador foi o autor Lester Dent.

O jovem Clark teve o cuidado de manter seus poderes em segredo. Na primeira edição de Superman, papai Kent o alerta: “Agora preste muita atenção no que vou dizer, Clark! Essa sua enorme força… bem, você tem de escondê-la das pessoas ou elas vão ficar com medo de você!”. Mamãe Kent era menos catastrófica e dizia: “Quando chegar a hora, você deve usar esse poder para ajudar a humanidade”.

Estabelecendo-se em Metrópolis, Clark arrumou emprega no Planeta Diário e assim conheceu o membro mais antigo do elenco de coadjuvantes, Lois Lane. Lois é a única personagem além do Super-Homem que esteve presente desde o começo. Ela entrou na vida de Clark Kent em Action Comics # 1, já como uma ousada repórter do Estrela Diária de Metrópolis (mais tarde, rebatizado de Planeta). Os outros membros mais conhecidos do elenco, Jimmy Olsen e Perry White, vieram depois, ambos gerados nas aventuras do Super-Homem no rádio.

Desenvolvimentos posteriores do personagem acrescentaram Superboy à lenda (em 1945), revelando que não fora como adulto que Clark demonstrara ao mundo suas habilidades kryptonianas, mas ainda jovem em Pequenópolis. Nas revistas Superboy e Adventure Comics, revelou-se a maior parte do que conhecemos sobre os bondosos Kent. Começando como fazendeiro, Jonathan Kent mais tarde compraria uma loja de mantimentos gerais em Pequenópolis. Nesse ambiente aconchegante, Clark viveria muitas aventuras (devido às curiosas confusões de continuidade que afligiram a DC Comics no passado, passaram-se muitos anos até que a existência de Superboy fosse reconhecida dentro dos títulos do Super-Homem).

Em Pequenópolis, nós também conhecemos Lana Lang, uma ruiva muito animada e, por um tempo, namorada do Superboy. Lana ocupou um papel em sua infância e adolescência semelhante ao que seria assumido anos depois por Lois. As narrativas do Superboy tornaram-se tão complexas quanto as do Super-Homem nos trinta e poucos anos de sua publicação. Ninguém parecia se incomodar com as contradições do aparecimento do Superboy como um elemento de peso no passado do Super-Homem. Talvez os leitores fossem menos chatos a respeito da continuidade naqueles dias. É bem provável que simplesmente acolhessem de braços abertos qualquer coisa que lhes apresentasse uma possibilidade de novas aventuras de seu herói favorito.

Das histórias do Superboy, vieram mais detalhes sobre a vida passada de Kal-El em Krypton. Usando a supermemória, o jovem Clark era capaz de relembrar muito dos acontecimentos do dia-a-dia em seu mundo de origem. Mais do que se poderia esperar de um recém-nascido. E, à medida que a crônica do herói progredia, a idade em que o Super-Homem havia deixado Krypton também avançava. Mencionava-se que Kal-El já era uma criança que balbuciava as primeiras palavras, com consciência plena de tudo o que acontecia a seu redor, quando partiu de Krypton. Novamente, as contradições eram ignoradas com muito prazer pelos leitores. Enquanto as histórias fossem empolgantes, ninguém dava muita bola para os detalhes.

A textura mudava, os detalhes se alteravam, até mesmo as personalidades se modificavam. Mas o Homem de Aço permanecia mais ou menos o mesmo, uma rocha ao redor da qual todas as outras coisas orbitavam.

Aos poucos, os próprios kryptonianos sofreram alterações, tornando-se cada vez mais parecidos conosco. Revelou-se que Krypton era um planeta gigantesco, talvez do tamanho de Júpiter, e a força do Super-Homem foi explicada com base nisso, uma vez que os músculos evoluídos para dar conta da esmagadora gravidade de Krypton tornavam-se superpoderosos na Terra.

Daí também se explicaria a origem da capacidade de voar própria do Super-Homem. A gravidade da Terra simplesmente não era suficiente para contê-lo. Sua invulnerabilidade era outro vestígio de seu planeta natal. Todos os kryptonianos, ao que parece, tinham estruturas moleculares superdensas.

Essa safra de alterações na lenda chamou mais atenção para o planeta Krypton em si. Esse mundo fora pouco mencionado durante a primeira década da vida do Super, mas acabaria se tornando uma engrenagem vital no maquinário que compõe o personagem. O interesse alcançou seu momento mais significativo em 1949, quando o Super-Homem, pela primeira vez, encontrou um fragmento reluzente de seu planeta. Colorida de vermelho na estréia nos quadrinhos, a kryptonita, na verdade, tinha sido gerada na série de rádio do Super-Homem e passaria a ser a partir de então a mais perigosa ameaça à existência do herói. A letal kryptonita assumiu a tonalidade verde numa segunda aparição. Mais tarde, uma versão vermelha foi mostrada aos leitores, mas seus efeitos sobre o Super-Homem eram profundamente diferentes. Como veremos.



John Byrne

(anterior)                        (próximo)
  (Publicado originalmente em algum dos sites gratuitos que armazenavam o e-zine CTRL-C)