Shooting arrows in the face of the bird

Desde que me conheço por gente sempre gostei de escrever.

Transmitir o que penso, o que sinto, o que anseio – isso sempre foi mais que uma necessidade. Creio que, na prática, uma verdadeira compulsão.

Aliás, sempre quis publicar um livro.

E ainda vou.

Não porque quero o reconhecimento, a fama, o dinheiro, ou seja lá o que quer que muitos autores bem (e mal) sucedidos tenham por intento. Essa minha pretensão diz respeito apenas à vontade de deixar um registro, deixar uma marca, algo para a posteridade. Se algum dia, quer eu esteja ou não ainda neste plano, ao menos uma pessoa vier a ler minhas garatujas e minhas idéias lhe servirem para algo – bem, então já estaria pago todo o esforço!

E então, há pouco mais de dez anos, surgiu na minha vida a Internet.

Que oportunidade única!

Comecei a escrever, me comunicar, participar, interagir. De todos esses anos logado, foi essa a época em que mais pude dar meus palpites e pitacos, direta ou indiretamente, pra muita, muita gente. Desde renomados e famosos personagens e autores aos mais ilustres desconhecidos. Do âmbito local dos BBS, passei aos e-mails, criei e-zines e mergulhei em diversas listas de discussão sobre os mais variados temas. Como sempre costumo pontuar, minhas impressões e meus textos nunca foram para mim, mas sempre para o mundo, como um todo.

Uma época, pra mim, realmente áurea, em que eu perfeitamente tinha pleno domínio do mundo que me cercava.

Evolução natural desse mundo internetístico, não muito tempo depois, surgiram os blogs.

Descobri que, na prática, eu já era um blogueiro desde sempre. Transferi meus arquivos e discussões e rapidamente me adaptei a esse novo formato. Inscrevi-me em ferramentas de localização e de compartilhamento, troquei figurinhas com outros blogueiros, dividi meu espaço e ocupei outros.

Na esteira de toda essa modernidade vieram também as redes sociais, outras mídias, outros formatos. Orkut, Facebook, Twitter, etc. Redes que já nasceram natimortas e, ainda assim, eu estava lá, inscrito, participando ou não. Sem abandonar meus textos. Sem deixar de lado meu blog. Ainda trocando mil idéias em inúmeras listas de discussão. Diversas ferramentas de comunicação on line instaladas e ativas. Conversas em tempo real. Muitas comunidades virtuais, muita virtual vida social.

E, paralelamente, ainda tinha a sempre presente ilusão de que conseguia administrar minha vida pessoal e profissional.

Que incrível, isso!

Mas, como deveria ter sido nitidamente previsível, tudo isso era na verdade uma tragédia anunciada.

Não demorou para que esse meu foco de atuação, de tão amplo, ficasse justamente fora de foco. E o trabalho cobrou seu preço, demandando minha atenção. E o coração – ah, maldito coração! – abandonado que estava, abriu seus olhos e colocou sua preciosa atenção naquele mundo virtual que se lhe descortinava e enxergou tudo aquilo que quis enxergar.

E então, minha tão ordenada (mas bagunçada) vida foi atirada ao mais ferrenho caos.

E, tomando consciência disso, sentindo-me até mesmo acuado, resolvi que já era hora de dar um basta em tudo.

Saí de todas as listas de discussão. Apaguei o Orkut. Encerrei o Facebook. Sumi do Twitter. Simplesmente abandonei todas as outras redes e cadastros dos quais participava. Até mesmo o blog entrou em estado de animação suspensa.

Tudo que eu queria era ter de volta a simplicidade de minha vida de outrora…

E, por um curtíssimo período, até que consegui.

Mas, tal qual viciado que não consegue se afastar do objeto de sua tortura, com a inconsequente necessidade de interagir quase que diuturnamente nesse mundo virtual que nos cerca – e com o coração clamando pelo retorno da atenção que lhe foi dispensada e retirada – eis que, aos poucos, sob a pálida ilusão do controle, fui retomando meu ópio digital.

Primeiramente o resgate do blog.

Depois o Facebook.

Ato contínuo, o Twitter.

Ignorei solenemente outras redes e sequer cogitei em voltar para listas de discussão.

Até mesmo o endereço do blog passou por alteração na busca de uma nova dinâmica…

Achei, sinceramente, que estaria tudo sob controle. Poucas e bem medidas doses diárias de interação virtual, um mergulho no meu inverno pessoal, uma tentativa de desligar as emoções, deixando o baú bem trancado até que tudo estivesse total e completamente administrável.

O plano perfeito.

Perfeito para um idiota.

É óbvio que as coisas saíram – novamente – do controle. O que eu deveria ter percebido é que meu problema não era a quantidade, mas sim a intensidade. E, também óbvio, na tentativa de fazer o que é certo sem sopesar as consequências, os estragos ao redor são tanto inevitáveis quanto consideráveis…

Sinto-me sinceramente velho e cansado demais para tudo isso. Tudo que eu queria era simplesmente um retorno às origens. Sem me importar se sou ou não sou lido. Se tem alguém ou não para me escutar. Deixar meu registro. Deixar minha marca para posteridade. E pronto. Mas, besta que sou, novamente encantei-me por demais com tantos recursos de compartilhamento, de como podia chegar às pessoas através das ferramentas que se me apresentavam, de como a idéia simples e curta era fácil e rapidamente aceitável e digerível nesta nossa sociedade de consumo em massa, que deixei de lado o encanto e o prazer de escrever de mim para mim.

E, como disse, estou (sou?) velho e cansado demais pra isso tudo.

Quero minhas origens de volta.

Quero retornar a ser senhor de minha vida.

Quero que meu coração fique quieto e calado onde deve ficar. Sem ser certo. Sem ser errado. Nem pra mim, nem pra ninguém. Apenas existindo para função que foi criado, enquanto durar.

Quero poder escrever sem saber se e quando vou ser lido. De mim para mim. E deixar lá. Palavras ao vento. Úteis ou não. Não me importa, nem quero me importar mais com o que em qualquer exato momento outrem estiverem fazendo ou pensando. Deixem seus registros e eu, também quando e se quiser, os verei.

Chega de recursos especiais, de atenção imediata, constante, onipresente.

Quero retomar as rédeas de minha existência – sem truques – antes que seja tarde demais…

Simples assim.

E é por isso que, de forma inafastável, inenarrável e irrevoltável tomei uma também simples decisão.

Adeus Face.

Adeus Twitter.

Como epitáfio de um que fique a referência às imagens das rosas e da roseira que tão bem me acalentaram o coração.

Como epitáfio de outro – e até como rumo a seguir – fica minha última mensagem: Chekov: “Course heading, Captain?” Kirk: “Second star to the right, and straight on ‘till morning.”

Ou seja, não me procurem por lá. Estarei por aqui. Caso queiram saber deste que vos tecla, busquem-me cá no blog. De mim para mim e para quem quiser.

Fico e ficarei apenas com este meu humilde espaço.

Com meus quase quatro leitores.

Quer me leiam, quer não.

E, sim, meu joelho dói.

E não, não resisto ao dramático…

Ou não.

Entediado

Sem forças. Chateado. Deprimido. Cansado. Sobretudo, cansado. Triste. Nó na garganta. Puto. Revoltado. Cético. Desgostoso. De saco cheio. Com preguiça. Desanimado. Sem vontade. Vontade de chorar. De gritar. Parar de pensar. Se entregar. Desmoronar. Não se preocupar. Coração apertado. Perdido. Doído. Endoidado. Ansioso. Desnivelado. Desesperado. Em busca de paz. Sem encontrar. Sem acreditar. Sem se esforçar. Sem querer. Sem ter. Descansar. Se largar. Se entregar. Parar. Não mais falar. Nem escrever. Buscar o estado de desligado. Embriagado. Ficar parado. Mas, sobretudo – sobretudo – cansado…

Amar é punk

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Eu já passei da idade de ter um tipo físico de mulher ideal para eu me relacionar. Antes, só se fosse diferente (bem diferente). Tivesse um figurino único. Gostasse de minha companhia mais que tudo. Tivesse no mínimo cabelos longos (e, talvez, uma tatuagem). Soubesse andar de salto alto. Que fosse do tipo rebelde. E, lógico, portadora de um grande coração…

Uma coisa meio Angelina Jolie.

Hoje em dia eu continuo insistindo nos quesitos “gostar de minha companhia mais que tudo” e “portadora de um grande coração”, mas confesso que muita coisa mudou. É, pessoal, não tem jeito. Relacionamento a gente constrói. Dia após dia. Dosando paciência, silêncios e longas conversas. Engraçado que quando a gente pára de procurar o “amor da vida”, um amor pra vida da gente aparece. Sem o glamour da alma gêmea. Sem as promessas de ser pra sempre. Sem borboletas no estômago. Sem noites de insônia. É uma coisa simples do tipo: você conhece a menina. Começa, aos poucos, a admirá-la. A achá-la FODA. E, quando vê, você tá fazendo declarações açucaradas igual um pangaré. (E escrevendo textos no blog – ainda que através de indiretas – para que ela entenda uma coisa: dessa vez, caríssima, é DIFERENTE).

Adeus expectativas irreais, adeus sonhos de adolescente. Ela vai esquecer sempre aquilo que você já leu e comentou com ela, mas vai se lembrar sempre que você gosta do seu pão na chapa com muita manteiga (e aquele pingado com um pouquinho de leite frio). Ela não vai fazer declarações românticas e propor jantares à luz de velas, mas vai saber que você está estressado com o trabalho no primeiro “Oi”, te perdoando docemente de qualquer frase dita com mais rispidez.

Ah, gente, sei lá. Descobri que gosto mesmo é do tal amor. Da paixão, creio que não. Depois de anos escrevendo e insinuando sobre querer alguém que me tire o chão, que me roube o ar, venho humildemente me retificar. Eu quero alguém que divida o chão comigo. Quero alguém que me traga fôlego. Entenderam? Quero dormir abraçado sem susto. Quero acordar e ver que (aconteça o que acontecer), tudo vai estar em seu lugar. Sem ansiedades. Sem montanhas-russas.

Antes eu achava que, se não tivesse paixão, eu iria parar de escrever, minha inspiração iria acabar e me tornaria simplesmente mais um dos inumeráveis companheiros ranzinzas e conformados, prontos para deixar de viver aventuras em prol da estabilidade. Mas, caramba! Descobri que não é nada disso. Não existe nada mais contestador do que amar uma pessoa só. Amar é ser rebelde. É atravessar o escuro. É, talvez, mudar o conceito de tudo o que já pensei que pudesse ser amor. Não, antes era paixão. Antes era imaturidade. Antes era uma procura por mim mesmo que não tinha acontecido.

Sei que já falei muito sobre amor, acho que é o grande tema da vida da gente. Mas amor não é só poesia e refrões. Amor é reconstrução. É ritmo. Pausas. Desafinos. E desafios.

Demorei anos para conhecer direito e até mesmo concordar com o Cazuza: “eu quero um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida”.

Provavelmente antes, se ouvisse essa música, eu pensaria (e não diria): porra, que tédio!

Ah, Cazuza! Parece que ele sempre soube. Paixão é para os fracos. Mas amar – ah, o amor! – Amar é punk.

 

Esse texto foi recortado-e-colado-e-adaptado do originalíssimo da Fernanda Mello, que – na sua “versão feminina” – pode ser encontrado aqui. Mas, ainda assim, as garatujas acima são tão verdadeiras quanto o original…

 

De perto ninguém é normal

Acho muito maluco pessoas que acham que são malucas. Aliás, mais maluco ainda é quando a maluquice está em achar que outros é que vão te achar maluco!

Maluco!

Aliás do aliás, ando meio que implicando com as palavras ultimamente e – vamos combinar? – “maluco” por si só já é uma palavra bem maluca, nénão?

Mas, enfim, maluquices à parte, volta e meia me pego querendo escrever sobre algo que com certeza já foi escrito antes. E, normalmente, bem melhor do que eu poderia tê-lo dito. Mas talvez o cúmulo do cúmulo seja quando eu acabo encontrando um texto meu mesmo acerca de algo que estou pensando em escrever e já está escrito – talvez até bem melhor do que eu faria hoje!

Ou não.

Enfim (eu já não disse isso?), esse texto é de uma época que eu ainda conseguia pegar boa parte de minhas convicções e juntá-las numa colcha de retalhos que servia muito bem para cobrir e agasalhar os problemas que de quando em quando a gente vive. Com o passar do tempo, o agregar de novas convicções e o abandonar de outras, não sei se essa colcha ainda cobre bem ou se de repente os pés ficam de fora…

Mas quem me conhece vai perceber o quão atual continua sendo tudo isso.

Esse texto foi publicado em setembro de 2005 sob o título “Aconselhamentos“:

É curioso como as coisas são cíclicas e o ser humano, cedo ou tarde, se vê participando de situações que lhe são familiares. E às vezes sequer concorremos para desencadear tais eventos!

Tem uma pessoa – que lentamente estou descobrindo ser uma amiga – que está passando por uma situação um tanto quanto difícil. Não, não vou dar detalhes do ocorrido, mas digamos apenas que tratam-se de problemas com o “coraçãozinho véio sem portêra”… E tive um longo papo com ela, de um modo que, creio eu, pude ajudar em algo. Não no sentido de descarregar um monte de conselhos ou de filosofias de vida, mas simplesmente de bater um papo. Ouvir um pouco, falar um pouco, fazer um eventual comentário.

E isso lhe fez bem.

E também ME fez bem.

Mais no sentido de saber que posso ajudar – com um simples papo – do que qualquer outra coisa. Não sou tão velho assim, mas compartilhar as experiências de vida que tenho sempre é um tanto quanto gratificante. Como diria o Dória, um amigo dos círculos genealógicos, “O diabo não é sábio porque é diabo. É sábio porque é velho.”

E isso é uma grande verdade.

E na maior parte das vezes sequer percebemos a experiência que temos! Explico. Eu, que muitas vezes me acho um pai relapso e distante, já ouvi: “Queria ser como você, um paizão.” Eu, que por diversas vezes acho que falto com o devido carinho para com a Dona Patroa, já ouvi: “Queria ter um relacionamento carinhoso como o seu.” Uma boa parte do tempo sou portador de um mau humor cavalar e já ouvi: “Queria ter essa sua disposição, esse seu bom humor.” Sou estressado por natureza e – pasmem – já ouvi: “Queria ser calmo e tranquilo como você.”

Será que sou eu o errado, ou o mundo não me enxerga como sou? Tenho certeza de que sou a mesma pessoa em todas as situações, seja em casa ou no trabalho. Tá bom, tá bom, exceto quando tenho que atender algum cliente que espera ver uma postura de advogado, quando então ostento uma profunda voz cavernosa, com dicção perfeita e postura de lorde inglês, atingindo o ápice de meu um metro e noventa…

Mas não é esse o caso. O caso é que tanto eu quanto os demais estão plenamente certos. Tudo é uma mera questão de ponto de vista. E assim o sendo podemos tranquilamente ter duas ou mais pessoas com exatamente a mesma atitude mas que SE enxergam de maneira diferente. Pontos de vista. E o bate papo, a troca de experiência, nada mais seria que mostrar um ao outro que os pontos de vista podem ser exatamente os mesmos, podem convergir – basta que se decida assim. Uma vez compreendendo pontos de vista distintos, conseguiríamos também trilhar caminhos distintos. E sem mudar em absolutamente nada o nosso jeito de ser.

Sei que parece um tanto quanto confuso, mas basicamente o assunto se resume naquele velho ditado: devemos aprender com os erros dos outros – até porque não teremos tempo de cometê-los todos! As opiniões de outras pessoas devem sempre ser aquilatadas com parcimônia, afinal de contas, oras, eles não viverão nossas próprias vidas!

Acho incrível a capacidade que as pessoas têm de decidir a vida de outrem. “Isso é o melhor para você”, ou “Não faça dessa maneira, senão vai se arrepender”. Oras, às favas com essas opiniões! Como dizia minha bisa, muito ajuda quem não atrapalha.

Heh… Na verdade acho que estou simplesmente assimilando outros pontos de vista também. Eu, que sempre estou na incansável busca de qualidade de vida, procurando ser um sujeito mais centrado, através da opinião de terceiros acabo descobrindo que JÁ sou assim. Pelo menos sob outros pontos de vista. Acho que falta somente convencer a mim mesmo…

Pois é, gente, a vida é dinâmica, não pára nunca, etc, etc, etc, e acho que temos que SEMPRE procurar melhorar. Pessoas vêm e vão, amizades aquecem e esfriam, paixões começam e acabam. Entretanto as decisões que tomamos são só nossas. NÓS MESMOS é que temos que resolver o que queremos para nossas vidas, traçar uma linha reta e seguir em frente, sem dó nem arrependimento. Ficar confabulando sobre passados possíveis só serve para nos levar a um passo mais próximo da loucura. Lembram-se do filme Efeito Borboleta?

Maníaco por gibis como sou, não poderia deixar de dar uma pitada da matéria aqui. Uma das coleções favoritas que tenho é a do Sandman, a qual retrata a existência dos Perpétuos, sete irmãos que não são deuses, nem mortais, mas aos quais todos se curvam. Sonho, Morte, Desejo, Delírio, Desespero, Destruição e Destino (ou, do original, Dream, Death, Desire, Delirium, Despair, Destruction e Destiny). Ainda falarei mais deles por aqui, mas por ora fiquemos com Destino.

É o mais velho dos irmãos, cego e acorrentado ao livro que contém tudo que já aconteceu e que ainda acontecerá. Caminha, até o fim dos tempos, em seus jardins, que são completamente tomados por labirintos.

E, diz a lenda, você pode passar toda uma existência andando pelos jardins de Destino, sempre com bifurcações e múltiplas opções de caminhos. Mas, se parar, e olhar para trás, verá que deixou atrás de si um único caminho trilhado. Assim é o destino. Hoje, quando olho pra trás, vejo que o caminho que trilhei tinha que ser esse mesmo, e sou sinceramente feliz por isso.

O difícil é conseguir atingir plenamente essa consciência…

PS: Talvez seja importante que saibam o final dessa história. Ela acabou por mirar o coração para um lado, disparou, casou e hoje tem uma filhinha claramente linda e tem vivido feliz para sempre desde então…