Volteando

Mundo cheio de voltas. De coisas que vêm e que vão. E que voltam.

Mais de quatro anos já se passaram e ainda hoje continuo tentando aprender parte da lição…

Constatação
segunda-feira, 26 de março de 2007, às 0:01

Tudo que eu sempre quis foi dividir meus sonhos.

Ledo engano.

Sonhos são únicos. Pessoais, indivisíveis e intransferíveis.

São duros de quebrar, mas às vezes se estilhaçam com facilidade.

E, mais às vezes ainda, acabam.

Shooting arrows in the face of the bird

Desde que me conheço por gente sempre gostei de escrever.

Transmitir o que penso, o que sinto, o que anseio – isso sempre foi mais que uma necessidade. Creio que, na prática, uma verdadeira compulsão.

Aliás, sempre quis publicar um livro.

E ainda vou.

Não porque quero o reconhecimento, a fama, o dinheiro, ou seja lá o que quer que muitos autores bem (e mal) sucedidos tenham por intento. Essa minha pretensão diz respeito apenas à vontade de deixar um registro, deixar uma marca, algo para a posteridade. Se algum dia, quer eu esteja ou não ainda neste plano, ao menos uma pessoa vier a ler minhas garatujas e minhas idéias lhe servirem para algo – bem, então já estaria pago todo o esforço!

E então, há pouco mais de dez anos, surgiu na minha vida a Internet.

Que oportunidade única!

Comecei a escrever, me comunicar, participar, interagir. De todos esses anos logado, foi essa a época em que mais pude dar meus palpites e pitacos, direta ou indiretamente, pra muita, muita gente. Desde renomados e famosos personagens e autores aos mais ilustres desconhecidos. Do âmbito local dos BBS, passei aos e-mails, criei e-zines e mergulhei em diversas listas de discussão sobre os mais variados temas. Como sempre costumo pontuar, minhas impressões e meus textos nunca foram para mim, mas sempre para o mundo, como um todo.

Uma época, pra mim, realmente áurea, em que eu perfeitamente tinha pleno domínio do mundo que me cercava.

Evolução natural desse mundo internetístico, não muito tempo depois, surgiram os blogs.

Descobri que, na prática, eu já era um blogueiro desde sempre. Transferi meus arquivos e discussões e rapidamente me adaptei a esse novo formato. Inscrevi-me em ferramentas de localização e de compartilhamento, troquei figurinhas com outros blogueiros, dividi meu espaço e ocupei outros.

Na esteira de toda essa modernidade vieram também as redes sociais, outras mídias, outros formatos. Orkut, Facebook, Twitter, etc. Redes que já nasceram natimortas e, ainda assim, eu estava lá, inscrito, participando ou não. Sem abandonar meus textos. Sem deixar de lado meu blog. Ainda trocando mil idéias em inúmeras listas de discussão. Diversas ferramentas de comunicação on line instaladas e ativas. Conversas em tempo real. Muitas comunidades virtuais, muita virtual vida social.

E, paralelamente, ainda tinha a sempre presente ilusão de que conseguia administrar minha vida pessoal e profissional.

Que incrível, isso!

Mas, como deveria ter sido nitidamente previsível, tudo isso era na verdade uma tragédia anunciada.

Não demorou para que esse meu foco de atuação, de tão amplo, ficasse justamente fora de foco. E o trabalho cobrou seu preço, demandando minha atenção. E o coração – ah, maldito coração! – abandonado que estava, abriu seus olhos e colocou sua preciosa atenção naquele mundo virtual que se lhe descortinava e enxergou tudo aquilo que quis enxergar.

E então, minha tão ordenada (mas bagunçada) vida foi atirada ao mais ferrenho caos.

E, tomando consciência disso, sentindo-me até mesmo acuado, resolvi que já era hora de dar um basta em tudo.

Saí de todas as listas de discussão. Apaguei o Orkut. Encerrei o Facebook. Sumi do Twitter. Simplesmente abandonei todas as outras redes e cadastros dos quais participava. Até mesmo o blog entrou em estado de animação suspensa.

Tudo que eu queria era ter de volta a simplicidade de minha vida de outrora…

E, por um curtíssimo período, até que consegui.

Mas, tal qual viciado que não consegue se afastar do objeto de sua tortura, com a inconsequente necessidade de interagir quase que diuturnamente nesse mundo virtual que nos cerca – e com o coração clamando pelo retorno da atenção que lhe foi dispensada e retirada – eis que, aos poucos, sob a pálida ilusão do controle, fui retomando meu ópio digital.

Primeiramente o resgate do blog.

Depois o Facebook.

Ato contínuo, o Twitter.

Ignorei solenemente outras redes e sequer cogitei em voltar para listas de discussão.

Até mesmo o endereço do blog passou por alteração na busca de uma nova dinâmica…

Achei, sinceramente, que estaria tudo sob controle. Poucas e bem medidas doses diárias de interação virtual, um mergulho no meu inverno pessoal, uma tentativa de desligar as emoções, deixando o baú bem trancado até que tudo estivesse total e completamente administrável.

O plano perfeito.

Perfeito para um idiota.

É óbvio que as coisas saíram – novamente – do controle. O que eu deveria ter percebido é que meu problema não era a quantidade, mas sim a intensidade. E, também óbvio, na tentativa de fazer o que é certo sem sopesar as consequências, os estragos ao redor são tanto inevitáveis quanto consideráveis…

Sinto-me sinceramente velho e cansado demais para tudo isso. Tudo que eu queria era simplesmente um retorno às origens. Sem me importar se sou ou não sou lido. Se tem alguém ou não para me escutar. Deixar meu registro. Deixar minha marca para posteridade. E pronto. Mas, besta que sou, novamente encantei-me por demais com tantos recursos de compartilhamento, de como podia chegar às pessoas através das ferramentas que se me apresentavam, de como a idéia simples e curta era fácil e rapidamente aceitável e digerível nesta nossa sociedade de consumo em massa, que deixei de lado o encanto e o prazer de escrever de mim para mim.

E, como disse, estou (sou?) velho e cansado demais pra isso tudo.

Quero minhas origens de volta.

Quero retornar a ser senhor de minha vida.

Quero que meu coração fique quieto e calado onde deve ficar. Sem ser certo. Sem ser errado. Nem pra mim, nem pra ninguém. Apenas existindo para função que foi criado, enquanto durar.

Quero poder escrever sem saber se e quando vou ser lido. De mim para mim. E deixar lá. Palavras ao vento. Úteis ou não. Não me importa, nem quero me importar mais com o que em qualquer exato momento outrem estiverem fazendo ou pensando. Deixem seus registros e eu, também quando e se quiser, os verei.

Chega de recursos especiais, de atenção imediata, constante, onipresente.

Quero retomar as rédeas de minha existência – sem truques – antes que seja tarde demais…

Simples assim.

E é por isso que, de forma inafastável, inenarrável e irrevoltável tomei uma também simples decisão.

Adeus Face.

Adeus Twitter.

Como epitáfio de um que fique a referência às imagens das rosas e da roseira que tão bem me acalentaram o coração.

Como epitáfio de outro – e até como rumo a seguir – fica minha última mensagem: Chekov: “Course heading, Captain?” Kirk: “Second star to the right, and straight on ‘till morning.”

Ou seja, não me procurem por lá. Estarei por aqui. Caso queiram saber deste que vos tecla, busquem-me cá no blog. De mim para mim e para quem quiser.

Fico e ficarei apenas com este meu humilde espaço.

Com meus quase quatro leitores.

Quer me leiam, quer não.

E, sim, meu joelho dói.

E não, não resisto ao dramático…

Ou não.

Entediado

Sem forças. Chateado. Deprimido. Cansado. Sobretudo, cansado. Triste. Nó na garganta. Puto. Revoltado. Cético. Desgostoso. De saco cheio. Com preguiça. Desanimado. Sem vontade. Vontade de chorar. De gritar. Parar de pensar. Se entregar. Desmoronar. Não se preocupar. Coração apertado. Perdido. Doído. Endoidado. Ansioso. Desnivelado. Desesperado. Em busca de paz. Sem encontrar. Sem acreditar. Sem se esforçar. Sem querer. Sem ter. Descansar. Se largar. Se entregar. Parar. Não mais falar. Nem escrever. Buscar o estado de desligado. Embriagado. Ficar parado. Mas, sobretudo – sobretudo – cansado…

Amar é punk

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Eu já passei da idade de ter um tipo físico de mulher ideal para eu me relacionar. Antes, só se fosse diferente (bem diferente). Tivesse um figurino único. Gostasse de minha companhia mais que tudo. Tivesse no mínimo cabelos longos (e, talvez, uma tatuagem). Soubesse andar de salto alto. Que fosse do tipo rebelde. E, lógico, portadora de um grande coração…

Uma coisa meio Angelina Jolie.

Hoje em dia eu continuo insistindo nos quesitos “gostar de minha companhia mais que tudo” e “portadora de um grande coração”, mas confesso que muita coisa mudou. É, pessoal, não tem jeito. Relacionamento a gente constrói. Dia após dia. Dosando paciência, silêncios e longas conversas. Engraçado que quando a gente pára de procurar o “amor da vida”, um amor pra vida da gente aparece. Sem o glamour da alma gêmea. Sem as promessas de ser pra sempre. Sem borboletas no estômago. Sem noites de insônia. É uma coisa simples do tipo: você conhece a menina. Começa, aos poucos, a admirá-la. A achá-la FODA. E, quando vê, você tá fazendo declarações açucaradas igual um pangaré. (E escrevendo textos no blog – ainda que através de indiretas – para que ela entenda uma coisa: dessa vez, caríssima, é DIFERENTE).

Adeus expectativas irreais, adeus sonhos de adolescente. Ela vai esquecer sempre aquilo que você já leu e comentou com ela, mas vai se lembrar sempre que você gosta do seu pão na chapa com muita manteiga (e aquele pingado com um pouquinho de leite frio). Ela não vai fazer declarações românticas e propor jantares à luz de velas, mas vai saber que você está estressado com o trabalho no primeiro “Oi”, te perdoando docemente de qualquer frase dita com mais rispidez.

Ah, gente, sei lá. Descobri que gosto mesmo é do tal amor. Da paixão, creio que não. Depois de anos escrevendo e insinuando sobre querer alguém que me tire o chão, que me roube o ar, venho humildemente me retificar. Eu quero alguém que divida o chão comigo. Quero alguém que me traga fôlego. Entenderam? Quero dormir abraçado sem susto. Quero acordar e ver que (aconteça o que acontecer), tudo vai estar em seu lugar. Sem ansiedades. Sem montanhas-russas.

Antes eu achava que, se não tivesse paixão, eu iria parar de escrever, minha inspiração iria acabar e me tornaria simplesmente mais um dos inumeráveis companheiros ranzinzas e conformados, prontos para deixar de viver aventuras em prol da estabilidade. Mas, caramba! Descobri que não é nada disso. Não existe nada mais contestador do que amar uma pessoa só. Amar é ser rebelde. É atravessar o escuro. É, talvez, mudar o conceito de tudo o que já pensei que pudesse ser amor. Não, antes era paixão. Antes era imaturidade. Antes era uma procura por mim mesmo que não tinha acontecido.

Sei que já falei muito sobre amor, acho que é o grande tema da vida da gente. Mas amor não é só poesia e refrões. Amor é reconstrução. É ritmo. Pausas. Desafinos. E desafios.

Demorei anos para conhecer direito e até mesmo concordar com o Cazuza: “eu quero um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida”.

Provavelmente antes, se ouvisse essa música, eu pensaria (e não diria): porra, que tédio!

Ah, Cazuza! Parece que ele sempre soube. Paixão é para os fracos. Mas amar – ah, o amor! – Amar é punk.

 

Esse texto foi recortado-e-colado-e-adaptado do originalíssimo da Fernanda Mello, que – na sua “versão feminina” – pode ser encontrado aqui. Mas, ainda assim, as garatujas acima são tão verdadeiras quanto o original…