Torta de Morango… (versão masculina)

Já há alguns finais de semana estou ensaiando para colocar em prática a receita de “Torta de Morango Tão Fácil de Fazer, que eu Tenho Até Vergonha de Dar a Receita” que a Ju (Respira pela Barriga) passou em seu site. Finalmente chegou o momento!

Primeiramente é preciso deixar bem claro que nós, homens, temos uma dificuldade enorme para quantificar e pressupor determinadas coisas. Por exemplo, não adianta dizer que tem que misturar todos os ingredientes e pronto. Cumassim? (Sim, isso é plágio descarado!) Qual ingrediente vai primeiro? Em que quantidade? Vira, amassa, mexe ou aperta? Pode ser que essa deficiência seja só minha, mas como já me deparei com muitos outros seres com o mesmo problema, ouso dizer que é generalizada.

Por isso mesmo, vou tentar descrever a “Operação Torta de Morango” da maneira mais detalhada possível.

Como não passo de um exímio-fritador-eventual-de-ovo-na-manteiga, com algumas recaídas para doces, bolos e afins, já aprendi que a primeira coisa a fazer é separar e deixar a mão os ingredientes que vai usar. Sim, TODOS. Nada pior que, no meio de uma receita, descobrir que acabou alguma coisa…

A Ju passou o rol, mas, devido a circunstâncias específicas, fui obrigado a improvisar um pouco. Leia-se “circunstâncias específicas” o fato de que não tenho nada que se assemelhe remotamente a uma balança em casa. Até mesmo aquela de banheiro foi sumariamente aposentada quando me aproximei perigosamente dos três dígitos (o pior cego é aquele que não quer ver). Ainda que não aparente (tanto) – pois com 1,90m de altura a coisa fica bem distribuída – para resolver o problema de sobrepeso fiz o que qualquer pessoa sensata faria: parei de me pesar.

Mas voltemos à receita.

Num primeiro momento serão necessários:

– 300g de farinha de trigo (que dá um pouco menos que um terço de um pacote de 1kg, OU 3 copos americanos até a boca, OU pouco menos que 3 medidas de xícara (daqueles frascos que já vem com os risquinhos dizendo quanto é o quê);

– 175g de manteiga (que dá um pouco mais que a metade de uma daquelas barrinhas que você compra na padaria quando não teve tempo de ir até o supermercado e ainda levou bronca por causa disso);

– 100g de açúcar (vide logo acima a maneira científica de mensurar isso);

– 1 gema (sim, de ovo);

– 1 pitada de sal (generosa).

Falou-se em multiprocessador na receita original, mas “não trabalhamos com multiprocessadores”. Então, munido de uma tigela ou bacia de médio tamanho (da largura de uma frigideira grande, por exemplo), coloque a farinha, o açúcar e a generosa pitada de sal. Mexa lentamente com uma colher até que fique tudo com uma cor homogênea. Agora vem a luta.

Quebre um ovo, colocando o conteúdo numa xícara, depois, com uma colher, retire a gema e coloque na tigela. Esse é o modo básico. Nós, exímios-fritadores-eventuais-de-ovo-na-manteiga, podemos trabalhar com o modo avançado, mantendo a gema na casca enquanto despejamos a clara na xícara – crianças, não tentem isso sem estar acompanhadas de um adulto!

Você mal vai começar a mexer aquela única e solitária gema no meio daquele mundo farináceo e ela já vai sumir. Não se preocupe. Em tese, é assim mesmo. E quanto à clara? Guarde carinhosamente a xícara com a clara dentro da geladeira – até que venha a ser necessária em alguma outra receita ou então que estrague de vez em decorrência do tempo sem uso. Provavelmente opção “b”, se você for solteiro.

Pegue a manteiga. É LÓGICO que você já a tinha retirado da geladeira ANTES de começar com tudo isso. Se não o fez, dê um tempinho para amolecer. Coloque-a dentro da tigela e, com a colher, corte-a em pedaços misturando-a de leve. Caroços enormes surgirão em sua tigela…

Pois é. Agora não tem jeito. Teremos que – literalmente – botar a mão na massa. Recomendo veementemente, pelo bem dos degustadores, que lave as mãos ANTES de começar. Aliás, mais veementemente ainda, sugiro que, se o caso, tire e guarde a aliança em local seguro. Também ANTES de começar.

Essa parte é mais ou menos como fazer bonequinhos de areia na praia, ou de argila na beira da represa (conforme tenha sido sua infância). Vai apertando, virando, apertando, mexendo, apertando, puxando, apertando, até que aquela massa farinácea comece a ter uma muito sutil consistência. Ou que seus antebraços comecem a ficar dormentes e os dedos formigando, numa nítida sensação de estar sendo afetado por L.E.R. O que vier primeiro.

Particularmente acho que jamais vou conseguir voltar a segurar um copo de cerveja com firmeza novamente…

Depois disso, descanse e deixe a massa descansar por 10 minutos. Como foi dito no original: “Por descansar, entenda: deixe a massa quieta, num canto, em paz.”

Passados os 10 minutos, ligue o forno (para ir aquecendo), e, enquanto isso, coloque toda a massa numa forma com fundo desmontável. É uma espécie de prato com colarinho – um disco de metal cujas laterais podem ser removidas (só vim a descobrir que esse tipo de coisa existia depois de uns trinta anos de vida e dois casamentos). Vá ajeitando a massa na forma com a mão mesmo (droga, esqueci de tirar a aliança!), deixando-a firme, uniformemente distribuída no fundo e com uma ligeira borda subindo pelas extremidades. Para que a massa não estufe, dê asas à criatividade, fazendo furos com um garfo por toda ela. Manda pro forno pelos próximos 15 minutos.

Enquanto isso, pegue os morangos que estavam de molho no hipoclorito (você pôs de molho, não pôs?) e enxague-os abundantemente. Com cabinhos e tudo. Deixe escorrer e secar por um tempinho, e então, munido de uma boa faca corte esses cabinhos (ou cabelinhos, como disseram meus filhos). Após todos ficarem carecas, quer dizer, sem cabinhos, corte os morangos no meio, colocando-os de bruços sobre uma toalha de papel absorvente.

Que cheiro é esse? Putz, a massa!

Tire-a do forno, rápido! Não! Aaaaiiii!!! Pega uma luva, pano de prato, sei lá! Isso. Ufa…

Não sei se era pra esperar esfriar tudo, mas, com medo de queimar, já desmontei a forma desmontável (quente mesmo) e tirei a massa. Ela ficou com uma certa consistência e no formato de uma espécie de prato.

Enquanto a massa esfria e os morangos secam, vamos à geléia. Na receita fala-se de geléia de framboesa, amora, laranja e mesmo morango. Ataquei com o que tinha à mão, ou seja, tuti-frutti… Vale a dica original de, se a geléia for muito encorpada, aquecê-la ligeiramente no fogo, diluindo com pouquíssima água.

Com tudo frio e seco, basta voltar a dar asas à imaginação, distribuindo os morangos sobre a massa e cobrindo tudo com a geléia. Foi aí que descobri que um potinho de geléia não era suficiente – deveriam ser, no mínimo, dois. Paciência. Cobri apenas os vãos. Aliás, para esse tipo de operação, sugiro procurar morangos aproximadamente do mesmo tamanho. Ficaria beeeem mais bonito.

A Ju deu algumas sugestões para complementar essa iguaria, mas acho que já abusei da sorte por demais. Então a torta ficou assim mesmo, na sua versão básica. Como dá pra perceber, pode não ter ficado lá muito bonita, mas que ficou uma alegre delícia – hmmmmmmm – isso eu garanto! Com direito a atestado do Inmetro conferido pela Dona Patroa e mais três experts (adivinhem)…

Torta de Morango Tão Fácil de Fazer, que eu Tenho Até Vergonha de Dar a Receita

Ah! E não adianta querer fugir. Sobrou a louça pra lavar, viu?

Mundo cão



Então você passou por aqui esperando aquela famosa mensagem animadora, pra cima, de bom tom, otimista, toda up, que iria dar um gás no seu dia, certo?

Errado.

Tem um zilhão de blogs e pseudo-blogs diferentes pra isso. Aqui – sinto muito dizer – você estará refém de meu humor. OU falta dele.

Já que continuou a leitura, deixe-me lembrá-lo que se existe uma constante no Universo material que nos cerca, e deixando a metafísica de lado, é a capacidade que a vida tem de nos surpreender. Mesmo quando pensamos que tudo está nos conformes, que todos os problemas existentes NO MUNDO foram superados, e que nada mais resta senão ser feliz – AAA-HÁÁÁÁÁ! Eis que a mesa vira, o jogo muda, e tudo o mais sai fora dos eixos.

Não, não. Estou me lixando se o Brasil ganhou ou perdeu na Copa (se bem que ainda torço por Portugal), sempre fui apático à política e tampouco me importa a situação econômica do país – já que nem a minha própria consigo resolver…

Sei lá. Se alguém quiser arranjar algum motivo, diga que surtei. E pronto.

Pra quem conhece História em Quadrinhos, basta lembrar do ato final de Morpheus na série Sandman, antes de encontrar-se com sua irmã pela última vez. A compreensão de sua motivação torna fácil a compreensão de seus atos…

Volto dentro de alguns dias, quando a pilha de serviço baixar, meu humor melhorar e o sol voltar a brilhar.

Japão 1 x Brasil 4

Samurai vencido

Não. Eu não sou nenhum torcedor fanático. Muito pelo contrário: eu não sou torcedor de espécie nenhuma. Se tem uma coisa pela qua eu jamais consegui desenvolver interesse em minha vida é o futebol. Mesmo nos meus tempos de infância eu só jogava por obrigação – nas famosas aulas de “educação física” – e ainda assim era justamente aquele garoto que ficava por último na hora da divisão dos times.

– Tudo bem. O Adauto é de vocês. Vamos jogar.

– Péraê! O nosso time já tá completo e o seu ainda tá faltando um!

– Não tem problema, a gente vai desfalcado mesmo. Vamos jogar.

– De jeito nenhum! Até porque o professor não vai deixar…

– (Bosta.) Tá, tá, tá. Adautô! Você vai no gol, hein? E vê se não faz bobagem!

E lá ia o garoto de ossos fortes para o gol. Tá bom, tá bom. Gordo, mesmo. E eu era uma assumidade nessa posição: conseguia desviar DE absolutamente todas as bolas!

Enfim, como eu disse, jamais me interessei por futebol. E o Campeonato Brasileiro, então? Eu mal sei o nome de meia dúzia de times – ainda assim por repetição do que ouço no trabalho. Nomes de jogadores? De jeito nenhum! Aliás, segundo a Dona Patroa, essa minha característica foi um dos “pontos positivos” quando começamos a namorar. Até hoje não tive coragem de perguntar quais seriam os negativos…

Essa introdução serve somente para deixar bem claro que não sou uma pessoa lá muito qualificada para falar de futebol. Mesmo assim, vamos lá!

Bem, época de Copa é época de Copa. E… Putz, pelo menos eu consigo assistir um jogo até o fim. Acho que a última Copa que assisti e realmente gostei foi a de oitenta e dois. E pronto. Dali em diante achei tudo muita papagaiada. “Mas e o Tetra? E o Penta?” Grande coisa. Entendo que não necessariamente o nosso time foi o melhor, mas o menos pior.

Mas, particularmente, gostei do jogo entre Brasil e Japão – e já aviso aqueles que me conhecem que não foi pelo fato de que minha esposa é sansei (segunda geração de uma família japonesa fora do Japão). Mas o time brasileiro parece que despertou. Conhecem aquele boneco chamado João-Bobo? A visão que eu tinha nos jogos anteriores era a de que haviam onze no campo. Mas nesse jogo eles desceram da plataforma e despertaram para a vida.

Lamento sinceramente que o Japão tenha perdido com uma diferença tão grande. Não, não queria que ganhassem – afinal ainda sou brasileiro – mas que ficassem com um placar mais equilibrado. Ao menos eles tiveram o gostinho de abrir o placar do jogo contra uma seleção que não tinha levado nenhum gol até agora. E mais: abriram o placar contra o BRASIL! Vocês não têm noção da idolatria que existe naquele país com relação ao nosso futebol…

Bem, perder já era esperado; tanto é, que o Zico se preocupou somente com o ataque – a defesa que se lasque! Certo ele. Tudo bem que já bombardeamos os croatas e fizemos churrasquinho de canguru. Mas sinto sinceramente pela batalha com o samurai.

E, por final, ainda continuo achando intragável essa rasgação de seda em cima do “Ronaldo – o Felômeno”. Tá, ele marcou dois gols, quebrou o paradigma, agora vai, etc, etc, etc. Mesmo assim ainda acho que tem gente muito melhor que o gordo para se colocar em campo. Mas, fazer o quê? Acho que o contrato dele deve determinar a presença do bicho por lá.

Pra mim continua a campanha do meu amigo Paulo (devidamente plagiada pelo Macaco Simão): “Tira o redondo do quadrado!”

Gripe – III

Gripe!Ainda que sob o sério risco de ser linchado em praça pública pelos meus pares, antes de mais nada tenho que admitir: os homens são todos iguais; só mudam de endereço.

No último final de semana estava eu em casa e meio que gripado. Bom, pra falar a verdade eu estava MUITO gripado! Vi toda a minha vida passar, como num filme. Não tinha mais forças para nada; a cada uma das tossidas (cada vez mais profundas) doíam minhas têmporas e passei a ter vertigens, com pequenos pontos prateados bruxuleando pela minha vista…

Na certeza de que não veria outro dia pela minha frente, passei a mentalizar como seria dividida minha parca herança cultural pelos meus três filhos, em que situação ficariam os bens que não tenho, e ainda fiquei matutando se existiria algum tipo de “disk-extrema-unção” para atendimento domiciliar…

Ainda bem que a Dona Patroa, do alto de sua sapiência (e paciência) oriental, não deu muita trela para o dantes moribundo que agora vos escreve. Além de me ENTUPIR com um coquetel de anti-gripais, expectorantes e descongestionantes, ela ainda fez aflorar seu lado Morgana, e como verdadeira Hecatae, cuidou de mim assumindo concomitantemente as personalidades da donzela, da mãe e da velha, o que resultou numa “poção” (também conhecida como chá) que levava desde alecrim, passando por tanchagem, até gengibre (argh!).

Bão, enfim, sobrevivi…

Já no decorrer da semana, conversando com minhas amigas e colegas de trabalho, numa vã tentativa de arrebatar um mísero olhar de compreensão, fui rechaçado com a indelével constatação delas: “realmente, vocês homens são todos iguais; basta pegar um resfriadinho à toa que já ficam manhoooooosos…”

Que putz. O pior é que elas têm razão…

Débi & Loid

Eu tenho um bom e velho Marajó, ano 1982. Um daqueles automóveis mais antigos, da época em que carros com injeção eletrônica eram vistos com solenidade e reverência. Na realidade ele não é o único veículo que temos em casa, pois a Dona Patroa tem um carro “de verdade”. O Marajó (carinhosamente chamado de Rabecão, e com a figura dos Caça-Fantasmas colada atrás) é o que eu chamo de “mobília”.

É uma espécie de síndrome de advogado, pois prefiro manter um carrinho velho, mas em bom estado, quitado e sem dívidas, que sirva para nos levar pra cima e pra baixo em qualquer situação; e também um carro melhor, que pode ser convertido em dinheiro numa eventual época de vacas magras. Desse modo a família nunca ficaria a pé.

Tudo bem, sei que a verdadeira síndrome de advogado é justamente o contrário: é o caboclo que quer aparentar ser o que não é, para mostrar para quem ele não gosta uma situação que ele não tem. Conheço muitos “doutores” que fazem questão de usar terno italiano, mas não pagam condomínio há anos…

Fazer o quê? Seu Bento, vulgo meu pai, do alto de sua sapiência sul-mineira me ensinou que a gente tem que dar o passo de acordo com o tamanho da perna, mas sempre guardando um queijinho na despensa. Tá certo que levei anos pra aprender a lição, mas aprendi. Eu acho.

Mas voltemos ao Marajó.

Tem duas coisas nas quais sou mestre. Uma é não ter a mínima idéia do consumo de um veículo, e outra é deixar acabar a gasolina do tanque… Acho que simplesmente TODOS os carros e motos que tive até hoje, novos ou velhos, passaram pela desventura de parar na estrada por falta de gasolina.

E nos dias de hoje isso ainda tá pior, pois não adianta andar com um vasilhame qualquer no carro, pois os postos simplesmente não estão vendendo combustível avulso – receio de que vá se fazer algum Coquetel Molotov…

Mesmo assim consegui encher uma garrafa de Coca-Cola e deixei-a no carro para fins experimentais. Que fins? Bem, coloquei cinquenta litros no Rabecão (que estava com o tanque total e completamente vazio) e comecei a marcar a quilometragem para ver quanto ele fazia. Meu companheiro nessa desventura – um amigo que trabalha comigo na “repartição” e que tem pego carona nesses dias frios – passou por maus bocados. Até porque ele, no princípio, não sabia que eu estava com a gasolina reserva. Bastava o carro dar uma engasgada que ele já ficava branco, nas subidas íngremes ele suava frio (pois o tanque ficava desalinhado e o combustível não ia para o motor), enfim, encrenca na certa.

Só que, depois que o filho duma égua descobriu que eu estava com combustível de reserva, o bicho ficou valente! “Não, agora vamos até o fim. Enquanto não acabar a gente não reabastece.” E a besta aqui achando graça…

A expectativa era de que acabasse a gasolina no PIOR lugar possível. Provavelmente no meio do trânsito, sobre uma ponte, numa subida, sei lá. E tudo isso só pra ter a certeza absoluta de quantos quilômetros o carro efetivamente faria por litro. Sei que existiriam meios empíricos mais adequados pra se medir isso, mas não seriam tão divertidos!

No final das contas, ontem acabou a gasolina. De vez. Onde? Numa reta, bem no acostamento, DE FRENTE PARA UM POSTO DE GASOLINA!

Segundo meu amigo, “pobre, até quando tem sorte, tem azar – a gasolina só acabou em frente a um posto justamente porque não precisava”.

Tudo bem. Pelo menos foi divertido.

Ah! O resultado disso tudo? 7,5km/litro… :’-(