Tédio, tédio, tédio…

“Tédio…”

“Sabe esses dias em que horas dizem nada
E você nem troca o pijama, preferia estar na cama
Um dia a monotonia tomou conta de mim
É o tédio, cortando os meus programas, esperando o meu fim
Sentado no meu quarto
O tempo voa
Lá fora a vida passa
E eu aqui a toa
Eu já tentei de tudo
Mas não tenho remédio
Pra livrar-me deste tédio
Vejo um programa que não me satisfaz
Leio o jornal que é de ontem, pois pra mim, tanto faz
Já tive esse problema, sei que o tédio é sempre assim
Se tudo piorar, não sei do que sou capaz
(…)
Tédio, não tenho um programa
Tédio, esse é o meu drama
O que corrói é o tédio
Um dia, eu fico sério
Me atiro deste prédio.”

Tirinha do dia:
Desventuras de Hugo...

Gravidices

Antes que eu me esqueça, faltou comunicar à população em geral que o André da Diretoria de Suprimentos – e que vai ser papai – já tem informações fidedignas sobre o sexo da criança.

MENINA!

Em função disso ele comunicou que agora já sabe como vai votar no referendo do dia 23… Tenho insistentemente tentado convencê-lo acerca da pertinência e vantagens de desde já deixar tudo acertado no tocante a compromissos futuros de nossos filhos, mas ele tem se mostrado muito reticente nesse sentido. Recalcitrante, até, eu diria. Tenho culpa se agora ele passou a fazer parte do time de fornecedores? De minha parte tenho três bons partidos em casa, um com seis, outro com três e o caçulinha com um ano e meio, que no momento certo, bem, vocês sabem…

No Japão tem uma palavra pra isso: “MIAI”.

Brincadeiras à parte, meus sinceros parabéns, André e Lizandra. Tenho certeza que vocês vão amar essa nova aventura da paternidade e da maternidade, audaciosamente indo onde ninguém em plena sanidade jamais foi. Posso falar de cátedra…

Mais considerações

“LIVRE ARBÍTRIO” = “ETERNAS DÚVIDAS”

“Só tô tentando ser feliz. Só tentando te fazer feliz.” Era mais ou menos esse o refrão da música que ouvi ontem à noite, enquanto bebericava uma cerveja antes de ir pra casa. Nostalgia pura. Não sei, pode até ser dela, mas estava MUITO parecido com as musiquetas da Paula Toller do início da década de 80. Sim, sim, sou um fóssil ambulante…

Naquela época, aproximadamente em 85, as músicas eram mais simples e ingênuas. Mas tudo bem, nós também éramos. Pelo menos é o que pensávamos.

Quando eu era garoto, fui um dos mais comportados da classe, com as melhores notas, do tipo que as próprias professoras vinham agradar e elogiar. E isso é verdade.

Quando eu era garoto, nossa turma tinha uma cinquentinha de tanque azul, que rodava de mão em mão, a qual esmerilhávamos no asfalto do bairro, sem equipamentos, capacete ou sequer documentos, sendo que vivíamos fugindo da baratinha da polícia (um fusquinha preto e branco). E isso é verdade.

Quando eu era garoto, era tímido e retraído, sem conseguir sequer me declarar para as garotas que eu estava a fim. E isso é verdade.

Quando eu era garoto, fui tão salafrário que uma amiga de minha ex a aconselhou a não ter nada comigo, pois eu era mulherengo demais. E isso é verdade.

Quando eu era garoto, era extremamente religioso, enfiado dentro da Igreja, participava de grupo de jovens, ajudava nas missas e comungava toda semana. E isso é verdade.

Quando eu era garoto, já tinha tatuagem, orelha furada e cabelo comprido, curtia rock pesado, fumava e bebia todas, sequer me preocupando com questões d’alma ou o dia de amanhã. E isso também é verdade.

Heh… Como diria o Coringa, já que eu tenho que ter um passado, ao menos que seja de múltipla escolha!…

Tudo que acabei de dizer realmente é verdade, mas depende do ponto de vista sob o qual analisamos essas informações. É certo que houve um pequeno lapso de tempo entre um e outro evento, porém isso varia de acordo com o observador. Apesar da decepção à época, já me referi a alguma parte do que está aqui em janeiro deste ano, mas sempre tem algo que fica pra trás. Que é novidade. Que é surpresa.

O ponto é que pessoas que me conheceram naquela época, até mesmo vivendo num mesmo grupo, podem me pintar como um anjo ou como a cria do demônio encarnada na terra. Tudo depende do ponto de vista, do aspecto sob o qual me conheceram.

O que nos leva às minhas considerações. Quão verdadeiramente conhecemos um ao outro? Quem nos garante que sabemos do brilho escondido no coração das pessoas, ou então da negritude que lhes macula a alma? Não, não pensem que sofri alguma desilusão ou que estou chateado – são apenas meras divagações de um bebedor solitário.

Por mais intimamente que conheçamos uma pessoa, NUNCA será o suficiente. Sempre existirão segredos. A eterna dúvida se o lado negro da força ainda vai se manifestar. Ou se existe um lado bom dentro daquele vilão. Creio que já comentei isso por aqui uma vez, mas num livro de Jack Kerouac – “On the road” – que tratava da geração beatnik, tinha uma passagem onde dois caras estavam tentando ser ABSOLUTAMENTE SINCEROS um com o outro. É uma coisa de louco. E veja que não falo de sinceridade no sentido contrário de falsidade, mas simplesmente no sentido de franqueza. Dá pra se ter uma noção da nóia permanente que nós vivemos com nossos pequeninos (ou não) segredos do dia a dia. Alguns tão superficiais que serão esquecidos antes do final do dia; outros tão profundos como se tivessem sido marcados com ferro em brasa na própria alma. E volta e meia a cicatriz coça.

De minha parte sou um livro aberto, tento sempre deixar bem claro a transparência de meus atos e de minhas palavras, porém existem algumas páginas coladas nesse livro, e creio que jamais consegui ser total e completamente franco com quem quer que seja. Sempre existiram segredos, meias palavras ou palavras nunca ditas que ajudam a manter a barreira da sanidade entre mim e outras pessoas. De igual maneira, tenho certeza que jamais conheci ninguém que fosse total e absolutamente sincero comigo.

Mas isso não é novidade. É da natureza humana. Psicólogos que estudaram a vida inteira levam anos para conseguir dar uma raspadinha superficial nesse casco sentimentalóide que usamos pra nos proteger. Na prática acho que não existe na face da Terra quem consiga o prodígio de ser absolutamente franco um com o outro. Exceto os personagens do livro que citei. E olha o que aconteceu: praticamente enlouqueceram…

Tirinnha do dia:
Desventuras de Hugo...

Serra do Luar

Sono, soninho, eu…

“Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.”

É uma parte da música Serra do Luar, totalmente apaixonante na voz de Leila Pinheiro. Bem, isso é quase uma filosofia de vida. Tudo bem que é BEEEM difícil (ainda mais pra mim) manter a mente quieta. E a espinha ereta, então? Mas o coração… é, acho que essa seria a parte mais fácil.

Depois de uma noite insone debruçado sobre o trabalho no computador em casa, o dia começa com aquela falsa sensação de ânimo, de lucidez. Porém, pouco a pouco o cansaço vai batendo, o corpo vai pedindo arrego, os músculos vão relaxando, os olhos vão se enchendo de areia…

Zzzzzzzzzzzz…

Tirinha do dia:
Desventuras de Hugo...

O que é um calafrio?

Família:5 x Virose:3

Calafrio. Alguém tem a mais vaga noção do que REALMENTE é um calafrio?

Segundo nosso amigo Aurélio, seria: “S.m. 1. Med. Contração involuntária dos músculos voluntários, acompanhada de palidez cutânea e sensação de frio. [Sin., pop.: arrepio.] 2.Tremor e bater de dentes, com frio, antes de um acesso febril.” Tem, ainda, uma descrição das raízes da palavra que é bem interessante: “[Var., por assimilação, da f. ant. e pop. calefrio, composta de dois elementos de sentidos opostos (à maneira de vaivém), o primeiro proveniente da raiz do lat. calere, ‘esquentar’, e o segundo do lat. frigidu, ‘frio’; ou seja, quente e frio.]”

O que acontece é que a “criançada” de casa tá atacada. Primeiro o Erik pegou uma virose e se desidratou. Depois foi a vez do Jean, que só não desidratou porque já corremos com ele pra medicar. Agora foi a criança grande aqui. Foi uma linda noite, treze horas de cama e colocando os bofes pra fora. Pra quem me conhece e sabe que eu durmo só umas poucas horas por noite sabe que estou me sentindo como se um rolo compressor tivesse passado por cima de mim. E dado ré. Duas vezes.

Mas o pior foram os calafrios. Não tem como descrever, pois é uma sensação pra lá de horrível. A gente tem a impressão de que nunca mais vai conseguir sentir calor de novo. Qualquer semelhança com os dementadores de Harry Potter NÃO é mera coincidência.

Agora estamos aqui, de volta ao trabalho, pois ficar em casa seria pior. Basta que eu mantenha o estômago vazio e tudo vai ficar bem. Espero.

Tirinha do dia:
Desventuras de Hugo...

Aconselhamentos

(Suspiro…)

Não. Nada de tiras hoje. Não que o assunto seja tão sério assim que não permita uma pitada de humor. Somente acho que a abertura já com uma anedota não iria condizer com a matéria a ser abordada. Amanhã ou depois voltaremos com nossa programação normal…

É curioso como as coisas são cíclicas e o ser humano, cedo ou tarde, se vê participando de situações que lhe são familiares. E às vezes sequer concorremos para desencadear tais eventos!

Tem uma pessoa – que lentamente estou descobrindo ser uma amiga – que está passando por uma situação um tanto quanto difícil. Não, não vou dar detalhes do ocorrido, mas digamos apenas que tratam-se de problemas com o “coraçãozinho véio sem portêra”… E tive um longo papo com ela, de um modo que, creio eu, pude ajudar em algo. Não no sentido de descarregar um monte de conselhos ou de filosofias de vida, mas simplesmente de bater um papo. Ouvir um pouco, falar um pouco, fazer um eventual comentário.

E isso lhe fez bem.

E também ME fez bem.

Mais no sentido de saber que posso ajudar – com um simples papo – do que qualquer outra coisa. Não sou tão velho assim, mas compartilhar as experiências de vida que tenho sempre é um tanto quanto gratificante. Como diria o Dória, um amigo dos círculos genealógicos, “O diabo não é sábio porque é diabo. É sábio porque é velho.”

E isso é uma grande verdade.

E na maior parte das vezes sequer percebemos a experiência que temos! Explico. Eu, que muitas vezes me acho um pai relapso e distante, já ouvi: “Queria ser como você, um paizão.” Eu, que por diversas vezes acho que falto com o devido carinho para com a Dona Patroa, já ouvi: “Queria ter um relacionamento carinhoso como o seu.” Uma boa parte do tempo sou portador de um mau humor cavalar e já ouvi: “Queria ter essa sua disposição, esse seu bom humor.” Sou estressado por natureza e – pasmem – já ouvi: “Queria ser calmo e tranquilo como você.”

Será que sou eu o errado, ou o mundo não me enxerga como sou? Tenho certeza de que sou a mesma pessoa em todas as situações, seja em casa ou no trabalho. Tá bom, tá bom, exceto quando tenho que atender algum cliente que espera ver uma postura de advogado, quando então ostento uma profunda voz cavernosa, com dicção perfeita e porte de lorde inglês, atingindo o ápice de meu metro e noventa…

Mas não é esse o caso. O caso é que tanto eu quanto os demais estão plenamente certos. Tudo é uma mera questão de ponto de vista. E assim o sendo podemos tranquilamente ter duas ou mais pessoas com exatamente a mesma atitude mas que SE enxergam de maneira diferente. Pontos de vista. E o bate papo, a troca de experiências, nada mais seria que mostrar um ao outro que os pontos de vista podem ser exatamente os mesmos, podem convergir – basta que se decida assim. Uma vez compreendendo pontos de vista distintos, conseguiríamos também trilhar caminhos distintos. E sem mudar em absolutamente nada o nosso jeito de ser.

Sei que parece um tanto quanto confuso, mas basicamente o assunto se resume naquele velho ditado: devemos aprender com os erros dos outros – até porque não teremos tempo de cometê-los todos! As opiniões de outras pessoas devem sempre ser aquilatadas com parcimônia, afinal de contas, oras, eles não viverão nossas próprias vidas!

Acho incrível a capacidade que as pessoas têm de decidir a vida de outrem. “Isso é o melhor para você”, ou “Não faça dessa maneira, senão vai se arrepender”. Oras, às favas com essas opiniões! Como dizia minha bisa, muito ajuda quem não atrapalha.

Heh… Na verdade acho que estou simplesmente assimilando outros pontos de vista também. Eu, que sempre estou na incansável busca de qualidade de vida, procurando ser um sujeito mais centrado, através da opinião de terceiros acabo descobrindo que JÁ sou assim. Pelo menos sob outros pontos de vista. Acho que falta somente convencer a mim mesmo…

Pois é, gente, a vida é dinâmica, não pára nunca, etc, etc, etc, e acho que temos que SEMPRE procurar melhorar. Pessoas vêm e vão, amizades aquecem e esfriam, paixões começam e acabam. Entretanto as decisões que tomamos são só nossas. NÓS MESMOS é que temos que resolver o que queremos para nossas vidas, traçar uma linha reta e seguir em frente, sem dó nem arrependimento. Ficar confabulando sobre passados possíveis só serve para nos levar a um passo mais próximo da loucura. Lembram-se do filme Efeito Borboleta?

Maníaco por gibis como sou, não poderia deixar de dar uma pitada da matéria aqui. Uma das coleções favoritas que tenho é a do Sandman, a qual retrata a existência dos Perpétuos, sete irmãos que não são deuses, nem mortais, mas aos quais todos se curvam. Sonho, Morte, Desejo, Delírio, Desespero, Destruição e Destino (ou, do original, Dream, Death, Desire, Delirium, Despair, Destruction e Destiny). Ainda falarei mais deles por aqui, mas por ora fiquemos com Destino.

É o mais velho dos irmãos, cego e acorrentado ao livro que contém tudo que já aconteceu e que ainda acontecerá. Caminha, até o fim dos tempos, em seus jardins, que são completamente tomados por labirintos.

E, diz a lenda, você pode passar toda uma existência andando pelos jardins de Destino, sempre com bifurcações e múltiplas opções de caminhos. Mas, se parar, e olhar para trás, verá que deixou atrás de si um único caminho trilhado. Assim é o destino. Hoje, quando olho pra trás, vejo que o caminho que trilhei tinha que ser esse mesmo, e sou sinceramente feliz por isso.

O difícil é conseguir atingir plenamente essa consciência…