Suicídio midiático?

Interessante (e, talvez, óbvia) constatação que figurou na Carta Capital desta semana e que trouxe reportagem sobre a alegação de Lula que “A imprensa brasileira deveria assumir categoricamente que tem um candidato e um partido. O que não dá é para ficarem vendendo uma neutralidade disfarçada.” Segue o trecho que me chamou a atenção – na página 41, pra ser mais exato:

Três semanas seguidas de denúncias unicamente contra Dilma Roussef tampouco passaram despercebidas para o comunicólogo Afonso de Albuqerque, do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense. “Os modos de ver da impresna no Brasil me parecem, sim, muito partidários. E isso terá um custo político pós-eleitoral alto, para o PSDB e para a imprensa. São dois suicídios que me chocam, porque os jornais não avaliam o quanto estão perdendo em credibilidade”, diz.

Diálogo entre Serra e seu marqueteiro

Direto lá do Blog do Rovai:

Este blogue acaba de receber uma transcrição do diálogo entre o ex-candidato à presidência José Serra (que agora ataca blogues porque decidiu abrir o seu – leia mais abaixo) e o seu marqueteiro.

O informante deste blogueiro disse que a conversa aconteceu na ante-sala do debate de ontem à noite, por isso o ex-candidato estava tão transtornado.

Leia com atenção:

Serra: – Você espalhou que a Dona Marisa não fala e não faz nada?
Marqueteiro: – Sim governador, mas o povo já percebeu que a Dona Mônica também não fala e não faz nada também.

Serra: – Então temos que levá-la ao palanque para ela se mostrar…
Marqueteiro: – Já fizemos isso, mas ela meteu a boca no Bolsa-Família, disse que o povo não quer mais trabalhar por causa disso.

Serra: – Mas eu estou dizendo nos meus programas que vou dobrar o valor do Bolsa-Família!
Marqueteiro: – Não se preocupe, já tiramos ela do esquema. Só vamos mostrar a foto dela.

Serra: – Espalhem também que o Lula só vivia do sindicato e não trabalhava.
Marqueteiro: – Fizemos isso, mas notaram que o senhor também nunca trabalhou, e que acorda sempre tarde.

Serra: – Diga que ele é analfabeto, porra!
Marqueteiro: – Mas é preciso ter cuidado com isso, porque o seu curso de economia no Chile tá meio estranho. Muitos blogs estão pesquisando o caso.

Serra: – O pior é que já sabem que eu não sou engenheiro, como andei dizendo por aí.
Marqueteiro: – Ah… mas isso o povo esquece.

Serra: – Já falou que eu é que criei o seguro desemprego para os trabalhadores?
Marqueteiro: – Mas isso não é verdade, governador. Como o senhor vive meio desligado, não notou que já havia sido aprovado pela câmara, sancionado pelo então presidente Sarney.

Serra: – Não importa, manda bala assim mesmo. As pessoas vão acreditar em mim. E insista nos genéricos, no Plano Real…
Marqueteiro: – Excelência! Os genéricos foram idéia do Adib Jatene, o Real foi da equipe do Itamar, lembra que o FHC era o ministro?

Serra: – Não fale nesse cara de jeito nenhum. Ele espanta votos. Chamou os brasileiros de vagabundos, neo-bobos e caipiras.
Marqueteiro: – Essa do FHC foi terrível, me deixa fora dessa!

Serra: – Faz o seguinte, fale de minha larga experiência.
Marqueteiro: – Se eu for falar nisso, vão lembrar que o senhor nunca completou qualquer mandato para os quais foi eleito.

Serra: – Como assim?
Marqueteiro: – O de deputado constituinte o senhor largou no final. Como senador, com mandato de oito anos, O SENHOR FICOU SÓ SEIS MESES. Como prefeito e governador só cumpriu a metade…

Serra: – E sobre as estradas?
Marqueteiro: – F I C O U    L O U C O???!!!

Serra: – Pô… tá difícil, se eu falar das estradas vão pensar nos PEDÁGIOS, do metrô vão saber que só fizemos 4Km e tem aquele francês da Alstom que soltou propina pra meio mundo em SP… e nós só fizemos 1/3 (um terço) do rodoanel… em 16 anos…
Marqueteiro: – Vamos combinar o seguinte, VAMOS FALAR SÓ DA TERRORISTA, DO MEDO DE COMUNISTA E MOSTRAR VOCÊ SEMPRE SORRINDO. Falado?

Serra: – … E do papai que era um humilde comerciante da Mooca. Mas não vá dizer que ele tinha banca no Mercadão, tá?…

Em tempo: espero que não tenham esquecido de ativar a tag “humor” antes de ler este texto, hein?

Educação e Tecnologia

Interessante trecho recortado-e-colado direto lá do Boteco Escola, recanto do copoanheiro virtual Jarbas, que estava rememorando uma palestra do Mário Sérgio Cortella lá dos idos de 92 – provavelmente baseada na obra “Mudança Tecnológica e Trabalho: Uma Questão Educacional?”, do próprio Cortella.

Os grifos são meus.

Vou começar relatando uma história contada por um professor há alguns anos atrás no Rio Grande do Sul sobre o tema.

Imaginem que um monge medieval, da França do século XIII, tenha tropeçado, ao descer para a adega do convento. Como era um lugar frio, ele entrou em estado de morte aparente, de catalepsia. Dado como morto, foi então guardado no esquife e, em função do clima, passou séculos intacto, dentro do caixão. No século XX, abriram o caixão e, ao perceberem que o corpo estava intacto, levaram-no a vários conventos que a ordem mantinha mundo afora.

Foi trazido também para São Paulo e ficou exposto à visitação dos monges num convento do centro da cidade.

Certo dia, num sábado, saiu do esquife, deu dois passos e saiu no Largo São Bento. Entrou em desepero porque tudo lhe era absolutamente estranho: casas imensas, um barulho insuportável, máquinas de metal que passavam com seres humanos aprisionados dentro, muita fumaça e uma multidão que andava de lá para cá. Num dado momento, entrou por uma porta e foi para uma sala em que, finalmente, se sentiu bem. Tratava-se de uma sala de aula, lugar absolutamente idêntico ao que ele conhecera no século XIII.

No fim do século XX continuamos sentados em bancos de madeira, escrevendo numa pedra com outra pedra, do mesmo jeito que eles nos anos de 1200.

(…) Por isto, a escola básica tem de preparar para a mudança: afinal de contas a existência humana, a vida humana, é uma mudança. A tarefa fundamental da escolarização, além do seu papel chave na formação para a cidadania e de atender um direito social, é formar as pessoas para existirem de modo mais crítico, mais criativo, mais solidário. Isso exige não só, mas também, conhecimento científico …

(…) O que a escola precisa é ter clareza em relação à sua tarefa, ao seu papel, e saber mesclar duas coisas básicas: educação e formação para o mundo do trabalho. No nosso país, quando se fala em tecnologia, fala-se muito em know-how e muito pouco em savoire faire, seu correspondente francês, que tem um molho mais saboroso. Know-how é um pouco mais técnico e savoire faire dá mais idéia de criatividade. E é disso que precisamos, pois somos vítimas da “síndrome do besouro”. Do ponto de vista da física, principalmente da aerodinâmica, o besouro é um animal que, por incrível que pareça, não poderia voar. Mas ele voa.Provavelmente porque ele não sabe (não estudou) que não tem condições para voar. Temos a síndrome do besouro, principalmente no interior do espaço escolar e de formação, onde as pessoas são impedidas de desenvolver sua criatividade.

A professora ou professor convidam: “vamos criar, vocês podem pintar o que quiserem!” Mas entregam um desenho acabado, que muitas vezes já vem impresso, pronto para ser pintado.

Criam desde a infância modelos de comportamento que são fatais para a educação e para a vida social. Servirão muito para a fábrica, para a organização de filas… Meninos e meninas, desde os quatro anos já fazem fila para entrarem na sala de aula. Ora, a função de uma fila é ordenar. (…) A escola não é criativa, não aumenta a produtividade do mundo do trabalho; o que ela faz é aumentar a lucratividade do capital na medida em que molda seres humanos acríticos.

(…) Para concluir. O papel da escola não pode deixar nós educadores à margem da questão tecnológica. Muitas vezes argumenta-se que não dá para entrar na área da tecnologia porque a escola ainda é pobre, porque ainda falta livro, falta caderno etc. Mas, isso é um mito. O nosso trabalho, a nossa atividade de educadores é atuar na formação da população na maior escala possível.

Ao invés de um Piaget, de uma Emília Ferrrero, de um Paulo Freire, de um Darcy Ribeiro, escolhemos como patrono da educação Cristóvão Colombo, que representa a questão tecnológica para nós, pois quando saiu não sabia onde iria chegar, e quando chegou não sabia onde estava …

E aí, aspirantes ao Governo do Estado de São Paulo?

Lembram do ensino público?

Aquele que já foi muito bom?

Eu lembro.

Inclusive, recentemente, falei um pouco sobre isso. Tá aqui.

Enfim, ficar do jeito que está é, na minha opinião, inconcebível.

Só quero ver o que nos aguarda…

#DilmaFactsByFolha

O que aconteceu: a Folha de São Paulo deu a fantasiosa manchete “Consumidor de luz pagou R$ 1 bi por falha de Dilma”. Resumo da ópera: FHC, no apagar da luzes de seu governo, criou uma lei – a de nº 10.438/02 – para seu sucessor cumprir (quem seria? quem seria?) visando a isenção para consumidores de energia elétrica cujo consumo estivesse até 80 quilowatt-hora/mês (kWh). Fácil. Somente dependeria de um cadastro a ser aberto em TODAS as prefeituras municipais do país, de regulamentação pela ANEEL, acerto entre todas as concessionárias de energia, bem como estudo para implementação das diretrizes pelo Ministério das Minas e Energia conjuntamente com o Ministério do Desenvolvimento Social. Tudo isso em nível nacional. Simples assim.

Não precisa ser nenhum gênio para entender que não tinha como esse negócio ir pra frente.

Muitas variáveis.

Muitos personagens.

Praticamente nenhum enredo.

E onde estaria a falha de Dilma?

No fato de que era ela quem estava à frente do Ministério das Minas e Energia durante parte desse perrengue.

Ora, façam-me o favor!

Isso, pra mim, se compara àquele velho jargão das empresas de software: “a pirataria nos trouxe prejuízo de X milhões”. Na prática não tiveram prejuízo de nenhum centavo – apenas deixaram de vender. De igual maneira, ninguém pagou nada por falha de ninguém – deixaram de ser isentos. Do que estamos falando? A regra mais simples do mundo para consumidores (percebam a própria etimologia da palavra em si): se consumiu, pagou. Nem mais nem menos.

De minha parte descontem da época em que o FHC instituiu o “apagão” (será que ninguém mais lembra disso?) – meu filhote mais velho era bebê e sequer podíamos usar nossos próprios recursos elétricos do lar para que o vigilantismo das concessionárias de energia não nos multassem.

Enfim, se essa “notícia” sobre a Dilma não puder ser classificada como uma matéria tendenciosa, fabricada e eleitoreira (diria até “desesperada”), bem meus amigos, então nada mais poderá sê-lo…

Aliás, enfim do enfim, deixem que eu lhes explique o porquê de contar aqui essa estória (ainda não consegui me acertar com o acordo ortográfico)…

Pouquíssimo tempo depois dessa “bombástica notícia”, começou um dos mais legítimos movimentos internetísticos que há muito eu não via. Partindo do pressuposto de que a Folha de São Paulo teve a “capacidade” de veicular uma manchete desse naipe, no Twitter foi lançado o #DilmaFactsByFolha, ou seja, já que tudo NO MUNDO foi culpa dela, quais outras manchetes poderiam ter sido capa do jornal.

Da seriedade crítica ao extremo do absurdo bem-humorado, rolou praticamente de tudo. Ou seja, o tiro da Folha não só saiu pela culatra como talvez ainda tenha ricocheteado de volta às próprias costas (hein?). O que era para ter sido um ataque pelo jornal acabou se tornando uma ridicularização dele próprio levado ao extremo pelos internautas – e que só teve o condão de fortalecer/blindar ainda mais a campanha da Dilma.

Aliás, os marqueteiros do PT devem estar rindo à toa até agora…

Isso porque, da forma mais anárquica impossível sequer de se imaginar, as novas possíveis manchetes foram surgindo do nada, numa contribuição espontânea de quem quer que estivesse conectado à rede. Os contadores tuitescos foram levados aos píncaros, chamando a atenção até mesmo da imprensa internacional!

Bem, e daí?

Quais seriam as possíveis “fantasiosas manchetes” da Folha veiculadas pelo #DilmaFactsByFolha?

Segue abaixo, sendo que a maior parte, ressalvado o que não tirei da minha cabeça (e da do Copoanheiro), veio lá do Idelber.

(Aliás, antes disso, uma pequena explicação do próprio Idelber sobre essa febre que varreu a Internet: “Para quem não conhece o Twitter: o caractere #, quando anteposto a qualquer palavra, a transforma numa “hashtag”, ou seja, num link que te permite encontrar todas as outras mensagens com o mesmo assunto, desde que o internauta se lembre de incluir o # colado à palavra.”).

– Dilma serviu o café de Ronaldo no dia da final da Copa de 1998

– Dilma a padre no Sul: “Enche os balõezinhos que dá”.

– A Al-Qaeda era só um grupo de árabes nerds fãs de RPG e aeromodelismo. Até conhecerem a Dilma.

– Antes de Dilma mergulhar no Mar Morto, ele não estava nem doente!

– Folha Informa: Dilma cortou a cabeça do último Highlander.

– Dilma embebedou o Jeremias.

– Dilma Roussef atirou o pau no gato. E Dona Chica era filiada do PT!

– O fuzil chama-se AK-47 por imposição da Dilma que vetou o AK-45.

– Dilma para John: “Querido, deixa eu te apresentar uma amiga, esta é a Yoko…”

– Padre irlandês que agarrou maratonista brasileiro em Atenas era filiado ao PT.

– Folha revela: Dilma seria dona do circo que separou Dumbo da mãe.

– Dilma vendia Marlboro para bebê fumante.

– Repórteres da Folha apuraram junto a moradores do condomínio de Dilma que ela peida no elevador.

– O Ministério da Saúde adverte: camisinhas da marca Dilma arrebentam!

– Exclusivo: Dilma é quem escreve as colunas do Merval.

– Dilma escreveu o rascunho do AI-5. Costa e Silva deu uma amenizada.

– Confirmado que Dilma é a autora das receitas médicas de Vanusa.

– Dilma disse a Bush: “em seis meses você resolve esse negócio no Iraque”.

– Dilma disse ao Ronaldo: “aquela ali é mulher mesmo”.

– Em Jerusalém, 1948, Dilma disse à ONU: “É só repartir isso aqui que dá tudo certo.”

– Dilma disse ao Covas em 89: “chega lá em PoA e diz que torce pro Grêmio e pro Inter, os gaúchos adoram isso”

– Confirmado: Dilma Rousseff é culpada pela maior humilhação que a internet já impôs a um jornal.

– Dilma quebrou o sigilo do catálogo telefônico. Dados podem estar em comitê petista.

– Dilma criou intrigas entre Abel e Caim.

– Genealogista afirma: Dilma, Hitler, Stalin e Mao têm ancestrais em comum.

– Previsão: Tsunami atingirá o Brasil em menos de 1 mês. A Culpa é de Dilma.

– Dilma foi professora de educação moral e cívica de Suzane Von Richthofen.

– Dilma ensinou física nuclear para os operadores de Chernobyl.

– Dilma explodiu a plataforma de petróleo no Golfo do México para beneficiar a Petrobrás.

– Homem que vazou as provas do ENEM 2009 era filiado ao PT.

– Dilma revoga a morte de Lamartine Babo e ordena que ele mude o nome de “Serra da Boa Esperança” para “Serra Abaixo”.

– Folha revela: Dilma forjou secretamente o Um Anel e o deu a Sauron.

– Efeito Dilma causa queda de asteróide e fim dos dinossauros.

– Foi a Dilma que mostrou o fruto proibido a Eva.

– Moisés rodou 40 anos no Deserto do Sinai, porque Dilma escondeu o mapa.

– Deus ia fazer o mundo em 4 dias mas houve atraso na obra do PAC.

– Dilma gostava de apertar campainha e sair correndo. “Ela fez isso duas vezes na minha casa”, revela ex-vizinha indignada.

– Folha de São Paulo: “Descoberto plano de Dilma para secar o Aquífero Garani.”

– Erro de Dilma nos cálculos provocou inclinação da Torre di Pisa.

– Dilma Roussef inventou a vuvuzela.

– Folha de São Paulo: “Dilma lava as mãos. Cristo é crucificado.”

– Serra lamenta: “a Dilma me indicou o Shampoo.”

– Folha Esporte: A Dilma escolhe as contratações para Flamengo.

– Folha Educação: Dilma assinou o Diploma de Economia do Serra.

– “Catanhedê comprova: Dilma fornecia uísque falsificado a Jânio, o que pode ter provocado a renúncia”.

– “Folha comprova: Dilma participou da elaboração do Ato Institucional nº 5”

– Agora é fato: Dilma deu o fósforo a Nero para incendiar Roma.

– Dilma levou 15 dos 30 dinheiros de Judas e depois a metade da grana do cofre da amante do Adhemar.

– Vizinha de Dilma é cunhada de um primo de uma tia do contador Atella. Candidata negou-se a esclarecer este grave indício.

– Compra da mansão da Yeda com sobra de campanha é o piloto da Minha Casa Minha Vida da Dilma.

– Dilma convida Rita Cadilac para ocupar o Ministério da Cultura.

– Folha chega à verdade: Dilma foi assessora do General Médici.

– Dilma matou Vargas.

– Dilma negou Cristo 4 vezes.

– Ex-agente do Dops revela que torturou Dilma Roussef em legítima defesa.

– Folha comprova: Dilma preparou a infusão de cicuta que Sócrates foi obrigado a beber!!!

– Dilma fez a última manutenção do dirigível Hindemburg.

– Dilma foi vista saindo da estação Pinheiros, poucos minutos antes do desabamento do metrô.

– Vários informantes confirmam: Dilma pilotava o carro bomba que tentou sabotar o Rodoanel.

– Dilma tapou os bueiros do Jardim Romano e deixou seus habitantes debaixo d’água.

– Dilma deixou aberta a escotilha do submarino russo Kursk.

– Dilma para Roosevelt, em 1940: esses japoneses não são de nada.

– Júlio Cesar: até tu, Dilma?

– Exame de DNA confirma: Felipe Melo era a Dilma fantasiada de jogador de futebol.

– Gordon Ramsay confirma: Dilma Roussef quebrou o sigilo da receita de Ana Maria Braga.

– Serra protesta contra a proposta de Dilma sobre o uso de gás boliviano em elevadores de São Paulo.

– Dilma diz que, se eleita, Coca Cola brasileira será operada por partidários de Evo Morales.

– Dilma diz que passará para a iniciativa “privada” os rios Pinheiros e Tietê.

– Revanchismo. Dilma defende o uso de exame de DNA para identificar os soldados desconhecidos do Ibirapuera.

– Dilma roubou o fogo do Olimpo e deu as mulheres, dai a origem das mulheres foguentas.

– Alambix revela: Dilma empurrou Obelix dentro do caldeirão!

– Foi Dilma quem levou o Imperador para o Lado Negro da Força.

Ora, veja só…

Recorto-e-colo direto lá do Flávio Gomes.

Que mais posso dizer?

Só não escrevo “veja que ridículo” para não ter que começar a frase – e a palavra – com letra maiúscula.

Enfim, a imprensa escrita, ao que me parece, encontra-se cada vez mais desqualificada…

ESCROTINHOS

SÃO PAULO (haja saco) – É mesmo a revista mais escrota do planeta. Alguém se deu o trabalho de reparar na capa de “Veja” desta semana? É sobre os trabalhadores presos numa mina no Chile. Um drama, claro. Merece capa de revista, claro.

Mas notem a foto. O cara parece o Lula, não? Ou um operário, ou um sem-terra. O estereótipo que “Veja” tem de operários, trabalhadores, camponeses, petistas. Até o chapéu é vermelho.

E a manchete? “Os homens do abismo”, com “abismo” destacado em letras maiores, de novo em vermelho.

Abismo? De onde esses retardados tiraram que uma mina, um buraco numa montanha, é um abismo? Um abismo? É claro que até os analfabetos que escrevem para “Veja” sabem que há diferenças claras entre buracos e abismos. Mas resolveram partir para uma grande sacada na capa. Sacaram? O cara que parece o Lula, os petistas, o “abismo” em vermelho…

É mais uma tentativa primária, grotesca, tosca, mais uma, de “alertar a classe média para o perigo vermelho”. Por que não assumem o que querem para o Brasil? Que preferem o candidato A ao candidato B? Será que se acham mesmo brilhantes por colocar nas bancas uma capa que nem essa?

São uns escrotos, na minha opinião. Mas se ela não basta, leiam este trabalho acadêmico aqui. Que prova a escrotice cientificamente.

Anti-Serranas

Estratégia de campanha de Serra deu ‘100%’ errado

Josias de Souza

Todos os planos que José Serra traçara para sucessão de 2010 deram errado. Em consequência, o presidenciável tucano chega à fase do horário eleitoral gratuito, último estágio da campanha, em situação de absoluta desvantagem.

No pior cenário esboçado pelo tucanato, previa-se que Serra iria à propaganda de televisão empatado nas pesquisas com Dilma Rousseff. Deu-se algo mais dramático.

Todos os institutos acomodam Serra atrás de sua principal antagonista. No Datafolha, o fosso é de oito pontos. Vai abaixo um inventário dos equívocos que distanciaram a prancheta do comitê de Serra dos fatos:

1. Chapa puro-sangue: Serra estava convicto de que Aécio Neves aceitaria compor com ele uma chapa só de tucanos. Em privado, dizia que as negativas de Aécio não sobreviveriam a abril. Aceitaria a vice quando deixasse o governo de Minas. Erro.

2. PMDB: O tucanato tentou atrair o PMDB para a coligação de Serra. Nos subterrâneos, chegou-se a levar à mesa a posição de vice. Desde o início, a chance de acordo era vista como remota. Mas o PSDB fizera uma aposta: dividido, o PMDB não entregaria o seu tempo de TV a Dilma. Equívoco.

3. Ciro Gomes: O QG de Serra achava que Ciro levaria sua candidatura presidencial às últimas consequências. Numa fase em que Serra ainda frequentava as pesquisas com dianteira de cerca de 30 pontos, o tucanato idealizou um cenário de sonho.

Candidato, Ciro polarizaria com Dilma a disputa pelo segundo lugar, dividindo o eleitorado simpático ao governo. Mais um malogro.

4. Marina Silva: Serra empenhou-se para pôr de pé, no Rio, a aliança de seus apoiadores (PSDB, DEM e PPS) com o PV de Fernando Gabeira. Imaginou-se que, tonificado, Gabeira iria à disputa pelo governo fluminense com chances de êxito. E o palanque dele roubaria votos de Dilma para Serra e Marina.

Deu chabu. Empurrado por Lula, Cabral é, hoje, candidato a um triunfo de primeiro turno. A vantagem de Dilma cresce no Estado. E Marina subtrai votos de Serra.

5. Sul e Sudeste: O miolo da tática de Serra consistia em abrir boa frente sobre Dilma nessas duas regiões. Sob reserva, Luiz Gonzales, o marqueteiro de Serra, dizia: O Nordeste é importante, mas nossas cidadelas são o Sul e o Sudeste.

Acrescentava: Não podemos perder de muito no Nordeste. E temos de ganhar muito bem no Sul e Sudeste. As duas premissas fizeram água. Ampliou-se a vantagem de Dilma no Nordeste. E ela já prevalece sobre Serra também no Sudeste.

Há 20 dias, Serra batia Dilma em São Paulo e era batido por ela no Rio. Em Minas, a situação era de equilíbrio. Hoje, informa o Datafolha, a vantagem de Dilma (41%) ampliou-se em dez pontos no Rio. Serra (25%) enxerga Marina (15%) no retrovisor.

Em Minas, Dilma saltou de 35% para 41%. E Serra deslizou de 38% para 34%. Em São Paulo, o tucano ainda lidera, mas sua vantagem sofreu uma erosão de sete pontos. Resta, por ora, a “cidadela” do Sul, insuficiente para compensar o Nordeste. Pior: Dilma fareja os calcanhares de Serra também nesse pedaço do mapa.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, a vantagem de Serra caiu, em 20 dias, de 12 pontos para oito. No Paraná, encurtou-se de 15 pontos para sete.

6. Plebiscito: Lula urdira uma eleição baseada na comparação do governo dele com a era FHC. Serra e seu time de marketing deram de ombros. Como antídoto, decidiram promover um confronto de biografias: a de Serra contra a de Dilma.

Entre todos os equívocos, esse talvez tenha sido o mais crasso. Ignorou-se uma evidência. Do alto de sua popularidade lunar, Lula tornou-se o eixo da campanha. Tudo gira ao redor dele.

Lula transferiu votos para Dilma em proporção nunca antes vista na história desse país.

7. Debates e entrevistas: Em sua penúltima aposta, o grão-tucanato previra que Serra, por experiente, daria um baile em Dilma nos confrontos diretos. Não deu.

Reza a cartilha dos marqueteiros que, nesse tipo de embate, o candidato que vai bem não ganha votos. Porém, o contendor que dá vexame sujeita-se à perda de eleitores. Para o PSDB, o vexame de Dilma era certo como o nascer do Sol a cada manhã.

No primeiro debate, promovido pela TV Bandeirantes, o escorregão não veio. Na entrevista ao “Jornal Nacional”, também não. Serra houve-se bem nos dois eventos. Porém, ao esquivar-se do desastre, Dilma como que ombreou-se com ele.

8. Propaganda eletrônica: Começa nesta terça (17) a publicidade eleitoral no rádio e na TV. O comitê tucano vai à sua última aposta. No vídeo, insistir na exposição da biografia do candidato. Serra será vendido como gestor experiente.

Vai-se esgrimir a tese de que Serra –ex-secretário de Estado, ex-deputado, ex-senador, ministros duas vezes, ex-prefeito e ex-governador— está mais apto do que Dilma para continuar o que Lula fez de bom e avançar no que resta por fazer.

Até aqui, o discurso não colou. Na propaganda adversária, o próprio Lula se encarregará de dizer que a herdeira dele é Dilma, não Serra. A julgar pelas pesquisas, o eleitor parece mais propenso a dar crédito ao dono do testamento.

Serra, o anti-social

Luiz Nassif

Bico Veteranos, sobretudo no Senado, reclamam que até hoje a campanha de Serra não convocou nenhuma reunião para engajar as bancadas tucanas. Também é verdade, porém, que o único senador do PSDB a demonstrar no Twitter empenho pela candidatura presidencial do partido é Alvaro Dias (PR).

Silêncio 1 Desabafo de um candidato a governador alinhado à campanha nacional da oposição e bem posto nas pesquisas em seu Estado: “Consigo falar com todo mundo, menos com o meu candidato à Presidência”.

Silêncio 2 O candidato ouviu o conselho de um tucano acostumado com o fuso horário de Serra: “Por que você não experimenta ligar para ele de madrugada?”.

Comentário

Como Ministro da Saúde, Serra mantinha as portas do gabinete fechadas a qualquer reunião. Não recebia Secretários de Saúde, gestores, políticos. No Palácio Bandeirantes, nenhum prefeito conseguiu ser recebido por Serra. Era refratário a reuniões de secretariado, a despachar individualmente com secretários, a receber representantes de qualquer entidade – seja de trabalhadores, empresários ou movimentos sociais. Da Prefeitura, não tenho muitas informações, mas duvido que tenha se reunido uma vez sequer com os sub-prefeitos.

Na campanha, jamais se reuniu para valer com aliados, conselheiros externos, lideranças do PSDB e de partidos aliados. Nunca acatou uma sugestão sequer.

Seu mundo se resume a algumas poucas pessoas do seu círculo íntimo. E vem sua campanha martelar essa questão da experiência política? Será que se esqueceram da definição de política, do papel político da mediação?

Se eleito, como administraria uma sociedade civil que ganhou musculatura e aprendeu a ser ouvida, que passou a se organizar em torno de conferências nacionais (processo que vem desde os anos 90 e ganhou impulso nos últimos anos) ou a participar da elaboração de programas, como em Minha Casa, Minha Vida? Como administraria demandas do agrobusiness e da agricultura familiar, dos estados e municípios, da economia real e da financeira, dos movimentos sociais? Como aprenderia com as críticas, se qualquer arremedo de crítica oxida seus nervos de aço e provoca ou reações infantis (como nas pressões sobre jornalistas) ou travamento de suas ações (como na greve da Polícia Civil e nas enchentes de São Paulo).