Fogo cruzado

Meados da década de oitenta.

(Sim, aquela mesma, a década perdida, que ninguém sabe direito onde é que foi parar, mas na qual eu – posso garantir! – estava lá…)

Éramos um bando de adolescentes meio malucos, com os mais variados tipos imagináveis, mas que tínhamos uma coisa mais ou menos em comum: curtir a vida. O Jarbas (cujo nome não era Jarbas – acho que era Ronaldo – mas que assim o chamávamos por ser o único a ter um carro e nos levar a todos pra cima e pra baixo), que nem era tão adolescente assim, possuía uma invejável coleção de LPs. Sim, “LPs”. Ou “Long Play”. Aquelas coisas grandes, pretas e redondas, feitas de um tipo de plástico chamado “vinil”, e que mal chegava a ter doze músicas distribuídas por seus dois lados. Isso mesmo, caríssima geração MP3: o mundo tecnológico era jurássico e, ainda assim, conseguíamos sobreviver!

Mas, para variar, estou variando.

Acontece que foi através do Jarbas (ou Ronaldo) que conheci uma banda chamada Scorpions. É lógico que, com o ciúme que tinha de seus discos, ele se limitou a gravar uma fita para mim – que, inclusive, devo ter até hoje. Sim, também já fazíamos pirataria antes mesmo de ser cunhado tal conceito…

Mas o negócio é que, por conta dessa fita, acabei por me aproximar de uma menina naqueles idos tempos de colégio. Bem, na verdade, foi ela quem se aproximou de mim… Aliás, mais na verdade, na verdade, ainda, foi porque uma amiga dela estava interessada em mim e não tinha a desenvoltura suficiente (leia-se “cara de pau”) de chegar até este hoje ancião que vos tecla. Garotão, boa pinta, cabeludo, metaleiro e que – pasmem! – estudava contabilidade. Até hoje eu não sei muito bem o que é que fui fazer lá – mas, ao menos, passei a dominar o chamado “método das partilhas dobradas”…

E lá sigo eu, variando de novo.

Voltemos ao causo.

Pra encurtar um pouco a história, acontece é que acabei por me interessar mesmo foi por aquela mocinha japonesa toda solícita (e que não, não era a excelentíssima senhora, amada, idolatrada, salve, salve, Dona Patroa de hoje). E tivemos lá nosso namorico – que não era namoro só para a amiga dela não saber, nem se chatear – e que nem durou muito, pois em pouco tempo eu sairia daquela escola para novas guinadas na minha vida. Nesse meio tempo, entre uma e outra, fiquei lá eu no meio daquele fogo cruzado.

E o que todo esse relato desconexo tem a ver uma coisa com outra? Bem, essa mocinha, escorpiana do dia quinze de novembro, levadíssima da breca, tinha um lindo escorpiãozinho tatuado, digamos assim, quase sobre o coração. E conversa vai, conversa vem, acabei por apresentar-lhe aquela velha fita (na época, novíssima) do Scorpions. E ela até que gostou muito. E, por sua vez, apresentou-me o tal do escorpiãozinho.

Mas isso já é outra história…

Bem, e tudo isso por quê? Simplesmente porque hoje ouvi novamente uma das músicas que mais gostava daquela fita. E não, não era o comercialíssimo hit de então Still loving you, que arrebatou tantos suspiros e romances naquela época. Estou falando é de Crossfire – uma música com um ritmo de bateria totalmente envolvente e com uma guitarra com riffs de sonoridade desafiadora.

Podem conferir dando o costumeiro play no botãozinho aí embaixo:

Scorpions – Crossfire

 
Hm?

Ainda querem saber sobre minha caríssima escorpiana?

Nunca mais a vi.

Ainda correspondemo-nos por algum tempo quando ela foi para o Japão, mas depois simplesmente desapareceu.

Aliás, por “corresponder”, entenda-se bem, significa que naquela época enviávamos cartas – aquela coisa de escrever num papel, colocar no envelope, colar um selo e levar até o correio. Creio que talvez vocês já devam ter lido sobre isso em algum livro de história…

😉

Quando começaram os anos sessenta?

Quando, exatamente?

Tá certo que os anos cinquenta demoraram pra passar, tendo ficado naquela batidinha do pós-guerra, entre produções hollywoodyanas e a busca de uma América perfeita, como a de Norman Rockwell…

Mas e os anos sessenta? Que vieram a definir um estilo que se espalhou pelo mundo. Tem como precisar?

Bem, ao certo podemos descartar alguns eventos. Não foi quando JFK anunciou sua candidatura à presidência, em janeiro de 1960. Nem quando Macmillan identificou “ventos de mudança” para a África colonial, em fevereiro. Talvez quando a princesa Margaret anunciou seu noivado com um plebeu, o fotógrafo Anthony Armstrong-Jones, também em fevereiro? Não. Também não foi em novembro, quando John Kennedy finalmente venceu – na casca – a eleição norte americana, ou sequer em janeiro de 1961, quando tomou posse.

Mas tranquilamente podemos considerar o ano de 1962. Foi quando o primeiro estudante negro, James Meredith, matriculou-se na Universidade do Mississipi, antes exclusiva para brancos. Foi nesse ano que efetivamente começou a corrida à Lua. Foi quando Brian Jones, Mick Jagger e Keith Richards se conheceram. Bob Dylan apresentou pela primeira vez a música Blowin’ in the wind. O Vaticano, através do Papa João XXIII, deu início a um processo de liberalização da Igreja (não funcionou?). Teve início a segunda etapa da construção do Muro de Berlim – com uma fuga (e morte) em massa da Alemanha Oriental. Foi quando Kruchev anunciou que a retirada dos mísseis de Cuba havia terminado, tendo todos voltado à União Soviética. Marilyn morreu. Nelson Mandela foi detido. O mundo começou a conhecer a pílula anticoncepcional (e o amor livre). Surgiu a vitrola. Foi em 62 que o New York Times fez a primeira referência impressa a uma máquina milagrosa chamada “computador pessoal”.

Mas, apesar de tudo isso, tudo indica que foi em 5 de outubro de 1962 que efetivamente começaram os anos sessenta. Há aproximados quase exatos cinquenta anos. Com o início do sucesso de quatro jovens ingleses, com pouco mais de vinte anos à época. A música era Love me do. E assim, com apenas três palavras, dois acordes básicos e uma gaita de bolso, teve início toda uma revolução de mentes e de corações…

( Recortei-adaptei-mudei-e-colei lá da Carta Capital nº 718 )

Era uma vez…

Era uma vez um jornalista.

Cabelos compridos, sempre meio quieto, taciturno, com fita adesiva numa das pernas dos óculos, estilão meio hippie, um embornalzinho cheio de papéis, recortes, notícias, revistas, enfim, de um conteúdo que ele nunca conseguia ler – mas que nunca deixava de levar. Tinha por costume ir naquele Armazém de sempre, no seu cantinho de sempre, tomar sua cervejinha de sempre, junto com sua cachacinha de sempre. À mesa os amigos variavam, mas naquele dia em especial ele estava sozinho.

Era uma vez uma professorinha.

Pele morena, cabelos compridos, um olhar inquiridor, de gargalhada solta e fácil, alma irrequieta, sorriso cativante, já com uma filha adolescente, um jeitinho meio alternativo, amada pelos alunos e dona do próprio nariz. Não era sempre que ia àquele Armazém, mas, afinal de contas, era um dia para se comemorar. Ou melhor, uma noite. À mesa as amigas que tanto insistiram para que ela fosse, pois aquele dia em especial era seu aniversário.

E, sabe-se lá o porquê, essas estranhas e invisíveis engrenagens cósmicas que movimentam nossas vidas, mas que raramente contribuem fazendo com que estejamos no lugar certo na hora certa, bem, naquele dia em especial elas se alinharam.

E o jornalista olhou para aquela professorinha.

E a professorinha olhou para aquele jornalista.

E ela, num arroubo vindo sabe-se lá de onde, o convidou para juntar-se àquela turminha animada. E ele, num desprendimento surgido sabe-se lá como, aceitou.

E tudo deu certo, como tinha que dar. E o que eram dois foi-se tornando um. E, com o tempo, ele foi cada vez mais se encantando com a professorinha. E, com o tempo, também ela foi cada vez mais se encantando com o jornalista. E, como tinha que ser, enamoraram-se. E o baú dele foi transportado para a casinha dela. E o carinho dela preencheu a vida dele…

E também tiveram lá seus problemas! Como todo e qualquer casal na face da Terra! Mas no caso deles é bem como dá o tom a antiga música: “E os dois comemoraram juntos / E também brigaram juntos, muitas vezes depois / E todo mundo diz que ele completa ela / E vice-versa, que nem feijão com arroz”.

E então, encantados que são, com direito a samambaia na janela e tudo mais, casaram-se!

Um dia para ser lembrado, uma lembrança para ser rememorada, uma memória para não ser esquecida!

E tive a honra e o prazer de ser um dos padrinhos!

E neste dia de hoje, por mais um aniversário seu, Rose, por mais um aniversário de vocês, Bica, tudo que posso e quero lhes desejar é felicidades!

Daqui e pra sempre, amém!

Sessão nostalgia

Hoje pela manhã, num breve conversê com meu filhote mais velho, ele me contou sobre o sonho que teve… Não sei se por algum tipo de efeito do sempre presente Angry Birds, dizia respeito a envergar um bambu até o limite, colocá-lo na ponta e soltar, arremessando-o sabe-se lá pra onde!

O que fez este velho fóssil lembrar de um antigo comercial da TV (me segurei para não escrever “reclame”…), lá da primeira metade da década de noventa, o das simpáticas formiguinhas. Aliás, fez tanto sucesso na época que teve até sequência!

Alguém lembra?

 
Um detalhe: este segundo vídeo está com o som bem baixinho. Então aumente um pouquinho o volume de sua caixa de som. Vale a pena!