O Sebastianismo

Vocês já ouviram falar do “Sebastianismo”? Então. Até há pouco tempo, nem eu. Mas dentre os 4 ou 12 livros que sempre tenho à cabeceira para leitura, dia desses retomei um que traz a história de Portugal desde antes de ser Portugal, passando por todos seus reis e, dentre eles, D. Sebastião.

D. Sebastião I foi o Rei de Portugal e Algarves de 1568 até 1578. Mas, na prática, já era o rei de fato desde 1557, quando faleceu D. Manuel I, seu avô e antecessor no trono. Entretanto, como tinha apenas quatro anos de idade, teve que esperar mais um bocadinho…

Nesse meio tempo, enquanto regentes cuidavam do trono, foi educado “para reinar”, isto é, foi criado dentro do culto do heroísmo militar e do caráter divino da realeza. Desse modo convenceu-se desde cedo que caberia a ele ser o instrumento de salvação da cristandade em tese ameaçada pela reforma protestante que vinha tomando um corpo cada vez maior desde a publicação das 95 teses de Martinho Lutero, em 1517 – uma obsessão que somente acentuou-se com o passar do tempo.

E no decorrer dos dez anos que reinou sonhava com a derradeira luta contra os “inimigos da fé”…

E a “oportunidade” surgiu em 1578, quando, do alto de seus meros 24 anos de idade, embarcou para a África com o firme propósito de tomar a cidade de Marrocos, a qual havia sido conquistada por um mouro apoiado pelos turcos (o que significaria que a Turquia iria dominar todo o Norte da África, ameaçando assim a Europa Cristã). Ainda que estivesse com um exército de 17 mil combatentes, o confronto com as forças do rei de Marrocos, que se deu nas proximidades de Álcácer Quibir, resultou num estrondoso fracasso. Metade dos soldados morreu e a outra metade foi aprisionada. E o próprio rei morreu. Porém seu corpo nunca foi encontrado.

Sem herdeiros diretos que pudessem se habilitar ao trono de português, após muito embate este acabou sendo entregue nas mãos de seu parente Filipe, rei da Espanha (Filipe I em Portugal). E assim permaneceu por mais duas gerações, com Filipe II e III.

E essa situação política de subordinação à Espanha foi se traduzindo numa inconformidade por parte do povo e gerando uma expectativa de salvação, ainda que miraculosa, através de um esperado retorno triunfal de D. Sebastião, já que vários setores da população simplesmente não acreditavam na morte do rei. Estava criado o “Sebastianismo”, uma espécie de consciência coletiva popular que traduzia-se na firme convicção de que em épocas de sofrimento generalizado do povo, haveria de aparecer uma figura heroica, salvadora, não sendo possível dizer quem seria ou de onde viria, mas que haveria de salvar a todos!

Escritores de renome, tais com o Padre Antônio Vieira, Fernando Pessoa e mesmo Ariano Suassuna dedicaram-se a esse tema. Mas o mais interessante é que as origens do Sebastianismo são de fato anteriores à morte e até mesmo ao nascimento de D. Sebastião!

Vejam como isso se deu através das palavras de José Hermano Saraiva, em seu livro História Concisa de Portugal:

“Em 1530, o rei D. João III deu a Vila de Trancoso a um seu irmão mais novo, o infante D. Fernando, que por essa altura se casou. Os lavradores e artesãos de vários ofícios amotinaram-se e não permitiram que o infante tomasse conta da Vila. Isso porque preferiam a dependência direta da administração da Vila por parte dos funcionários reais, que eram mais ou menos indulgentes na cobrança de impostos, em vez de pertencerem a um grande senhor rigoroso e às vezes cruel em suas exigências. Essa situação de rebeldia manteve-se durante alguns anos e o rei entrou em negociações com um representante dos moradores, confiando em que o tempo acabaria por resolver a situação. Não se enganou, porque o infante morreu já em 1534 e a Vila de Trancoso voltou ao patrimônio da Coroa.”

E o que isso tem a ver com o Sebastianismo? Calma, calma… Veremos!

“Foi durante os anos da revolta anti-senhorial de Trancoso que um sapateiro que lá morava, Gonçalo Anes Bandarra, escreveu umas trovas que o tempo haveria de tornar célebres. Era um homem rude (“próprio para ovelheiro”, diz um auto do Santo Ofício), que se metera a ler a Bíblia em português e mantinha contatos com cristãos-novos [judeus forçados a se converterem à fé católica], a quem recorria para que lhe explicassem as passagens que não entendia. Misturando confusas citações da Bíblia, reminiscências da poesia popular tradicional, mitos espanhóis (o Encoberto, a que faz alusão, é um mito ligado à revolta das comunidades espanholas de 1520-1522), profecias que andavam de boca em boca, vestígios de lendas do ciclo arturiano [em especial as lendas britânicas de que Rei Arthur estaria vivo e algum dia iria retornar], críticas sociais à corrupção e à prepotência dos grandes, compôs uma espécie de auto pastoril profético, que era inicialmente um protesto conta a doação da Vila ao infante irmão do rei.

Mas acontecia que o sapateiro era mau escritor. Usava os termos que lhe pareciam bem soantes, mas que não sabia ao certo o que queriam dizer, reproduzia, embaladas na toada popular da redondilha, palavras, frases e símbolos ouvidos aqui e ali, mas era incapaz de lhes definir um sentido claro. O resultado foi que as trovas se podiam entender em tantos sentidos quanto se quisessem. Começaram a circular cópias de mão em mão e quando se iniciou a perseguição da Inquisição aos cristãos-novos estes julgaram ler o anúncio da vinda de um Messias salvador nos versos que, na realidade, eram um apelo a D. João III para que defendesse a Vila de Trancoso da ambição do infante. Nessa altura a Inquisição interveio e prendeu o sapateiro, que apareceu como suspeito de judaísmo. O Bandarra era porém tão alheio a esses entendimentos que os judeus lhe faziam das trovas que acabou por ser posto em liberdade e condenado apenas a não escrever mais versos e a não se meter em leituras profanas.

Os inquisidores julgaram que a sua sentença punha termo ao processo, mas na realidade este apenas estava por começar.

A morte de D. Sebastião em condições misteriosas [quase 50 anos depois do episódio da Vila de Trancoso e dos versos compostos por Bandarra] veio dar uma nova acepção às trovas do sapateiro. O rei morreu durante a batalha, mas ninguém afirmava tê-lo visto morrer, embora muitos o tivessem visto já depois de morto (segundo a ética cavaleiresca, confessar que se tinha visto morrer o rei, sem dar a vida por ele, seria uma infâmia – o que explica em grande parte o mistério). Entre o povo dizia-se que o rei conseguira escapar e ia regressar ao País. Há notícia de vários aventureiros que exploraram essa crença popular e procuraram fazer-se passar por D. Sebastião.

As profecias de Bandarra passaram então a ser lidas com olhos diferentes: o Messias cujo regresso anunciavam era D. Sebastião. O público leitor já não é mais formado só pelos cristãos-novos, mas por nobres saudosistas. Versões sucessivas foram adaptando a redação ao seu novo sentido, de tal modo que o movimento de Restauração que viria a ocorrer somente em 1640 pareceu trazer a confirmação das trovas. Considerado o profeta nacional, o sapateiro foi venerado como santo, e até mesmo o arcebispo de Lisboa autorizou a colocação de uma imagem de Bandarra num altar da cidade.”

O Sebastianismo, devidamente adaptado de tempos em tempos, deixou suas marcas que se estenderam em múltiplas variações até meados do século XVIII, cada qual com um novo rei como titular, tendo chegado ao Brasil já quando de sua colonização e mais tarde, no final do século XIX, foi o que inspirou Antônio Conselheiro quando do movimento que criou Canudos. E deu no que deu.

“Mas, mais funda do que o artifício literário, a consciência sebastianista permanece como estado instintivo e permanente. O mito do ‘rei que há de voltar numa manhã de nevoeiro’ ainda hoje é um lugar comum da linguagem popular portuguesa. Ninguém o diz a sério, mas a frase é muitas vezes usadas para aludir a um intraduzível estado de espírito que consiste em crer que aquilo que profundamente se deseja não deixará de acontecer, mas ao mesmo tempo em esperar que aconteça independentemente do nosso esforço e sem implicação da nossa responsabilidade.”

Carlão

Das inúmeras aventuras e desventuras de minha época de adolescência, uma boa parte passei com aquele que, então, era um de meus melhores amigos daqueles tempos: meu primo, Carlos Antunes, mais conhecido como Carlão.

Nossa diferença de idade até que não era muita, apenas 6 anos – mas para a época era gigantesca: apesar de grandalhão, eu era um pirralho lá com seus 15 pra 16 anos, enquanto que ele já tinha seus 21, 22 anos…

Ainda assim, sabe-se lá o porquê, nossos santos bateram um com o outro e tínhamos uma cumplicidade e uma parceria fora de série!

Naqueles tempos, em plena década de oitenta, existiam somente algumas poucas coisas realmente constantes em todo o universo: o bigode do Carlão, sua boa e velha moto TT 125, que nós dois estaríamos juntos aprontando alguma em algum canto e, muito provavelmente, bêbados…

Sendo assim, numa fria noite qualquer estávamos lá, nós dois bestando, sentados no murão da casa de meu tio (éramos vizinhos). De repente, do nada:

“Vamos pra Monteiro Lobato?”

“Ôpa!”

Invariavelmente fazíamos uma dessas. Saíamos, percorríamos às vezes uma centena de quilômetros ou mais, tomávamos um conhaque (estava frio, vocês se lembram?), quando muito uma ou duas cervejas e voltávamos. Se houvesse alguma moçoila por perto, certamente seria objeto de nossos comentários, talvez até de alguma tentativa de avanço e – outra constante universal de então – daríamos com os burros n’água! Na verdade estávamos mais interessados em sair e nos divertir do que em ter qualquer tipo de amarração.

E então fomos pra Monteiro Lobato, cidadezinha pequena e que não tinha absolutamente NADA, a cerca de uma hora de viagem – uns 50 quilômetros de uma tortuosa e bucólica estradinha cheia de mata, escuridão e NADA. Nem acostamento tinha! Pensando bem, até hoje ainda não tem… No quê? Na boa e velha moto TT 125, é claro. Que sempre teve um barulhinho característico e quase que hipnotizante com seu motor dois tempos, uma espécie de balido de cabra contínuo e interminável…

Chegamos por lá, encontramos um ou outro conhecido, tomamos nossas cajibrinas e, assim, do nada:

“E aí? Vamos embora?”

“Ôpa!”

É, com certeza nossos diálogos não eram assim tão brilhantes, mas tinham um quê de divertidos…

E lá fomos nós, de volta para nossa cidade, já de madrugada, num friozinho de começo de inverno, naquela estradinha escura e tortuosa, já meio bêbados e sonolentos, com aquele barulhinho de fundo do motor da TT: béééééééééééééééé…

É LÓGICO que, ali na garupa, comecei a cochilar.

E, muito no de repente, a moto lentamente começou a sair fora da estrada, vagarosamente passando do asfalto para a terra (sem acostamento, lembram-se?) e na primeira ameaça de solavanco já acordei, super assustado, com a nítida impressão de que uma descarga elétrica tinha acabado de passar pelo meu corpo! Num átimo de segundo (adoro palavras assim!) já pensei comigo mesmo:

“Caramba! Parece que eu cochilei e comecei a pender de lado, desequilibrando a moto e o Carlão não conseguiu segurar, fazendo com que ela saísse da estrada. Putz, que merda! Ele deve estar puto da vida comigo! Deixa eu me equilibrar e até mesmo me desculpar por essa mancada…”

Tudo isso passou pela minha cabeça numa fração de uma fração de momento. Entre o começar a sair da estrada, construir esse raciocínio e me aprumar na moto não deve ter passado mais do que um ou dois segundos. Ainda fora da estrada foi o tempo de eu levantar a mão e dar um um tapinha no ombro do Carlão, já dizendo:

“Putz, cara! Desculpa aí. Acho que dormi…”

E parece que uma outra corrente elétrica voltou a passar, só que desta vez pelo corpo dele.

De imediato ele se aprumou e ACORDOU.

Isso mesmo, crianças, ELE TAMBÉM ESTAVA DORMINDO!!!

Já estávamos fora da estrada mesmo, paramos, apeamos, acendemos um cigarro, xingamos um ao outro, demos risadas e acordamos de vez, prontos para seguir viagem…

Essa foi apenas uma das inúmeras desventuras pelas quais passamos.

O tempo passou, no início de 88 eu me casei pela primeira vez (afinal já tinha 18 anos à época) e em 93 foi a vez dele também se casar. E foi com a Claudete, uma amiga em comum com quem eu adorava ter longos proseios.

Pouquíssimo tempo depois, no final de 97 ele faleceu.

Câncer.

Com apenas 34 anos de idade.

Não, a vida não é justa. Já tem vinte anos que ele se foi e ainda sinto saudades. Lamento não ter estado mais próximo dele em seus últimos tempos, mas eu mesmo também estava passando por meus próprios perrengues. Nada tão sério quanto pelo que ele estava passando, mas quando estamos no meio da tormenta parece que não conseguimos mensurar as coisas direito.

Onde estiver, esteja com Deus, meu primo-amigo-irmão, Carlão…

Compreendendo a gravidez da situação

Não, vocês não leram errado, nem tampouco eu a escrevi errado: a palavra é essa mesma. Mas, como todos já sabem, eu tenho uma certa tendência ao dramático e não podia deixar de dar todo um colorido nessa história – que, inclusive, aconteceu de verdade – como vocês verão…

E lá estava o casalzinho, bem de boa, juntos há pouco tempo e ela já gravidinha. De repente, assim do nada, ela dispara:

– Amô-ôr…

– Oi, vida?

– Sabe… É que eu estou com muita vontade de tomar sorvete…

– Não por isso! É pra já!

E sem dar nenhum tempo para um segundo pensamento sequer, já saiu, foi até a padaria mais próxima e logo em seguida voltou com o melhor que poderia pescar dos freezers de sorvetes: flocos, napolitano, morango, chocolate e por aí afora.

Ela sorriu, meio sem jeito, enquanto que ele estava ali, quase que se pavoneando, orgulhoso em se sentir o melhor dos maridos e de já achar que seria um futuro pai pra lá de dedicado!

Enquanto isso ela abriu um pote, olhou, abriu outro, pegou uma colherinha, experimentou, deu um passo pra trás, pensou e arrematou:

– Amô-ôr…

– Oi, vida?

– Sabe… É que você não me deu um tempo pra explicar… Mas é que a minha vontade era de tomar sorvete do Seu Robertinho…

– Do Seu Robertinho? O mesmo “Seu Robertinho” lá da nossa cidade, do Sul de Minas, a mais de 100 quilômetros de distância???

– É…

– Ah, amor, aí não tem jeito. Você vai ter que se virar com o que temos! Antes do próximo final de semana, com certeza não como a gente ir pra lá. Fecha os olhos e faz de conta que esse é do Seu Robertinho, vai?

– Mas não é!

– Mas, vida…

– A grávida sou eu!

Pronto. Discussão encerrada. Impossível retrucar contra esse argumento. Foram dormir daquele jeito, meio que chateados, meio que decepcionados e com a geladeira cheia de sorvete.

Já no dia seguinte ele teve uma brilhante ideia! O problema era aquele sorvete industrializado, enquanto que o do Seu Robertinho era totalmente caseiro. O único lugar que ele conhecia em toda cidade que também produzia seu próprio sorvete caseiro e de qualidade era lá na Sorveteria do Canário, na Zona Norte. Propôs a ela que fossem até lá para, pelo menos, que ela experimentasse – mas ele tinha certeza absoluta que isso resolveria o problema.

Atravessaram a cidade, chegaram na sorveteria, ela ainda com uma carinha de desconfiada, decidiu arriscar uma Banana Split (que, diga-se de passagem, quem conheceu a Banana Split do Canário sabe do que eu tô falando em termos de qualidade, sabor, consistência e tamanheza)…

Bastou uma colheradinha.

Empurrou a taça, quase com cara de choro, e cheio de súplica encarou seu mais uma vez frustrado marido:

– Não é que nem a do Seu Robertinho.

Bem, daí não teve jeito. Foi o resto da semana pilotando as variações de humor da patroa até que pudessem, no final de semana, viajar até o Sul de Minas e matar a vontade da gravidinha.

Foi uma loooonga semana…

Enfim chegou o final de semana, pegaram a estrada e o mau humor dela parece ter ficado em casa, no fundo da última gaveta, junto com as meias. Parecia uma criança! Finalmente ia matar a vontade e se deleitar com os sorvetes do Seu Robertinho!

Mas ele já estava daquele jeito, com uma pulga atrás da orelha… Nada, repito, NADA, na vida dele se resolvia tão fácil…

E, é lógico, ele tinha razão. Afinal de contas eles estavam em Agosto, ou seja, Inverno. O que as sorveterias fazem no inverno? FECHAM. Simples assim.

Antevendo a gravidade de um súbito ataque gravídico, ele não teve dúvidas: deixou-a em casa de parentes e foi pessoalmente até a casa do Seu Robertinho!

– Oi, fio! B’as tarde!

– Seu Robertinho, PELAMORDEDEUS, me ajuda! Só o senhor pode me ajudar!

– Êita! Carma, fio. Que é que assucede?

– Minha mulher, seu Robertinho. Minha mulher. Ela tá grávida e já faz quase uma semana que não para de falar do sorvete que o senhor faz. É vontade, Seu Robertinho, vontade de grávida! Diz pra mim, por favor, que o senhor tem algum sorvete aqui na casa do senhor pra me vender, POR FAVOR!!!

– Heh… É, já vi isso antes. Mas fique carmo e vâmo chegá ali na cozinha pra modo de você escolhê…

Ele estava salvo! Finalmente! Acompanhou Seu Robertinho até sua “despensa de sorvetes” e pra que não tivesse mais nenhum tipo de problema, pegou um potinho de cada sabor. De todos os possíveis e imagináveis. Voltou abarrotado! Tinha de uva, morango, côco, chocolate, creme, flocos, abacaxi, limão, amora, pistache, o escambau!

Encontrou sua mulher daquele jeito: tal qual criança esperando brinquedo no dia do aniversário! Os olhos brilhando! Desceu sua carga na mesa e respirou fundo, descansado, certo de que agora não tinha como ter errado, enquanto que ela conferia e alinhava um a um todos os potinhos, quase pulando de alegria e já ficava nítido o prazer que ela ia antevendo em saboreá-los.

E assim, num suspiro aliviado, ele virou de lado e tentou até sorrir…

E mesmo extasiada, ela assim do nada, voltou a repetir:

– Amô-ôr?

(GLUP!)

– Oi, vida?…

– Não tinha de goiaba?

Livro da Família Andrade

Muito bem, família! Vocês devem se lembrar do quanto aporrinhei todo mundo até conseguir levantar todas as informações para montar esse livro aí do lado… Só que tem um detalhe: ele somente tem os registros de nossa família até 2012! E como já estamos em 2017, como todos sabem muito bem, tem muita gente que já casou, que separou, outros tantos nasceram e infelizmente alguns também morreram…

Então, família, conto com vocês para me ajudar a atualizar este nosso livro!

Pra facilitar procês, eu dividi o livro de acordo com cada ramo da família – ou melhor, cada um(a) dos(as) filho(as) do Vô Antonio e da Vó Bastiana – bastando clicar na respectiva imagenzinha aí embaixo para ter acesso ao arquivo PDF.

Reitero que esse livro é nosso: cada indivíduo descendente tem um par de páginas à sua disposição. As informações básicas, como data e local de nascimento, peso e altura quando nasceu, quando e com quem se casou, quantos e quais filhos teve, bem, esse geralzão em sua maioria já tá lá. Mas caso queiram inserir uma ou mais fotos, trocar a foto que está no livro, acrescentar ou alterar um texto ou uma mensagem, enfim, dar uma personalizada como um todo, agora é a hora!

Aliás, confiram os dados de cada arquivo e assim que possível me mandem as atualizações e correções, ok? E mais: não se limitem ao seu ramo da família não! Até porque não custa nada dar uma fuçada nos arquivos do resto do nosso povo, né?

Vocês podem escrever aqui nos comentários mesmo, ou, se preferirem, basta me encaminhar as informações diretamente para o meu e-mail: adauto@andrade.sjc.br .

E aí? Tão esperando o quê? Bóra atualizar issaí, moçada! 😀

José Bento de Andrade
ZÉ BENTO

Fé dos Santos de Andrade

Esperança dos Santos Andrade
ESPERANÇA

Caridade de Andrade
CARIDADE

Felizberto de Andrade
DINHO

Jorge Andrade
JORGE

Maria Madalena de Andrade
MADALENA

Pedrina de Fátima Andrade
PEDRINA

Maria Laura de Andrade
LAURA

Roberto de Andrade e Geraldo de Andrade
ALEMÃO E GÊRA

Valorizando seu dinheiro – VII

Uma moeda que não durou muito…

Cruzado Novo
(NCz$1,00 = Cz$1.000,00)

Apenas três anos depois da última mudança, foi ainda o presidente Sarney que instituiu o Cruzado Novo (NCz$) através da Medida Provisória nº 32, de 16 de janeiro de 1989 (mais tarde convertida na Lei nº 7.730, de 31 de janeiro de 1989), tendo havido novamente um corte de três zeros no sistema monetário nacional.

Novamente usou-se a estratégia de apor um carimbo identificador nas cédulas mais altas do sistema anterior, só que desta vez ele era – a-ha! – triangular… As primeiras emissões foram cédulas de 1.000, 5.000 e 10.000 cruzados reaproveitadas com esse carimbo triangular com a nova denominação em cruzados novos, respectivamente 1, 5 e 10 cruzados novos.

No decorrer do ano de 89 e início do ano 90 entraram em circulação as novas cédulas no valor de 50, 100, 200 e 500 cruzados novos.

NCz$50,00. Na face possuía a efígie de Carlos Drumond de Andrade (1902-1987), aparecendo, ao fundo, o casario e as montanhas de Itabira, MG; no verso, uma gravura representa o poeta em sua mesa, no ofício de escrever e, à direita da gravura, estão reproduzidos os versos do poema “Canção Amiga”.

NCz$100,00. Na face possuía o retrato de Cecília Meireles (1901-1964), tendo à esquerda a reprodução de desenho de sua autoria, ao qual se sobrepõem alguns versos manuscritos extraídos de seus “Cânticos”; no verso, uma gravura, à esquerda, representa o universo da criança, suas fantasias e o momento da aprendizagem e o painel é completado, à direita, com a reprodução de desenhos feitos pela escritora, representativos de seus estudos e pesquisas sobre folclore, músicas e danças populares.

NCz$200,00. Na face possuía a efígie simbólica da República, interpretada sob a forma de escultura e, à esquerda, gravura simbolizando a reunião de ideais republicanos, onde aparecem as personagens históricas de Silva Jardim, Benjamim Constant, Marechal Deodoro da Fonseca e Quintino Bocaiúva; no verso, detalhe do quadro “Pátria”, do pintor Pedro Bruno (1888-1949), onde aparece a bandeira do Brasil sendo bordada no seio de uma família.

NCz$500,00. Na face possuía a efígie do cientista Augusto Ruschi (1915-1986), ladeada por alegorias de flora e fauna, destacando-se uma representação da “Cattleya labiata warneri”, orquídea que, com dezenas de variedades, é a mais típica do Espírito Santo e a maior flor do gênero no Brasil; no verso, Ruschi examinando orquídeas, aparecendo em destaque a figura de um beija-flor.

Mas…

Curta vida teve o Cruzado Novo…

Apesar de todas as medidas que tomou (e lembro-me bem da famosa campanha chamando a população para que fossem “Fiscais do Sarney”) a inflação seguia em desvairado galope. Em fevereiro de 1990 Sarney deixava para seu sucessor tanto o governo quanto uma inflação anual acumulada batendo na casa de 3.348,74%!


(Início da Saga)

(Continua…)

Valorizando seu dinheiro – VI

O fim da Ditadura Militar
(e o começo da encrenca civil…)

Cruzado
(Cz$1,00 = Cr$1.000,00)

Marcando o fim da Ditadura Militar no Brasil, foi o presidente José Sarney que instituiu o Cruzado (Cz$) através do Decreto-Lei nº 2.283, de 27 de fevereiro de 1986, tendo havido novamente um corte de três zeros no sistema monetário nacional. O nome da nova moeda foi inspirado numa antiga moeda de ouro portuguesa que circulou durante o período colonial.

Assim como aconteceu com o Cruzeiro Novo no final da década de sessenta, parte das cédulas do Cruzado foi aproveitada do sistema anterior, quer seja na simples aposição de um carimbo identificador, quer seja na reedição da mesma arte com três zeros a menos. As primeiras emissões foram cédulas de 10.000, 50.000 e 100.000 cruzeiros aproveitadas com um carimbo circular com a nova denominação em cruzados, respectivamente 10, 50 e 100 cruzados.

Ainda em 1986 entraram em circulação as novas cédulas no valor de 10, 50 e 100 cruzados, “aproveitando” os elementos das cédulas lançadas anteriormente, apenas com a adaptação das legendas e do valor facial para o novo padrão.

Cz$10,00. Na face possuía Rui Barbosa de Oliveira (1849-1923) à direita, e uma composição representando sua mesa de trabalho ao centro; no verso, Rui Barbosa discursando na Segunda Conferência da Paz, realizada em Haia em 1907.

Cz$50,00. Na face possuía Oswaldo Cruz (1872-1917) à direita, e um microscópio óptico ao centro; no verso; no verso, o Edifício principal do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.

Cz$100,00. Na face possuía Juscelino Kubitschek de Oliveira, Presidente da República de 1956 a 1961, à direita, bem como estradas e redes de transmissão de energia elétrica ao centro; no verso, o Congresso Nacional em primeiro plano; ao fundo, à esquerda, “Catetinho” e, à direita, o Palácio da Alvorada.

Entre 1986 e 1988 foram colocadas em circulação novas cédulas, desta vez no valor de 500, 1.000, 5.000 e 10.000 cruzados, acompanhando a vertiginosa escalada da inflação, à época…

Cz$500,00. Na face possuía o retrato de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), ladeado por representação de vitórias-régias, em alusão a Amazônia; no verso, Villa-Lobos regendo e, ao fundo, vista de uma floresta brasileira, fonte de inspiração permanente do artista, baseada em gravura de Rugendas.

Cz$1.000,00. Na face possuía o retrato de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), tendo a esquerda o emblema da Academia Brasileira de Letras; no verso, a estampa representativa da Rua Primeiro de Março, no Rio de Janeiro, (antiga Rua Direita), baseada em foto de 1905.

Cz$5.000,00. Na face possuía o retrato de Cândido Torquato Portinari (1903-1962), tendo, à esquerda, gravura com trecho final do painel épico “Tiradentes”, concluído em 1949; no verso, à esquerda, gravura baseada em foto que mostra Portinari desenhando o painel “Baianas”, e à direita, outra gravura lembra elementos do painel “Paz”, que evoca cenas da infância do artista em Brodósqui, SP.

Cz$10.000,00. Na face possuía o retrato de Carlos Chagas (1879-1934), baseado em foto de 1931, tendo, à esquerda, gravura representando esquema clássico do ciclo evolutivo do protozoário “Trypanosoma cruzi” (o barbeiro); no verso, uma gravura mostrando Carlos Chagas trabalhando em laboratório.

Essa Crise – com “C” maiúsculo – já vinha desde o final dos anos setenta e início dos oitenta, herança do modelo econômico adotado durante a Ditadura Militar e que trouxe como resultados a redução do investimento estatal, a expansão da dívida pública, altíssimas taxas de inflação, a deterioração do valor da moeda, perdas reais nos salários e ampla estagnação econômica.

Todos os planos de (tentativa de) estabilização econômica lançados durante o governo de Sarney – Plano Cruzado, Cruzado II, Bresser e Verão – fracassaram no que diz respeito ao combate à inflação e ao crescimento da dívida pública. Apesar de um certo otimismo por parte da população por finalmente haver um presidente civil após mais de duas décadas de Ditadura Militar, essa sensação rapidamente deteriorou, juntamente com os salários e a própria economia brasileira, destacando-se a estagnação dos setores produtivos, o sucateamento dos serviços públicos e a acentuação das desigualdades sociais.

Para se ter uma vaga ideia do que foi aquela época, considerando que em 2016 (pela variação anual acumulada do IPC-FIPE) tivemos uma inflação anual de 6,55% – o que para muitos é considerado um “absurdo” -, quando Sarney iniciou seu governo já teve que encarar a inflação de 1985, que havia fechado em 228,22%! Mesmo mudando a moeda e tomando as medidas que entendeu necessárias, seu primeiro ano de governo conseguiu fechar com uma inflação de “apenas” 68,08%… E no final desse mesmo ano os preços seriam congelados – assim como os salários dos brasileiros.

Entretanto o dragão da inflação voltaria a rugir – e forte! Em 1987 a inflação anual estava em 367,13%, em 1988 fechou em 891,67% e em seu último ano de governo atingiu o inacreditável percentual de 1.635,85% ao ano!!!

Mas, como veremos a seguir, nada nunca está tão ruim que não possa piorar…


(Início da Saga)

(Continua…)