Inteligência cultural e as traquitanas tecnológicas

Pra variar, uma ótima dica do Jarbas, que, sobre o texto a seguir, comentou: “Uso contínuo de meios de informação digitais pode provocar um afastamento do mundo que poderia enriquecer a aprendizagem. Há muita gente que viaja, mas continua presa a sua casa pelos cordões umbilicais dos celulares e outros gadgets eletrônicos. Esses e outros assuntos são objeto de um ótimo artigo cujo link indico a seguir.”

O link para o original está aqui, mas o texto (numa tradução bem livre) segue abaixo.

Como os smartphones podem diminuir sua ingeligência cultural

08 Jan 2013

Um número crescente de alunos de intercâmbio agora passam a maior parte de seu tempo livre no Facebook e Skype, comunicando-se com amigos e família. E aqueles que viajam à negócios frequentemente fazem a mesma coisa. As noites são gastas numa tentativa de recuperar o atraso, verificando e-mails e comunicando-se com a família, colegas de trabalho e amigos – em vez de procurar absorver a cultura local.

Sherry Turkle, autora do livro Alone Together (o qual recomendo!), observou o mesmo fenômeno em conferências profissionais. Os participantes da conferência estão atrelados às suas traquitanas digitais, mais preocupados em encontrar tempo e espaço na agenda para ficarem a sós com suas redes digitais. Pessoas em conferências costumam ficar penduradas em seu comunicador pessoal com outras enquanto esperam pelo início de uma apresentação ou por um táxi. Gastam esse intevalo com e-mails, teoricamente fazendo melhor uso desse suposto tempinho de ócio.

Eu amo poder ver e ouvir as vozes dos meus filhos no Skype, mesmo quando estou do outro lado do mundo. Mas eu tenho uma crescente preocupação de que os nossos avanços tecnológicos na realidade trabalham contra muito daquilo que pode ser considerado essencial para a inteligência cultural – ou seja, quando se poderia estar totalmente presente, focado e tornando-se mais consciente de sua identidade e cultura. A crescente discussão e pesquisa levantando questões sobre o impacto da tecnologia em nossas vidas tem profunda relevância para a forma como pensamos sobre a nossa eficácia intercultural.

A influência do Espaço Liminar

Viagens internacionais sempre foram uma poderosa forma de ganhar uma autoconsciência e novas perspectivas sobre a vida quando de nossa volta para casa. Mas se nós levarmos nossas casas com a gente, quanto estaremos perdendo?

Você provavelmente está familiarizado com a idéia de “espaço liminar” – o termo antropológico para quando atravessamos determinados períodos nebulosos em que ocorrem mudanças e percepção de novos pontos de vista. Mas a tecnologia está fazendo com que fique cada vez mais difícil de encontrar esse espaço liminar.

Viagens internacionais, encontros interculturais e, de alguma forma, até mesmo retiros e conferências costumam ser ambientes ideais para ocorrência desse espaço liminar. Mas se a nossa preocupação for a de ficar conectado com o dia a dia em casa, no trabalho, ou mesmo com a vida lá fora, será muito mais difícil perceber e experimentar esse chamado período nebuloso de aprendizado e transformação que essas oportunidades costumam oferecer.

Em junho minha filha de 15 anos de idade fará sua primeira viagem internacional sozinha. Eu sou grato por saber que ela raramente enviará mais do que uma eventual mensagem de texto ou mesmo chamada no Skype. No entanto pergunto-me como é que isso poderá limitar sua experiência em comparação à minha primeira estadia no exterior, quando, durante um período de seis semanas, tive apenas a possibilidade de contato com o lar através de uma ou duas chamadas num radioamador, bem como algumas cartas de familiares e amigos. Minha rede social inteira me foi arrancada! Foi difícil, mas me obrigou a conviver diretamente com os meus companheiros de viagem, nossos anfitriões, e a cultura local peruana.

Por mais doloroso que vá ser, minha esposa e eu queremos limitar nossa influência sobre a experiência de nossa filha na Tailândia. Queremos dar-lhe o espaço liminar que ela precisa para moldar sua identidade e desenvolver sua inteligência cultural.

Eliminando a multitarefa

Muitos de nós (inclusive eu!) achamos que estamos imunes aos estudos que desmerecem o valor da multitarefa. Mas as pesquisas apontam que quando desenvolvemos várias atividades simultâneas a qualidade de tudo o que fazemos é rebaixada. Nos sentimos bem quando entramos nesse modo multitarefa porque nosso cérebro nos recompensa com um certo grau de satisfação pela nossa capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Só que o que não percebemos é que a nossa real produtividade e eficácia diminuem.

Sherry Turkle conta que seus alunos do MIT cujos laptops estão abertos na classe não se saem tão bem quanto aqueles que cuidam de fazer anotações em papel. Ela está convencida de que esta é mais uma consequência das distrações adicionais que seduzem essa geração engajada na tecnologia (por exemplo: atualizações no Facebook, resultados de jogos, filmes no YouTube, etc).

Uma parte crucial de um comportamento que permita desenvolver a inteligência cultural é poder adentrar em um alto nível de auto-consciência. Isso inclui coisas como a percepção das perspectivas – “Como eu me sentiria se, neste momento, eu fosse essa pessoa? Como os outros me percebem? Como será que eles encaram essa situação?”. O problema de tentar atingir essa auto-consciência é que exige bastante trabalho cerebral – algo que fica reduzido quando fazemos mais de uma coisa ao mesmo tempo. De fato, alguns estudos como um que foi relatado no The Chicago Tribune mostram que nós realmente diminuímos nosso QI quando entramos nesse “modo multitarefa”.

Crie limites

Mas a tecnologia não é o inimigo. Abordagens frias de qualquer problema sempre costumam ser irreais. A maioria de nós não tem como parar totalmente com os contatos por e-mail quando viajamos nem podemos esperar que todos os alunos de intercâmbio renunciem ao Facebook por um semestre completo (embora se você já tentou isso e conseguiu, por favor compartilhe os resultados!).

Mas podemos recuperar o controle sobre a nossa tecnologia, e não apenas sermos seduzidos por suas facilidades (nem sempre presentes) e atrativos visuais. Eis, a seguir, algumas sugestões de maneiras simples para começar, tanto para quando você viajar quanto para quando estiver em casa.

1. Sem telefones nas refeições: Ao compartilhar uma refeição com os entes queridos, colegas, amigos ou até mesmo para fechar algum negócio, desligue seu telefone por uma hora. Isso faz maravilhas para permitir uma boa conversa e para conhecer as pessoas.

2. Desligue o modo “Push”: Aquele aviso sonoro do e-mail que chega enche o cérebro de dopamina. Quando ouvimos esse barulhinho, a maioria de nós não pode resistir à tentação de verificar o telefone para dar uma olhadinha na mensagem que chegou. Uma maneira simples de eliminar esse tipo de distração é colocar-se no comando de si mesmo quando você receber e-mail, em vez de o dispositivo estar no controle de sua atenção.

3. Agendar horários para checar o e-mail: Todos nós já ouvimos isso antes, mas vale a pena repetir. Apenas um ou dois períodos durante o dia focado para a comunicação por e-mail é mais que suficiente para a maioria de nós. É incrível quão rápido passa o tempo quando essa é a única coisa que eu estou fazendo por uma hora! Mas também é surpreendente a rapidez com que consumo quatro ou cinco horas do meu dia quando estou apenas aleatoriamente respondendo os e-mails que chegaram.

Além do mais, se você é conhecido como alguém que sempre responde quase que imediatamente seus e-mails, tudo dará errado quando você realmente quiser fazer uma pausa. Se você entrar de férias ou mesmo apenas programar uma auto-resposta, aproveite-se disso e não vá conferir os e-mails que chegarem!

4. Não verifique e-mails durante pausas: Quando você estiver viajando ou participando de uma conferência, se possível, não verifique seus e-mails durante as eventuais e breves pausas que surgirem. Muitas e muitas vezes eu me arrependi de verificar meu e-mail na hora do almoço, frustrado por não ter tempo suficiente para lidar com algumas das coisas teoricamente urgentes que chegavam. E ele sempre me deixa tentado a enviar uma resposta rápida da qual eu poderia me arrepender mais tarde.

5. Repensar o que é urgente: Mas o que acontece quando houverm questões verdadeiramente urgentes que têm de ser resolvidas? Certamente crises surgem. Mas a maioria das coisas que consideram uma crise, realmente não o são e podem ser adiadas por algumas horas ou mesmo dias.

6. Use o tempo de viagem para refletir e respirar: Quando em viagem (ou até mesmo durante o tempo que levar para chegar diariamente ao seu trabalho) resista à tentação de usar esse tempo de para ler e-mails, ou usar o Twitter ou ainda fuçar no Facebook. Observe o que está acontecendo ao seu redor. Reflita sobre os acontecimentos do dia. Respire profundamente. Isso pode fazer toda a diferença para uma viagem de trem de apenas 15 minutos ser calmante e estimulante ou simplesmente chata.

7. Limitar o “efeito pingue-pongue”: O problema em tentar recuperar o atraso com os e-mails é que isso leva a quase tantas respostas que acabarão enchendo sua caixa de entrada novamente. Pense sobre como fazer com que as discussões por e-mail limitem-se ao mínimo possível. Sugira um horário e lugar para encontrar-se com seu interlocutor. E se você precisar se comunicar com algum outro colega no corredor ou sala próxima, simplesmente caminhe e vá falar com ele.

Eu não imagino que esta tenha sido a primeira vez que você ouve a maioria destas idéias. O maior desafio é verdadeiramente implementar esses limites. Mas espero que você concorde comigo para ao menos tentar ganhar um pouco mais de controle sobre a tecnologia neste ano, o que, por sua vez, vai melhorar sua inteligência cultural, a qualidade do seu trabalho, e, o melhor de tudo, a sua qualidade de vida!

Eles voltaram

Márcio Alemão

Gostei de ouvir de quem entende, de quem comanda vários restaurantes, que o uísque está voltando a ser consumido. Eu, solitariamente, tenho feito campanha pró-malte há muitos anos. Adoro uísque. Considero-me muito mais um bebedor de uísque do que de vinho. Vinho, já disse várias vezes, é coisa muito séria. Exige atenção, conhecimento. Não que o uísque entre na vala do “vale-tudo”. Longe disso.

Não consigo imaginar Dean Martin, Sammy Davis Jr. e Frank Sinatra no bar em Vegas acompanhados por um merlot. Foto: Harry Langddon/ Getty Images

Mas havemos de concordar que não dá, pelo menos dentro de meu medíocre conhecimento de tipos e marcas de uísque, para comparar a variedade do vinho versus a do uísque. Safra, por exemplo, não é coisa que exija reparo no malte e no vinho, segundo os que entendem, faz uma diferença danada. O que ambos têm em comum: se for ruim não dá pra tomar e se for muito mega-blaster-ultra ­especial, raros paladares serão capazes de apreciar.

Os detratores do uísque alegam que ele arruína o paladar por conta de seu alto teor alcoólico. E é verdade. Se a ideia é seguir com uma janta de primeira, não mais que uma dose. E eu digo que essa regra do pré também vale para o vinho. Os de hoje apresentam teor alcoólico alto, claro que ainda não se compara ao do uísque, mas vamos lembrar que por aqui tomamos o malte bem diluído. Excesso todos, em resumo, antes de comer, não funcionam.

Uísque sempre formou um par histórico, cinematográfico, musical com o cigarro. Destilados, eu diria. Não consigo imaginar o Rat Pack, Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., ­ no balcão de um bar em Vegas pedindo um merlot, um chardonnay e, na sequência, Dino girando e girando o copo e emitindo seus pareceres: “Ervas, madeiras, frutas secas”. Tal e qual, cada um deles fazendo o mesmo, daria para crer?

No tema, quem se lembra da abertura da canção Who’s Got the Action?, interpretada por Dean Martin? Um suposto mestre de cerimônia, após um rufo de bateria, diz: “E agora, senhoras e senhoras, a estrela de nosso show, direto do bar, Dean Martin!” E no momento seguinte a câmera faz um chicote, vai até o bar e encontra Dino. Bebendo o quê? Outros tempos, claro. Tempos nos quais a indústria do vinho não dava cartas.

Quando o assunto envolvia a harmonização com a fumaça, os destilados sempre tiveram minha preferência. Exceção ao vinho do Porto, que casava de maneira espetacular com um bom charuto. No mais das vezes, uísque com cigarro formavam um par mortal, em todos os sentidos, é fato.

No presente momento eu diria que o vinho tomou a dianteira. Em casas habitadas por pessoas de fino trato era bem comum encontrar uma linda coleção de garrafas de uísque, que foi substituída por uma adega climatizada. Eu ainda me fascino com uma coleção de garrafas. Quem não? Uma boa luz viajando pelos muitos formatos, refletindo dourados líquidos…

E o que você me diz sobre os gerentes de banco? Entraram bem, eu diria. Ninguém mais envia para eles uma garrafa de um honesto malte, tipo um Red Label. Hoje ele vai levar pra casa um argentinozinho ordinário e nem vai poder falar muito a respeito. Manda a norma da boa educação que ele agradeça e faça um comentário tipo: “Opa, da Argentina!”

Também outro alimento, ­ com o perdão de leitores(as) nutricionistas, voltou a circular e me deixou feliz: ovinhos de amendoim, que em outros tempos eram conhecidos como “novidade”. O que me agrada mais nessa volta: sinto que as pessoas estão ficando mais relaxadas no melhor sentido da palavra. Potinhos de variados salgadinhos podem ser um começo divertido para uma divertida noite. Se o uísque for bom, o vinho for bom e a música boa, só ficam faltando as boas pessoas, as boas conversas. E isso, admito, tem sido mais raro.

Clique na imagem para ampliar!
( Notícia merecedora de nota no finado blog etílico Copoanheiros… )
Adauto de Andrade

Ave Caesar, morituri te salutant

A fachada da Boate Kiss, em Santa Maria, após o incêndio.

Impensável, intolerável, inominável.

A Tragédia de Santa Maria (assim mesmo, com “tê” maiúsculo) é daquelas situações que desafiam a lógica.

Aliás, demorei a escrever algo por aqui por simplesmente não ter palavras.

Mas a imprensa tinha.

Ainda que eu continue não as tendo.

Sendo assim, além do amigo Bicarato, que traduziu bem o meu pensar (pesar) neste texto aqui, trago as palavras do Duda Rangel, que deixou o humor de lado para passar a lição de casa para aqueles que ainda não aprenderam.

E duvido que venham a aprender.

Para um jornalista, cobrir uma tragédia é trabalhar no limite. O limite entre o interesse público e a simples exploração da desgraça.

Cobrir uma tragédia é monitorar os próprios passos, perceber até onde se pode avançar.

É apelar para o bom gosto em meio a gosto tão amargo.

Cobrir uma tragédia é prestar serviço. E auxílio, se for preciso.

É ficar bem próximo da dor do outro, da histeria, da anestesia. E saber respeitá-las. É lembrar que o Jornalismo pertence à tal área de Humanas, por mais que a Matemática, com seus balanços de mortos e feridos e índices de audiência, insista em se intrometer.

Cobrir uma tragédia é parar com a bobagem de achar que frieza é sinônimo de profissionalismo. Jornalista pode se emocionar, pode se solidarizar. Pode se sentir pequeno. Nós, jornalistas, não somos máquinas. Pertencemos também à área de Humanas.

Emenda à Inicial: Aí embaixo, nos comentários, o Bicarato deu o link direto para o texto que (agora) também está lá no Alfarrábio.

Embargos Auriculares: Um excelente texto pinçado lá do Trezentos, de autoria do Manoel J. de Souza Neto, é este aqui: “Incêndio em boate em Santa Maria (RS) não é fato isolado – Brasil precisa de um Código Nacional do Setor de Eventos e Entretenimento”.

A pílula e a gravidez

Numa bem-humorada conversa com algumas das meninas de lá onde trabalho, eis que surgiu o assunto acima. E este velho escriba digital que vos tecla, do alto de sua infindável cultura inútil, pôs-se a explicar que a pílula surgiu de pesquisas a partir da década de cinquenta, tendo chegado ao mercado no início da década de sessenta. Na origem de seus estudos teria por finalidade agir meramente como reguladora do ciclo menstrual, inclusive para auxiliar os casais na concepção. Mas um “efeito colateral” percebido logo no início foi o que acabou lhe garantindo o sucesso: era, na realidade, um contraceptivo!

Assim acabou funcionando como um verdadeiro divisor de águas, em se tratando de liberdade sexual. Isso porque, antes, toda e qualquer relação entre homem e mulher poderia resultar num pãozinho no forno. Ou, no mínimo, numa bela duma preocupação… Já com a pílula o sexo poderia ser visto simplesmente como “recreativo”, sendo a gravidez uma opção, já que a área industrial podia – ainda que temporariamente – ser transformada em área de lazer.

Bem, daí à revolução sexual, rebeldia, contestação de valores sociais tradicionais, movimento feminista, etc, foi só um pulo. Bem pequeno. Woodstock que o diga. De um modo geral – e com o passar do tempo – o advento da pílula pode ser visto até mesmo como um dos fatores que permitiu um maior ingresso de mulheres no mercado de trabalho. Prosseguir nos estudos e desenvolver uma carreira passou a ser uma realidade, uma vez que tornou-se possível o adiamento da maternidade e a mera submissão à vida doméstica.

Mas, voltando ao foco da conversa, por essas e outras é que a pílula anticoncepcional, na verdade, vai bem além da mera prevenção da gravidez, existindo uma série de benefícios que traz à mulher.

Confiram o porquê, neste ótimo artigo escrito pela médica e professora Angela Maggio da Fonseca:

Cólicas, irritabilidade, acne, seborreia, corpo inchado e aumento do volume de pelos no corpo são alguns dos incômodos que muitas mulheres passam por causa de alguma alteração no ciclo menstrual. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, estes sintomas atingem cerca de 70% das brasileiras.

Existe tratamento para ajudar a amenizar os sintomas: a pílula anticoncepcional. Para eliminar os mitos sobre o medicamento, a especialista explica detalhadamente todos os benefícios apresentados pelos contraceptivos.

1. Controle da tensão pré-menstrual (TPM)

Depressão, irritabilidade, fadiga, alteração do apetite, dores de cabeça, inchaço e distúrbio do sono estão na lista de queixas das mulheres que sofrem com a TPM. A pílula anticoncepcional é indicada nesses casos, pois a tensão pré-menstrual nada mais é do que o nível de hormônio alterado no corpo da mulher e a pílula controla a taxa hormonal do organismo. Além disso, algumas pílulas ajudam a diminuir a retenção de líquido, como aquelas à base de drospirenona.

2. Menstruação irregular

Muitas mulheres apresentam irregularidades no ciclo menstrual, fugindo do padrão normal de intervalos entre uma menstruação e outra. Em muitos casos a menstruação irregular ocorre por desequilíbrio hormonal. Desta maneira, a melhor “arma” para combater o problema é o uso do anticoncepcional, que ajuda a regularizar a taxa hormonal no corpo da mulher.

3. Síndrome do Ovário Policístico

A Síndrome do Ovário Policístico (SOP) é um dos distúrbios mais frequentes em mulheres em idade reprodutiva. Aproximadamente, entre 4% e 7% das brasileiras nesta faixa, que se estende do início da menstruação à menopausa, apresentam o problema, que é uma das maiores causas de infertilidade. Essa condição afeta a produção hormonal e provoca aumento dos hormônios masculinos, os androgênios, no organismo da mulher.

Estas alterações decorrem de duas causas distintas: ou porque os ovários respondem de maneira anormal aos estímulos dos hormônios do cérebro; ou porque os estímulos do cérebro são irregulares. Como consequência, a mulher deixa de ovular todos os meses e passa a apresentar diversas manifestações no corpo. A partir do diagnóstico positivo, o médico define junto com a paciente o tratamento que será seguido. Caso a intenção seja a melhora do ciclo menstrual e da pele, pode-se optar por tratamento de controle hormonal com uma pílula que contenha acetato de ciproterona. Hoje, é a terapia mais indicada para esta patologia.

4. Uso precoce do medicamento

A pílula anticoncepcional pode ser tomada, desde que o caso seja orientado e acompanhado por um médico. Seu uso não confere risco de infertilidade futura e não interrompe o crescimento. As doses de estrogênio (hormônio feminino) nas pílulas atuais são extremamente baixas e, por isso, não causam danos no desenvolvimento da mulher e nem para uma futura gravidez planejada.

5. Outras indicações

Devido ao controle hormonal a que os anticoncepcionais estão atrelados, quando a mulher apresenta algum sintoma indesejado relacionado com o período menstrual, o medicamento é recomendado.

6. A baixa dosagem

As pílulas de baixa dosagem têm as taxas hormonais mais baixas, porém o efeito de contracepção é o mesmo, assim como o de diminuição do fluxo menstrual.

7. Reduz o risco de doenças em geral

O uso da pílula anticoncepcional reduz os riscos de gravidez ectópica, acne, queda de cabelo, diminui o crescimento dos pelos e ameniza os sintomas da pré-menopausa. É fundamental que seu uso seja sempre orientado e acompanhado por um ginecologista, pois, como qualquer medicamento, a pílula anticoncepcional pode ter efeitos colaterais indesejáveis.

O banquete da tecnologia

( Matéria publicada no jornal O Vale, de 27/01/2013 )

Ticiana Schvarcz

Imagine um banquete repleto de pães, massas e das mais variadas bebidas. Se você comer tudo provavelmente passará mal, por isso, é preciso escolher o que de melhor tem ali antes de sair ingerindo tudo que aparece.

Foi essa analogia que o comunicólogo e professor de jornalismo da Universidade de Taubaté, professor mestre Robson Bastos, usou para explicar a forma com que a informação é difundida atualmente. Vivemos em uma sociedade com excesso de notícias, como no banquete. Se armazenarmos toda a nova informação que recebermos, nada será digerido. Mas nem sempre foi assim.

Os livros surgiram há milênios, mas na Idade Média eles já possuíam formato parecido com o que temos hoje. No entanto, a população não sabia e, mesmo que soubesse, era proibida de ler. Só homens do alto clero ou do topo da pirâmide hierárquica podiam.

Há registros de que monges morreram pelo simples fato de manusear livros. A explicação é a seguinte: para produzir a tinta vermelha e brilhante utilizada em algumas páginas, era adicionado mercúrio, um componente muito tóxico que, ao entrar em contato com o organismo, causava a morte.

Foi o alemão J. Gutenberg que causou a primeira revolução da informação. Ao criar a prensa em 1839, equipamento que permitia a reprodução em massa de material impresso, iniciou um processo lento de popularização da informação, oferecendo ferramentas para que fossem criados livros em grande quantidade e os primeiros jornais impressos.

Ainda assim, segundo Robson, o conhecimento não chegava a todos. “Existia carência de informação. Mesmo depois da criação de Gutenbert os livros eram raros e caros”.

Foi apenas no século 20 que o consumo e a produção de livros aumentou progressivamente. E quem viveu na década de 1980 vai se lembrar.

As pesquisas solicitadas na escola eram sinônimo de passar o dia na biblioteca revirando livros de história e Barsas, cheias de pó, que coçavam o nariz. Uma sensação que a nova geração não terá o prazer de conhecer.

Foi em 1990 que a segunda revolução começou a acontecer. O computador já havia se tornado o produto de desejo da população, as Barsas começaram a entrar em extinção porque já era possível comprar um CD-ROM onde todas as informações que ocupavam espaço na biblioteca poderiam ser facilmente encontradas. A internet começou a cair no gosto popular e os sites de busca surgiram. Se perguntar a alguém dessa década o que era o “Cadê?”, sem dúvida essa pessoa vai dizer: “era o Google da minha época”.

Mas o Google Search, site de pesquisa mais acessado do mundo, só seria fundado em 1998. Hoje, de A de “amor” a Z de “zebra”, é só digitar a palavra no www.google.com que o mundo perde as fronteiras e qualquer coisa – relevante ou não – que tenha sido escrita sobre o assunto é apresentada no computador.

“Enquanto antigamente faltava informação, hoje o problema é o contrário, temos um excesso dela. Houve uma perda da credibilidade. Nunca o homem teve tanta informação e esteve tão mal informado”, afirma Robson, que lembra que nem tudo que é postado na internet é verdadeiro. Um exemplo são as informações difundidas nas redes sociais. A maioria das pessoas não verifica a veracidade do conteúdo ao compartilhar.

Portanto, de acordo com o professor, a situação atingiu um novo patamar.

“A nova geração já é chamada de ‘nativos digitais’, pessoas que já nasceram online. Nós, que tivemos que aprender e nos adaptar a essa realidade, somos chamados de ‘imigrantes digitais’. Ou seja, nós nos esforçamos, mas nunca saberemos tanto quanto um nativo, somos estrangeiros em um outro país.”

Sentir saudades de folhear um livro e de buscar no índice de uma enciclopédia o que pretende estudar é permitido, mas voltar no tempo não é uma opção. Para o comunicólogo, o futuro exigirá um acordo entre as gerações em que caberá aos nativos ensinar aos imigrantes a lidar com as novas tecnologias e aos imigrantes ensinar aos nativos a ter critérios para qualificar a informação.

Somente dessa forma será possível evitar a indigestão que esse banquete tecnológico pode causar.

Perdidos pelo caminho

A última semana foi um tanto corrida, não parei em casa um dia sequer! Estava na companhia dos meus queridos avós resolvendo uns assuntos e num desses dias fomos a uma clínica. Lá, diante de tantas pessoas, comecei a pensar sobre as estradas da vida (sim, questionamentos filosóficos em uma sala de espera – a pessoa aqui não é muito normal). Nossas escolhas e “não escolhas”.

– Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
– Isso depende muito de para onde queres ir – respondeu o gato.
– Preocupa-me pouco aonde ir – disse Alice.
– Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas – replicou o gato.

Esse é um dos meus trechos favoritos da obra de Carroll. Alice estava perdida e tudo o que queria era sair daquele lugar estranho. Ela apenas queria ir embora dali, não importa para onde fosse – qualquer coisa era melhor do que aquele lugar. Quantas vezes não nos sentimos como Alice? Perdidos pelo caminho…

A vida corre, a vida segue. Não importa se estamos atarefados entre as pilhas de papéis na empresa ou se estamos de pernas para o ar na praia.

Algumas coisas estão tão profundamente marcadas em nossa alma, que tentar apagá-las seria o mesmo que tentar arrancar um pedaço de nós. O tempo cura tudo – é o que dizem – e talvez cure mesmo. Mas acredito que “cura” não seria o termo adequado. Quando o nosso coração está partido é através do tempo que encontraremos uma solução. Não esqueceremos “aquele momento”, afinal, ele faz parte do que somos! Maturidade não vem necessariamente a cada aniversário; ela vem a cada experiência – seja boa ou ruim.

Conforme o tempo atravessa nossa face, as experiências vão se tornando cada vez mais desafiadoras, e isso nos torna mais “nós” – mais fortes, juntamente com a consciência da fragilidade. Aprendemos a perseguir os nossos sonhos, mesmo que todos à volta nos digam que não vale a pena. Aprendemos que às vezes, perder significa ganhar; e que o amanhã reserva um presente maravilhoso para aqueles que acreditam. Aprendemos a amar, a perdoar, a arriscar, a nos doar. Aprendemos a nos tornar mais humanos, e é exatamente aí que habita o segredo da grandeza – na simplicidade do ser.

Voltando para a solução, certamente não é esquecer. Não gosto muito da palavra que vou usar, mas creio que a solução seria aceitar. Isso mesmo, “a-cei-tar”. Pegar toda essa dor que estamos sentindo e vivê-la de maneira adequada – chorar, gritar, relembrar e então guardá-la numa caixinha. Com o tempo ela irá diminuir e acredite, é possível sobreviver! Depois de toda grande tempestade, por mais terrível que pareça, o sol – sempre o sol – volta a brilhar no céu. Ele vai nos iluminar, nos aquecer e embelezar o nosso dia. E quando no futuro os fios alvos fizerem morada entre nossos cabelos iremos relembrar de tudo com um sorriso nos lábios.

A foto que escolhi para essa crônica traz a seguinte mensagem: “Not all those who wander are lost” (Nem todos que andam por aí estão perdidos). Por mais que as adversidades façam com que nos sintamos perdidos, se escolhermos continuar a caminhar, mesmo que não saibamos exatamente para onde, estaremos no caminho certo. Se você conhece a história de Alice, sabe muito bem que isso é verdade.

Sté Spengler