Panfletagem espiritual

E aí? Alguém por aí ainda lembra do nosso velho amigo, Doutor Alegado? Pois é. Ele continua aprontando das suas…

Pois acontece que nosso amigo, usual e tradicional pára-raios de confusão, costuma crer piamente em grandes pérolas do saber universal, de preferência extraídas de algum dos livros que façam parte do ranking dos dez mais vendidos. É uma ótima maneira de tentar esbanjar cultura! E a tirada da vez veio de ninguém menos que Carlos Ruiz Zafón, que lhe ensinou: “Toda oportunidade de negócio tem seu ponto de partida na incapacidade de uma outra pessoa para resolver um problema simples e inevitável.”

E assim, com um propósito em mente e um objetivo a seguir, eis que nos últimos tempos ele resolveu que iria trabalhar como consultor jurídico, vejam só!

De quê?

Direito eleitoral, oras!

Mas é lógico que, com ele, o inusitado é que impera…

E assim se deu a primeira ligação do dia:

– Oi, bom dia!

– Bom dia! Em que lhe posso ser útil?

– Sabe, doutor, aqui é do cemitério municipal…

– DE ONDE?

– Do cemitério!

– Ah, tá… Pensei ter escutado isso mesmo… Bem, que posso fazer pelo senhor?

– Bem, é o seguinte doutor. Sou responsável aqui pelo cemitério. Normalmente é bem tranquilo por aqui, sabe? Às vezes até demais. Mesmo assim a gente sabe que tem que cuidar de tudo direitinho, né? Tem que tratar bem de tudo por aqui, de todas as coisas, sinal de respeito, sabe?

Ãn-ram…

– Então. Acontece que com esse negócio de eleição que começou agora, as pessoas meio que abusam. Fazem de tudo, mesmo. E a gente meio que fica preocupado, sabe doutor? A gente não tem lá muito estudo e nem entendo direito desse negócio de leis, mas tem coisa que tá na cara que tá errado! E daí não tem como ficar quieto, né? Se a pessoa abusa e falta para com o respeito com os outros, a gente tem que fazer alguma coisa! Só que fico preocupado de saber se tô fazendo direito, se não tô cometendo nenhuma injustiça, senão vai que também acaba sobrando pra mim, tá entendendo, doutor?

– Na verdade não. Qual é, de fato, o problema?

– É que tem um sujeito panfletando aqui dentro do cemitério.

– CUMÉQUIÉ???

– É, então. Esse rapaz, sabe, candidato a vereador – gente de bem até, conheço o pai dele, nunca fez mal pra ninguém – então, esse rapaz tá dentro do cemitério distribuindo santinho dele pra eleição. Isso num pode, né doutor?

Respira fundo. Olha pro teto. De olhos fechados, meneia a cabeça com um esboço de sorriso. E, como de praxe, chega a inequívoca conclusão de que cada vez menos o mundo precisa de ficção, pois a realidade já dá munição mais que suficiente…

– Olha, senhor, é o seguinte: não pode. Certo? O cemitério é um lugar público e de respeito. Se esse rapaz quiser distribuir panfletos do lado de fora, na calçada, na rua, tudo bem. Mas não do lado de dentro. Até porque – convenhamos – deverá ser bem difícil de conseguir voto de viva alma por aí, não é mesmo? Só tome cuidado para que, a exemplo do que fazem com carros, ele não invente de adesivar algumas lápides também. No mais, é isto. Tenha um bom dia.


E vocês, caros leitores?

Sim, vocês mesmos: uns quatro ou cinco, sei que estão por aí…

Que acham da atitude do pobre candidato?

Visualisionariedades

Já nem lembro mais o que estava procurando…

Provavelmente alguma imagem interessante para ilustrar algum texto desinteressante.

E acabei por encontrar uma sequência da chamada Digital Art que me deixou, literalmente, boquiaberto!

Fui atrás de quem seria o autor daquelas perfeições, e eis que a encontrei: Elena Dudina.

Numa curtíssima biografia, basta dizer que nasceu na Rússia e, graças ao pai que era piloto militar, mudou-se um bocado (dentre outros locais, Estônia, Ucrânia e até mesmo Sibéria). Acabou por parar na Espanha, onde casou-se. Desde sempre gostou de pintar, começou até mesmo a fazer esculturas e então, lá por 2008, descobriu o Photoshop. E desde essa descoberta não mais o abandonou, trabalhando exclusivamente nessa área. Em suas próprias palavras, “photomanipulation is my passion but my work too”.

E nesse nosso cantinho virtual, já que as palavras têm teimado em me fugir e as notícias andam tão desinteressantemente amenas, reflexo, talvez, duma nebulosa apatia que perturbadoramente obscurece a alma, resolvi deixar registradas essas imagens fantásticas, uma por dia, dia sim, dia talvez, começando por essa também fantástica artista, mas não a ela se limitando.

Deleitem-se.

Clique na imagem para ampliar!
“Mariposas”

Música do dia

Há não muito tempo eu compartilhei por aqui que “Prefiro a música – pois ela ouve o meu silêncio e ainda o traduz, sem que eu precise me explicar”.

E hoje, ouvindo as músicas d’Essa Menina (um CD lançado por Bruna Caram em 2006), simplesmente me encantei com uma pequena grande verdade contida no refrão da música Sensação. Na minha opinião é bem isso que representa o que sentimos quando nos envolvemos com a música de alguém – não importa o tipo, estilo ou o que quer que seja: é quando uma música torna-se capaz de nos lançar num devaneio que nos enleva e nos transborda, nos envolvendo numa aura de cumplicidade com seu criador, que tão bem parece compreender as necessidades dos ilustres desconhecidos que se deleitam com seu trabalho…

Bem, eis aqui o simples refrão que me comoveu:

E como ator eu canto
Como cantor eu represento
A vida que você quer ter
E não devia mais conter

E eis aqui a música tão bem cantada em tão maviosa suave voz:

Bruna Caram – Sensação