Amor é amor

Oxímoro…

A pergunta que desde já não quer calar é: “por que começar um texto sobre amor, palavra tão sonoramente fértil, com outra de uma esterilidade auditiva extrema, como oxímoro?”

A pergunta em si já encerra a resposta…

Oxímoro é uma figura de retórica em que se combinam numa mesma expressão elementos linguísticos semanticamente opostos. Como exemplos, conforme se dê a construção de um texto, poderíamos ter as expressões “estridente silêncio”, “futuro arcaico”, “falsamente verdadeiro”, “simpatia assustadora”, “sofisticada simplicidade” e tantas outras mais.

A palavra oxímoro é formada de dois termos gregos” oxýs, que significa “agudo”, “penetrante”, “inteligente”, “que compreende rapidamente”, e morós, que quer dizer “tolo”, “estúpido”, “sem inteligência”.

Como se vê – e essa eu aprendi hoje – o vocábulo é formado de dois elementos contraditórios, o que significa que a própria palavra “oxímoro” é um oxímoro…

E cadê o amor?

Está neste soneto de Camões a seguir, um excelente exemplo poético totalmente carregado de oxímoros, que começa e se encerra em si mesmo:


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
um nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É um querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Familiares os versos?

Sim, vocês já ouviram isso antes (ao menos aqueles tão “clássicos” quanto este que vos tecla…) em Monte Castelo, música do Legião Urbana lá do final dos anos oitenta.

Então basta aumentar o som e clicar no play aí embaixo!

Primeiro de Abril – Dia da Mentira

Pois bem, criançada, senta que lá vem história!

Ainda que a verdadeira origem do “Dia da Mentira” esteja envolta em mistério, a teoria mais aceita nos dias de hoje refere-se a essa pequena história que vou lhes contar…

Assim, para começar a entender o que é e o porquê dessa data é necessário primeiro compreender que o calendário tal qual nós o conhecemos não foi sempre assim. Com um pouco mais de propriedade esta crônica aqui pode explicar com mais detalhes como se deu toda a transformação até os dias de hoje. Mas para este nosso conto basta saber que o calendário anterior ao atual foi o Calendário Juliano, criado no ano 45 a.C. (para os hereges que não se lembrarem: “antes de Cristo”…) e por ninguém menos que o próprio general e estadista romano Caio Júlio César – sim, aquele mesmo.

Nesse calendário (que, de tão bem feito, durou aproximadamente 1.600 anos) havia sido estabelecido que o início do ano coincidia com o Equinócio de Primavera, entre 20 e 21 de março. Assim, numa tradicionalíssima Europa medieval, onde nem mesmo o Calendário Juliano era seguido por todos, as aldeias e paróquias celebravam o Ano Novo na Festa da Anunciação, em 25 de março, com festas que incluíam trocas de presentes e animados bailes noite adentro, que duravam uma semana, terminando com a comemoração do Réveillon em 1º de abril. Ou seja, era nessa data que se dava a “virada do ano”, quando as pessoas festejavam o novo período que se iniciava.

Entretanto não era de “bom tom” à Igreja (sempre ela) que o povo continuasse vinculando alguma data comemorativa a festas pagãs. Assim, em 1582, o papa Gregório XIII instituiu através de um decreto papal um novo calendário para todo o mundo cristão – o chamado Calendário Gregoriano – no qual o Ano Novo passou a cair em 1º de janeiro. É lógico que uma mudança dessa magnitude não foi aceita de pronto por todas as nações da época. Na França, por exemplo, somente foi adotada no reinado de Carlos IX após uns dois anos, lá por 1584.

Acontece que os franceses simplesmente resistiram à mudança. Ou se confundiram. Ou ignoraram. Ou esqueceram. Ou sei lá o quê. Mas o que importa é que, à parte da obediência ao decreto papal, a população manteve a comemoração na antiga data – o que, através dos tempos, logicamente começou a causar confusão. Afinal acabavam comemorando o ano novo duas vezes – na data oficial, em primeiro de janeiro, e na data costumeira, em primeiro de abril.

Sendo um “falso” ano novo não demorou muito para que os mais gozadores começassem a levar aquilo na brincadeira, ridicularizando os tolos conservadores adeptos à comemoração na data antiga, dando-lhes também “falsos” presentes. Apelidados de “tolos de abril”, recebiam presentes estranhos, convites para festas inexistentes, para casamentos falsos e até mesmo afixavam cartazes com supostos éditos reais de conteúdo jocoso… E, simples assim, surgiu o costume de passar trotes e pregar peças nessa data. Com o passar do tempo essa galhofa espalhou-se por toda a França, de onde, após cerca de dois séculos, migrou também para a Inglaterra e dali para o resto do mundo.

Fica fácil perceber que de “Dia dos Tolos” para “Dia da Mentira” o passo foi bem pequeno…

L.I.V.R.O.

MillôrMillôr Fernandes
 
 
Na deixa da virada do milênio, anuncia-se um revolucionário conceito de tecnologia de informação, chamado de Local de Informações Variadas, Reutilizáveis e Ordenadas – L.I.V.R.O.

L.I.V.R.O. representa um avanço fantástico na tecnologia. Não tem fios, circuitos elétricos, pilhas. Não necessita ser conectado a nada nem ligado. É tão fácil de usar que até uma criança pode operá-lo. Basta abri-lo!

Cada L.I.V.R.O. é formado por uma sequência de páginas numeradas, feitas de papel reciclável e capazes de conter milhares de informações. As páginas são unidas por um sistema chamado lombada, que as mantêm automaticamente em sua sequência correta.

Através do uso intensivo do recurso TPA – Tecnologia do Papel Opaco – permite-se que os fabricantes usem as duas faces da folha de papel. Isso possibilita duplicar a quantidade de dados inseridos e reduzir os seus custos pela metade!

Especialistas dividem-se quanto aos projetos de expansão da inserção de dados em cada unidade. É que, para se fazer L.I.V.R.O.s com mais informações, basta se usar mais páginas. Isso, porém, os torna mais grossos e mais difíceis de serem transportados, atraindo críticas dos adeptos da portabilidade do sistema.

Cada página do L.I.V.R.O. deve ser escaneada opticamente, e as informações transferidas diretamente para a CPU do usuário, em seu cérebro. Lembramos que quanto maior e mais complexa a informação a ser transmitida, maior deverá ser a capacidade de processamento do usuário.

Outra vantagem do sistema é que, quando em uso, um simples movimento de dedo permite o acesso instantâneo à próxima página. O L.I.V.R.O. pode ser rapidamente retomado a qualquer momento, bastando abri-lo. Ele nunca apresenta “ERRO GERAL DE PROTEÇÃO”, nem precisa ser reinicializado, embora se torne inutilizável caso caia no mar, por exemplo.

O comando “browse” permite fazer o acesso a qualquer página instantaneamente e avançar ou retroceder com muita facilidade. A maioria dos modelos à venda já vem com o equipamento “índice” instalado, o qual indica a localização exata de grupos de dados selecionados.

Um acessório opcional, o marca-páginas, permite que você faça um acesso ao L.I.V.R.O. exatamente no local em que o deixou na última utilização mesmo que ele esteja fechado. A compatibilidade dos marcadores de página é total, permitindo que funcionem em qualquer modelo ou marca de L.I.V.R.O. sem necessidade de configuração.

Além disso, qualquer L.I.V.R.O. suporta o uso simultâneo de vários marcadores de página, caso seu usuário deseje manter selecionados vários trechos ao mesmo tempo. A capacidade máxima para uso de marcadores coincide com o número de páginas.

Pode-se ainda personalizar o conteúdo do L.I.V.R.O. através de anotações em suas margens. Para isso, deve-se utilizar um periférico de Linguagem Apagável Portátil de Intercomunicação Simplificada – L.A.P.I.S. Portátil, durável e barato, o L.I.V.R.O. vem sendo apontado como o instrumento de entretenimento e cultura do futuro. Milhares de programadores desse sistema já disponibilizaram vários títulos e upgrades utilizando a plataforma L.I.V.R.O.

Todo mundo tem um quê de jornalista (ou é o jornalista que tem um quê de todo mundo?)

Duda Rangel

O médico trabalha de madrugada, sábado, domingo, feriado. Plantão que não acaba mais.

O publicitário cria uma imagem de glamour (falsa, é claro) de sua profissão.

A puta tá sempre fodida e dizendo “um dia ainda largo essa vida”.

O caminhoneiro enche a cara de café pra ficar acordado.

A ex-BBB adora um convite para uma boca-livre.

O cozinheiro pode trabalhar sem diploma.

O executivo bem-sucedido, peraí, esse não tem nada de jornalista. Esquece.

A operadora de telemarketing pode estar pedindo um minutinho de atenção.

O autor de novela da Globo tem um ego gigante.

O motoboy vive na correria.

O hacker invade a privacidade dos outros.

O advogado tem um lugar garantido no inferno.

O ornitólogo, ornitólogo? Que porra mesmo faz um ornitólogo?

O lixeiro tá sempre mexendo na coisa podre, fedida.

A atriz vive ouvindo “minha filha, arruma uma profissão decente”.

A puta, ah, a puta, reclama, mas não larga essa vida.