Psicótico Maníaco Compulsivo

Oi.

Bom dia.

Meu nome é Adauto de Andrade, tenho 42 anos e admito.

Sou um psicótico maníaco compulsivo.

Tenho a incontrolável mania de ler.

E, também, a irrefreável compulsão por escrever.

Pronto.

Falei.

É que tenho dentro de mim essa gana por escrever que começa não sei como, vinda não sei de onde e que me leva a querer compartilhar alguma idéia – quer seja própria ou não – algum estilo, alguma frase, figura, imagem, foto,vídeo, seja lá o que for. Normalmente começa pequeno. Uma fagulha, apenas. Daí aquela pequenina centelha vai tomando corpo. Vai crescendo. Me abordando nos lugares mais improváveis. Às vezes me obrigando a pequenas anotações para que não esqueça seu semblante. Vai ficando forte. Maior do que eu. E, quando menos espero, essa gigantesca criatura verde me aborda, me pega pelo pescoço, me arrasta até um teclado e me obriga a um parto literário nem sempre fácil.

E eu sempre entrego essas criações para o mundo.

Compartilho-as e dou adeus.

Às vezes são lindas e perfeitas. Vejo-as com orgulho. Nunca as esqueço verdadeiramente, sempre citando-as ou tentando compelir outras pessoas a lê-las, tal qual pai satisfeito que saca da carteira uma foto de suas crianças para mostrar o quão feliz é por ter sido autor (ou, no caso de filhos, meramente co-autor) de algo que realmente é bom.

Às vezes não. São mais próximas de aberrações. Gostaria até de esquecê-las, trancá-las em algum calabouço, jogar a chave fora e seguir adiante, cercando-me somente daquilo que gerei de belo e encantador aos olhos. Mas não posso negar-lhes a paternidade. São aquelas criações, aqueles textos, que, ainda que bem escritos – pois, no fundo, no fundo, toda criação é linda aos olhos de seu criador (óbvio à mente são as corujas) – contêm alguma essência da qual não me orgulho. Pior, da qual até me envergonho. Apesar da sacada original, do trocadilho surpreendente, de fazer rir, de fazer chorar, de fazer pensar, gostaria de não tê-lo criado. Mas o criei. Faz parte de mim. De minha essência. E deve ir ao mundo, assim como o restante.

Daí a irrefreável compulsão por escrever. Não sei se todo aquele que se propõe a escrever algo é assim. Invariavelmente busco e encontro escritores de todos os tipos: que escrevem pouco, que escrevem muito, que são objetivos, que são vagos, que têm narrativa simples, que são prolixos, que encantam, que desencantam e por aí vai. E chego à inafastável conclusão que o pouco que já fiz às vezes é também tão bom (ou tão ruim) quanto aquilo que já li. E com isso ouso concluir também que posso me considerar um escritor. Aliás, cá entre nós, particularmente, prefiro o simpatícissimo termo escrevinhador

E nessa invariável busca por escritores de todos os tipos é que vem minha incontrolável mania de ler. Leio de tudo. Se estou numa viagem longa de ônibus, leio folhetos, cartazes, placas, o que tiver à mão. Ou à vista. Até bula de remédio, se tiver alguma nos bolsos. Se bem que a visão deste ancião que vos tecla já não tem sido lá a mesma coisa. As letrinhas já pequenas têm ficado cada vez menores e fugidias. Sim, preciso realmente comparecer a um oftalmologista.

Mas divago.

Sobre o que falávamos?

Ah, sim. Mania de ler.

Acho que é impossível não concluir que todo aquele que se aventura na psicótica arte da escrita tem em algum canto uma considerável biblioteca. E, por considerável, não me refiro a quantidade. Mas a uma busca de qualidade. De variações. De tipos. De idéias, estilos, modos de ver peculiares. Na minha opinião todo escritor é, sobretudo, um colecionador. Você vai sempre encontrar livros espalhados pela casa inteira dessas figuras. A maioria já lidos, alguns nunca lidos e uma considerável parte por ler – são do rol daqueles que já começou e (ainda) não terminou. E isso ocorre ainda que a tal figura não tenha plena consciência de que é um escritor. Ainda que não tenha escrito uma linha sequer. Ou, pior, ainda que tenha escrito e guardado suas criações somente para si.

Sei disso porque muito fiz isso.

E muito se perdeu.

Em mudanças de uma casa para outra, em passagens de uma condição para outra, em limpezas e faxinas em geral. Do corpo e da alma. Em algum indeterminado momento deparei-me com aquelas criações e disse pra mim mesmo: “mim mesmo, por que raios você ainda guarda isso?”. E, naquele instante, pareceu-me algo fugaz e sem importância. E descartei. Pra sempre. Gostaria de ter compartilhado essas criações à época, pois assim poderia hoje vê-las com orgulho. Ainda que aberrações. Mas, sobretudo, melhor se lindas e perfeitas.

Isso porque minha memória nunca foi lá grande coisa. Usualmente tenho o quadro geral em mente, mas minhas lembranças beiram um verdadeiro impressionismo mental. Perco os detalhes. E talvez daí venha toda essa parte da psicose no que diz respeito a ler, guardar e colecionar textos – próprios e alheios. Não quero que os detalhes se percam. Pois sei que vão se perder. Então anoto, arquivo e deixo em algum canto para que algum dia eu os resgate e traga-os ao mundo. São aquelas centelhas de idéias que surgiram e não conseguiram se impor. Então, pai caridoso que sou, deixo-os numa incubadora para que, talvez algum dia, ganhem forças suficientes para prosseguir. Ou não.

E, escrevinhador que sou, neste afã de compartilhar idéias, essa foi a primeira deste ano. Abordou-me logo pela manhã, assim que abri os olhos. Virei-me para um lado tentando continuar algum sonho bom que estava tendo, mas não foi possível. Puxou-me pelo tornozelo, gigantesca que surgiu, levantou-me acima de sua cabeça e, comigo ao contrário, olhou-me bem dentro dos olhos. Percebi que não teria como escapar. Aqui sentei-me e coloquei-me a escrever. Como na maior parte das vezes sendo conduzido, sem saber como terminaria esse texto. Essa criação. Que ficou aqui presente enquanto eu furiosamente digitava. E, agora que olho para o lado percebo-a já se dissolvendo, satisfeita e com um sorriso no canto dos lábios. De partida eis que parida.

E revendo tudo desde o início (com uma pitada de imagem no cabeçalho e, surgindo agora, mais um complemento para o fim – somente para ilustrar) fico feliz.

Me parece bom. Nasceu facilmente, fluiu naturalmente, sem nenhum esforço, de uma só toada.

Gostei.

E assim nasceu mais esta minha pequenina criança literária.

E me vem à mente J. K. Rowling: “a cara do pai e os olhos da mãe”

pirataria

[Papo Cabeça] O que Neil Gaiman pensa sobre a pirataria?

do E-books Grátis de PDL

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O vídeo abaixo não é novo. Ele é parte de uma entrevista dada por Neil Gaiman na Flip de 2008, mas assim como eu não o conhecia, acredito que muita gente também estará vendo pela primeira vez.

Ao ser perguntado sobre sua opinião quanto a seus livros estarem disponíveis de graça na internet, Gaiman disse que isso não o incomoda. Pelo contrário, ele teria medo se as pessoas não pudessem lê-los de forma alguma. “O inimigo não é a idéia de que as pessoas estão lendo livros de graça. Ou lendo na internet de graça. Da minha perspectiva o inimigo é as pessoas não lerem.”

Confesso que ao assistir fiquei surpreso e contente por um escritor de tamanha envergadura apresentar uma opinião tão coerente e sensata. Então o autor do Sandman seria um socialista despreendido? Claro que não. Segundo ele, ninguém conhece um novo autor indo a uma livraria e comprando um livro desconhecido. As pessoas conhecem seus autores primeiro lendo de graça, por indicação de um amigo, pegando na biblioteca, etc. Depois, elas certamente desejarão adquirir o livro impresso.

Certo barões da indústria acreditam que cada download é um exemplar que deixa de ser vendido. Quanta miopia.  Estão há décadas no mercado e ainda não nos conhecem. Não sabem que para nós um livro é mais que um amontoado de letras que pode ser digitalizado e lido sem pagar nada. Não sabem que nossos livros têm valor sentimental e simbólico. Que cada exemplar que conseguimos comprar é como se materializassemos um pedacinho de nós mesmos para colocar na estante. Será que alguém convida os amigos para, orgulhosamente, exibir seus últimos livros baixados da internet? Ou sonha com o momento de ler sua coleção de livros piratas para seus filhos? Ou, ainda, presenteia uma pessoa querida com um livro em PDF e com uma dedicatória escrita no corpo de texto do e-mail?

Assim como Neil Gaiman, penso que se suas condições econômicas permitirem, as pessoas comprarão os livros que amam. E se elas não gostarem, não vão comprar. Afinal, porque não podemos cuspir parte do que sempre nos empurraram goela abaixo?

Acredito que os livros da internet são capazes de estimular a venda de livros impressos, formar novos leitores  e despertar o prazer pela leitura, que é como o prazer do sexo: o virtual até pode quebrar um galho, mas nada substitui o toque, o cheiro, o estar perto. E nada substitui a sensação de possuir.

Texto Por Marcus Vinícius em Cultura Digital

Horoscopiando

E eis que estava lá a Dona Patroa consultando o horóscopo de 2012 em sua edição de janeiro da revista Bons Fluidos…

Quanta bobagem!

Fico a me perguntar como é que tem gente que acredita nesse tipo de coisa! Até porque usualmente o horóscopo de um acaba servindo pra qualquer outro, pois basta que escolham as palavras certas e teremos uma leitura plug and play, não importa em qual parte do zodíaco você esteja alojado.

Mas agora, cá entre nós – e, por favor, não espalhem! – aproveitei pra dar uma olhadinha na parte dos taurinos e vejam só o que me aguarda pra esse ano de 2012:

O exercício do desapego será algo a ser trabalhado por você em 2012. Sua paciência e tenacidade serão de grande valia quando faltar clareza de propósito e as dúvidas interferirem no seu desejo de seguir em frente, rumo aos objetivos firmemente traçados. Com serenidade, poderá buscar a estabilidade, mesmo em meio ao que estiver sendo transformado. Cercar-se daquilo que lhe traz segurança emocional será muito bem-vindo para que os demais processos possam caminhar de maneira produtiva. Aprender a amar sem posse e a capacidade de se adaptar às novas circunstâncias serão aprendizados fundamentais, conquistados com muito esforço e perseverança, com os quais nutrirá o que é de verdadeiro valor para você. Isso precisará acontecer de maneira livre, e não subordinada à insegurança e à necessidade de acumular. Pouco importa que sejam relações, bens ou ambos.

A área profissional tende a exigir muito mais de você. É um ano de bastante trabalho e estabelecer prioridades organizará e tornará mais fluídas suas ações e resultados futuros. Sim, não adianta nada apressarem você nem você se apressar, por isso, a administração do seu tempo é muito bem-vinda! Afetivamente, a compreensão do seu passado será de grande ajuda no desenvolvimento e na estabilidade dos seus sentimentos atuais. Persevere nessa reflexão e prepare-se para a colheita.