“Fiat Lux”

Já contei este causo antes aqui.

Mas não custa relembrar…

Quando eu era adolescente (tá, mais criança que adolescente) me deparei com um texto que já tinha um “cheiro” de antigo, de autor desconhecido, mas que me cativou na primeira leitura. Eu o copiei num caderno e reiteradamente através dos anos o reescrevi e guardei, pois prometi para mim mesmo que quando tivesse um filho faria um quadro com esse texto e o colocaria na parede. Levou mais de quinze anos desde essa “descoberta” até a vinda de meu primeiro rebento – mas cumpri minha promessa! Fiz o quadro nas primeiras semanas de vida de meu filhote mais velho – e ele perdura na parede até hoje. O texto é o seguinte:

O que é um menino?

Os meninos se apresentam em tamanho, peso e cores sortidas. Encontram-se por toda a parte, em cima, embaixo, dentro, fora, trepados, pendurados, caindo, correndo, saltando. As mães os adoram, as meninas os detestam, as irmãs e os irmãos mais velhos os toleram, os adultos os ignoram e o Céu os protege. Um menino é a verdade de cara suja, a sabedoria de cabelo esgadelhado, a esperança de calças caindo. Tem o apetite do cavalo, a digestão do avestruz, a energia da bomba atômica, a curiosidade do mico, os pulmões de um ditador, a imaginação de Júlio Verne, a timidez da violeta, a audácia da mola, o entusiasmo do buscapé e tem cinco polidáctilos em cada mão, quando pratica suas reinações. Adora os doces, os canivetes, as serras, o Natal e a Páscoa; admira os reis e os livros de figuras coloridas; gosta do guri do vizinho, do ar livre, da água, dos animais grandes, do papai, dos automóveis e dos trens, dos domingos, das bombas e traques. Abomina as visitas, o catecismo, a escola, os livros sem figuras, as lições de música, as gravatas, os casacos, os barbeiros, as meninas, os adultos e a hora de dormir.

Levanta cedo e está sempre atrasado à hora das refeições. Nos seus bolsos há sempre um canivete enferrujado, uma fruta verde mordida, um pedaço de barbante, dois botões e algumas bolinhas de gude, um estilingue, um pedaço de substância desconhecida e um objeto raro, que lhe é precioso por 24 horas. É uma criatura mágica. Você pode fechar-lhe a porta do seu quarto de ferramentas mas não a do seu coração… Pode expulsá-lo do seu escritório mas não do seu pensamento. Toda a sua importância e a sua autoridade se desmoronam diante dele, que é o seu carcereiro, seu chefe, seu amo… Ele, um despótico e ruidoso mandãozinho!… Mas quando você volta para casa, à noite, de esperanças e ambições despedaçadas, ele pode compô-las num instante com as suas palavrinhas mágicas: “OH! – PAPAI!”.

Solstício de Inverno

 
Acima temos o desenho Firebird Suite (Fantasia 2000), baseado num conto russo em que o Espírito da Primavera fica frente a frente com o Pássaro de Fogo – retratando musicalmente e visualmente os temas vida, morte e ressurreição.

Para mim esse desenho (e a música – ah, a música…) representa magistralmente a figura dos solstícios…

Explico:

Na astronomia, solstício (do latim sol + sistere, ou seja, “que não se mexe”) é o momento em que o Sol, durante seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do equador. Os solstícios ocorrem duas vezes por ano: em dezembro e em junho, sendo que o dia e hora exatos variam de um ano para outro. Aqui no Hemisfério Sul, quando ocorre no verão (dezembro) significa que a duração do dia é a mais longa do ano; já quando ocorre no inverno (junho), significa que a duração da noite é a mais longa do ano.

Na mitologia antiga o Solstício de Inverno – o menor dia do ano, a partir de quando a duração do dia começa a crescer – simbolizava o início da vitória da luz sobre a escuridão. Festas das mitologias persa e hindu referenciavam as divindades de Mitra como um símbolo do “Sol Vencedor”, marcada pelo Solstício de Inverno. A cultura do império romano incorporou a comemoração dessa divindade através do “Sol Invictus”. Com o enfraquecimento das religiões pagãs, a data em que se comemoravam as festas do “Sol Vencedor” passaram a referenciar o Natal (no hemisfério norte), numa apropriação visando incorporar à fé católica as festividades de inúmeras comunidades recém-convertidas.

Pois bem. Esse momento do ano marca o “retorno da luz” (tanto no sentido real quanto figurado), pois a partir dessa data o Sol renasce e retorna a seu ciclo em torno do planeta, cada vez mais forte, com os dias se tornando gradualmente mais longos, para chegar ao seu ápice no Solstício de Verão. Assim, o Solstício de Inverno é também uma comemoração de renascimento. Marca o fim do Outono, que representa a morte do que não nos serve mais e ao mesmo tempo o início do Inverno, trazendo com ele seus ensinamentos.

É a época de Inverno, em que a natureza está adormecida e em que muitas plantas morrem. É o fim do que foi plantado. Mas também é o momento de fertilizar o solo para o plantio na Primavera.

O Solstício de Inverno, neste ano de 2011, dá-se neste dia 21 de junho pontualmente às 14h16min.

E – mais uma vez – é quando este velho e cansado causídico que vos tecla novamente tenta colocar em prática suas decisões – já há muito tomadas, mas que sempre acabam por apresentar um grau de dificuldade maior do que o esperado para serem aplicadas… Serão 93 dias de Inverno. Praticamente três meses. E deverá ser também o tempo necessário para sacramentar o fim de tudo que foi plantado. De morte. De fim de um ciclo. Mas também de introspecção, resgate e preparação para a Primavera que há de vir. E, óbvia e consequentemente, de renascimento. De Ressurreição.

E de paciência.

Muita, mas muita paciência…

A Semana

Eu sempre costumo dizer que toda semana curta é intensa…

E, nesta, teremos apenas segunda, quarta e sexta – seguida de três sábados e um domingo.

“Por quê?”, perguntaria o incauto.

“Porque teremos o feriado de Corpus Christi no próximo dia 23 de junho”, responderia o Mestre.

“Aahh… E o que é isso messs?”, novamente perguntaria a anta.

E, sem paciência para responder às 1.469 perguntas que se seguiriam, foi o Mestre à Wikipedia para encerrar o assunto.

Então, senta que lá vem história

Corpus Christi (do latim, Corpo de Cristo) é uma festa da Igreja Católica que celebra a presença real e substancial de Cristo na Eucaristia.

É realizada na quinta-feira seguinte ao Domingo da Santíssima Trindade que, por sua vez, acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes. É uma festa de “preceito”, isto é, para os católicos é de comparecimento obrigatório assistir à missa neste dia, na forma estabelecida pela Conferência Episcopal do país respectivo.

A procissão pelas vias públicas, quando é feita, atende a uma recomendação do Código Canônico (artigo 944) que determina ao bispo diocesano que a providencie, onde for possível, “para testemunhar publicamente a veneração para com a Santíssima Eucaristia, principalmente na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo”.

A origem da solenidade do Corpo e Sangue de Cristo remonta ao século XIII. A Igreja Católica (assim, sim, em maiúsculas, afinal trata-se de uma “instituição”…) sentiu necessidade de realçar a presença real do “Cristo todo” no pão consagrado. A festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula “Transiturus”, de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes.

Isso porque o Papa Urbano IV foi anteriormente o cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège na Bélgica (hein?), que recebeu o segredo das visões da freira agostiniana, Juliana de Mont Cornillon, que exigiam uma festa da Eucaristia no ano litúrgico. A “Fête Dieu” (Festa de Deus) começou na paróquia de Saint Martin em Liège, em 1230, com autorização do arcediago para procissão eucarística só dentro da igreja, a fim de proclamar a gratidão a Deus pelo benefício da Eucaristia.

Em 1247, aconteceu a 1ª procissão eucarística pelas ruas de Liège, já como festa da diocese. Depois se tornou festa nacional na Bélgica.

O ofício foi composto por São Tomás de Aquino o qual, por amor à tradição litúrgica, serviu-se em parte de Antífonas, Lições e Responsórios já em uso em algumas Igrejas.

A festa mundial de Corpus Christi foi decretada em 1264. O decreto de Urbano IV teve pouca repercussão, porque o Papa perdeu sua vida em seguida. Mas se propagou por algumas igrejas, como na diocese de Colônia na Alemanha, onde Corpus Christi é celebrada desde antes de 1270. A procissão surgiu em Colônia e difundiu-se primeiro na Alemanha, depois na França e na Itália. Em Roma é encontrada desde 1350.

A Eucaristia é um dos sete sacramentos e foi instituído na Última Ceia, quando Jesus disse: “Este é o meu corpo… isto é o meu sangue… fazei isto em memória de mim”. Porque a Eucaristia foi celebrada pela primeira vez na Quinta-Feira Santa, Corpus Christi se celebra sempre numa quinta-feira após o domingo depois de Pentecostes.

Em muitas cidades portuguesas e brasileiras é costume ornamentar as ruas por onde passa a procissão com tapetes de colorido vivo e desenhos de inspiração religiosa (feitos de serragem colorida, areia colorida, pinturas, flores, grãos – e até mesmo vidro moído!). Essa festividade de longa data se constitui uma tradição no Brasil, principalmente nas cidades históricas se revestem de práticas antigas e tradicionais são embelezadas com decorações de acordo com costumes locais.

Muito bem.

Encerrada a aula do dia.

Voltemos à nossa curta semana e aos dragões de praxe que teremos que enfrentar (ou incorporar)…