Amor pelo trabalho

Roubartilhado lá do Homo Literatus:

Tenho um amigo que é músico. Ele não é famoso. Vive de pequenas apresentações. Certa vez, em uma de nossas conversas de bar, confessou-me que não conseguia ganhar muito dinheiro com seu trabalho e que às vezes passava por sérios apertos. Revidei, perguntando qual brasileiro não passava por dificuldades financeiras. Ele sorriu, pegou o violão e ficou dedilhando qualquer coisa, mania de músico. Permaneceu daquela forma por algum tempo, uma espécie de transe.

Instantes depois, a fumaça do meu cigarro o despertou. Ele me olhou com expressão serena e disse que, apesar de tudo, não mudaria de vida, aquela era a profissão que escolhera e amava o que fazia. Contou-me ainda que cada nota emanada pelo seu instrumento soava no ar como a representação de sua própria alma. Achei o discurso muito piegas e como já estava um tanto alto, desatei a rir. Meu amigo, em estado pior do que o meu, chorou.

Hoje, recordando, pergunto a mim mesmo: se um político me falasse algo parecido a respeito do trabalho que executa, eu riria ou choraria?

O que fazer com 2016?

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E então 2016 chegou!

Não serei como os céticos de plantão que adoraram compartilhar nas redes sociais algumas imagens do Spock falando sobre a comemoração de mais um ciclo de translação solar e o escambau… Acho que Ano Novo é, sim, um momento de renovar as energias, de fixar novas metas, de ter esperança, de procurar olhar para o futuro com otimismo. É isso que nós somos. É assim que esta nossa raça humana funciona. Mesmo nas religiões pagãs mais antigas o encerrar de um ciclo para dar início a um novo era festejado!

E assim, no meio de tanta festança e tentando sair de um marasmo que já vem se arrastando por anos, depois de muito tempo resolvi fixar minhas metas e promessas para este ano que se inicia…

Pra começar, percebi que tenho lido muito menos do que gostaria. Minha biblioteca aumenta na exata proporção que os livros não lidos também. Então fica combinado que a leitura, doravante, será de ao menos dois livros por mês: um clássico e um outro qualquer. Mas quando digo “um outro qualquer” não estou minimizando ou desvalorizando a literatura, apenas quero dizer que me dou muito bem com ilustres escritores desconhecidos e que tem muito potencial para mostrar. Até mesmo porque EU sou um desses ilustres escritores desconhecidos…

Querem acompanhar essa brincadeira? Então aqui está o link com os livros em voga: Lendo de Tudo.

Já que estamos falando de “cultura”, todos sabem como adoro um bom filme – ainda que nem sempre consiga ir ao cinema. Então, aqui vai uma meta um pouco mais complicada – principalmente em função de minha agenda invariavelmente maluca: assistir um filme clássico por semana. Tem muita coisa boa, que até tenho em casa, mas jamais me sobra tempo para assistir… Aliás, junto dessa meta (e daí já não sei se conseguirei um por semana) também um “filme de advogado”. E o que vem a ser isso? Qualquer um que tenha uma temática jurídica, seja por conta de um julgamento, atuação de um advogado, por se passar num tribunal, sei lá! Tanto para os clássicos quanto para esses de tribunais vou tentar reservar algumas horinhas por semana para dar conta. E, lógico, compartilhá-los!

Se também quiserem acompanhar o desenrolar disso, eis aqui o link para os filmes já assistidos e os vindouros: Um Clássico por Semana.

E já que estamos falando de minha “saúde mental”, então que tal verificarmos minha saúde física, hein?

Bem, parar de beber seria uma falácia… Ainda mais para um boêmio apaixonado pela boemia como eu. Então, no mínimo, preciso reduzir drasticamente a litragem de breja e uísque consumidos em 2015. Ou ao menos minimizar o suficiente para algo mais aceitável e palatável para meus parcos recursos financeiros.

Acompanhando essa linha de raciocínio, poderíamos também falar em parar de fumar, certo? Idem no que diz respeito à boemia… Mas nunca fui daqueles caras que ficam desesperados se não tiverem um cigarro à mão. Passo bem um dia ou mais sem chegar perto do danado do cigarro. Mas, todavia, vou topar o teste: fiquei curioso em saber o quão drástico é possível diminuir isso também. Vamos ver até onde isso vai dar…

E já que estamos falando de mens sana in corpore sano, o próximo passo é até evidente, não é mesmo? Exercícios físicos! Ei, é verdade! Não, não, não, não riam não… Desta vez vou em frente, mesmo. Parem de rir, vai. PAREM, PÔ! Cáspita, ninguém me leva a sério mesmo…

Enfim, acreditem ou não, este sedentário que vos tecla já passou da hora de se dessedentarizar. Ao menos caminhadas diárias me parecem ser algo que combina com um sujeito da minha provecta idade…

Até agora estávamos no âmbito personalíssimo, de meu próprio eu. Mas o que mais seria possível e/ou recomendável?

Que tal resolver minhas pendências financeiras, custe o que custar? Me parece uma boa decisão. Saldar as dívidas que teimam em me saudar… E, junto com isso, guardar uma graninha. É, poupancinha mesmo. Ter pra onde correr na hora do aperto. Do ponto de vista financeiro, as coisas degringolaram tanto nos últimos anos que deixei esse velho costume de lado. É indispensável retomá-lo!

Desarquivar projetos guardados na gaveta também é algo que soa bem aos meus ouvidos. Me enche de esperança. E tenho projetos, viu? Alguns maiores, pessoais e profissionais que envolvem toda uma vida, outros menores, de se resolver a curto ou médio prazo, assim como alguns minúsculos, que basta fazer e pronto. É, basicamente, destralhar minha fila de pretensões.

Dar mais atenção à minha casa. Não, ainda não estou falando da família, mas simplesmente da casa em que moro. Sempre fui um “faz-tudo” dentro de casa e meio que deixei isso de lado. Por inúmeros motivos. Mas isso faz parte do que sou, do que gosto de ser. Pintar o que falta da garagem (ói vocês rindo de novo, que eu tô ouvindo…), trocar lâmpadas, refazer alguns pontos da parte elétrica, (re)construir uma churrasqueira… São coisas que estão ao meu alcance e dentro da minha capacidade e que fui deixando pra lá. Mesmo realizar outras coisas, não diretamente ligadas à casa, mas necessárias, como consertar alguns móveis, organizar prateleiras, fazer uma revisão nas bicicletas e, em especial, fazer com que a cama pare de ranger. Isso, sim é importante.

No campo pessoal preciso me dedicar mais à família. Simples assim. Tanto dentro quanto fora de casa. Ora, eu não me autoproclamei o “guardião das histórias” quando resolvi escrever um livro sobre minha família? Só tem duas maneiras de guardar histórias: participando delas ou conhecendo-as por quem as viveu. Se eu não estiver presente no dia-a-dia de meus próprios parentes (que não são poucos), jamais conhecerei essas histórias e não poderei registrá-las. É importante me entrosar e participar mais da vida de meus tios e tias, primos e primas, enfim, da família de um modo geral…

Acho que é isso.

É o que preciso.

É o que posso.

É o que quero.

E, sobretudo, tomara que eu tenha força (principamente de vontade) para tocar tudo isso adiante!

Um excelente 2016 para todos!

Emenda à Inicial:

– Se bem que viajar (ou, ao menos, passear) um bocadinho mais até que não me faria mal não…

Happy Christmas

Simples assim…

 

So this is Christmas
And what have you done
Another year over
And a new one just begun
And so this is Christmas
I hope you’ll have fun
The near and the dear one
The old and the young

A very Merry Christmas
And a happy New Year
Let’s hope it’s a good one
Without any fear

And, so this is Christmas
For weak and for strong
For rich and the poor ones
The world is so wrong
And so happy Christmas
For black and for white
For yellow and red ones
Let’s stop all the fight

A very Merry Christmas
And a happy New Year
Let’s hope it’s a good one
Without any fear

And so this is Christmas
And what have we done
Another year over
A new one just begun
And, so happy Christmas
We hope you have fun
The near and the dear one
The old and the young

A very Merry Christmas
And a happy New Year
Let’s hope it’s a good one
Without any fear
War is over, if you want it
War is over, now

Happy Christmas!

Por que um corvo se parece com uma escrivaninha?

Clique na imagem para ampliar!

O que é um coelho branco? O que ele representa? Uma mensagem de esperança? Um sentimento de renovação? Uma firmeza de propósito? Promessas estranhas que ele mesmo significava sem saber que o fazia… Seja lá como for, quando passou, consultando seu relógio no bolso do colete, já estava atrasado. Aliás, como sempre, como tudo na vida de Alice.

E ao se meter num profundo buraco, eis que Alice, inconsequente, sem pestanejar também se atirou de corpo e alma atrás do coelho e de suas promessas não ditas.

E ao cair naquele buraco sem fim (mal sabendo que, na realidade, tudo na vida tem um fim), enquanto aguardava um fundo que não chegava, fez o que melhor sabia fazer: tagarelava de si para si, pois toda Alice – principalmente as escorpianas – é sonhadora e perguntadeira. E quando o fundo chegou, meio que sem avisar, meio trôpego até, lá ela encontrou um corredor, e do corredor encontrou um salão, e no salão encontrou uma chave de ouro que para sua decepção não abria baús, mas sim portas. Mas, diferente do que possam imaginar, essa chave abria todas as portas. Ora essa, e agora? Como decidir que rumo tomar, qual porta revelaria qual destino, qual futuro?

Ah, essa Alice imprudente! Quis porque quis beber da garrafa do desconhecido e se inebriou, mesmo sabendo que não haveria antídoto que lhe resolvesse! Mesmo com a garrafa quebrada, com lascas e cacos a cortar-lhe as mãos, os lábios, o juízo, a alma – ainda assim ansiava por dela sorver novamente. E seus efeitos mediatos e imediatos era fazer com que seu coração crescesse e diminuísse, que sua alma se expandisse e encolhesse, nunca sem dor, nunca sem mágoa, nunca sem alegria, nunca sem esperança.

E, em sua tagarelice, se ouvia a tecer recomendações para que não sofresse, pois “em geral dava conselhos muito bons para si mesma (embora nunca os seguisse)”

E da porta que escolheu, na jornada em que se meteu, no jardim que desbravava, encontrou abrigo sob um belo cogumelo, onde, ensimesmado, pairava lânguida e senhora de si, fumando seu narguilé, uma lagarta azul. E, não há de se saber como, mas ela sabia, aquela lagarta detinha todo o conhecimento do mundo que ela precisava. Todas as respostas a todas as perguntas estavam com ela, com essa lagarta-bruxa, que sabia ser sua amiga, que exalava mística sapiência. E que não estava só. E, num mundo que para qualquer outro seria de uma realidade atordoante, exceto para as Alices, que sabem que o impossível é apenas uma questão de ponto de vista, pela primeira vez esta Alice duvidou de seus sentidos!

Pois, incorpóreos, na fumaça do narguilé, Gandalf, Yoda e Dumbledore pairavam, numa muda conversa com a lagarta. Todos bruxos, todos poderosos, todos mortos como sua própria magia.

Desconcertada, assustada e, sabe-se lá o porquê, com uma certa raiva por não poder ter a atenção toda para si perante aqueles gigantescos vultos, sentindo-se pequena (e nem fôra por causa da beberagem), deu meia-volta e resolveu afastar-se dali. No meio àquela fumaça e vultos que se dissipavam, lágrimas no rosto, firmou seu passo.

“Volte!” chamou a Lagarta. “Tenho uma coisa importante para dizer!”

Isso parecia promissor, sem dúvida; Alice se virou e voltou.

“Controle-se”, disse a Lagarta.

“Isso é tudo?” quis saber Alice, engolindo a raiva o melhor que podia.

Mas o silêncio e o vazio foram suas únicas respostas.

E tudo que Alice queria era saber que caminho tomar. Sabia que caminho queria, era o que a levava de volta onde esteve, mas não aguentava mais seu coração e sua alma a esticar e encolher, como borracha prestes a arrebentar. E, às vezes, de fato se sentia arrebentada. E então, do nada, um sorriso lhe sorriu. E, por trás dele, um gato, o Gato de Cheshire. Perguntou-lhe:

“Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?”

“Depende bastante de para onde quer ir”, respondeu o Gato.

“Não me importa muito para onde”, disse Alice.

“Então não importa que caminho tome”, disse o Gato.

“Contanto que eu chegue a algum lugar”, Alice acrescentou à guisa de explicação.

“Oh, isso você certamente vai conseguir”, afirmou o Gato, “desde que ande o bastante”.

Mas, apesar da pouca idade, Alice já carregava um cansaço de séculos… Ainda assim o Gato lhe apontou algumas direções, dizendo que tipo de gente encontraria por ali: todos loucos!

“Mas não quero me meter com gente louca”, Alice observou.

“Oh! É inevitável”, disse o Gato; “somos todos loucos aqui. Eu sou louco. Você é louca”.

“Como sabe que sou louca?” perguntou Alice.

“Só pode ser”, respondeu o Gato, “ou não teria vindo parar aqui”.

E assim, tomou seu rumo. E o Chapeleiro foi quem encontrou. Talvez o mais louco entre os loucos daquelas paragens. E era justamente a última pessoa que precisava encontrar. E era justamente a primeira pessoa que desejava encontrar. Pois esse Chapeleiro alquímico, super-herói de meia pataca, tinha justamente o poder de destilar aquela estranha beberagem que estava arrasando com Alice. E seu silêncio é o que mais comprovava sua loucura, deixando Alice e sua tagarelice a mercê de um destino incerto. “Renda-se” disse ela. “Fale comigo, fale qualquer coisa, mas fale! A vida se nos passa e não há suficiente tempo!”

“Se você conhecesse o Tempo tão bem quanto eu”, disse o Chapeleiro, “falaria dele com mais respeito.”

E ela pensou naquela frase enigmática (mas talvez nem tanto), olhou para aqueles olhos juvenis, velhos como estrelas, para seu sorriso de criança que acumulava uma experiência de eras, e entendeu que não havia o que entender.

Louco, louco, louco.

E que também a estava deixando louca.

Melhor enfrentar o Jaguadarte.

Não sabia como, mas sabia. O Jaguadarte, imortal, com garras e bocarra, olhos de fogo e riso louco (por que afinal tudo tem que ser louco na vida de Alice?), ferível apenas pela Espada Vorpal – que ela não tinha – era o destino a que se prestava, era sua sina. Ali estaria o descanso que precisava: esquecer, esquecer e esquecer…

E finalmente ao encontrá-lo, sentado na esquina, sob a árvore Tamtam, ao fitar aqueles olhos, ao vislumbrar aquele sorriso, finalmente compreendeu: ele era ele. Um era o outro. Seu maior louco era também seu pior inimigo, eis que a levava às raias da loucura!

E lembrou-se das palavras da Duquesa: “Nunca imagine que você mesma não é outra coisa senão o que poderia parecer a outros do que o que você fosse ou poderia ter sido não fosse senão o que você tivesse sido teria parecido a eles ser de outra maneira”.

Já havia começado pelo começo e prosseguido até chegar ao fim. Sem dúvida era hora de parar.

Melhor ser normal, que sofrer.

E (Neo entenderia) em busca de um espelho se deu sua nova jornada.

E em sua pressa de se ver livre, tentou repelir todos aqueles pensamentos que lhe atormentavam, como quem repele mosquitos numa noite de calor, e se viu deitada no sofá, a cabeça no colo de Dinah, sua menina, que afastava delicadamente alguns insetos que esvoaçavam por perto de seu rosto.

“Acorde, Alice querida!”, disse-lhe. “Mas que sono comprido você dormiu!”

“Ah, tive um sonho tão curioso!”

E, tentando recapitular, ficou ali sentada, os olhos fechados e quase acreditou estar de volta a seu momento no País das Maravilhas, embora soubesse que bastaria abri-los e tudo se transformaria em insípida realidade… E tudo que ela queria, agora que adulta, era conservar aquele mesmo coração simples e amoroso de sua infância, reencontrar todas as alegrias simples de criança, sempre pronta para se doar mas também exigente em receber.

“E como foi seu sonho, bem?”

E com a certeza de que esse sonho, de que aqueles momentos somente a ela pertenciam, limitou-se a responder:

“Não tenho a menor ideia…”

Festa de Fim de Ano

De: Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos
Data: 01/12/2015 16:05
Para: Todos os Funcionários
Assunto: Festa de Natal

Tenho o prazer de informar que a festa de Natal da empresa será no dia 23 de dezembro, com início ao meio-dia, no salão de festas privativo da Churrascaria Grill House. O bar estará aberto com várias opções de bebidas. Teremos uma pequena banda tocando canções tradicionais de Natal. Sinta-se à vontade para se juntar ao grupo e cantar!

Não se surpreenda se nosso Vice-Presidente aparecer vestido de Papai-Noel! A árvore de Natal terá suas luzes acesas às 13:00. A troca de presentes de amigo secreto poderá ser feita a qualquer momento.

Entretanto, nenhum presente deverá exceder R$20,00, a fim de facilitar as escolhas e adequar os gastos a todos os bolsos. Este encontro é exclusivo para funcionários.

Nesta ocasião, nosso Presidente fará um discurso bastante especial.

Feliz Natal para vocês e suas famílias!

Ass.: Patrícia

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De: Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos
Data: 02/12/2015 11:04
Para: Todos os Funcionários
Assunto: Festa de Final de Ano

De maneira alguma nosso e-mail datado de 1º de dezembro pretendeu discriminar ou ofender nossos funcionários judeus! Reconhecemos que o Chanukah é um feriado importante e que costuma coincidir com o Natal mas isso não aconteceu este ano. De qualquer forma passaremos a chamá-la de “Festa de Final de Ano”.

A mesma política se aplica a todos os outros funcionários que não sejam cristãos. Não haverá árvore de Natal. Nada de canções de Natal nem coral. Teremos outros tipos de música para seu entretenimento.

Felizes agora?

Minhas desculpas.

Bom final de ano para vocês e suas famílias,

Ass.: Patrícia

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De: Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos
Data: 03/12/2015 15:12
Para: Todos os Funcionários
Assunto: Festa de Final de Ano

Com relação ao bilhete que recebi de um membro do Alcoólicos Anônimos solicitando uma mesa para pessoas que não bebem álcool: você não assinou seu nome! Fico feliz em atender o pedido, mas se eu puser uma placa na mesa “Exclusivo para AA”, vocês não serão mais anônimos. Como faço então?

Esqueçam a troca de presentes. Nenhuma troca de presentes será permitida, uma vez que os membros do sindicato acham que R$20,00 é muito dinheiro e os executivos acham que R$20,00 é muito pouco para um presente. NENHUMA TROCA DE PRESENTES SERÁ PERMITIDA, certo?

Ass.: Patrícia

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De: Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos
Data: 07/12/2015 11:45
Para: Todos os Funcionários
Assunto: Festa de Final de Ano

Nossa! Que grupo heterogêneo nós temos! Em 1º dezembro começa o mês sagrado do Ramadan para os muçulmanos, que os proíbe comer e beber durante as horas do dia. Lá se vai a festa! Agora entendemos que uma refeição nesta época do ano será um problema para a crença de nossos funcionários muçulmanos. Talvez a Churrascaria Grill House possa segurar o serviço de buffet até o fim do dia – ou, então, embalar tudo para que vocês o levem para casa nas marmitex. O que vocês acham disso?

Atendendo a outras reclamações:

1) Consegui que os membros do Vigilantes do Peso se sentem o mais longe possível do buffet de sobremesas e a mulheres grávidas sentem-se o mais perto possível dos banheiros.

2) Homossexuais podem sentar-se juntos, se quiserem. Mulheres homossexuais não têm que sentar com homens homossexuais, que terão sua própria mesa. E, sim, também haverá um arranjo de flores no centro da mesa dos homens homossexuais.

3) Os transexuais que pediram permissão para trocarem as roupas pelas do sexo psicológico, isto está autorizado!

4) Teremos assentos mais altos para pessoas baixas.

5) Comida com baixa caloria estará disponível para os que estão de dieta.

6) Nós não podemos controlar a quantidade de sal utilizada na comida. Desta forma sugerimos para estas pessoas com pressão alta que provem o teor de sal antes de se servirem.

7) Haverá frutas frescas de sobremesa para os diabéticos. O restaurante não dispõe de sobremesas sem açúcar.

Nossas profundas desculpas.

Será que esqueci de alguma coisa?

Ass.: Patrícia

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De: Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos
Data: 08/12/2015 09:15
Para: Todos os Funcionários FILHOS DA PUTA
Assunto: A PORRA DA FESTA DESSE FINAL DE ANO DE MERDA!

Vegetarianos e Adventistas? Sim, vocês também tinham que dar sua opinião de merda ou reclamar de alguma coisa! Nós manteremos o local da festa na Churrascaria Grill House. Quem não gostar, FODA-SE!

Então, como alternativa, vocês podem sentar-se quietinhos na mesa mais distante da “churrasqueira da morte” como vocês se referiram de forma bastante depreciativa ao utensílio. Vocês terão a porcaria da sua mesa de saladas, incluindo vegetais hidropônicos da CASA DO CARALHO, sem nenhum agrotóxico, arrozinho grudento para comer de pauzinho. Mas aqueles (naturalmente haverá) que não concordarem em usá-los, podem enfiá-los no… Mas como vocês devem saber, os vegetais também têm sentimentos! Os tomates gritam quando vocês os fatiam. EU mesma os ouvi gritar! Eu os estou ouvindo gritar agora mesmo! Assassinos de inocentes tomates!

AH! Espero que vocês todos tenham um péssimo final de ano!

Dirijam muito, fiquem bêbados, batam o carro ou sejam atropelados. E morram todos, escutaram? Vão para a puta que os pariu!

Ass.: A vaca-louca da Diretora de Recursos Humanos – como sou gentilmente chamada por muitos filhos da puta!!!

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De: Jonas Gomes – Diretor de Recursos Humanos Interino
Data: 14/12/2015 16:22
Para: Todos os Funcionários
Assunto: Patrícia Gomes e a Festa de Final de Ano

Tenho certeza que falo por todos desejando para a Patrícia um rápido restabelecimento para sua crise de stress. Continuarei a encaminhar as mensagens para ela no sanatório. Por conta deste fato, a diretoria decidiu cancelar a Festa de Final de Ano e dar folga remunerada para todos na tarde do dia 23 de dezembro.

Boas Festas.

Um estranho no ninho

Depois que se tem filhos, difícil guardar espaço para aquela antiga vida, de livre comum união a dois, de namoricos ainda que em casa, quando se tinha a (falsa?) sensação de que éramos donos do próprio nariz.

E, melhor, da própria cama.

Mas aí veio o primeiro filho.

Veio chegando, tomando seu espaço, tomando nosso tempo, nossa atenção, nosso fôlego, nosso sono. Quando começou a ficar mais crescidinho – e tolamente pensávamos que iríamos ter um pouco mais de volta a vida a dois – eis que começa a engatinhar, logo a andar, levantar à noite, ocupar o vão entre a Dona Patroa e eu, dormir agarradinho, dormir a noite toda. Mas, como tudo passa, ele foi crescendo, foi para o próprio quarto e vislumbramos uma luz no fim do túnel…

E então veio o segundo filho.

Disputando espaço, sendo amamentado, sendo trocado, sendo cuidado, também teve seus perrengues, também foi crescendo, mudamos de casa e, agora num apartamento, tudo menor, tudo mais fácil, tudo mais acessível – inclusive a nossa cama – já engatinhando, já andando, levantando à noite, ocupando o vão entre a Dona Patroa e eu, dormindo agarradinho, dormindo a noite toda. Já não tão certos de que tudo passa, fomos simplesmente gerenciando a situação, pois um dia ele e o irmão se ajustariam no próprio quarto.

Até que veio o terceiro filho.

Já chegou no meio da mudança, do apartamento para a casa, e casa vazia, com bastante espaço, com bastante quintal, não disputou espaço, tomou o seu próprio. Logo engatinhou, logo cresceu, logo andou. Levantou à noite, ocupou o vão entre a Dona Patroa e eu, dormiu agarradinho, dormiu a noite toda. Até que cresceu mais ainda. E cada um dos três foi para seu próprio quarto. E cada um deles não tinha mais necessidade de nós – exceto ele, o caçula, pois em qualquer casa caçula é caçula, e de quando em quando eu ainda perdia meu lugar (pois já passou a ficar difícil os três na cama), evento cada vez mais raro e aquela luz no fim do túnel voltou a brilhar!

Daí os filhotes arranjaram um gato.

Ou melhor, uma gata: a Yuki. Senhora absoluta deste nosso lar. Cujo ninho preferido, adivinhem onde é? Ninguém? Você, aí, da esquerda, que levantou a mão? Isso, isso mesmo! O malfadado vão entre a Dona Patroa e eu!!! Aliás, não só esse. Embaixo, em cima, do lado, empurrando, esfregando; passa pelas cobertas, passa pelos pés, passa pelas cabeças, passa pelo travesseiro, passa dos limites!

E a maior diferença, a GIGANTESCA diferença para com os filhotes é que caso nos mexêssemos no decorrer da noite, eles, quando muito, resmungavam.

ELA. METE. AS UNHAS!

Mas, olha, lhes digo uma coisa: de minha parte até que isso não tem me incomodado tanto. Chega um ponto na vida que a gente atinge a maturidade suficiente para compreender certos aspectos de nossa existência, certos padrões, que estão fadados a estar presentes em nosso viver, de modo a nos ensinar algum tipo de lição, para nos trazer algum tipo de aprendizado. É necessário agudeza de espírito e profunda percepção do mundo ao seu redor para, diante dos sinais, se tornar um ser humano melhor, um ser mais evoluído…

(…)

Quer saber? Mentira. Que se dane a evolução!

Sigo dormindo no sofá da sala.

De apenas dois lugares.


#sósifôdo   #marditagata   #querobeliche