Uma vez que a documentação do carro parecia estar toda em ordem, restaria saber se iria dar negócio. Afinal de contas a moto ainda não tinha sido vista pela outra parte…
Aproveitei o horário de almoço e lá fui eu. Coisa de uns vinte, sei lá, trinta quilômetros depois, o caboclo estava dando uma olhada, botando defeito (faz parte de qualquer compra e venda), avaliando, pensando e… pronto! Concordou. Só tinha que perguntar para o primo dele, verdadeiro dono do carro, lá em Minas, se ele aceitava.
– Bem, tá certo. Mesmo assim, antes de bater o martelo, ainda falta eu verificar mais um detalhe importantíssimo. Mais tardar amanhã eu te ligo para informar, certo? Enquanto isso você vai vendo o resto dessa parada lá com seu primo.
Já em casa, à noitinha, criançada brincando, eu e a Dona Patroa na varanda, olhando para uma verdejante mata que tem em frente de casa, tomando um vinhozinho tinto, contei-lhe (com muita calma, sem pressa – quase que com indiferença) sobre o que pretendia.
Para minha supresa ela fez lá suas considerações, perguntou se realmente valeria a pena, se eu não conseguiria vender a moto por um preço melhor, e por aí afora.
Expliquei-lhe os perrengues de um mercado aquecido e com crédito, onde a oferta está bem maior que a demanda, e que um modelo meio que básico de moto não teria lá muita competitividade para venda num ambiente desses.
Por fim, ela acabou concordando. Até mais rápido do que eu previa. O passo mais difícil estava dado! Sua última frase foi a seguinte:
– Então tá. Tudo bem. Mas me diga só mais uma coisa: você tem certeza do que está fazendo?
Para seu espanto, ri com vontade. Gargalhei mesmo.
– Que é que foi, seu louco? Que graça é essa?
Respondi-lhe:
– Sabe o que é, amor? Se não me falha a memória, a última vez que você fez essa pergunta para mim já tem mais de dez anos. Foi no dia em que eu te pedi em namoro…