Amor à exatidão

“Bom dia amiguinhos, já estou aqui…”

– ROOOONNCC…

– Bonito, hein?

– Hmm?

– A que horas o senhor chegou ontem?

– UAAHH… Umas onze, eu acho…

– Pois é. Custava ligar? Volta e meia o senhor me apronta uma dessas. Já parou pra pensar por um único momento que eu fico preocupada com você? E se tivesse acontecido alguma coisa? Se ia demorar e sabia que ia demorar então ao menos avisasse. Já perdi a conta de quantas vezes o senhor me aprontou uma dessas. Eu já devo ter direito a sair de casa sem deixar nenhum recado por pelo menos umas duzentas e cinquenta e seis vezes, você não…

– Oito…

– Quê?

– Oito.

– Como assim, “oito”?

– Duzentas e cinquenta e OITO vezes. Não seis.

– …

– Mi?

– VOCÊ. NÃO. TEM. JEITO ! ! !

– Mas te amo tanto…

– @#$%¨&*!!!!

Tirinha do dia:
Desventuras de Hugo...

Gravidices

Antes que eu me esqueça, faltou comunicar à população em geral que o André da Diretoria de Suprimentos – e que vai ser papai – já tem informações fidedignas sobre o sexo da criança.

MENINA!

Em função disso ele comunicou que agora já sabe como vai votar no referendo do dia 23… Tenho insistentemente tentado convencê-lo acerca da pertinência e vantagens de desde já deixar tudo acertado no tocante a compromissos futuros de nossos filhos, mas ele tem se mostrado muito reticente nesse sentido. Recalcitrante, até, eu diria. Tenho culpa se agora ele passou a fazer parte do time de fornecedores? De minha parte tenho três bons partidos em casa, um com seis, outro com três e o caçulinha com um ano e meio, que no momento certo, bem, vocês sabem…

No Japão tem uma palavra pra isso: “MIAI”.

Brincadeiras à parte, meus sinceros parabéns, André e Lizandra. Tenho certeza que vocês vão amar essa nova aventura da paternidade e da maternidade, audaciosamente indo onde ninguém em plena sanidade jamais foi. Posso falar de cátedra…

Mais considerações

“LIVRE ARBÍTRIO” = “ETERNAS DÚVIDAS”

“Só tô tentando ser feliz. Só tentando te fazer feliz.” Era mais ou menos esse o refrão da música que ouvi ontem à noite, enquanto bebericava uma cerveja antes de ir pra casa. Nostalgia pura. Não sei, pode até ser dela, mas estava MUITO parecido com as musiquetas da Paula Toller do início da década de 80. Sim, sim, sou um fóssil ambulante…

Naquela época, aproximadamente em 85, as músicas eram mais simples e ingênuas. Mas tudo bem, nós também éramos. Pelo menos é o que pensávamos.

Quando eu era garoto, fui um dos mais comportados da classe, com as melhores notas, do tipo que as próprias professoras vinham agradar e elogiar. E isso é verdade.

Quando eu era garoto, nossa turma tinha uma cinquentinha de tanque azul, que rodava de mão em mão, a qual esmerilhávamos no asfalto do bairro, sem equipamentos, capacete ou sequer documentos, sendo que vivíamos fugindo da baratinha da polícia (um fusquinha preto e branco). E isso é verdade.

Quando eu era garoto, era tímido e retraído, sem conseguir sequer me declarar para as garotas que eu estava a fim. E isso é verdade.

Quando eu era garoto, fui tão salafrário que uma amiga de minha ex a aconselhou a não ter nada comigo, pois eu era mulherengo demais. E isso é verdade.

Quando eu era garoto, era extremamente religioso, enfiado dentro da Igreja, participava de grupo de jovens, ajudava nas missas e comungava toda semana. E isso é verdade.

Quando eu era garoto, já tinha tatuagem, orelha furada e cabelo comprido, curtia rock pesado, fumava e bebia todas, sequer me preocupando com questões d’alma ou o dia de amanhã. E isso também é verdade.

Heh… Como diria o Coringa, já que eu tenho que ter um passado, ao menos que seja de múltipla escolha!…

Tudo que acabei de dizer realmente é verdade, mas depende do ponto de vista sob o qual analisamos essas informações. É certo que houve um pequeno lapso de tempo entre um e outro evento, porém isso varia de acordo com o observador. Apesar da decepção à época, já me referi a alguma parte do que está aqui em janeiro deste ano, mas sempre tem algo que fica pra trás. Que é novidade. Que é surpresa.

O ponto é que pessoas que me conheceram naquela época, até mesmo vivendo num mesmo grupo, podem me pintar como um anjo ou como a cria do demônio encarnada na terra. Tudo depende do ponto de vista, do aspecto sob o qual me conheceram.

O que nos leva às minhas considerações. Quão verdadeiramente conhecemos um ao outro? Quem nos garante que sabemos do brilho escondido no coração das pessoas, ou então da negritude que lhes macula a alma? Não, não pensem que sofri alguma desilusão ou que estou chateado – são apenas meras divagações de um bebedor solitário.

Por mais intimamente que conheçamos uma pessoa, NUNCA será o suficiente. Sempre existirão segredos. A eterna dúvida se o lado negro da força ainda vai se manifestar. Ou se existe um lado bom dentro daquele vilão. Creio que já comentei isso por aqui uma vez, mas num livro de Jack Kerouac – “On the road” – que tratava da geração beatnik, tinha uma passagem onde dois caras estavam tentando ser ABSOLUTAMENTE SINCEROS um com o outro. É uma coisa de louco. E veja que não falo de sinceridade no sentido contrário de falsidade, mas simplesmente no sentido de franqueza. Dá pra se ter uma noção da nóia permanente que nós vivemos com nossos pequeninos (ou não) segredos do dia a dia. Alguns tão superficiais que serão esquecidos antes do final do dia; outros tão profundos como se tivessem sido marcados com ferro em brasa na própria alma. E volta e meia a cicatriz coça.

De minha parte sou um livro aberto, tento sempre deixar bem claro a transparência de meus atos e de minhas palavras, porém existem algumas páginas coladas nesse livro, e creio que jamais consegui ser total e completamente franco com quem quer que seja. Sempre existiram segredos, meias palavras ou palavras nunca ditas que ajudam a manter a barreira da sanidade entre mim e outras pessoas. De igual maneira, tenho certeza que jamais conheci ninguém que fosse total e absolutamente sincero comigo.

Mas isso não é novidade. É da natureza humana. Psicólogos que estudaram a vida inteira levam anos para conseguir dar uma raspadinha superficial nesse casco sentimentalóide que usamos pra nos proteger. Na prática acho que não existe na face da Terra quem consiga o prodígio de ser absolutamente franco um com o outro. Exceto os personagens do livro que citei. E olha o que aconteceu: praticamente enlouqueceram…

Tirinnha do dia:
Desventuras de Hugo...

Dois causos

MUITO quente!

Só pra não passar em branco o dia de hoje, mais duas historinhas (com “H” mesmo) da hora do almoço.

Um certo advogado foi contratado para fazer a defesa em um crime de assassinato. A vítima fôra esfaqueada pelas costas. TREZE vezes.

A teste defendida: “Legítima defesa”.

“Como assim, doutor??? Cumpre lhe lembrar que foram TREZE facadas. Ainda que fosse legítima defesa, como se justificariam os demais golpes?”

“Simples” – ele disse. “O meu cliente sofre do mal de Parkinson.”

Outra:

A vítima levou uma surra e, como golpe final, ao cair de costas no chão, o assassino esmagou sua cabeça com um paralelepípedo (ARGH!).

A tese defendida: “Meu cliente é inocente. Acontece que a vítima já morreu ANTES do golpe final. De susto.”

O juiz, num lampejo de misericórdia, convocou o dito advogado para que trocasse a defesa antes que ele a avaliasse “oficialmente”. Ao que sei, ele trocou…

Tirinha do dia:
Desventuras de Hugo...

Serra do Luar

Sono, soninho, eu…

“Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.”

É uma parte da música Serra do Luar, totalmente apaixonante na voz de Leila Pinheiro. Bem, isso é quase uma filosofia de vida. Tudo bem que é BEEEM difícil (ainda mais pra mim) manter a mente quieta. E a espinha ereta, então? Mas o coração… é, acho que essa seria a parte mais fácil.

Depois de uma noite insone debruçado sobre o trabalho no computador em casa, o dia começa com aquela falsa sensação de ânimo, de lucidez. Porém, pouco a pouco o cansaço vai batendo, o corpo vai pedindo arrego, os músculos vão relaxando, os olhos vão se enchendo de areia…

Zzzzzzzzzzzz…

Tirinha do dia:
Desventuras de Hugo...

Maldades…

Histórias da hora do almoço… Conversando hoje com uma funcionária do Cartório Eleitoral ela nos contou acerca das urnas que chegaram para o referendo sobre a comercialização de armas. E, junto com as urnas, os manuais de operação e o pessoal técnico.

Mas… Havia um estagiário no meio do caminho; no meio do caminho havia um estagiário…

Avisaram o rapaz que, como ele era novo no serviço, teria uma “provinha” a ser feita sobre o manual da urna. “Tudo bem”, ele comentou com os amigos, “quando chegar a hora eu puxo o manual e dou uma colada básica!”

Ao saber disso essa funcionária simplesmente chegou pra ele, com aquela cara de casualidade mais normal do mundo e disse: “Olha, a gente tinha marcado sua prova pra sexta, mas o juiz não vai estar aí. Então vamos fazer o seguinte: fica pra segunda-feira que com certeza o doutor estará no cartório. É até bom, pois daí você vai ter o final de semana pra estudar, né?”

O rapaz ficou verde.

Antes do final do dia ele voltou pra perguntar se tinha que vir vestido “socialmente”. Disseram-lhe que um esporte fino já estava bom.

Correrias normais de um cartório e esqueceram o caso. Já na terça alguém lembrou: “E aí? Foi fazer a prova”, ao que o rapaz respondeu, num cochicho: “Fica quieto, acho que esqueceram…”

Heh… Pequenas maldades. Nada como isso pra alegrar o dia…

Saudades…

“Cabelos Negros” – Eduardo Dusek

Fogão de lenha. Madeira queimando, fumaça subindo. Leitoa com recheio de farofa. Doce de leite na forma. Leite quentinho, espumando, direto da vaca… na caneca esmaltada, com Toddy no fundo. Água gelada de ribeirão. Peneira pra pescar guaruzinho. Fritada de peixe. Mesa de madeira rústica. Chão de terra batida. Banco de uns três metros pra todo mundo sentar. Despensa de mantimentos. Cachorros na porta da cozinha. Meia porta pro lado de fora. Janela de madeira com tramela. Colchão de palha. Folha de bananeira. Escorregador de morro abaixo. Bica d’água. Corrente na roda pro carro subir o morro no barro em dia de chuva. Barco na represa. Linhada. Vara de pescar de bambu. Minhoca, milho verde e queijo prato. Acará, tilápia, rabo vermelho, saguiru, bagre, piaba, traíra e cascudo. Lampião de gás. Chapéu, cavalo, arreio e sela. Causos de família. Céu azul.

Ah… Bateu uma saudade da infância na casa de minha avó…

Tirinha do dia:
Desventuras de Hugo...