Tenho visto aqui e ali uma ou outra notícia a respeito da “greve dos bancários”. Parece que não se trata de nada que seja lá muito consistente. Foi estimado que apenas uns 3% das agências fecharam – o que, é lógico, deve ser desmentido pelo sindicato da categoria, o qual deve informar que a adesão foi beeeeeem maior que isso. O tempo passa, nada muda…
Aliás, muda assim.
Lá pelos idos do final da década de oitenta, começo da de noventa, eu também trabalhei em banco. Na época, o “Banco Nacional – O banco que está a seu lado”. Também conhecido como o “Banco do guarda-chuva” ou o “Banco do Ayrton Senna”. Na realidade um banco de mineirinhos mesmo, pois, como dá para perceber em seu próprio logotipo, fica claro que procuraram fazer com que o triângulo mineiro (da bandeira do Estado de Minas Gerais) estivesse bem protegida ali no meio…
Mas, divagações à parte, voltemos à greve.
Desde aquela época, setembro já era mês de dissídio. E era quando começavam os movimentos grevísticos. Ora, o Sindicato ficava num bairro bem lá na extremidade do que poderíamos chamar de a “Avenida dos Bancos”, enquanto que a agência do Banco Nacional ficava quase que na outra ponta. E o pessoal do sindicato, com seus apitinhos, eram leeeeeerdos…
Nesses dias não tínhamos dúvida: chamávamos o contínuo (uma espécie de office-boy da época), que era irmão de uma das dirigentes do sindicato e o encarregávamos da seguinte tarefa: “Vai lá e faz com que sua irmã comece o movimento de paralisação pelo nosso banco. Se você não conseguir, nem adianta voltar!” E lá se ia o garoto (aterrorizado). Como éramos maus. Mas dava certo!
Como numa estória que já ouvi sobre a greve dos órgãos do ser humano, com os bancos funcionava do mesmo jeito. Bastava travar o sistema que a grita da própria sociedade fazia com que os banqueiros (não confunda com bancários) abrissem a burra e nos concedesse o pleiteado aumento.
Nada subversivo, nada abusivo. Apenas o justo numa época – que talvez a maioria da garotada internetizada sequer conheça – em que galopava a rédeas soltas a hiperinflação. O dinheiro que você ganhava no início do mês valia menos da metade quando se chegava no final daquele mesmo mês. Uma loucura.
Aí eu vejo um pessoalzinho reclamando dessa “greve” que está por aí.
Isso não é greve.
É mera paralisação temporária.
Nada que tenha lá grande consistência.
E no lugar da finada agência do finado Banco Nacional, nada mais existe. Totalmente demolido. Os detalhes do prédio, suas características, seus cheiros, seu visual, seus cantos e móveis somente continuam existindo, em parte, nas lembranças deste velho escriba, que – como diz a música – carrega um cemitério na cabeça.
Tempus fugit…