Houserianas

Aprendi que assistir House sempre é uma boa diversão, independentemente da temporada.

Para os aficcionados, tenho a contar que ainda ontem assisti o décimo episódio da sexta temporada – “Segredos” – no qual o pano de fundo da estória é uma batalha travada entre House e Wilson para ver quem ficaria com a vizinha do lado. O House (sacana como sempre e pra desespero do Wilson) faz com que ela acredite que eles são homossexuais que moram juntos.

Mas, para virar o jogo, Wilson encontra House e a moçoila num fino restaurante e na frente de todos – adivinhem? – ele pede o House em casamento!

Com direito a caixinha com anel de noivado e tudo mais!

Sacana por sacana um sacaneou o outro…

E a moçoila foi embora para deixar os pombinhos em paz…

Acho que ri uns quinze minutos sem parar!

E agora, só de lembrar, começo a rir de novo…

Livros, carros e chuva, muita chuva

E este final de semana foi um tanto quanto agitado…

Como eu já havia tuitado por estas plagas, tivemos a “Primeira Feira de Escritores de Jacareí”, onde os autores da terrinha estariam vendendo e autografando suas obras. Muita coisa interessante para este velho alfarrabista e explorador de sebos que adora histórias e estórias da gente e da terra em que vivemos…

Alguns dos livros expostos eu já tinha e acabei comprando alguns outros, bem como proseando um bocadinho com vários dos autores ali presentes. Lógico que fiz questão do didático autógrafo de praxe (“isso, por favor, meu nome é Adauto – a, dê, a, U, tê, ô…”) – pois ninguém nunca acerta meu nome na primeira. Já me chamaram de Dalton, Adalton, Adão, Arnaldo e outras terríveis variações que nem sequer lembro mais.

Os temas expostos giravam em torno de poemas, biografias, história e até mesmo uma jornada pela Trilha de Santiago (a do “Seo” Vigo). Voltei pra casa com Pilotando meu Nariz, de Joana J. Brandão Aranha, Fragmentos de Lembranças – Diário de um Peregrino, de Vigo Faria, João Porto – o Jornalista e Retalhos da Memória, estes dois últimos de Benedicto Sergio Lencioni.

Dever cultural cumprido, sentei-me sob uma árvore em frente da Sala Mário Lago – ali, próxima do Pátio dos Trilhos – para saborear um cigarro (sem bronca, pessoal, como eu já disse, tô a caminho de parar) e ouvir um pouco da moda de viola que todo sábado rola nesse cantinho. Nessa o copoanheiro me liga, talvez para uma carona, que fiquei lhe devendo pois já estava no Centro. Foi mal aí, Bica…

Dali rumei para o Parque dos Eucaliptos, onde estava rolando o “X Encontro de Veículos Antigos de Jacareí”. Um ótimo blues sendo tocado no palco, um dia ameno e veículos antigos para todos os sabores! Para este opaleiro apaixonado por antiguidades (alguém aí ainda se lembra do Projeto 676?), tudo de bom! Compromissos protocolares de praxe, discurso da Presidente da Fundação Cultural, dos presidentes dos clubes participantes, do Prefeito, etc.

E então, bora almoçar que ninguém é de ferro!

Depois de um ótimo almoço em ótima companhia (ao menos paguei a carona que fiquei devendo) comecei a fazer planos para o resto da tarde…

E então, como diria Abracurcix, o céu caiu sobre nossas cabeças!

Chuva. Chuva forte. Como não víamos desde janeiro. Em pouquíssimo tempo choveu 84mm – e seja lá como se dê essa medida, entendam que é chuva pra ca… ramba! Com tanta água e granizo caindo, a capacidade de escoamento do sistema de esgoto da cidade não foi suficiente para dar vazão a esse dilúvio. Mesmo em locais com alta permeabilidade no solo (sempre quis escrever isso) a chuva foi intensa demais, de modo que rapidamente a água começou a se acumular e subir, subir, subir de um modo nunca visto.

O Parque da Cidade inundou. O Jardim Japonês ficou totalmente debaixo d’água. E, aliás, lembram-se que eu disse que os veículos antigos estavam em exposição lá no Parque dos Eucaliptos? Então. De partir o coração ver aquelas relíquias minuciosamente restauradas com água por volta, por dentro, por fora, em todo lugar. Na altura do volante, em alguns casos.

Mas, pior que isso, os bairros afetados.

Casas e muros caíram, outras ficaram totalmente alagadas, assim como diversas ruas. A Defesa Civil não teve um segundo de descanso. Mas, apesar de todo esse perrengue, não se tem notícias de que ninguém tenha ficado ferido ou desabrigado. A correria foi muita e intensa, mas no final, dentro do possível, deu tudo certo.

Bem, para não fechar este post com certa tristeza no ar, prefiro compartilhar as imagens dos veículos antigos que estavam em exposição, quando ainda o sol brilhava para todos…

Basta clicar na imagem para uma visão ampliada, ok?












Som do silêncio

E para tentar começar bem uma semana que já deu seus sinais de querer ser fria e chuvosa, eu aqui, caminhando nestas estreitas ruas de paralelepípedos, com o colarinho levantado para me proteger do frio e da umidade, compartilho uma ótima música que há muito não ouvia, mas que me encontrou agora logo pela manhã…

Hello darkness, my old friend,
I’ve come to talk with you again,
Because a vision softly creeping,
Left its seeds while I was sleeping,
And the vision that was planted in my brain
Still remains
Within the sound of silence.

Crianças, com vocês, The Sound of Silence, de Simon & Garfunkel

Me, Myself and I

É curioso como pequeninas frases – invariavelmente sem maiores intenções ou complicações – têm o condão de nos incomodar…

Eu costumo dizer que “de todas as ofensas que alguém possa lhe proferir, a que mais dói, a que mais cala fundo na alma é simplesmente a VERDADE”!

Há não muito tempo me disseram que eu vivo numa “bolha”, criada há cerca de quinze anos e que, desde então, parei de evoluir. Congelei no tempo-espaço e fiquei com as convicções e visão de mundo estacionadas desde então. Tudo o que ocorreu em termos culturais, musicais, literários, cinéfilos, televisísticos e afins simplesmente resvalaram neste neandertal que vos tecla sem sequer afixar uma mínima taxa de reconhecimento ou sequer de lembrança…

E, pensando bem, posso convictamente dizer: isso está errado!!!

Quinze anos é muito pouco.

O “congelamento” provavelmente se deu há muito mais tempo.

Não sei precisar quando. Mas tenho certeza absoluta de que minhas convicções atuais têm a ver com esse momento perdido no passado.

No fundo, no fundo, ainda que a pecha de “complicado” paire sobre minha pessoa eu sou um cara extremamente simples. Transparente. Nuances com certeza virão, mas, na prática, sou o mesmo indivíduo que aparento ser nos primeiros cinco minutos de conversa com quem quer que tenha me conhecido.

Mas, com tal característica à parte, de onde isso vem?

Esse “travamento”?

Qual foi o momento que me “prendeu” nessa personalidade?

Talvez, lá atrás, no primeiro beijo? Não, creio que não. Eu era novo demais para entender as sequelas daquele momento. Estávamos no começo dos anos oitenta e sei somente que, do alto de meus doze anos, aquela menina mais velha com ânsia de se envolver com o rapazinho que “aparentava ser bem mais velho”, invadiu minha boca com um beijo entregue e declarado ao qual eu não tinha muita certeza de como corresponder e do qual, digamos, não guardo lá muitas boas lembranças. Foi uma espécie de “batismo de fogo” na tribo da qual eu participava e, naquele momento, estava tudo certo. O que era verdadeiramente um verdadeiro beijo só fui compreender mais tarde…

Mas, de onde então veio essa paralisação?

Da primeira paixão? Creio que também não. O tempo passou, relacionamentos-relâmpagos também (naquela época ainda não existia o termo “ficar”), mas nada que fosse realmente relevante. A primeira pessoa que me impressinou a tal ponto (agora já com “experientes” quatorze anos) simplesmente descartou o tão preparado, ensaiado e planejado primeiro pedido sério de namoro que eu tive coragem suficiente de externar. Fiquei frustrado pelo resto da vida. O que durou mais ou menos umas duas semanas.

Então ainda não chegamos no cara que agora vos tecla…

Talvez então essa suspensão temporal tenha vindo com o primeiro amor? Bem, antes de mais nada, já cansei de explicar aqui neste nosso cantinho virtual o que eu considero como diferença entre amor e paixão. Basicamente enquanto aquele é perene, esta é vivaz. Um é brasa, outra é fogo. Um permanece, outra dilacera. Mas não se ama sem se apaixonar antes. Não se constrói sem destruir. E, depois que se ama, nunca mais se deixa de amar. Talvez você possa deixar de gostar, de conviver de estar juntos. Mas o amor? Este fica. Então aqui nada há também.

E onde ficamos? Num cara que acredita piamente nas pessoas. Que espera o melhor de cada um. Que releva todos os pecados (menos os próprios) e consegue enxergar o mais espetacularmente fantasticabuloso melhor de cada indivíduo!

É.

Creio que talvez este seja eu.

Talvez fadado ao eterno fracasso.

E congelado no tempo.

Num tempo de ingenuidade, de esperança, de fé.

No próximo.

Já li certa vez acerca de um infeliz ao qual foi senteciado que “enquanto a felicidade dele dependesse de outrem ele teria um sério problema a resolver”. Algo assim. Hoje entendo muito melhor essa frase.

O meu “problema” não é que eu parei no tempo. Mas, talvez, que o meu “caráter” tenha parado no tempo. E ele é como se define ser. E, de lá pra cá, nada o estimulou a avançar. Quer seja em termos culturais, musicais, literários, cinéfilos, televisísticos e afins. Nada disso importa. É lógico que não me tranquei para novas experiências, conhecimentos e aprendizagens – mas, na prática, dentro de minha singela e infantil simplicidade, ou se é certo ou se é errado. Tons de cinza certamente tendenciam a uma coisa ou outra. Mas, no final, a verdade é essa.

E o dia a dia?

Como ficamos com o mundo que nos cerca?

Irrelevante.

É óbvio que não sou essa “máquina de lógica” que pinto nos parágrafos acima. Dr. Spock continua sendo um personagem de ficção. Assim como Holmes. Mas o fogo que forjou minha personalidade certamente bebeu do combustível dessas figuras. Profundamente analíticos. Extremamente solidários. Insuportavelmente dedicados. Desesperadamente apaixonados.

E não há como ser atemporal nesse sentido…

O cravo não brigou com a rosa

Recortei e colei lá do Boteco Escola – como sempre, muito antenado em questões ligadas à educação. Me fez lembrar uma “discussão” recente sobre Monteiro Lobato ( que está aqui)…

Mas vamos ao texto.

Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo – o homem – e a rosa – a mulher – estimula a violência entre os casais. Na nova letra “o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada”.

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos, cacete!

Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: “Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas”. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém (não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda) foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magoo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão – o popular pintor de rodapé ou leão de chácara de baile infantil – de deficiente vertical . O crioulo – vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) – só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo – o famoso branco azedo ou Omo total – é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia – aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno – é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo – outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão – é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais… Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar (…), cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a “melhor idade”.

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto

Luiz Antônio Simas
Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
e professor de História do ensino médio

Nota: Esse texto foi publicado originalmente em 28/12/2010 no blog do autor – Histórias Brasileiras – mas foi deletado. Entretanto ainda pode ser encontrado no cache do Google…