Essa edição é pra casar

Esta é para os jornalistas de plantão!

Recortei-e-colei daqui

Às vezes, acho que estou velho para tantos casos. Efêmeros. Estou velho, mas ainda gosto do imprevisível, dos riscos. Não que eu seja volúvel, longe disso, é que elas me seduzem. Parece que não sei viver sem elas, sem a variedade delas. Tem gente que vai ao McDonald´s e pede sempre o número 1. Eu sempre gostei de variar, sabe?

Mas quando o homem fica velho começa a pensar se não é hora de sossegar esse fogo, buscar uma relação mais estável, mais fiel. Um amigo meu, também jornalista, vive me dizendo: “as reportagens são excitantes – quem não gosta delas? –, mas já não é tempo de você pensar em trabalhar na edição? A edição é pra casar”.

A edição é o próprio casamento. Uma vida com roteiro pronto a que você se acostuma com o tempo, uma vida mais tranqüila, mais caseira. O grande risco é você engordar, porque se come muito mais. Na reportagem, chego a passar o dia com meia dúzia de cream cracker no estômago.

As reportagens exigem pique, fôlego, preparo físico, mental, espiritual, transcendental. Você não pode falhar. Não que eu falhe, longe disso – aliás, nunca falhei, eu juro –, é que eu sinto que as reportagens se ligam mais nos garotões, nos caras que estão começando. Será que não estou fazendo o papel do tiozão bobo que ainda acha que apavora?

O tal meu amigo me disse também que, quando eu quiser, me arruma rapidinho um esquema com a edição. Mas é esquema sério, papel passado e tal. Edição decente, de família.

Mas enquanto eu não me decido, sigo com as minhas reportagens. Aliás, daqui a pouco vou para uma nova, lá no centro da cidade. O pauteiro ainda não me disse do que se trata, por isso, eu fico aqui imaginando, fantasiando. Será que é uma reportagem bem gostosa, daquelas de deixar o jornalista a tarde toda eufórico, extasiado? Só não pense que sou tarado, por favor. Longe disso.

O bisturi dos Advogados

Quem já conversou comigo sobre trabalho por mais de cinco minutos sabe que sempre costumo dizer que os advogados, mais que o direito, precisam conhecer é a língua portuguesa. Sem o pleno domínio da escrita não há conhecimento de lei que salve quem quer que seja. É preciso saber se expressar, explanar e convencer. E a ferramenta que temos à mão é nada mais, nada menos, que a própria linguagem…

E eis que então encontrei esse texto na edição nº 62 da revista Visão Jurídica – que vai exatamente ao encontro desse meu posicionamento.

Leiam. Vale a pena.

O papel da linguagem no Direito

LILIAN DAMASCENO

O bom exercicio do da advocacia demanda domínio da língua portuguesa pelo profissional

No mundo jurídico, tudo se faz por meio da linguagem: a recriação dos fatos se dá por escrito, bem como o direito no qual se fundamenta o processo.

Uma disputa judicial se trava a partir da descrição e construção que os advogados fazem para o juiz acerca daquilo que ambas as partes entendem como fatos narrados, descritos e devidamente provados de acordo com a lei, em prazos determinados e por meio de fórmulas legais.

Tudo isso ratifica a ideia de que o domínio dos fundamentos da comunicação e da língua portuguesa é da essência do trabalho do advogado, pois é somente pelo bom uso da linguagem que este poderá exercer a profissão de defender os interesses de seus clientes. Assim, tem-se que o advogado é antes de tudo um profissional da comunicação.

A relação do profissional que atua na área jurídica com a linguagem é muito mais complexa do que a dos outros profissionais. Para o profissional da área jurídica, tudo é linguagem: esse é o único instrumento de que ele dispõe para tentar convencer, refutar, atacar ou defender-se. Também é na linguagem que se concretizam as leis, as petições, as sentenças ou as mais íntimas cláusulas de um contrato – que não passam, no fundo, de formas peculiares de textos que o profissional jurídico terá que redigir ou interpretar. O profissional do Direito, desse modo, precisa conhecer os principais recursos do idioma.

Isso exige que o profissional do Direito seja um usuário exímio da língua portuguesa. Além de dominar o indispensável vocabulário especializado, ele precisa conhecer todos os recursos expressivos do idioma, as sutilezas semânticas, as ramificações etimológicas que as palavras mantêm entre si e a variada gama de estruturas sintáticas que a língua desenvolveu para caracterizar ênfase ressalvas e atenuações, os chamados recursos linguísticos e estilísticos.

Cada universo profissional desenvolve uma linguagem própria, com características inconfundíveis, que todos os seus membros terminam naturalmente por adotar.

Esse vocabulário técnico, criado dentro do âmbito de cada profissional é importantíssimo para evitar as confusões de sentido tão comuns de coloquialidade, além de servir para deixar mais rápida e eficiente e comunicação entre os interlocutores especializados. A boa comunicação é uma necessidade básica na vida jurídica.

É na linguagem que se concretizam as leis, os códigos, as petições, as sentenças ou as cláusulas de um contrato – que não passam, no fundo, de formas peculiares de textos que o profissional jurídico terá que redigir ou interpretar. O profissional do Direito, desse modo, precisa conhecer os principais recursos do idioma.

Os tradicionais conceitos de que a petição inicial limita a sentença e de que as razões do recurso restringem o acórdão mostram claramente que toda e qualquer oportunidade de falar nos autos deve ser aproveitada. Tão importante quanto dominar tais conceitos do processo é aplicá-los com eficiência, não deixando dúvidas quanto à extensão da inicial ou das razões do recurso.

O uso da má linguagem é duramente punido em juízo. O advogado pode perder o processo, obter apenas parte do que pediu, alcançar resultado diferente do que esperava ou nem sequer ser compreendido. Não há uma segunda chance, pois a coisa julgada é imutável.

Diante disso, espera-se que o profissional do Direito seja um usuário privilegiadíssimo da língua portuguesa, visto que a justiça e o Direito materializam-se por meio da linguagem.

Podemos afirmar, portanto, que sem linguagem não há justiça nem direito. É por meio da linguagem que os usuários do contexto jurídico solicitam, respondem, narram, descrevem, explicam, opinam e decidem. O uso correto e adequado do idioma não é apenas um dos vários instrumentos de trabalho valiosos para o advogado, como são a capacidade de argumentação, o poder de síntese, o conhecimento do Direito, a cultura geral e o bom senso; ele é o elemento essencial, fundamental, podendo ampliar os efeitos dos demais ou, se ausente, diminuí-los sensivelmente.

Dominar a língua portuguesa para expressar-se com clareza e eficiência é o principal fundamento da profissão do advogado. Não basta ter razão, é preciso saber dizê-la.

PS: Priscila, obrigado pela ajuda na digitação!