Tinderada

E eis que nossa heroína de hoje havia marcado um encontro pelo Tinder!

Para os incautos que não conheçam o atual estado da tecnologia de pegação, saibam que “Tinder” nada mais é que “um aplicativo que apresenta pessoas que estão próximas a você. Através do programa, você poderá conhecer outros usuários que também estão registrados no aplicativo, com o objetivo de marcar encontros.” Ou seja, dá uma olhada na foto, troca umas mensagens, vê se rola um clima e marca uma ponta… Simples assim.

E o local do encontro marcado foi um belo de um barzinho aconchegante…

Apesar de não gostar nem um pouco de se adiantar, curiosamente nesse dia ela acabou chegando antes que o moçoilo. Resolveu mandar uma mensagem pra saber por onde ele andava. “Já estou entrando” – foi a resposta dele.

Nisso, eis que ela levanta os olhos e vê o sujeito vindo porta adentro enquanto guardava o celular no bolso. Seus olhares se cruzaram e ambos sorriram. Ele, de contentamento. Ela, de mais puro nervosismo.

E não, não era nervosismo pelo encontro em si. É que o caboclo não tinha NADA a ver com a foto. Sabem “nada”? Nothing? Niente? Zero? Então. Que enrascada! E agora, como sair dessa? Enquanto isso, ele veio caminhando em sua direção. Ela esboçou o sorriso mais congelado que se pode imaginar para alguém, olhos levemente arregalados e tascou-lhe um “ooooooooooooooooiiiiiii” próximo do interminável…

Ele aproximou-se, ela beijou-o no rosto (ainda com aquele sorriso sardônico travado em seu próprio rosto), entreolharam-se – aquele momento meio de vazio quando duas pessoas não sabem bem qual o próximo passo. Ela começou:

– E aí?

– E aí? Tudo bem?

– Tudo!

– Ahn… Você já pediu alguma coisa?

– Não, não. Também acabei de chegar.

– Que tal um choppinho pra ir quebrando o gelo?

– Ah, tá. Acho legal!

Deu uma olhada sobre o ombro, parecendo que estava meio que medindo o local. Fixou um ponto ao longe, sorriu e garantiu:

– Vou providenciar, então. Só um minutinho e eu já volto!

“Só um minutinho”? Cumassim? Podia levar todos os minutos que quisesse! E um só chopp não iria dar conta de enfrentar essa noitada. Ou melhor, essa roubada! Um porre era o mínimo que ela tinha que esperar agora… Que sacanagem, isso! Como podia ter se enganado tanto com alguém? E a conversa dele até que era legal, bem descolada, inteligente, bem humorada… Bem, como dizem por aí, “já que está no inferno, abraça o capeta”. E que capeta, viu? O negócio agora era tentar descontrair um pouco, olhar o movimento, o lugar, as possíveis rotas de fuga…

Foi então que ela o viu.

Um outro sujeito.

Parado, na porta, conversando.

Seus olhares se cruzaram.

E ele sorriu. E acenou.

E ela, tímida, parva, também acenou…

ESSE é que era o rapaz da foto, do Tinder, das conversas, de tudo!

Mas, mas, mas… E o outro?

Nisso, ela virou-se e o viu voltando para a mesa.

Com o chopp.

Era o garçom…

Tudo o que você sempre quis saber sobre Dengue e não tinha pra quem perguntar

Vamos a mais um serviço de utilidade pública deste blogueiro que vos tecla!

E hoje falaremos um bocadinho acerca dessa nada nova doença que atualmente nos assola – pois os primeiros casos registrados no Brasil remontam a 1846! – a dengue. Tá, os preciosistas podem até dizer que a forma correta seria “o” dengue, mas prefiro encará-la na sua versão feminina (o que, inclusive, já é aceito até mesmo pelos grandes dicionários), pois é óbvio que somente o sexo nada frágil é que pode fazer tanto estrago na vida de um ser humano.

E já sei que vou me arrepender amargamente por esse gracejo…

O que todo mundo sabe é que a dengue é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti e que o cuidado básico a ser tomado é acabar com a água parada, que constitui seu principal criadouro. Mas a título de informação isso é muito pouco para mim – e também o deveria ser para vocês – e então vamos ver com detalhes como que é tudo isso, tendo por base o que foi possível campear aqui e ali na Internet!

O mosquito – quem é essa figura?

O Aedes aegypti pertence ao ramo Arthropoda (pés articulados), classe Hexapoda (três pares de patas), ordem Diptera (um par de asas anterior funcional e um par posterior transformado em halteres), família Culicidae, gênero Aedes. Em suma basta dizer que é parente do pernilongo…

Esse infeliz foi introduzido na América do Sul muito provavelmente através de barcos (navios negreiros) provenientes da África, no período colonial, junto com os escravos.

Trata-se, essencialmente, de um mosquito urbano, encontrado em maior abundância em cidades, vilas e povoados. O que não impede que também apareça nas zonas rurais!

O ciclo de vida do Aedes aegypti compreende quatro fases: ovo, larva (que passa, por sua vez, por quatro estágios larvários), pupa e adulto.

O ovo mede aproximadamente 1 milímetro de comprimento e possui contorno alongado e fusiforme (como se fossem um grão de arroz, só que mais fino nas pontas). São depositados pela fêmea (dããã), um por vez (normalmente em quantidade de 150 a 200 a cada postura), nas paredes internas dos depósitos que servem como criadouros, próximos à superfície da água. Não, não dentro da água, mas bem próximo da linha d’água. No momento da postura os ovos são brancos, mas, rapidamente, adquirem uma cor negra brilhante. A partir daí, o desenvolvimento total do embrião (ainda dentro do ovo) se completa em até 48 horas, em condições favoráveis de umidade e temperatura.

Normalmente com a chuva o nível da água sobe e atinge os ovos, que eclodem em pouco mais de 30 minutos. Independentemente disso, uma vez que completado o desenvolvimento embrionário, esses ovos são capazes de resistir a longos períodos de dessecação – que significa um estado de extrema secura (obrigado, Aurélio!) – que podem prolongar-se por mais de um ano! Mesmo depois de tanto tempo, se colocados em contato com a água, podem vir a eclodir. É justamente por isso, por essa grande capacidade de resistência dos ovos, que é tão difícil erradicar o mosquito.

A larva, que é aquele bichinho nojento que sai do ovo logo após eclodir, passa meramente por uma fase de alimentação e crescimento. Como o Aedes aegypti é um inseto holometabólico (OI? Ah, sim. Faz parte daqueles tipos de bicho que sofrem uma metamorfose completa…), nessa fase larvária ele passa a maior parte do tempo alimentando-se principalmente de material orgânico acumulado nas paredes e fundo dos depósitos.

As larvas possuem quatro estágios evolutivos até atingirem a fase de pupa. A duração da fase larvária depende da temperatura, disponibilidade de alimento e densidade das larvas no criadouro. Em condições ótimas, o período entre a eclosão e a pupação pode ser de apenas cinco dias. Mas em condições de baixa temperatura e escassez de alimento, o quarto e último estágio larvário pode prolongar-se por várias semanas, antes de sua transformação em pupa.

Na água a larva movimenta-se como uma serpente, fazendo um “S” em seu deslocamento. É sensível a movimentos bruscos na água e sob um feixe de luz é bem rápida, foge que nem o diabo da cruz, buscando refúgio no fundo do recipiente {isso, crianças, se chama fotofobia).

Já no estágio seguinte, quando se transforma em pupa, ele não se alimenta. É nessa fase que ocorre a metamorfose do estágio larval para o estágio adulto – o mosquito, propriamente dito. Nesse período elas, as pupas, se mantêm na superfície da água, flutuando, o que facilita a emergência do inseto adulto. O estado pupal dura, geralmente, de dois a três dias.

E, por fim, na última fase, o adulto de Aedes aegypti sai para o mundo para dar início a sua fase reprodutora e começar tudo de novo…

Todo esse ciclo se dá num período total que varia de sete a dez dias.

O Aedes aegypti é menor que os mosquitos comuns (vulgos pernilongos), medindo, em média, apenas meio centímetro de comprimento. Tem aparência inofensiva, de cor escura – café ou preta – e listras brancas no corpo e nas pernas. O macho se distingue essencialmente da fêmea por possuir antenas plumosas e palpos mais longos. Suas asas são translúcidas e o ruído que produzem é praticamente inaudível ao ser humano.

Logo após emergir do estágio pupal, o inseto adulto procura pousar sobre as paredes do recipiente, assim permanecendo durante várias horas, o que permite o endurecimento do exoesqueleto e das asas. Já nas 24 horas seguintes podem acasalar (rapidinhos, hein?), o que vale para ambos os sexos. O acasalamento geralmente se dá durante o vôo, mas, ocasionalmente, pode se dar sobre uma superfície, vertical ou horizontal. Uma única inseminação é suficiente para fecundar todos os ovos que a fêmea venha a produzir durante toda sua vida.

A grande diferença entre os machos e as fêmeas, no tocante à alimentação, é que estas se alimentam mais frequentemente de sangue, servindo como fonte a maior parte dos animais vertebrados, mas mostram marcada predileção pelo ser humano. Já os machos alimentam-se da seiva das plantas.

Em geral, a fêmea faz uma postura após cada repasto sanguíneo (ou seja, após sugar o sangue da picada). O intervalo entre a alimentação sanguínea e a postura é, em regra, de três dias, em condições de temperatura satisfatórias.

A oviposição (“ponhação dosôvo”) se dá mais frequentemente no fim da tarde. A fêmea grávida é atraída por recipientes escuros ou sombreados, com superfície áspera, nas quais deposita os ovos. Prefere água limpa e cristalina ao invés de água suja ou poluída por matéria orgânica. Como não é besta, distribui cada postura em vários locais. Por tais características, sua preferência sempre é o de recipientes artificiais, tais como latas e garrafas vazias, pneus, calhas, caixas d’água descobertas, pratos sob vasos de plantas ou qualquer outro objeto que possa armazenar água de chuva. Pode também escolher alguns tipos de criadouros naturais, como bromélias, bambus e buracos em árvores.

O interessante é que, durante sua vida, o Aedes aegypti não tem grande capacidade de dispersão, pelo vôo, o que quer dizer que ele não tem o costume de se espalhar, ficando em média num raio de 100 metros do local de onde eclodiu (é, de onde “nasceu”). Entretanto uma fêmea grávida pode voar até cerca de uns 3 quilômetros em busca de local adequado para a oviposição, quando não houver recipientes apropriados nas proximidades.

Quando não estão em acasalamento, procurando fontes de alimentação ou em dispersão, os mosquitos buscam locais escuros e quietos para repousar. São usualmente encontrados nas habitações, nos quartos de dormir, nos banheiros, na cozinha e, só ocasionalmente, no lado externo das residências. As superfícies preferidas para o repouso são as paredes, mobília, peças de roupas penduradas e mosquiteiros.

Sua vida dura, em média, de 30 a 35 dias.

A transmissão – como a gente pega essa bagaça?

É importante esclarecer que não são todos os mosquitos Aedes aegypti que transmitem a doença da dengue (e, também, da febre amarela), mas somente os mosquitos que estiverem infectados com essas doenças. Como somente a fêmea é que se alimenta de sangue, também é somente ela que pode transmiti-las para o ser humano. E, além disso, uma vez infectado, transmite também o vírus para todas suas crias, tornando-se um vetor permanente da doença. Aliás, só pra constar: o mosquito apenas transmite a doença, mas não sofre seus efeitos. Sacanagem isso…

Normalmente o mosquito (ou, melhor, a “mosquita”) ataca durante o dia, nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde, evitando o sol forte – mas, mesmo nas horas quentes, pode também atacar à sombra, dentro ou fora de casa. Seu alvo preferido é a região dos pés, tornozelos e pernas – o que só ocorre porque uma de suas características é voar a uma altura máxima de meio metro do solo. Mas o pior é que a vítima não costuma sequer perceber a picada, pois não dói e nem coça no momento, uma vez que o mosquito aplica uma substância anestésica, tornando o local insensível. Desde o momento que o indivíduo é picado, demora geralmente de 3 a 15 dias para a doença se manifestar – mas o mais comum é de 5 a 6 dias.

E é justamente no verão que essa doença faz uma quantidade maior de vítimas, pois o mosquito encontra ótimas condições de reprodução. Nessa estação do ano as altas temperaturas e a grande quantidade de chuvas aumenta e melhora o chamado “habitat ideal” para a reprodução do Aedes aegypti: a água parada.

Para concluir, saibam de uma coisa importantíssima: a dengue não é transmitida de pessoa para pessoa, nem mesmo através de alimentos ou pelo uso compartilhado de objetos.

Mas, afinal de contas, o que realmente é essa tal de dengue?

A dengue é uma doença infecciosa causada por um arbovírus (abreviatura do inglês de “arthropod-bornvirus”, ou seja, “vírus oriundo dos artrópodos”), que ocorre principalmente em áreas tropicais e subtropicais do mundo, inclusive no Brasil. As epidemias geralmente ocorrem no verão, durante ou imediatamente após períodos chuvosos.

A palavra dengue tem origem espanhola e quer dizer “melindre”, “manha”. Esse nome faz referência ao estado de moleza e prostração em que fica a pessoa contaminada pelo arbovírus.

Existem quatro tipos do vírus da dengue: O DEN-1, o DEN-2, o DEN-3 e o DEN-4. Todos eles causam os mesmos sintomas, a diferença é que, a cada vez que se contrai um tipo do vírus, não se pode mais ser infectado por ele, adquire-se imunidade. Ou seja, uma pessoa somente pode ter dengue, no máximo, quatro vezes na vida. Quem já teve dengue causada por um tipo do vírus não registra um novo episódio da doença com o mesmo tipo, por exemplo, quem já teve dengue devido ao tipo 1 só pode ter novamente se ela for causada pelos tipos 2, 3 ou 4. Em termos de classificação estamos falando do mesmo tipo de vírus com quatro variações. Já do ponto de vista clínico são absolutamente iguais, pois vão gerar o mesmo quadro de sintomas.

Entretanto a possibilidade da reincidência da doença é preocupante. Demais. Pois, caso ocorra um segundo episódio da dengue, os sintomas se manifestam com mais violência. Essa reação exagerada do sistema imunológico é um problema. Pode causar inflamações e, por isso, aumenta o risco de lesões nos vasos sanguíneos, o que levaria ao quadro da dengue hemorrágica (o que veremos mais a frente). Um terceiro episódio poderia ser ainda mais grave, e um quarto seria mais perigoso ainda que o terceiro.

Sintomas – dói tudo…

Geralmente, os sintomas da dengue se iniciam com febre alta (de 39° a 40°C), dores de cabeça, cansaço, dor muscular e nas articulações, indisposição, enjôos, vômitos, manchas vermelhas na pele, dor abdominal (principalmente em crianças), entre outros sintomas.

Após a picada do mosquito infectado dá-se o chamado período de incubação que leva em média uns 3 dias. Somente após esse período é que os sintomas aparecem, e o tempo médio do ciclo é de 5 a 6 dias.

Mas é importante saber que temos duas situações meio que distintas: a dengue clássica e a dengue hemorrágica.

A dengue clássica se inicia de maneira súbita e pode ocorrer febre alta, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dores nas costas. Às vezes aparecem manchas vermelhas no corpo. A febre dura cerca de 5 dias com melhora progressiva dos sintomas em 10 dias. Em alguns poucos pacientes podem ocorrer hemorragias leves na boca, na urina ou no nariz. Raramente há complicações. Melhor explicando:

– febre alta com início súbito;
– forte dor de cabeça;
– dor atrás dos olhos, que piora com o movimento dos mesmos;
– perda do paladar e apetite;
– manchas e erupções na pele semelhantes ao sarampo, principalmente no tórax e membros superiores;
– náuseas e vômitos;
– tonturas;
– extremo cansaço;
– moleza e dor no corpo;
– muitas dores nos ossos e articulações.

Já a dengue hemorrágica é uma forma grave de dengue, que usualmente ocorre quando a pessoa contrai a dengue por uma segunda ou terceira vez (outra variação do vírus, lembram?). No início os sintomas são iguais à dengue clássica, mas após o 5º dia da doença alguns pacientes começam a apresentar sangramento em vários órgãos e choque circulatório. Isso se dá porque a pessoa sofre alterações na coagulação sanguínea, ocorrendo uma queda na pressão arterial. Esse tipo de dengue pode levar a pessoa à morte. A dengue hemorrágica necessita sempre de avaliação médica, de modo que uma unidade de saúde deve sempre ser procurada pelo paciente. Façam isso se, após o quinto dia, quando começa a acabar a febre, surgirem um ou mais desses sinais de alerta:

– dores abdominais fortes e contínuas;
– vômitos persistentes;
– pele pálida, fria e úmida;
– sangramento pelo nariz, boca e gengivas;
– manchas vermelhas na pele;
– sonolência, agitação e confusão mental;
– sede excessiva e boca seca;
– pulso rápido e fraco;
– dificuldade respiratória;
– perda de consciência.

E qual é o tratamento, então?

Más notícias, caríssimos: não existe tratamento específico para dengue. O que existe são apenas tratamentos que aliviam os sintomas.

Antes de mais nada, muito repouso.

E, também, deve-se ingerir muito líquido como água, sucos naturais, chás, soros caseiros, etc. Frutas e legumes diversos também ajudam.

Medicamentos antitérmicos, para combater a febre, também são bem-vindos.

O que não pode é tomar remédios à base de ácido acetilsalicílico, como, por exemplo, AAS, Aspirina, Melhoral, Doril, Sonrisal, Alka-Seltzer, Engov, Cibalena, Doloxene e Buferin. Como eles têm um efeito anticoagulante, podem causar sangramentos.

O que pode ser tomado, a título de exemplo, são medicamentos à base de dipirona ou paracetamol.

É lógico que, em qualquer caso, um médico deve ser consultado para receitar o remédio correto…

Uma dica a mais: quem estiver com dengue faça o favor de se prevenir de novas picadas do mosquito Aedes aegypti (se já foi picado por um infectado, pode ser que tenha algum não infectado por perto também). Assim vai evitar a retransmissão da doença para outro mosquito e, desse modo, é possível cortar mais uma cadeia de transmissão do vírus. Portanto tenham a consideração de usar repelentes, mosquiteiros e/ou outras formas de evitar novas picadas de algum outro mosquito.

Tem como acabar com essa doença?

Para combater a dengue a principal medida a ser adotada é eliminar os criadouros em potencial do mosquito Aedes aegypti. Vamos para uma lista de exemplos:

– não deixar a água se acumular em recipientes como, por exemplo, vasos, calhas, pneus, cacos de vidro, latas e etc;

– manter fechadas as caixas d’água, poços e cisternas;

– não cultivar plantas em vasos com água – usar terra ou areia nesses casos;

– tratar as piscinas com cloro e fazer a limpeza constante, sendo que o ideal é deixá-las cobertas ou vazias quando não for usar por um longo período;

– manter as calhas limpas e desentupidas;

– cuidar para que eventuais poças protegidas em lajes não acumulem água;

– instalar tela ou colocar sempre água sanitária em ralos com fecho hidríco (daqueles tipos que ficam com um bocadinho d’água, que é para não deixar retornar o cheiro do cano de esgoto);

– o comedouro e bebedouro de animais também precisam ser lavados semanalmente com bucha ou escova, porque a esfregação é o que elimina o ovo, caso exista.

Outra preocupação é com o armazenamento incorreto de água em baldes, tonéis e outros vasilhames. Quem pretende armazenar água para uso futuro deve cobrir o local com tela e adicionar hipoclorito ou água sanitária, na proporção de uma colher para cada litro de água. Assim, será possível utilizar a mistura para lavagem de quintal e limpeza, menos para molhar plantas ou consumo humano.

E o Poder Público? Por que não faz nada?

Vocês acham que não? Muito pelo contrário! Só que, pelas próprias limitações do Poder Público, nunca vai haver gente suficiente pra cuidar de todo mundo. E vamos combinar que essa guerra é uma responsalidade de cada um de nós? Se todos fizermos nossa parte, cuidando, no mínimo, de nossa própria casa, já teremos avançado – e muito – rumo à erradicação do mosquito e, por consequência, da própria doença.

E dentre as ações possíveis do Poder Público – além dos agentes que vão de casa em casa para verificar se nós mesmos estamos tomando as devidas precauções – existem duas ações que costumam ser feitas: a nebulização e o “fumacê”. São ações distintas e com propósitos específicos.

A nebulização se presta a conter a fase larvária do inseto. É feita dentro das casas e terrenos com um equipamento próprio que os agentes levam às costas (termonebulizador). Como não dá pra fazer isso numa cidade inteira, normalmente é feito no entorno de imóveis com casos confirmados de dengue. Lembram-se que um dos costumes do mosquito é não se espalhar, permanecendo no raio de uns cem metros do local onde eclodiu? Então. Pela lógica, se o fiudumaégua picou alguém, então seu criadouro (e, talvez, outros) deve estar por perto.

Já o fumacê visa combater o inseto adulto. Agora, pensem comigo: onde mesmo que o mosquito costuma ficar? Pode colar, veja lá em cima no texto. Isso mesmo, dentro das casas. E qual a primeira atitude que o ser humano “normal” faz quando passa o fumacê? Corre pra fechar todas as portas e janelas de modo que o “cheiro” não entre em casa! Pô, é justamente lá dentro que o bichinho fica! Desse jeito, não só o mosquito não é atingido, como quem acaba sendo vítima do fumacê são outros insetos, predadores naturais do mosquito, como, por exemplo, aranhas. Sei que não é nada confortável, mas se não colaborarmos, não tem tatu que aguente!

Outra providência do Poder Público é viabilizar os testes para confirmar – ou não – os casos de dengue. Normalmente o sangue coletado da vítima vai para um laboratório especializado e demora uma eternidade para se obter o resultado. Esse método é caro e a quantidade de amostras que podem ser analisadas é limitada. Mas é certeiro. Existem alternativas, tais como o teste do antígeno NS1, conhecido como “teste rápido”, que permite a análise de uma quantidade bem maior de amostras e cujo resultado é obtido em até duas horas. Apesar de mais barato, possui eficácia limitada: cerca de 75% a 80% de acurácia.

Considerando que a dengue mata, o eventual aumento de casos dentro de um município é preocupante. É da saúde pública que estamos falando. A caracterização de situação de iminente perigo à saude pública, nos casos de dengue, possui dois parâmetros distintos: federal e estadual (aqui de São Paulo). O critério federal estabelece que pode ser considerada a situação de epidemia quando houver a presença do mosquito em 1% ou mais de imóveis de um município. Já o critério estadual define que a situação de epidemia pode ser aplicada quando for atingido um total de 150 casos a cada 100.000 habitantes.

Enfim, temos que nos lembrar que, ao menos no tocante às nossas próprias casas, a responsabilidade é nossa. Se vocês descobrirem algum possível foco com larvas dentro de sua casa, tomem as providências necessárias vocês mesmos! A água sanitária é 100% eficaz nesse combate. Basta aplicar no mínimo 2 ml de água sanitária para cada litro de água que contiver as larvas do mosquito da dengue. Após isso, limpe e elimine o criadouro. Mas se estivermos falando de outros locais em potencial (ainda que não tenha larva nenhuma), tais como vasos sanitários e caixas de descarga que não sejam de uso diário, ralos externos, tambores de armazenamento e outras coisas do tipo, para evitar que venha a se tornar um foco então basta fazer uma aplicação semanal, preferencialmente em dia fixo, de modo a garantir que a solução continue efetiva no combate às eventuais futuras larvas.

E sempre que observarem alguma situação que vocês mesmos não possam resolver, então avisem imediatamente um agente público de saúde para que uma medida eficaz seja tomada. O Poder Público tem o chamado “Poder de Polícia”, ou seja, em caso de interesse da coletividade (no caso, a saúde pública), no limite do limite, pode até mesmo entrar em áreas particulares para tomar providências que sejam indispensáveis.

Bão, é isso. Assim concluímos mais um serviço de utilidade pública para que todos possam tomar os cuidados necessários e não venham a se tornar um sujeito dengoso…

Servimos bem para servir sempre!

😀

Eterna fuga

Algumas elucubrações mentais baseadas nesta pequena estória de minha vida que não é minha…

Isso mesmo.

Em minhas entranhas uma criatura rosna e diz do que eu preciso.

É a noite que piora tudo.

É quando não suporto mais ficar dentro de nada. Paredes físicas, relacionais ou virtuais.

Eu sou um zumbi, um Holandês Voador, um cadáver… morri há anos. Ninguém sequer percebeu.

E a criatura me impele. E gargalha. E me faz lembrar.

Você é frágil…

Você é pequeno…

Você é menos que nada…

Uma carcaça vazia…

Um trapo que não pode me conter!

Eu queimo sua pele…

E brilho cada vez mais forte e feroz!

Você não pode me conter…

Nem mesmo com o uísque…

Ou com a velocidade…

Ou com o peso da idade…

Você não tem como me deter…

E, mesmo assim, ainda tenta…

Ainda foge!

Cuidado!

1984.

Diferente do que previu George Orwell, o mundo (ainda) não estava dominado pelo Grande Irmão. Levaríamos, em padrões Globais, mais uns trinta anos para alcançar esse patamar…

O movimento Diretas Já! era algo que acontecia lá fora, marcando o início do fim da ditadura no país, sustentada tão somente pelo já depauperado governo do general Figueiredo, deixando a todos num ar meio que de perplexidade, sem saber exatamente para onde estávamos indo, tendo somente como realidade a última herança dessas duas décadas: um quadro de hiperinflação que ainda iria perdurar por cerca de mais dez anos. E estamos falando de números de quatro dígitos! Era uma insanidade!

Mas nós, adolescentes da época, começando nosso despertar para a vida, para os amigos, para os amores, para o trabalho, para a política, apenas orbitávamos em torno de tudo isso. Nada nos surpreendia, pois quadros como esse já faziam parte de nosso dia-a-dia. Fato processado, assimilado e consumado.

E, para mim, a simples realidade de período integral eram os estudos na ETEP, com tudo que dele fazia parte: mochila Knapsack preta de lona, régua T, outras réguas e esquadros da Desetec, compasso Kern, lapiseira 0,5 Pentel, canetas nanquim, papel vegetal, pranchetas, folhas A4, A3, etc, etc, etc. E, também, um certo cansaço. Apesar da tenra idade, a ida e volta pedalando doze quilômetros todos os dias – e com toda essa tralha nas costas – não era lá muito fácil!. Mas também tínhamos as festas, os namoricos, os trotes, as reuniões. Em especial aquelas que aconteciam no GEDOM, um salão reservado dentro da escola que sediava uma espécie de “clubinho” dos alunos que, como eu, estudavam Mecânica (daí até chegar na área de Direito tem uma longa estrada…). Eram clássicas as batalhas nas mesas de pingue-pongue, bem como as sessões de cinema que fazíamos, tendo por base fitas VHS alugadas ou simplesmente copiadas de alguém – “pirataria” era algo que simplesmente não existia no vocabulário da sociedade da época. Outras coisas eram clássicas lá também, mas este é um blog de família e deixo essa conversa para um pé d’orêia nos botecos da vida…

Enfim, volta e meia aparecia alguém com um filme “novo” para nosso deleite. O dinheiro era escasso, o cinema era caro (hiperinflação, lembram?), então virávamo-nos como podíamos.

E dessas sessões clássicas, lembro-me de uma clássica entre elas: uma tarde em que não havia aula e nos enfurnamos nesse nosso castelo para curtirmos dois filmes. Começamos com o recém-lançado filme Bete Balanço, com a – na época – deliciosa e sapeca Débora Bloch com apenas uns vinte aninhos; e, na sequência, The Wall, do Pink Floyd.

Vocês não têm noção do que foi aquilo.

A história dentro da história dentro da história. Tudo paralelo, simultâneo, ao mesmo tempo. A Segunda Guerra Mundial mesclando-se com uma infância isolada e opressora do mesmo jovem que viria a ser uma depressiva estrela do rock (conhecido como “Pink”), culminando com sua liderança de um grupo de “tudo-fóbicos”. Tudo isso temperado com a total desintegração de seu próprio ser ante o peso de todas essas experiências marcantes de sua vida. E, mais, com uma música de primeiríssima qualidade.

Mas os desenhos – ah, os desenhos!

Hoje todos estão tão acostumados com animações, efeitos especiais, desenhos de todo tipo e calibre, que até poderiam fazer com que os do filme parecessem toscos. Mas não o são. Nem nunca foram. E para aqueles adolescentes alucinados (literalmente) foi uma experiência reveladora! A harmonia do desenho perfeitamente conjugado com o filme, o impacto da música, as cenas fortes, a insinuação sexual nada sutil, enfim, não tinha como não ficar fã daquela banda ali mesmo!

Querem entender um pouco melhor do que estou falando? Aumentem o som e acompanhem…

 
Mas o porquê desse proseio? Bem, tudo sempre tem o seu “porquê”…

Toda essa viagem ao passado serviu somente para contextualizar como e quando conheci esse filme. Os tempos eram outros, as necessidades eram outras, a visão do mundo era outra. Por toda a sociedade.

Entretanto, das últimas manifestações dominicais, do tão aventado “discurso pacífico” autoproclamado por “pessoas de bem”, não me foi possível deixar de lembrar desse filme. Já quase no final, o depressivo e quase enlouquecido personagem acaba recebendo um coquetel de drogas que o leva a alucinar de vez. E segue para seu show, imaginando-se um tipo de ditador neo-nazi e o evento se transforma numa grande e apoteótica manifestação, com gigantesca pompa e circunstância, na qual manipula uma ainda mais alucinada plateia e usa o seu poder de persuasão para que o sigam e “limpem o mundo dos males da sociedade”…

Nada parecido com muita coisa que tem acontecido, não é? Ou será que não?

 
Nessa hora cabe lembrar da famosa frase daquele famoso filme: “Então, é assim que morre a liberdade. Com uma grande salva de palmas…”

Enfim, caríssimos… Cuidado com o discurso fácil e comovente, cuidado com o deixar de pensar em prol de que pensem por vocês, cuidado com as manifestações de ódio (ainda que pensem que não estão a fazendo), cuidado com as acusações infundadas, cuidado em defender um futuro sem conhecer seu próprio passado, cuidado com as notícias cuidadosamente preparadas para sua digestão, cuidado ao se acharem o centro do mundo (ou, ao menos, do Brasil), cuidado com a marcha das ideias, mas, sobretudo, cuidado com as ideias de marcha…