Aproveitem!

Clique na imagem para adquirir seu exemplar!      Clique na imagem para adquirir seu exemplar!

Comprar livro sempre é bom. Mas comprar um livro com desconto é bem melhor… Agora, poder comprar DOIS livros com um ótimo desconto – caramba, o que é que vocês estão esperando?

É que até o próximo dia 21 o Clube de Autores está concedendo descontos em toda linha impressa de livros. E isso inclui os meus best-sellers pessoais:

* Filosofices de um Velho Causídico com 20% de desconto! – São 400 páginas com a coletânea de textos e crônicas deste meu blog na qual, através dos tópicos Coisas de Casal, Criança dá Trabalho, Juridicausos, Vida Besta, Martelando o Teclado e Filosofices eu disponibilizo textos no geral curtos ou curtíssimos – só que às vezes não – onde falo um pouquinho da vida conjugal, da difícil arte de ser pai, de causos jurídicos, das bestagens que fazemos na nossa vida, de contos, pontos de vista, cultura inútil e coisas de antigamente, bem como também compartilho um tanto de elucubrações mentais que volta e meia passam por esta minha cabeça já atordoada por tanta vivência…

* Criança dá Trabalho com 25% de desconto! – Essa criança que um dia você já foi – regra universal insuperável – é a mesma que existe em todas as casas de todo o mundo. Com a mesma imaginação, criatividade, brincadeiras, disparates, carinho sincero, risada solta ou até mesmo choro sentido. E é disso que tratam as mais de 100 páginas desse livro. Algumas aventuras e desventuras, contos, causos, situações, tiradas e sacadas que só teriam como existir saídos da convivência e da fértil imaginação desses pequeninos seres iluminados.

Então, vamos lá! Aproveitem essas mais de 500 páginas, pois são dois pelo preço de praticamente um e meio!

E, cá entre nós, se não pelo leitinho das crianças, ao menos pelo meu uisquezinho de final de tarde… 😀

Saint Young Men

Ou, do original, “Saint Onii-san”. E, se é que já não perceberam, isso aí é japonês, sim – até porque estamos falando de um mangá. Mas dá pra traduzir, literalmente, como Jovens Homens Santos

E quem seriam esses jovens? Ninguém mais, ninguém menos que os próprios Siddartha Gautama (Buda) e Jesus Cristo! Sim, esses mesmos, os “fundadores” do Budismo e do Cristianismo.

Trata-se de um mangá lançado já há alguns anos (2007) e que acabou virando também uma animação (dois curtas e um longa), no qual se conta como ambos, após tantos séculos de trabalho ininterrupto para o bem da humanidade, resolvem tirar férias. E o local escolhido é a cidade de Tóquio dos dias atuais.

Já pensaram nisso? Desde o primeiro momento não tive como não associar com a obra Ilusões – As Aventuras de um Messias Indeciso, de Richard Bach. Só que, no caso, nenhum deles está indeciso. Ambos têm plena compreensão de sua missão e/ou fardo que devem carregar. A questão aqui é que eles estão de férias – ou seja, querem passar incógnitos perante o resto da humanidade e, para isso, passam a dividir um pequeno apartamento no subúrbio. O que se torna um tanto quanto difícil por dois motivos basilares: sua falta de compreensão do dia-a-dia das pessoas no mundo moderno, bem como as involuntárias manifestações de seus poderes divinos.

Já perceberam que essa é uma espécie de comédia extremamente absurda – e, por isso mesmo, hilariante – mas com um humor bastante refinado, que traz as sacrossantas imagens desses homens santos para situações do cotidiano. A autora, Hikaru Nakamura, se aprofundou bastante nos conceitos místicos e divinos tanto do Cristianismo quanto do Budismo, dando aos personagens um tratamento leve e divertido – mas jamais ofensivo! Se bem que isso sempre vai depender da ótica de quem lê. Sei que para alguns somente o fato de cogitar um trabalho desses já seria uma gigantesca ofensa (blasfêmia?) para suas próprias convicções religiosas. Paciência. O mundo é assim mesmo.

Mas, voltando aos personagens, a autora teve o cuidado de traçar o perfil de cada um conforme suas próprias origens. Melhor dizendo, como Jesus nasceu e viveu entre os humanos, sua figura é extremamente humana. Quase pop. Apesar da coroa de espinhos que sempre carrega na testa (!), na maior parte das vezes está relaxado e vestindo camisetas com slogans. Tem um apelo mais jovem, mais descolado, amistoso, generoso, bem-humorado, ingênuo, algumas vezes até mesmo imaturo, e uma imensa dificuldade de controlar seu hábito de comprar coisas… Como é uma pessoa sagrada, quando suas emoções estão no auge (por qualquer motivo que seja), invariavelmente um halo de luz começa a brilhar em sua cabeça, ou sua testa começa a sangrar, ou, ainda, pequenos milagres acontecem à sua volta sem que perceba. Isso sem nem falar dos anjos superprotetores que, de quando em quando aparecem, para seu desespero. Possui um blog de relativo sucesso na Internet – o que vai ao encontro de seu perfil, que apresenta uma certa dependência por seguidores e por popularidade…

Já Buda, que, afinal, representa a sabedoria, de um modo geral acaba sendo o “mais maduro” entre os dois. Mais realista, calmo e racional. Até porque, se avaliarmos toda sua história de peregrinação e desprendimento mundano para alcançar a sabedoria, não teria como ser de outra forma. Mas, nesta série em particular, no que diz respeito a poupar o dinheiro do aluguel, ele chega a ser quase um sovina! Quando encara determinadas situações com mais rigor, levando tudo muito a sério, acaba sendo “salvo” pela simplicidade de Jesus. Aliás, tal qual este, às vezes tem dificuldade para controlar manifestações de sua própria divindade.

A série é repleta de referências culturais, místicas e religiosas, de modo que, ainda que você seja um completo ignorante no que tange à religiosidade cristã e budista, ainda assim tenho certeza de que vai perceber essas nuances – se bem que muito do impacto do humor pode acabar se perdendo, afinal, não tem como você achar graça de uma tiração de sarro de algo que nem tem conhecimento! As principais sacadas dizem respeito ao uso de piadas bem estruturadas e, muitas vezes, irônicas, sobre o cristianismo, o budismo e todas as coisas relacionadas a essas religiões, bem como as tentativas da dupla para esconder suas identidades e compreender a sociedade moderna no Japão. Cada capítulo mostra como esses homens santos vão falar ou reagir a um dia normal – embora também participem da hora do rush, visitem parques de diversões, piscinas públicas e outros lugares.

Saint Oniisan ganhou dois OVA’s (“Original Video Animation”) – espécies de curta-metragem lançados somente para o mercado de vídeo, sem prévias na televisão ou cinema. O primeiro, de 26 minutos, mostra a vinda deles para a Terra e a difícil relação no condomínio onde foram viver, pois a senhoria está sempre desconfiada de algo com relação aos dois. Já no segundo, de apenas uns 10 minutos, após completarem um ano por aqui, eles resolvem fazer uma viagem de trem para comemorar o Ano Novo. Recentemente foi lançado, também, um longa metragem – aproximadamente 90 minutos – que retrata a vida de ambos no decorrer de um ano, passando por cada uma das estações, mas não necessariamente de uma forma linear. Ainda que muito bem humorado, acho que é preciso destacar como funciona a dupla de comédia que Jesus e Buda formam. Jesus faz a comédia mais leve, sempre contando piadas, sempre sendo atraído facilmente para os prazeres mundanos, chegando até mesmo a ser egoísta em alguns momentos – mas sem nenhum medo de ser feliz… Já Buda é o mais sério, controlador e preocupado, de modo que suas piadas acabam sendo mais elaboradas, mais refinadas. Isso quando ele simplesmente não entra em pânico por causa das trapalhadas de Jesus. E é assim, através dessa química que os dois juntos formam, que acabam se completando nesse mangá pra lá de sensacional, que anarquicamente consegue misturar a exata dose de humor com uma quase, quase heresia…

E, talvez seja por isso mesmo que seja tão difícil de encontrá-lo, mesmo nos usuais “cantões” da Internet… Parece que o tema do mangá meio que intimida os costumeiros scans e legendas elaborados pelos fãs. No que diz respeito aos vídeos, apesar de algumas edições disponíveis até mesmo no Youtube, somente consegui baixar com uma resolução decente e uma legenda idem, lá no Dollars Fansub. Já no que diz respeito aos mangás propriamente ditos, com legenda em português até a edição 20 pode ser encontrada no MangaHost – mas para liberar o download tem que se inscrever (nem que seja com sua conta do Facebook). Do 21 em diante vocês, por enquanto, somente vão encontrar ou no original ou em inglês. Como minha língua japonesa anda enferrujada (em todos os sentidos), recomendo a versão do Tio Sam lá do Starkana.

E é isso.

Recomendo – principalmente os filmes.

E boa diversão!

Ou não… 😉

Às companheiras e companheiros do PT

Edinho Silva
Deputado Estadual – PT/SP

Tenho certeza que muito do que escrevi aqui está nas mentes e corações de homens e mulheres que têm doado uma parcela importante de suas vidas para construir um instrumento de lutas chamado PT. Resolvi colocar pensamentos e sentimentos no papel após muitos diálogos, quando todos os interlocutores se mostraram indignados, assustados, aflitos, também confusos, mas com uma imensa disposição e força para defender o nosso patrimônio: esse binômio PT/governo. Sim, é um binômio. Engana-se quem pensa que um superará esse momento sem o outro.

A nossa primeira formulação, nessa escuridão gerada pela tempestade de fatos, é termos certeza de quem somos. Não podemos, em momento algum, ter crise de identidade: nascemos da força dos excluídos, parimos um projeto para eles, fizemos curvas, buscamos atalhos, mas o nosso maior objetivo é a construção de um Brasil sem exclusão social, sem preconceitos, discriminação e que radicalize a democracia em seu sentido mais amplo. O PT nasceu para esse objetivo, sua existência não tem outra razão que não seja ser instrumento dessa busca.

Se temos certeza de quem somos, se “olhamos no espelho da nossa história” e nos orgulhamos da nossa existência como um legado que já inspirou tantos países e tantas lutas, é hora de continuarmos a nossa reflexão. Que ninguém, absolutamente ninguém, que represente os interesses que jogaram o povo na miséria e no abandono por séculos, que ninguém que represente os interesses privados que se apropriam do Estado, venha nos dizer quem somos tentando destruir aquilo que simbolizamos: a esperança da maioria dos brasileiros. E a esperança, meus irmãos e irmãs de caminhada, é a única coisa que sobra para milhões que nasceram alijados das benesses do Estado.

Também é hora de reconhecermos que as instituições brasileiras funcionam, inclusive, porque nós investimos muito para que isso acontecesse. Os governos Lula e Dilma fortaleceram as instituições da democracia. Hoje, elas funcionam e têm legitimidade para isso.

Se a corrupção é endêmica e povoa as instâncias governamentais, ela tem que ser combatida com muita dureza. Companheiros e companheiras, nós sempre defendemos isso. Fomos nós que adotamos como política pública o Orçamento Participativo, a prestação de contas em plenárias populares, a radicalização da transparência. Isso tudo desde as nossas primeiras prefeituras. Errado está quem desrespeitou a nossa história. Se pessoas se utilizaram do PT para enriquecimento, toda vez que isso for provado, esses têm que pagar e nós temos que ser os primeiros a defender a penalização. Repito: nós nascemos e nossa existência só se justifica por sermos o maior e mais robusto instrumento de lutas “para a libertação integral do povo brasileiro”. Não podemos e não vamos servir a outros interesses.

É hora de recuperarmos, com muito orgulho, os nossos últimos feitos. Elegemos um líder operário, um retirante nordestino, alguém que representa a quebra da lógica política da elite brasileira, o homem que sonhou os sonhos do PT e da CUT, reinventando a organização dos movimentos sociais no Brasil. Isso, o nosso projeto coletivo levou o companheiro Lula para a rampa do Palácio do Planalto. Historicamente, isso já ia muito além do que a elite pensante nacional poderia um dia ter formulado. Mas nós mostramos que podíamos mais. A força do nosso projeto coletivo quebrou, mais uma vez, paradigmas e elegemos a primeira mulher presidenta do Brasil. Não apenas uma liderança mulher, a companheira Dilma foi forjada em sessões de tortura, nos esconderijos e celas, imposições do período em que a democracia foi aprisionada; sim, “uma filha da geração dos anos que não terminaram”, fruto da nossa dedicação, recebia a faixa presidencial do operário “que nunca estudou”. Companheiras e companheiros, a nossa capacidade de leitura da realidade, de construção política, de doação aos nossos sonhos quebrou a lógica dominante da história brasileira.

Em 12 anos de um mesmo projeto transformamos as políticas públicas. Trouxemos para as relações econômicas e sociais 40 milhões de brasileiros que viviam escondidos nos calabouços da miséria, mostramos que a ascensão social é possível, a educação se tornou a mola propulsora para o futuro de uma juventude que nunca teve futuro. Os negros, mulheres e índios entraram na agenda nacional, combatemos o preconceito, falamos de igualdade entre todos os brasileiros e brasileiras, não como um sonho inatingível, mas como algo palpável ao nosso cotidiano. O Estado brasileiro passou a funcionar não como instrumento de uma minoria, mas sim para levar direitos e benefícios para cada rincão desse continental país. O Brasil se tornou um país de todos.

Iniciamos agora nosso quarto mandato de um mesmo projeto. Sim, é um mesmo projeto, fruto de inspiração e muita luta coletiva. Esse início de mais um ciclo está marcado pela ofensiva conservadora, a pior da história da República.

Qual a novidade? Achávamos que a elite brasileira, insuflada por uma retomada das mobilizações da direita no continente, iria ficar assistindo nós nos sucedermos na presidência da República, consolidando o nosso projeto? Achávamos que a responsabilidade pela estagnação do ciclo de crescimento econômico, intensificado pela crise internacional, seria imputada ao cassino financeiro do capitalismo internacional volátil e usurpador de oportunidades? Que seriam responsabilizadas as elites que lutam para manter um Estado nacional arcaico, que carrega entulhos de um país que não existe mais? Achávamos que aqueles que hoje nos acusam, que também são os mesmos que armam trincheiras contra as reformas estruturais, seriam benevolentes conosco? Repito, qual a novidade?

Não há novidade, companheiras e companheiros. Há, sim, erros no nosso campo político. Nunca na nossa história assimilamos com tanta facilidade o discurso oportunista de uma direita golpista e nunca estivemos tão paralisados.

O nosso projeto construiu um Brasil de igualdade de oportunidades e estamos no caminho para vencer definitivamente a desigualdade. Nosso projeto pôs o Brasil de pé perante o mundo, criando uma nova geografia política e econômica para a América do Sul, a África se tornou prioridade nas relações internacionais e diversificamos o nosso comércio. Definitivamente, o Brasil rompeu com a dependência do Norte. Nosso projeto enfrentou a pior crise econômica mundial permitindo que o Brasil crescesse de forma responsável.

Agora queremos mais.

Vamos ajustar a nossa economia para que possamos continuar crescendo com justiça social. Vamos executar as medidas econômicas agora para que possamos cada vez mais dar garantias aos investidores, para que possamos atrair investimentos para a nossa infraestrutura e para a produção, gerando mais empregos e oportunidades. É hora de o nosso país consolidar o seu desenvolvimento de forma homogênea, superando as desigualdades regionais. Temos muito espaço para crescer fomentando as nossas exportações e o nosso mercado interno.

Quem trouxe o Brasil de forma segura até aqui, não permitindo que a crise internacional penalizasse os nossos empresários, empreendedores e principalmente os trabalhadores, saberá levar o Brasil, de forma segura, para um futuro ainda mais promissor.

Mas o nosso projeto vai além da agenda econômica. Só nós podemos liderar a batalha de uma verdadeira reforma política e eleitoral. Só nós podemos convocar uma mobilização para uma reforma tributária e fiscal que desonere os mais pobres, só nós podemos, historicamente, estar à frente de um projeto de Brasil que cresça de forma sustentável, sem exploração dos trabalhadores e destruição dos recursos naturais, só nós podemos articular um campo político que não admita retrocessos nos direitos civis e cidadãos.

Sem o PT não existirá esquerda forte no Brasil, não existirá campo progressista e transformador. Sem o PT, os excluídos, os jovens, negros, mulheres, índios, os trabalhadores, as vítimas do preconceito, perderão seu mais robusto instrumento de luta pela verdadeira igualdade.

Companheiras e companheiros: Há momentos na história que a dúvida leva à derrota e há momentos que o recuo leva ao aniquilamento. É hora de “pegarmos a nossa história nas mãos”, e com a certeza na frente revigorarmos os nossos sonhos e irmos para a luta política.

Somos quem somos porque temos história, somos quem somos porque temos capacidade de luta, somos quem somos porque temos a inteligência e sabedoria de quem nasceu e cresceu na adversidade, somos quem somos porque nunca desistimos. Somos quem somos porque aprendemos a teimar e foi teimando que transformamos o Brasil.

Até a vitória!

Atleta urbano – mesmo sem querer

E então, logo cedinho, café preparado, tomado e processado, eis que saio para levar os filhotes para a escola. De cara já encontro o saco de lixo reciclável meio rasgado, meio espalhado. Taquiôspa! Querem fuçar, fucem – mas precisa rasgar e espalhar? Como invariavelmente o lixeiro passa às sete – e só faltavam alguns minutos – pedi para a Dona Patroa juntar tudo aquilo. Dali em diante, operação padrão: levei os filhotes, soltei-os pelo “drive-thru” da escola (é esquisito, mas é isso mesmo…) e voltei pra casa. Minha excelentíssima senhora raio de sol ainda estava a varrer os últimos pedacinhos de papelinhos.

– E aí, deu tempo?

– Quase. Ficou um pouquinho pra trás…

– Paciência. Falta do que fazer, né?

– É. Vamos correr?

Essa última frase é só pra comprovar que a Dona Patroa dirige pra lá de perigosamente quando está numa conversa. Ela muda de assunto numa guinada de 180 graus, sem dar seta, nem sinalizar. Normalmente isso me faz perder alguns segundos até que eu possa me situar e me adaptar à nova situação. Ou ao novo assunto, como queiram.

– Nah… Não tô legal…

– Isso é ressaca! Não foi a cachaça de ontem, não?

– A-mor-da-mi-nha-vi-da (assim mesmo, desse jeitinho lento e sincopado, que é para garantir total atenção), entenda uma coisa: eu sei muito bem o que é ressaca. E isso não é. Pelo jeito estou ficando é meio gripado. Prefiro ficar em casa, mesmo.

Só para lembrar nossas desventuras tuitísticas compartilhadas nas redes sociais: eu, de férias, passei praticamente os primeiros quinze dias conjuntivitiaditivado. E, agora, na segunda quinzena, provavelmente deverei passar engripado. Garganta coçando e a cabeça doendo.

E, de volta à nossa desventura, lá se foi ela rua afora, lépida e faceira, com seus bem pesados cinquenta quilos distribuídos por um metro e cinquenta e três de pessoinha. Hah! Tô fora. Prefiro mais é tomar um (outro) café.

Passado um tempinho, pontualmente vinte para as oito, eis que toca a campainha. Estranho. A empregada somente chega às oito…

Fui dar uma olhada e, lá embaixo, estava a Dona Patroa aguardando para que eu jogasse as chaves. Ah, só pra contextualizar: nossa casa foi construída acompanhando um morro, de modo que o primeiro patamar, no nível da rua, abriga a garagem, o segundo patamar, um andar acima, a casa propriamente dita e ainda há um terceiro patamar, no quintal, onde fica lavanderia, varais, as plantas que a Dona Patroa planta para meu sogro cortar quando ela menos esperar, etecétera e coisa e tal. Isso faz com que tenhamos um muro de uns quatro metros a proteger a frente desse verdadeiro bunker – muito prático, diga-se de passagem. Lá de cima dá pra ver quem tocou a campainha e até fazer de conta que não tem ninguém, conforme seja um cobrador, um oficial de justiça ou uma testemunha de jeová. Bom, enfim, tirei um sarro por ela não ter levado a chave e joguei-lhe o molho. Aliás, sabiam que, nesse contexto, pronuncia-se “mólho”? Sim, sim, continuamos hoje e sempre com nosso programa de cúltura inútil…

Foi quando ela me respondeu:

– Engraçadinho! Caiu na escada, não foi?

Na hora já compreendi que ela não havia esquecido as chaves, mas, sim, perdido. Engoli em seco.

Por mais que o bunker seja um bunker, com a chave certa qualquer um facilmente entra. Simples assim. Perguntei-lhe se era sério. Era. Merda. Calcei o tênis e, a contragosto, parti para a caminhada que não queria fazer em busca das chaves de casa. “Está num chaveirinho assim, azul…”, ela me disse. Ah, que ótimo! Facilitou muito. Com isso devo ter descoberto no mínimo umas dez espécies novas de miosótis que nasceram por toda extensão da mata lateral à calçada em que costumamos caminhar…

E eu ali, engripado, preocupado, com dor de cabeça e a garganta arranhando, tal qual Lancelote, parti na empreitada em busca da santa chave perdida.

Isso é só pra provar que, por mais que você esteja fodido, as coisas ainda podem piorar. Sempre. É como aquele caboclo que perdeu a namorada, está arrasado, sem vontade de trabalhar, de comer, sequer de viver, e, para coroar tudo isso, teima em buscar a música mais dor de cotovelo que existe na face da Terra e colocá-la para tocar em alto e bom tom, que é pra poder afundar de vez na fossa, chorar copiosamente sua perda e arrebentar com tudo de vez.

Mas tergiverso.

E lá fui eu, passo a passo, literalmente escaneando a calçada, o meio-fio, a mata adjacente. Meu sexto sentido me dizia que essa chave somente poderia ter sido perdida em um de três lugares distintos, que é onde eu faria uma busca com maior acuidade. Mal caminhei cinquenta metros e um caboclo do outro lado da rua, de uma empresa que trabalha com gesso, começou a me chamar, balançando um jogo de chaves ao alto. Não acreditei! Ele me viu procurando alguma coisa e supôs que seriam aquelas chaves. Que sorte!

Atravessei a rua e ele me perguntou se eu estaria procurando algumas chaves, eu lhe disse que sim, ele disse que tinha aquelas ali que tinha encontrado na mesma calçada de caminhada, eu lhe agradeci, dizendo que a Dona Patroa tinha perdido as chaves ainda há pouco, enquanto pegava de sua mão aquele chaveiro vermelho (Péraê, péraê! Vermelho?…), ao que ele disse que não, não era de hoje, mas tinha encontrado aquelas chaves há alguns dias, quando conclui que não, aquela não era nossa chave, então tá, fica assim, paciência, boa sorte aí pra você e tomara que encontre sua chave! A conversa foi mais ou menos essa e só sei que saí de lá sem chave nenhuma. Que azar!

Continuei minha inglória busca enquanto, para ajudar, o sol começava a despontar. Já cansei de lhes falar que eu e o sol nunca tivemos um relacionamento lá muito bom. Sou, por excelência, notívago e quando me exponho ao dito cujo, em que nível for, tenho vampirescos problemas de pele. Não. Nada a ver com aquela viadagem do Crepúsculo, onde vampiros viram purpurina. Minhas reações estão mais para Christopher Lee, aquele dos antigos filmes de vampiro, dos estúdios Hammer, da década de cinquenta, pois qualquer pouquinho a mais de queimadura com qualquer mínima exposição que eu tiver ao sol e ainda acabo virando pó.

 
Oi?

Não sabem de quem estou falando?

Tudo bem, vocês fazem parte da geração que somente vai lembrar desse ator no recente papel de Conde Dookan, da saga Star Wars, ou, ainda, como Saruman, em Senhor dos Anéis…

E passo a passo prossegui até o ponto que costuma ser o limite da caminhada da Dona Patroa. E nada. Fucei e fucei na grama, nos equipamentos de ginástica, no mato, em tudo quanto é canto e nada. Resolvi voltar e, agora, prestar mais atenção no meio-fio. Mas sem descuidar do resto. E cada um que passava por mim, eu ainda tinha um mínimo de esperança que olhasse para aquela patética figura da minha pessoa e dissesse: “Parece que você está procurando algo. Seria uma chave? Acabei de encontrar esta ali atrás…” Nisso eu ficaria agradecido, sorriria, diria algum gracejo, agradeceria novamente e tomaria o rumo de casa, pronto para, vitorioso, me apresentar à Dona Patroa. Mas a vida é uma caixinha de surpresas… Ou não. Nada de ninguém me abordar e, muito menos, de eu encontrar a malfadada chave.

O que me faz lembrar de um antigo causo da época da faculdade. Tínhamos um professor, o P.C., que, se não me engano, dava aula de Direito Penal. Jé era um princípio para eu não gostar do caboclo… Mas acontece que ele adorava contar his(es?)tórias de sua própria época de faculdade – para desencanto geral de nós, pobres alunos ouvintes… Uma delas diz respeito a uma farra que eles fizeram numa noite, na praia, e no dia seguinte, ainda de ressaca, ele saiu a procurar o relógio que havia perdido. Palavras dele (juro!):

“- Então eu estava ali, com o sol começando a raiar, procurando meu relógio naquele mundo de areia. Mas, de repente, eu vi um brilho e percebi que só podia ser meu relógio. Isso porque era um brilho diferente, pois, não sei se vocês sabem, o ouro de um Rolex legítimo realmente tem um brilho diferenciado…”

Sim. Pasmem. Essas eram minhas aulas de Direito Penal.

E que pena que nem o chaveiro nem a chave perdida sejam de ouro de (en)Rolex. Eu poderia chamar esse antigo professor pra ver se encontrava a porra da chave.

Enfim, cheguei em casa. Fui confirmar mais uma vez se ela não havia esquecido as chaves no próprio bolso, ou perdido em frente de casa, sei lá. Nada. Com ela já pronta para sair para o trabalho, desci até a garagem para que trocássemos os carros de lugar (logística, lembram?). Mal saiu e eu, ainda manobrando o bom e velho Cruzador Imperial (também conhecido como Opalão), eis que ela volta.

– Uai? Que foi?

– Óculos.

– Êitcha! Parece que o dia hoje promete. Quando você não está perdendo alguma coisa está esquecendo outra…

E lá se foi ela escadas acima atrás dos óculos. E nadica de nada das chaves. Paciência. E tudo isso somente para uma coisa serviu: para que eu, mesmo não querendo, acabasse fazendo uma caminhada. Ainda que gripado.

Ah, antes que eu me esqueça, quanto àqueles três lugares distintos que minha infalível intuição garantiu que as chaves estariam: não estavam.

Ou seja, já tá na hora de recalibrar essa piromba de sexto sentido…