Nonsense…

Que o seu afeto me afetou é fato
Mas agora faça-me o favor

Os opostos se distraem, os dispostos se atraem.

De ontem em diante serei o que sou no instante agora.

Sem horas e sem dores, respeitável público pagão
Bem vindo ao teatro mágico, sintaxe a vontade…

“O Teatro Mágico”

Secular cultura de boteco taberna

Clique na imagem para ampliar!
( Publicado originalmente no blog etílico Copoanheiros… )

Adauto de Andrade

Taí um ótimo exemplo do que é a cultura botequística, digo, tabernística através dos séculos…

Com vocês um pouco de música clássica em latim (UIA!) e sua respectiva tradução (meio tosca – mas já valeu). A origem dessa música, com toda sua beleza e força, vem de um manuscrito profano (Codex Burana) escrito lá pelo século XIV e que contém centenas de poemas que falam de jogos, bebidas, amor e outros vícios.

Aumentem o som e apreciem, diretamente do LP (velho taberneiro como eu e que se preza não tem CD-Player, tem vitrola!) Carmina Burana, sob a regência de Carl Orff

In Taberna Quando Sumus
(Quando estamos na taberna)

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In taberna quando sumus
non curamus quid sit humus,
sed ad ludum properamus,
cui semper insudamus.
Quid agatur in taberna,
ubi nummus est pincerna,
hoc est opus ut queratur,
sic quid loquar, audiatur,

Quidam ludunt, quidam bibunt,
quidam indiscrete vivunt.
Sed in ludo qui morantur,
ex his quidam denudantur
quidam saccis induuntur.
Ibi nullus ti met mortem,
sed pro Baccho mittunt sortem:
 

Primo pro nummata vini,
ex hac bibunt libertini;
semel bibunt pro captivis,
post hec bibunt ter pro vivis,
quater pro Christianis cunctis,
quinquies pro fidelibus defunctis,
sexies pro sororibus vanis,
septies pro militibus silvanis.

Octies pro fratribus perversis,
nonies promo nachis dispersis,
decies pro navigantibus,
undecies pro discordantibus,
duodecies pro penintentibus,
tredecies pro iter agentibus.
Tam pro papa quam pro rege
bibunt omnes sine lege.

Parum sexcente nummate
durant, cum immoderate
bibunt omnes sine meta,
quamvis bibant mente leta,

sic nos rodunt omnes gentes,
et sic erimus egentes.
Qui nos rodunt confundantur
et cum iustis non scribantur.

Io io io io io io io io io !

Quando estamos na taberna
Não pensamos na morte
Corremos a jogar
O que nos faz sempre suar
O que se passa na taberna
Onde o dinheiro é hospedeiro
Podeis querer saber
Escutai pois o que eu digo

Uns jogam, uns bebem
Uns vivem licenciosamente
Mas dos que jogam
Uns ficam nus
Uns ganham aqui suas roupas
Uns se vestem com sacos
Aqui ninguém teme a morte
Mas todos jogam por Baco

Primeiro ao mercador de vinho
É que bebem os libertinos
Uma vez aos prisioneiros
Depois bebem três vezes aos vivos
Quatro a todos os cristão
Cinco aos fiéis defuntos
Seis às irmãs perdidas
Sete aos guardas florestais

Oito aos irmãos desgarrados
Nove aos monges errantes
Dez aos navegantes
Onze aos brigões
Doze aos penitentes
Treze aos viajantes
Tanto ao Papa quanto ao rei
Bebem todos sem lei

Seiscentas moedas não são suficientes
Se todos bebem imoderadamente
Sem freio
Bebam quanto for, o espírito alegre

Todo mundo nos denigre
E assim ficamos desprovidos
Que sejam confundidos os que nos difamam
E sejam seus nomes riscados do livro dos justos

Io io io io io io io io io!

Monteiro Lobato VETADO!

Vamos ao absurdo da vez.

Soube primeiramente lá pelo Twitter (depois de tudo que eu disse, quem diria, hein?) do Mestre Sérgio Leo, que citou notícia veiculada pela Folha: Conselho de Educação quer vetar livro de Monteiro Lobato nas escolas.

Acontece que a conselheira Nilma Nilo Gomes, professora da UFMG, redigiu um documento – aprovado por unanimidade pelo Conselho – em que, dentre outras coisas, afirma que certos trechos do livro Caçadas de Pedrinho “fazem menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano”. Já para a Folha disse que a obra pode afetar a educação das crianças.

Antes de mais nada me deixem explicar uma cosinha (para os que não sabem): ESSE LIVRO É DE 1933!

Será que não dá pra perceber que os tempos, então, eram outros? Que a sociedade era outra? Se um livro não condiz mais com a “realidade” da sociedade também não poderá mais ser lido?

Àqueles que pensarem em argumentar que “mas estamos falando de literatura para crianças”, esclareço que CRESCI lendo TODA a obra de Monteiro Lobato – e nem por isso sou racista, alienado, ou qualquer outra pecha que queiram me impingir…

Com todo o respeito ao extenso currículo da conselheira Nilma (e é extenso mesmo), entendo que, ainda que a intenção do tiro possa (segundo entenda) estar certa, o alvo está total e completamente errado. Quer proteger nossas crianças de informações que possa “adulterar-lhes o caráter”? Tire-as da sala de estar. Ou de qualquer outra que contenha um aparelho de TV. Proíba-as de acessar a Internet. Não as deixe ler jornais e semanários. Controle tudo que é publicado em gibis e revistas – inclusive nas do Maurício de Souza. Não permita que acessem bibliotecas.

Hein?

Não dá?

Será que é porque vivemos na Era da Informação?

A questão não é proibir – nunca foi. A questão é qualificar o acesso à informação. Tenho três filhos – seis, oito e onze anos. Jamais os proibi de ler nada. Mas, dependendo da literatura, sempre expliquei e contextualizei histórias, estórias, contos e causos de acordo com época, civilização, momento econômico. Parece muito? É. Criar filhos dá trabalho. Não dá pra delegar tudo para as escolas – temos que fazer nossa parte em casa. Torná-los críticos e sensíveis à realidade que os cerca.

Se não for assim, então basta proibir.

Bom, o que era para ser um texto curto virou um belo dum desabafo…

Mas, além do Mestre, também fez menção ao assunto o copoanheiro virtual Jarbas – excelente crítico e educador – bem neste link, de onde nos remete para dois outros textos que tratam da obra The Language Police, de Diane Ravitch. Recomendo a leitura. Dos links – este e este – eis que o livro (ainda) não li.

Enfim, como comentei lá no Boteco Escola, a impressão que tenho é de uma volta ao passado, com o retorno de um Dr. Fredric Wertham numa nova roupagem – mas dessa vez almejando um “Book Code”.

Hm?

Não sabe quem foi ele?

Já transcrevi um texto a respeito da façanha desse sujeito que, graças ao seu livro Seduction of the Innocent, conseguiu mudar os rumos de toda uma indústria de quadrinhos – pois dali teve origem o Comics Code. Esse texto, na íntegra, está aqui, sob o título A Censura nos Quadrinhos (ah, o bom e velho Ctrl-C…).

Mas toda essa história de censura aconteceu há muito tempo, lá na época do Macartismo (meados da década de 50).

Entretanto, agora, mais de meio século depois, o discurso parece que não mudou…

Emenda à Inicial:

O Mestre Sérgio Leo, crítico arguto e ponderado, brinda-nos com dois excelentes textos acerca do tema:  O racismo de Monteiro Lobato e O equivocado ataque ao MEC por causa do Monteiro Lobato. Li e concordo com seu posicionamento – o que não deixa também de estar de acordo com tudo que escrevi aqui. Isso porque o foco principal de todo esse meu desabafo é apenas um: a questão da censura. Abomino-a sob qualquer forma – ainda que “branda”. E, na minha opinião, em última análise é exatamente isso que se percebe no Parecer CNE/CEB nº 15/2010, de 1º de setembro de 2010. Já disse antes mas repito que a questão básica é qualificar o acesso à informação. E isso, ainda que em outras palavras, também está lá no parecer. Enfim, leiam o parecer bem como os textos do Mestre. Recomendo.

Antonio Teodoro Santana eMargarida Teixeira Guimarães

Trata-se, na realidade, de um processo matrimonial de dispensa de impedimento em função do parentesco existente entre ambos – o tio dela era casado com a mãe dele.


 PROCESSO MATRIMONIAL de ANTONIO THEODORO DE SANTANA e
                         MARGARIDA TEIXEIRA DE GUIMARÃES

 ----------------------------------------------------------------------
 | Arquivado no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - MG  |
 | Transcrito por: Izabella Fátima Oliveira de Sales                  |
 | Transcrito em :                                                    |
 | Solicitante   : Regina Junqueira                                   |
 | Objetivo      : Dados Genealógicos                                 |
 | Documento     : Processo Matrimonial                               |
 | Referência    : 081817/33/8182                                     |
 | Local         : Carrancas                                          |
 | Data          : 1840(?)                                            |
 | Número de folhas originais:                                        |
 | Disponibilizado  em  http://br.geocities.com/projetocompartilhar - |
 | Projeto Compartilhar - Resumos de Inventários,Testamentos e outros |
 | documentos do Sul de Minas                                         |
 ----------------------------------------------------------------------

 Oradores: Antonio Theodoro de Santana e
           Margarida Teixeira de Guimarães 

 - FL.002 -

 [Abertura:]

 Diz o Orador Antonio Theodoro de  Santa  Anna  natural  e  morador  na
 Freguesia de Carrancas, que está contractado para se casar  com  Donna
 Margarida Teixeira de Guimarães natural da mesma Freguesia, porem  não
 se podendo já realizar o dito casamento apesar de  haver  motivo  para
 toda a brevidade por serem consanguineos pelo lado paterno, em segundo
 grau de linha transversal igual e pelo lado  materno  em  quarto  grau
 (...)

 [Itens:]

 (...) O Orador hé  filho  legitimo  de  Francisco  Theodoro  Teixeira,
 inteiro Irmão de Donna Maria Vicência  Teixeira mãe da Oradora (...) A
 Avó da Oradora era Prima Irmã do Avô do Orador

 - FL.008/VERSO -

 [Inquirição das Testemunhas:]

 Jose Antonio das Neves  homem  branco  cazado,  natural  do  Reino  de
 Portugal, e morador nesta cidade, onde vivê de sua  agencia  (...)  62
 anos.

 [Depoimento:]

 Apenas afirma os itens.

 - FL.009/VERSO -

 [2a Testemunha:]

 Jose Pedro de Guimarães homem branco solteiro natural da Freguesia  de
 Carrancas, rezidente nesta cidade, negociante (...) 26 anos (...)

 [Depoimento:]

 (...) dice que era sobrinho legitimo do Pay da Oradora.

 [3a Testemunha:] 

 Joaquim Pereira Godinho homem branco solteiro (...) 27 anos natural da
 Freguesia do Turvo, residente nesta Cidade onde vive  de  sua  agencia
 (...)

 - FL.011 -

 [Depoimento:]

 Apenas afirma os itens.

 - FL.012 -

 [Juramento do Orador:]

 (...) dice que elle he filho legitimo de Francisco Theodoro Teixeira e
 que Donna Maria Venancia Teixeira, may da Oradora, he irmã (do pai) do
 Orador, e que a Avó da Oradora era Prima Irmã do Avo do Orador. (...)
 
 - FL.013 -

 [Juramento da Oradora:]

 (...) ella Oradora he filha legitima de Francisco de Paula  Guimaraes,
 e de Donna Maria Venancia Teixeira, e que  a  Avó  della  Oradora  era
 Prima Irma do Avó [sic] do Orador; (...)

 [Conclusão:]

 (...) dispenço com os referidos Oradores do mencionado impedimento  de
 consangüinidade  duplicada,  para  que  possão  valida  e  licitamente
 receber-se em Matrimonio, e nesta  forma  se  lhes  de  sua  Sentença.
 Mariana 12/11/1846

 Francisco Róis de Paula