Um Feliz Natal

Minha ausência nos últimos dias foi necessária. Para colocar as ideias em ordem. Para colocar as perspectivas em ordem. Para colocar as finanças em ordem. Enfim, para colocar a casa em ordem.

Então, quando menos espero, eis que o Natal já está quase aí. Veio chegando, chegando, e – sem nenhum aviso – praticamente chegou.

Tentando não cair naquele discurso ortodoxo, convém que não nos esqueçamos o porquê dessa data, afinal de contas…

Pensei em escrever sobre muitas coisas nesta véspera de Natal. Mesmo. Entretanto nada parecia bom o suficiente.

Nada realmente chegou a evocar o que seria o “espírito natalino” em mim. Até hoje pela manhã.

Em casa, já há algumas semanas, a Dona Patroa criou um “sistema de pontos” para os três filhotes. Funciona mais ou menos assim: a cada atitude extraordinária, que ultrapassasse as obrigações normais de cada um, cada filhote ganharia um ponto. Entretanto, qualquer atitude negativa, independentemente do que quer que a tenha gerado, implicaria na perda de um ponto. Ao alcançar cinquenta pontos eles fariam jus aos seus presentes de Natal. Caso contrário, ficariam sem.

Sei, sei, parece muito o sistema de pontuação de Hogwarts, mas garanto que foi original por parte dela…

Enfim, considerando os três aninhos do caçula, ele seria café-com-leite (alguém ainda se lembra do que isso significa?), mas os mais velhos, com seis e oito, estavam dentro do jogo. O mais velho até hoje de manhã já havia acumulado mais de sessenta pontos; porém para o do meio ainda faltavam seis pontos.

É LÓGICO que eu não o iria deixar “sem Natal” e, por isso mesmo, estava arranjando as tarefas mais estapafúrdias para que ele me ajudasse e conseguisse ganhar os pontinhos que faltavam. Mesmo assim, a determinada altura o mais velho chegou e perguntou:

– Paiê, eu estou com um monte de pontinhos sobrando. Você não pode passar pra ele pra que ele possa ter Natal também?

Não preciso nem dizer que quase fui às lágrimas. Abracei-o com todo amor que poderia passar e expliquei-lhe que aquela atitude era muito bonita, mas que não seria possível, pois cada um deles teria que fazer por merecer seus pontinhos.

Mas isso calou fundo na minh’alma. Vai ao encontro de tudo aquilo que mais acredito e que procuro sempre professar.

O puro e simples compartilhar. Sincero. Desinteressado. Ou melhor, há interesse sim – o de beneficiar alguém.

E é isso que eu desejo a todos. Mais do que os presentes. Mais do que as festas. Mais do que as congratulações. Que uma atitude simples como essa também consiga os afetar, fazendo nascer o verdadeiro espírito natalino, o espírito de compartilhar.

Com alegria.

Com sinceridade.

Com desinteresse.

FELIZ NATAL !!!

P.S.: A quem interessar possa, é LÓGICO que o filhote do meio conseguiu os pontinhos que faltavam…

Basta estar vivo…

Não tem como suavizar a notícia.

Faleceu nesta madrugada de 19/12/2007, de infarto fulminante, o engenheiro Davi Monteiro Lino.

Vice-Prefeito do Município de Jacareí, interior de São Paulo, Secretário de Infraestrutura Municipal, um dos principais articuladores políticos da Administração e o mais provável candidato à sucessão nas eleições municipais de 2008.

De caráter fortíssimo, decidido, determinado, temido e respeitado tanto pelos amigos quanto por seus oponentes, era uma pessoa que se destacava em qualquer ambiente.

De uma racionalidade ímpar, tinha baixíssima tolerância para trabalhos mal feitos ou, sob seu ponto de vista, ineficazes, momentos nos quais, com voz trovejante, colocava em alto e bom tom o teor de seu desagrado.

Confesso que, justamente por essas características, e taurino como sou, tive também meus entreveros com ele. Dos brabos. Apesar disso, sua linha de trabalho, às vezes quase ditatorial, sempre se contrapôs àquela sua outra personalidade – mais condizente com este que vos escreve – a de botequeiro.

Sempre apreciador de uma boa discussão, com uma notável memória para os fatos históricos e políticos tanto do município quanto do país, seria possível ficar horas a fio ouvindo-o discorrer sobre os inúmeros causos que conhecia, de que participou ou mesmo protagonizou.

De um recente curso que fizemos juntos, minha maior surpresa foi descobrir que na “classificação técnica” que lhe foi atribuída ele foi qualificado como “introvertido”. Um caboclo daquele tamanho, daquela envergadura, daquela postura, introvertido? Difícil de acreditar…

Enfim, ainda que sob risco de parecer rude, convém dizer que não é sua morte que vai torná-lo santo. Tinha seus defeitos, é lógico. Mas também tinha suas virtudes – que não eram poucas. Sejamos justos com quem sempre procurou ser justo.

Ainda estou meio que aparvalhado com tudo isso. Para se ter uma ideia de sua presença na administração do Município, fica difícil prever os rumos que as coisas irão tomar doravante. Apesar de tudo, de nossos embates, de nossas reuniões, de nossas poucas discussões à mesa do bar, confesso que ele vai fazer falta. À Administração. Aos amigos. Aos copoanheiros. Ao próprio Município.

Requiem aeternam dona eis, Domine.

(P.S.: agora é o Bicarato, aproveitando o espaço do *Legal*: corroboro todas as palavras acima, e gostaria apenas de complementar que a cidade, e os amigos, perdem uma personalidade que deixa, sim, um vazio enorme. Cada pessoa que se vai deixa esse vazio, mas no caso do Davi, queria ressaltar a inteligência ímpar, o que não é pouco nas circunstâncias em que vivemos. Com todos os defeitos, e a aparente arrogância que caracteriza quem não suporta ver as coisas mal feitas, como o Adauto já disse acima, mas que na verdade é apenas uma autocobrança, o *Gordinho* deixa, agora, esta cidade um pouco mais burra, pra falar o português claro. Que se anote: quando ele queria ser chato, sabia sê-lo como poucos. Mas ser cobrado por um cara desses sempre foi um desafio.)

Combatendo o stress

Como evitar dissabores, discordâncias, desentendimentos e afins com a Dona Patroa em dia de organização de festa de criança em casa, em apenas duas lições:

Lição nº 1: acorde cedo e execute – por si só – todas as tarefas dignas do macho-alfa-dominante (pelo menos é o que você acredita) que lhe seriam delegadas no decorrer do dia pela Dona Patroa (coisas altamente técnicas e essenciais, tais como empurrar sofás, trocar xaxim da samambaia de lugar, prender as cachorrinhas no fundo, etc).

Lição nº 2: saia de casa e só volte momentos antes da festa, com tempo suficiente para um bom banho.

Para sucesso da empreitada é importantíssimo não manter contato visual com a Dona Patroa entre o desenvolvimento de uma lição e outra. Basta seguir esses passos simples e eficazes que – garanto – tudo correrá dentro da mais tranquila normalidade e você não estará sujeito a nenhuma intempérie no decorrer do dia, dado o grau de ansiedade dela para que tudo dê certo na festinha do pimpolho.

É LÓGICO que a besta que vos escreve jamais conseguiu fazer isso.

Nove-ponto-zero

Pois é.

Nove anos.

O tempo voa.

Parece que nosso casamento foi ainda ontem…

Sábado. Doze de Dezembro. Onze da manhã. Contrastava perfeitamente o vermelho do tapete estendido no verde do gramado de uma bela chácara. Dia razoavelmente quente, com uma fina garoa que não tinha certeza se caía ou não. A juíza de paz entrou na brincadeira e leu toda aquela documentação oficial pontuando com alguns espaços para entrada do noivo, da noiva, vinda das alianças, etc. Padre? Não. Só um pastor (não me lembro mais de qual religião) que viria dizer ecumenicamente algumas palavras. Até porque, por eu já ser divorciado e, segundo a igreja católica (assim, em minúsculas mesmo), condenado ao fogo do Inferno, padre não rolava. Mesmo assim o pastor se atrasou…

Casal casado, toca pra festa!

Bastou andar uns vinte metros e a casa grande da chácara já nos aguardava para um bom almoço. Era o antigo restaurante Coelho & Cabrito, que, àquela altura, pertencia às meninas outrora proprietárias daquele nosso barzinho favorito, o Kabala – a última notícia que tive é que elas abriram um restaurante na China! Dá pra acreditar? Já saiu até matéria na veja sobre isso.

Recebemos um por um por um por um, e foi todo mundo se acomodando naquele ranchão enorme com mata por todos os lados até onde os olhos podiam enxergar. Não demorou muito, o pastor chegou, pediu uns minutinhos de atenção a todos (que já haviam começado a se servir) e disse suas palavras e pediu a bênção do Senhor.

Isso rendeu aquele ótimo comentário do amigo, compadre e copoanheiro Luisinho (é, o Luís Henrique): “O melhor casamento que eu já fui foi o do Adauto e da Mieko. O único em que, enquanto o padre estava falando, eu podia ficar lá, sentadão, ouvindo, e ainda com um copo de cerveja na mão!”

Naquele dia vimos bastante gente que, há muito, não encontrávamos. Alguns sequer voltamos a ver desde então. Rimos bastante. Divertimo-nos bastante. Não vou cometer a heresia de tentar lembrar o nome de quem foi, pois COM CERTEZA vou esquecer alguém. Mas não posso deixar de lembrar que, já no fim da festa, quando quase todo mundo tinha ido embora, o pessoal já limpando as dependências da chácara, ainda ficamos eu, você, o Benê (ainda com bigode), a Márcia e o Maurício, todos ali sentados e tomando cerveja até quando pudemos…

Nove anos.

Tanta coisa já aconteceu…

Já moramos no litoral, lá em São Sebastião (a uns cinquenta metros da praia, lembra?), você veio trabalhar no fórum local, nasceu nosso filho, mudamos de casa, trocamos de carro, nasceu nosso filho, mudamos para um apartamento, fechei o escritório, nasceu nosso filho, mudamos de casa de novo, e por aí afora…

Passamos por altos e baixos. Poucas e boas. Fases boas e fases ruins. Mas TODO casamento é assim. Tem hora que a gente quer ficar o tempo todo um do lado do outro. Tem hora que dá vontade de sair correndo e gritando.

Mas tudo passa.

Com certeza novas situações virão. Novos empreendimentos. Novas dívidas. Novas encrencas. Novas brigas. Novas pazes. Novas renovações inovarão as novidades novamente.

E assim o mundo gira, o círculo se fecha e o amor se renova.

Independentemente de tudo isso, e recorrendo ao mais antigo dos clichês (correndo o sério risco de ser tão brega quanto piegas), posso afirmar categoricamente que estou pronto a enfrentar o que vier, desde que com você, pois quero envelhecer ao seu lado…

Te amo, Mi.

Dois pesos e duas medidas

Para um “Tribunal de Ética” que usualmente posa de moralizador extremo, muitas vezes não permitindo que um advogado dê um simples bom dia na rua sob o risco de estar “mercantilizando a profissão”, eu sinceramente não entendo. Há alguns anos já tive um embate ferrenho com esses dinossauros, mas o link dessa história estava na antiga configuração do site. Não demora muito, disponibilizo novamente aqui. Enfim, creio que tudo sempre depende de quem pergunta e quais interesses se deseja tutelar. Mas vamos à notícia, direto do clipping da OAB-SP:

“TRIBUNAL DE ÉTICA SE PRONUNCIA SOBRE COBRANÇA DE HONORÁRIOS POR BOLETO BANCÁRIO

Em 12/12/2007

Parecer da Turma de Ética Profissional do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB SP expressa que não é vedado ao advogado enviar carta de cobrança ou notificação extrajudicial para recebimento de seus honorários, sendo que o contrato de honorários constitui instrumento apto à fixação e possível cobrança de serviços advocatícios. O relator Cláudio Felippe Zalaf ressalta que o boleto bancário não é titulo de crédito, mas documento compensável e destinado a servir como meio de cobrança de valores líquidos e certos, contratados e aceitos, sendo que pode ser usado para cobrança simples de honorários advocatícios quando houver previsão contratual e expressa concordância do cliente, sem a discriminação do serviços prestados, vedada qualquer instrução ao banco recebedor sobre penalidade em caso de inadimplência.

Veja a íntegra do parecer:

Indaga o consulente se é possível à emissão de boleto para cobrança de honorários advocatícios.

A duvida do consulente diz respeito à cobrança de honorários advocatícios por meio de boleto bancário.

É preciso uma avaliação mais ampla do caso vertente submetido a esta Corte para conceituar o que pode e o que não pode o advogado e como deve ele proceder o advogado para o recebimento de seus honorários, seja por serviços já prestados ou por aqueles ainda em andamento profissional.

O Código de Ética e Disciplina – CED determina, no artigo 42:

“O crédito por honorários advocatícios, seja de advogado autônomo, seja da sociedade de advogados, não autoriza o saque de duplicatas ou qualquer outro titulo de crédito de natureza mercantil, exceto a emissão de fatura, desde que constitua exigência do constituinte ou assistido, decorrente de contrato escrito, vedada a tiragem de protesto”.

1. – A primeira leitura desse dispositivo sugere que o advogado não poderia sequer receber um título de crédito em pagamento de seus honorários (nem mesmo um cheque ou nota promissórias, que são títulos de crédito), e se o recebesse, não o poderia jamais protestar. Essa interpretação foi sedimentada no âmbito de nossa classe, e prevalece ainda hoje. Mas uma nova avaliação do mesmo dispositivo indica, todavia, que não é bem assim.

2. – Com efeito, a análise sistemática do artigo 42 acima transcrito permite uma nova abordagem interpretativa, à luz dos conceitos jurídicos que norteiam o direito cambiário, e definem a natureza jurídica dos títulos de crédito.

3. – Na lição de Vivante[1], “título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito [de crédito], literal e autônomo, nele mencionado”. São atributos comuns a quaisquer títulos de crédito: incorporação (a própria cártula), literalidade (vale pelo que nela está contido) e autonomia (o direito do possuidor do título independe de quaisquer outras razões ou direitos dos possuidores anteriores do título, aos quais não se vincula).

[1] Vivante, César. Trattato di diritto commerciale, 3ª. ed. Milão, s/d, v.3., n.953, p.154-155, apud Wille Duarte Costa, “Títulos de Crédito, 2ª. Ed. 2006, Ed. Del Rey, pág,. 67.

4. – Vários são os títulos de crédito admitidos no direito brasileiro, e este breve artigo não pretende aprofundar-se no seu estudo. Para os fins desse artigo, apenas uma breve comparação entre dois deles já lança luz para as conclusões pretendidas na interpretação do artigo 42 do CED.

5. – Regulada pela Lei 5474/68, a DUPLICATA define-se como um título de crédito causal e à ordem, que pode ser criada pelo credor, no ato da extração da fatura, para circulação como efeito comercial, decorrente da compra e venda mercantil ou da prestação de serviços, para aceite do devedor, destinatário dos bens ou serviços, oportunidade em que o documento se aperfeiçoa como título de crédito.

6. – NOTA PROMISSÓRIA é um título de crédito sob a forma de promessa de pagamento, solene, direta e unilateral, de certa quantia, à vista ou a prazo. Regulam o tema, o Decreto n. 2.044/08, e o Decreto n. 57.663 de 24/01/1966 (Lei Uniforme). Figuram como partes na nota promissória: o subscritor ou promitente-devedor e o beneficiário ou promissário-credor. Sendo a promessa uma declaração unilateral do promitende-devedor, não há necessidade de aceite. A manifestação objetiva de ciência da dívida já é feita implicitamente no ato da promessa unilateral. É título abstrato (ou não–causal), pois sua emissão não exige a indicação do motivo que lhe deu origem.

7. – Da comparação entre esses dois títulos, observa-se que o primeiro é de emissão ou saque do credor, assim como o é a letra de cambio. A segunda é de emissão ou saque do devedor, assim com o é o cheque.

8. – O artigo 42 proíbe efetivamente ao advogado[2] sacar duplicata, ou seja, emitir um título que represente o crédito originado da sua prestação de serviços: o dispositivo legal é claro quando destaca que o credor (o advogado) não está autorizado ao saque de qualquer título de crédito de sua emissão, em especial, a duplicata.

9. – Mas o mesmo dispositivo legal nada dispõe nem faz qualquer restrição aos títulos de emissão de devedor (neste caso – o cliente – e devedor, consequentemente, dos honorários pelos serviços que lhe foram prestados). Uma nova interpretação do artigo 42 sugere que todos os títulos de crédito de emissão do devedor não estão contemplados na proibição do artigo 42. E essa é a interpretação mais consentânea com a realidade: o título emitido pelo devedor em favor do advogado é confissão expressa e consciente – especialmente por ser unilateral – da dívida de honorários.

10. – Mas o advogado pode emitir fatura que discrimine o serviço prestado, desde que constitua exigência do constituinte ou assistido, decorrente de contrato escrito, e a última expressão do dispositivo legal sob estudo declara: “vedada à tiragem de protesto”. A vedação de que trata a parte final do artigo 42 está intima e exclusivamente ligada apenas ao protesto da fatura: é a fatura que não pode ser protestada, pois que, de emissão do credor, mesmo que, e ainda que, a pedido do próprio cliente.

11. – Por óbvio, se não se admite o saque de duplicata (ou de outro titulo de crédito de emissão do credor), não se admite o protesto desses mesmos títulos: quem não pode o mais, não pode também o menos. A parte final do dispositivo – vedada a tiragem do protesto – apenas reforça a decisão legislativa de negar qualquer possibilidade de impor, o advogado a seu cliente, um título de crédito e, simultaneamente, protestá-lo.

12. – Mas, novamente: se o artigo 42 não faz qualquer restrição à emissão de títulos de crédito pelo devedor de honorários (cheque e nota promissória), também não faz qualquer restrição ao protesto desses títulos: se o cliente pode emitir cheque e nota-promissória para representar o crédito de honorários, poderá o beneficiário desse mesmo crédito protestar o respectivo título,a forma da lei cambiária.

13. – Há, no TED I – Tribunal de Ética e Disciplina – Seção Deontógica, uma decisão advertindo de que o trabalho deverá ter sido concluído para se levar um cheque ao protesto. Endossá-lo, jamais, ao argumento de que a relação cliente-advogado é sigilosa, e o endosso poderia ferir tal sigilo.

14. – Com efeito, ainda no bojo do TED I, o entendimento até então sedimentado era o de que títulos de crédito não poderiam servir de meio de pagamento ou promessa de pagamento dos honorários de advogados. E, portanto, não poderiam os advogados nem protestar nem endossar esses títulos.

15. – Entendemos, todavia, que se deva dar uma amplitude maior ao crédito do advogado, permitindo o protesto, e autorizando, ainda, o seu endosso a terceiros.

16. – Primeiro, porque nem todos os títulos estão proibidos aos advogados, mas apenas aqueles de sua emissão. Segundo, porque, nenhuma restrição é imposta aos títulos emitidos por seus clientes (cheque e nota promissória).

17. – O argumento que proibiria o endosso não se sustenta à luz dos conceitos próprios do direito cambiário: a literalidade e a autonomia dos títulos de crédito permitem afirmar que a causa de sua existência é irrelevante para a sua validade, e de fato, não há que se perquirir a origem do saque ou emissão: se assim é, o sigilo imposto à relação cliente-advogado permanece preservado, e o endosso – para fins de circulação do título, permitido.

18. – Não se afasta eventual má-fé na circulação destes créditos representados por cheques ou notas promissórias, respondendo a parte que lhe der origem às sanções legais decorrentes, facultado ao emitente invocar eventual vício na relação que deu origem ao crédito a teor do que determina o artigo 893 do Código Civil. As oponibilidades pessoais do cliente devedor em relação ao advogado, todavia, não invalidam o título nem os direitos neles inerentes em relação a terceiros, endossatários, a quem o título tiver sido endossado.

São apenas três os casos em que poderão ocorrer, com validade, as oponibilidades ao pagamento na ação cambiária:

a) Direito pessoal do réu contra o autor;

b) Defeito de forma de título;

c) Falta de requisito ao exercício da ação.

19. – Assim, as primeiras conclusões que se podem extrair de uma nova interpretação do artigo 42 do CED são:

(1) É vedada a emissão de duplicata ou titulo de crédito pelo advogado credor (letra de cambio e a fatura), e mais ainda, é vedado o respectivo protesto.

(2) Autoriza-se a emissão de fatura discriminada dos serviços prestados (crédito do advogado), mas veda-se o seu protesto (art. 42, in fine).

(3) É admissível que o crédito do advogado seja representado por titulo de crédito emitido pelo devedor (cheque ou nota promissória), permitindo-se que seja levado a protesto dentro das condições de prazos de vencimento estipulados no contrato;

(4) É admissível o endosso desses títulos no meio circulante, ainda que o trabalho esteja em curso, fato que não redunda nem na quebra do sigilo nem na mercantilização da profissão.

Atualmente a vida econômica seria incompreensível com a ausência dos títulos de crédito e sua circulação atendendo aos limites de tempo e espaço a fim de transportar mais facilmente as relações sociais, econômicas e psico-sociais do relacionamento humano.

Ter credito significa facilitação e possibilidades de satisfação de todas as nossas necessidades humanas sejam as úteis, as necessárias e as voluptuárias com rapidez e eficiência que a vida moderna nos impõe com a facilitação de transferir os terceiros eventuais créditos que temos como parte ou total de obrigações contraídas.

Não se imagina mais que os direitos creditórios dos advogados devam ser cumpridos necessariamente pela própria pessoa. E com as restrições impostas pelo art. 42 do TED.

Com referencia ao Boleto bancário, tema especifico da consulta, não se trata de titulo de credito e não pode ser protestado, podendo ser emitido dentro das condições legais exigíveis.

O boleto bancário não é um título de crédito, mas, sim, um documento compensável e tem por objetivo servir como meio de cobrança de valores líquidos e certos, contratados e aceitos. Nada impede que seja utilizado para cobrança simples de honorários advocatícios do advogado ou da sociedade de advogados, contanto que haja previsão contratual e expressa concordância do cliente, sem a discriminação do serviço prestado. Não há qualquer possibilidade legal de imposição de condições enviadas ao banco recebedor em caso de não pagamento deste boleto por parte do devedor.

Há nesta Corte decisão contemplando esta possibilidade ético-legal de emissão :

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – CARTA DE COBRANÇA – EMISSÃO DE BOLETO BANCÁRIO PARA COBRANÇA SIMPLES – PREVISÃO CONTRATUAL – EXPRESSA CONCORDÂNCIA DO CLIENTE. Não é vedado ao advogado enviar carta de cobrança ou notificação extrajudicial para recebimento de seus honorários, mas, para tanto, deve empregar linguagem escorreita e polida, evitando ameaças (art. 45 do CEDOAB). O contrato de honorários constitui instrumento apto à fixação e possível cobrança de serviços advocatícios. O boleto bancário não é um título de crédito, mas, sim, um documento compensável e destinado a servir como meio de cobrança de valores líquidos e certos, contratados e aceitos. Pode ser usado para a cobrança simples de honorários advocatícios quando houver previsão contratual e expressa concordância do cliente, sem a discriminação do serviço prestado, vedada qualquer instrução ao banco recebedor sobre penalidades em caso de inadimplemento. Precedente: proc. E-1. 794/98 – v.u. em 17/12/98. Proc. E-3. 352/2006 – v.m., em 20/07/2006, do parecer e ementa do Rel.dr. LUIZ ANTÔNIO GAMBELLI – Rev.dr. BENEDITO ÉDISON TRAMA – Presidente Dr. JOÃO TEIXEIRA GRANDE.

Permitida desta forma a emissão de boleto para cobrança de honorários advocatícios seja por parte do advogado seja por parte da sociedade de advogados.

São Paulo, 22 de novembro de 2.007.

CLAUDIO FELIPPE ZALAF

RELATOR

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Ecologicamente corretos

Mais uma do Remixtures.

Para resumir a história basta saber que, depois de um ano e meio de investigações, a polícia sueca chegou ao relatório final contra o pessoal do Pirate Bay. Nesta semana receberam o ENORME dossiê final. Independentemente dos novos desdobramentos judiciais do caso, sabe qual foi a atitude deles?

Manifestando mais uma vez a sua atitude provocatória e irónica face a todos os “poderes vigentes”, os responsáveis pelo tracker sueco decidiram comprar cinco árvores para compensar pelos danos ambientais provocados pela impressão de mais de quatro mil páginas em papel.