Estrogonofe sem censura

Desde o começo desse absurdo bélico entre Rússia e Ucrânia muita bobagem tem sido dita – principalmente pelos próprios meios de comunicação. O amigo virtual Jarbas Novelino, lá do Boteco Escola, em sua conta do Facebook fez uma avaliação cirúrgica, lembrando que a cobertura midiática dessa guerra é de “uma pobreza jornalística que dá dó”, principalmente pelo simples fato de que não há correspondentes in loco. Os assim chamados “correspondentes internacionais” não estão nem na Rússia, nem na Ucrânia, mas sim confortavelmente instalados em seus estúdios em Londres, Nova Iorque, Genebra ou seja lá onde for, limitando-se a ser mera caixa de ressonância dos veículos noticiosos mais encorpados.

Independentemente disso, temos ainda a questão de que, por discordar da atitude da Rússia, muitos países impuseram embargos, sanções e boicotes contra o país. E o que significa isso? São ações que visam, principalmente, afetar a economia interna, impondo situações que possam afetar tanto a importação quanto a exportação de produtos, bem como retaliações em outras esferas àqueles que coadunam com essa guerra.

Agora vamos ao desatino da coisa – que é, justamente, a especialidade deste nosso cantinho virtual: diversos restaurantes brasileiros, em “boicote econômico” à Rússia, resolveram tirar do cardápio o estrogonofe. Sério. Gente, cada vez mais acho que o FEBEAPÁ está fadado a se tornar eterno neste nesse Brasilzão véio sem portêra, pois em meio aos horrores de uma guerra este nosso povo resolve tomar uma atitude que não afeta em nada o que está acontecendo lá fora! Provavelmente só pelo afã de demonstrar que estariam “antenados” com o resto do mundo…

Ora, façam-me o favor!

Enfim, toda essa introdução serviu para resgatar um post lá de 31/10/2014 publicado pelo Daniel Rodrigues no (quase) finado Deitando o Gato na Grelha, um blog pra lá de bem-humorado que, segundo ele próprio, é de “Receitas de churrasco como ele tem que ser. Sem frescura e sem rodeios. Porque homem que é homem esquenta a barriga na churrasqueira e esfria na geladeira de cerveja.” E garanto-lhes que as receitas dele são ótimas!

Divirtam-se!

Strogonoff, uma pérola da culinária soviética

Sou um cara das antigas. No meu tempo, a Rússia era apenas uma província da URSS, que respondia pelo pomposo, vistoso e lustroso nome de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Aliás, não respondia não, porque tinha uma tal guerra fria pegando, todo mundo com medo da bomba atômica, do MIG 29 (quem nunca assistiu Top Gun que atire o primeiro F-16), da estação MIR e da cadela Laika. E eles não respondiam nem pros Ianques, pra quem todo mundo respondia, então quem sou eu de falar que eles respondiam por alguma coisa…

Naquele tempo, os nossos camaradas, além de beber vodka, mandar foguete com cachorro pra lua e infernizar os americanos, se alimentavam alegremente com um delicioso prato que responde pelo nome de строганов.

Entendeu? O prato se chama строганов. строганов é uma coisa que se come. Não se fala, mas se come. A menos que você tenha feito parte da KGB num passado remoto (e se fez eu tenho medo de você), imagino que não consiga pronunciar o nome do prato. Cтроганов não é como feijão, arroz… Ou até mesmo Feijoada, que qualquer gringo sabe falar. Eles vão no boteco, falam “Feixoara” e o prato vem. Se eu ou você, ou nós dois juntos, formos à Rússia (prefiro chamar de União Soviética, mais charmoso) e pedirmos um строганов, ou ficamos com fome; ou levamos um cacete.

Imaginemos um tal de Sr. Dimitri Vladivostok (joguei muito War na adolescência).  Camarada Dimitri estava a largar a URSS querida e lançar-se ao mar rumo ao Brasil, como tantos fizeram nos tempos pós-segunda-guerra. Munido de toda a vodka que conseguia carregar, o Camarada Dimitri aportou nesta terra onde se plantando tudo dá, e começou sua pacata vidinha numa igualmente pacata cidadela deste nosso Brasil varonil. Solícito com os amigos e vizinhos, o simpático Camarada sempre convidava a todos a saborearem sua deliciosa строганов, receita cuidadosamente passada de mamuska em mamuska pela sua família, há séculos. E ninguém comparecia.

Rápido como uma Perestroika, Dimitri logo percebeu que as pessoas não iriam querer saborear um alimento do qual não entendiam uma única letra do nome. Ok, todos sabemos que строганов começa com C, mas essas línguas são muito loucas e de repente o C tem som de Y, ou de 9. Então ele colocou o Wladimir e o Mikhail Tico e o Teco pra funcionarem e numa bela tarde ao som de Raul Seixas… ele, que já passou pelos quatro cantos do mundo procurando, foi justamente num sonho, que ele lhe falou: STROGONOFF é a alcunha da sua oferenda, meu caro Dimitri.

Não seria nada incompreensível como строганов, não abandonaria as suas raízes bolcheviques, não lhe faria um traidor de Stalin, mas ao mesmo tempo era uma palavra que todo mundo  conseguiria pronunciar. Pois foi assim que o nosso destemido filho da Mãe Rússia saiu pelas ruas da pacata cidadela do nosso Brasil varonil gritando aos quatro ventos “Venham comer o meu Strogonoff!!!”. E foi um sucesso. Alguns estavam curiosos com o alimento, outros com pensamentos impuros em relação ao nosso camarada, mas como este estava com os cornos cheios de vodka, o resultado final é que todo mundo saiu feliz.

Agora vamos parar com essa enrolação e mãos à obra preparar essa verdadeira delícia da culinária Moskovita.

Por falar em Moskovita (R$6,90 aqui no Super Vizinho, mercadinho perto de casa), abra logo uma dose de vodka e façamos um brinde ao som das trombetas. Cantando comigo:

С помощью транслитератор из букв латинского алфавита получаются буквы кириллицы, иврита, белорусского, греческого, или украинского алфавитов. Этот транслитератор задумывался как сервис для русскоязычных жителей стран , находящихся за границей и желающих переписываться на родном языке. Если кто-нибудь говорит “Я пользуюсь транслитом”, то всем понятно – речь идет. Еще его называют просто

«транслит» или  желающих переписыват!!!
«транслит» или  желающих переписыват!!!
«транслит» или  желающих переписыват!!!
«транслит» или  желающих переписыват!!!

Cantou? Então bebe logo essa vodka e comecemos a nos embriagar com mais uma receita com o padrão de falta de qualidade Gato na Grelha:

A primeira coisa que você vai precisar é de um bom pedaço de carne e uma faca afiada. Mas que carne? Você pode preparar um strogonoff maneiro com vários tipos de carne (patinho, acém, alcatra…). Fuja das carnes muito gordurosas, que vão fazer do seu strogonoff um poço de banha, e fuja daquelas carnes que têm muita fibra, como o contra-filé. Na verdade, quem vai definir que tipo de carne você vai usar é o seu bolso. Patinho é barato, alcatra já nem tanto mas também não é uma fortuna, enfim. E como estamos falando do SEU bolso e não do meu, vou logo chutar o balde e te deixar cheio de carnê do açougue pra pagar: hoje vamos de filé-mignom, parceiro.

Sou muito fã desse corte. Eu e a torcida do curintia, do framengo e do parmera, né? É uma carne muito macia, muito saborosa, e que mantém o sabor e maciez mesmo sob condições extremas. E vamos colocar nossa carne sob condições marromeno extremas. Então é bom ela aguentar o tranco.

Nada disso de chegar no açougue e pedir aquele picadinho pronto pra strogonoff. Ali eles cortam do jeito que querem, pedações grandes, e você nunca vai saber se tem um filé de gato ali no meio. Então larga mão de preguiça e bora lá picotar nosso filé mignom. Pra nossa receita, uma peça de meio quilo já é o suficiente. Principalmente porque o FM (dá muito trabalho ficar digitando o tempo todo, então vamos chamá-lo de FM) é uma peça muito limpa, praticamente sem nervos ou gorduras, então você vai aproveitar praticamente 100% desse meio quilo.

Aí, merrmão.. o processo é o seguinte: afia a tua faca, concentra no que tá fazendo e picota a carninha até obter meio quilo de pequenos pedaços do tamanho de meio polenguinho. Teve infância, compana? Então você sabe do que eu tou falando. Picota mesmo, sem técnica, sem critério. Se você já esquartejou uma pessoa, saberá como fazê-lo. Se não esquartejou uma pessoa, também saberá. Foca na miopia e polengo na mente que você consegue.

Agora é hora de temperar o FM picado. Você ainda tem uma trabalheira pela frente, e aí a tua carne vai pegando gostinho do tempero, o que fatalmente vai se transformar em mais amor no teu prato.

ATENÇÃO: isso foi uma PIADA. JAMAIS coloque sazon num filé-mignon!!! Nem fora dele. Não gosto desses temperos de gultomato monossódico, não. Enfim, gosto pessoal. Se você quiser colocar sazon, coloca. Mas não me conta que a gente perde a amizade.

Você pode temperar o seu FM como quiser. Pelas experiências que eu já tive, recomendo apenas um pouquinho de uma pimenta tipo tabasco, pimenta do reino e sal.

Não recomendo usar temperos liquidos em abundância, porque você vai ter que fritar essa carne depois. Muito liquido pode miar a sua fritura e você acabar cozinhando a carne. Também não recomendo temperos com folhas. Uma vez eu usei orégano. O sabor até ficou legal, mas o orégano soltou da carne, obviamente, e ficou boiando pelo strogonoff, dando um aspecto meio esquisito. Nem pimentas em fruta, pelo mesmo motivo. Uma biquinha, por exemplo, vai ficar boiando no molho depois… Estranho. Vai de sal, pimenta do reino e tabasco que é sucesso.

Agora vai mexendo até o chão na boquinha da garrafa tudo aí e deixa o FM quietinho. Vamos à próxima.

Aproveita que a faca tá afiada, que você ainda tá sóbrio (eu acho) e que a animação tá te contagiando e tome mais uma dose de vodka picote uma cebola. Picota pequeno, compadre. Lembra sempre com essa sua cabeça de vento que você está fazendo um strogonoff de FILÉ MIGNON, e não um strogonoff de cebola. Pega duas panelas, e divide essa cebola picada em duas partes. Uma pra cada panela.

Aí o mais fino, elegante e sincero leitor desse blog me pergunta: “Mas por que duas panelas, meu caro escriba?”

E eu respondo: “Научиться пользоваться еще проще с помощью, наглядной!”, o que significa: “Para fazermos um belo e saboroso arroz branco, camarada!”. Mas aí surge um problema daqueles capazes de ruborizar o mais sem-vergonha dos leitores: Sim, eu sei fazer arroz. Sim, eu sei cozinhar coisas saborosas, elaboradas e elas costumam ficar deliciosas…. Menos o meu arroz. Meu arroz é péssimo. Em todos esses anos nessa indústria vital, eu nunca consegui fazer um arroz que não ficasse uma papa. Daqueles que você puxa um grão e vem a panela toda, sabe? Então. Por este motivo não tem nenhuma receita de arroz aqui no blog (tem algumas, mas tem migué. Lê que você vai entender). E por isso eu sempre pulo a confecção deste alimento nas minhas receitas. Assim como o farei novamente. Agora. Faça o arroz como quiser, ok?

Por favor, aceito dicas inbox.

Voltemos à panela do strogonoff, que é a única que nos interessa hoje. Aproveitando essa picotagem toda, picota bem pequeno E CUIDADO COM ESSE DEDO AÍ um dentinho de alho, daqueles que não são nem minúsculos, nem imensos. Nem o dente de leite do seu filho, nem o sabre do mamute. Você entendeu.

Vodka. Tome vodka. Se for balalaika, tome um pouco menos.

Tomate, chegou tua hora. Pode te preparar pra sofrer a mais desumana das torturas. Embora o tomate não seja humano. Mas ele é um vegetal que na verdade é uma fruta, e como tem muito humano que também é fruta, considero sim o tomate um humano e bora pra tortura.

Sabe tirar a pele do tomate? Não, você não vai descascá-lo como a uma laranja. Isso aí não tem a menor graça e a gente tá aqui pra ver tomate sofrer. Então pega uma panela, enche de água e bota pra ferver. Quando estiver a pino, jogue, sarcasticamente, o tomate lá dentro. Delicie-se com os seus gritos e súplicas de dor. Mas fica de olho, esses tomates são muito espertinhos e derretem rápido. E ainda vamos judiar um pouco mais. Tá de olho? A pele do tomate já fez algum rasgo? Isso mesmo, a pele do nosso prisioneiro vai abrir em algum ponto. Quando isso acontecer, tira ele da água quente. Agora olha que cruel: deita ele na sua tábua e vai arrancando cuidadosamente a pele, enquanto ele te conta toda a verdade. A pele se solta rapidinho e neste momento você terá um tomate sem pele. E sem vida.

Então pára de maldade, picota o tomatinho e guarda em cima da tábua mesmo.

Recapitulando:

1 – Picotamos uma linda peça de FM e temperamos. Ela tá em algum lugar da sua cozinha esperando por você. Pode ser em qualquer lugar, menos dentro da panela, ok?
2 – Picotamos meia cebola, esta sim está dentro da panela.
3 – Deixamos um alho banguela e o resultado está picotado dentro da panela.
4 – Temos um tomate sem pele, sem vida e sem dignidade picotado em cima da tábua.

Perfeito. Agora a coisa vai começar a cheirar bem…

Regue a cebola e o alho com azeite até cobrir o fundo da panela (tou acreditando que você pegou uma panela compatível com meio quilo de carne, certo?) e acenda, finalmente, o fogo debaixo dela.

O refogado é um dos momentos mais sublimes da culinária. Por isso, enquanto a cebola chia dentro da sua panela, tome mais uma vodkinha. Não sei você, mas eu já estou começando a ficar meio bebum. Bola pra frente.

Quando a cebolinha começar a ficar amarelinha, parecendo meio transparente, é a hora do FM entrar no jogo. Taca lá pra dentro todo o FM que você picotou. Dá uma mexidinha pra ele fritar legal.. Com o tempo, a carne vai começar a soltar um líquido e fazer daquilo um caldo com um cheiro delicioso. Pra saber se a carne tá no ponto… Tira uma e come, ué. A carne não pode estar mal-passada de jeito nenhum, porque a partir de agora, não vai mais ter fritura. Quando estiver no ponto, joga lá dentro o tomate. Dá uma mexidinha e deixa. O tomate tende a se dissolver, ou a ficar bem molinho.

Ah, esqueci de um cara importante: o Champignon. Sabe aqueles vidrinhos pequenos que vende no mercado, com campignon já picado? Então, taca um dele pra dentro. Se não estiver picado, pique. É importante ele ser pequeno. Só toma cuidado e não deixa aquela água da conserva cair dentro da sua carne. Ela é salgada e cheia de conservantes, vai estragar a receita. Cuidadaê!

Agora um toque que eu, particularmente, gosto muito: vai na geladeira, pega aquele catchup que você tem lá e manda uma golada de responsa pra dentro. É  mais ou menos a quantidade de catchup que você colocaria num X-Salada inteiro. Você vai saber o quanto.

Se você tem um catchup de qualidade na sua geladeira, tanto melhor. Se não tem, dá uma busca aqui no blog que tem uma receita maneiríssima de catchup da melhor qualidade.

Mexe. Tá ficando com um molho vermelhinho? É disso que eu tou falando, meu compana. Se você achar que o teu molho não tá lá muito vermelho, tá meio esquisito, pode jogar um pouco de molho de tomate pra ajudar. Imagina que você vai jogar uma lata inteira de um treco branco lá dentro, e o resultado final do strogonoff é uma cor meio laranja. Então bota essa palheta de cores pra funcionar e corrige o quanto julgar no molho.

Se você for daltônico, pensa que teu molho tem que estar com um azul bem maneiro, e o resultado final do strogonoff é um negócio meio amarelo-limão. Aí você pega aquele molho de tomate bem lilás que tem na sua geladeira e boa sorte aí pra ir corrigindo as cores. Enfim.

Mas que treco é esse que vamos colocar? É Creme de Leite, meu caro amigo… Aquele que sai do peitinho da vaca, que passou por um processo show de bola que eu não sei qual é, mas no final o que era pra ser comida de bezerro vira um treco bem cremosinho…

Só que você não pode simplesmente sair jogando creme de leite pelo mundo assim. Tem que tomar alguns cuidados antes. O creme de leite pode talhar com a temperatura, o fogo aceso, etc… Então desliga o fogo, joga o creme de leite lá dentro, mexe e pronto.

Tá feito o seu Strogonoff!

Emenda à Inicial: Acerca da “verdadeira origem” do prato, existem várias versões. A mais aceita é que teria origem por volta do ano de 1700 no seio (e vê se para de pensar bobagem aí!) da família Stroganov, uma rica família russa e de linhagem nobre. Os franceses teimam em afirmar que o prato não é russo, pois seria uma adaptação local de um prato deles – o que até faz sentido, afinal as famílias nobres russas costumavam ter um chef francês para servi-los.

Pois bem. Reza a lenda que o Conde Grigory Alexandrovich Stroganov – ou simplesmente ригорий Александрович Строганов – estava com problemas dentários e para que pudesse comer o chef do palácio adaptou o fricassé de carne (fricassé de boeuf), cortando em pequenas tiras e misturando a carne com um creme de leite tradicional russo. Tudo para facilitar a ingestão da comida. O acompanhamento era um caldo de legumes. Como foi feito para o Conde, o prato foi batizado com o nome da família.

Num livro de 1861 publicado por Elena Molokhoivets foi incluída uma receita de bife stroganoff com mostarda. Entretanto a receita original russa foi levada para a França pelo filho do Conde, Alexander, tendo sido publicada pelo chef Charles Brière por volta de 1891. O prato foi evoluindo e em 1912 Pelagia Alexandrova-Ignatieva acrescentou nova textura à receita, tendo incluído cogumelos, cebolas e molho de tomate, além de servir com batata cozida.

A Revolução Russa, de 1917, indiretamente exportou o prato para o exterior. E, na China, para onde alguns emigrantes nobres russos fugiram, o prato passou a ser servido com arroz – e foi essa “versão asiática” que foi adotada pelos americanos.

(Informações roubartilhadas daqui.)

Comida de Boteco

Dia desses, num breve proseio com o copoanheiro de plantão, falávamos sobre um tal de concurso que estão fazendo pelas redondezas: “petisco de buteco”.

É lógico que não poderíamos, juntamente com nossos fermentados e destilados de praxe, também deixar de destilar nossa etílica criatividade para um evento de tal pompa e circunstância! E se você tem estômago fraco então pare de ler este texto neste exato momento! Não só porque você não aguentaria uma verdadeira comida de boteco, mas também porque os níveis de ironia, sarcasmo e tiração de sarro seguem num tom bem elevado, provavelmente acima do suportado por pessoas sensíveis como você…

Continuou, né? Tá bom. Por sua conta e risco, então.

Pois bem. Ele me perguntou se eu havia lido o tal do edital desse concurso e comentou que parecia que tinha uma taxa de cem contos pra participação. Do edital já lhe adiantei que nem sequer passei perto, pois tenho mantido minhas leituras naquilo que importa pro meu ofício, então não vou gastar minha vista com um monte de letrinhas juridicamente embaralhadas – e que provavelmente levariam meu senso crítico a um outro estágio de sarcasmo. E quanto à taxa de participação, meu, CEM CONTOS? Sinceramente, não sei se a informação procede ou não, mas vocês não tem ideia de quantos “petiscos de buteco” dá pra fazer com essa grana!

E acho que foi aí que chegamos ao cerne da questão: será que o organizador desse concurso REALMENTE sabe o que é um boteco? Por mais louvável que seja a iniciativa, me parece que não. Pois boteco, boteco MESMO, é outra coisa. Talvez esse sujeito esteja acostumado não com botecos, mas sim com bares, lanchonetes, restaurantes, petiscarias, mas isso também é outra coisa. Provavelmente, diferente da realidade de um boteco, ele deve frequentar locais que possuem mesas com toalhas de linho, garçons pronto a servi-lo, maître para organizar o local, chefs para cuidar do cardápio, coristas seminuas dançando no palco bem em frente, enquanto que ali à direita, num pole dance, tem uma fantástica ruiva que… Não! Péra! Isso é outra coisa…

Enfim.

Onde estávamos?

Ah, sim. Boteco.

Boteco é um lugar em que o dono chega todo dia pontualmente sabe-se lá a que horas, abre as portas de aço, arruma as caixas de bebida num canto, entre as mesinhas de plástico e as de lata (às vezes tem algumas de madeira também), limpa a bagunça da noite anterior, dá uma varridinha de leve (os cantos das paredes são tradicionalmente arredondados de tanta poeira), desentorta a bandeira do seu time pendurada na parede, se benze em respeito à imagem do santo que fica no outro canto, recebe as pessoas, serve as bebidas, faz as comidas e ainda cuida do caixa. Às vezes tem algum membro da família pra ajudar (a esposa, o filho vagabundo ou aquele cunhado que ninguém suporta), às vezes não. Nesses casos, quando precisa pagar alguma conta na lotérica mais próxima, pega um dos cachaceiros de confiança pra “cuidar” do estabelecimento enquanto estiver fora, não sem antes dar uma boa medida no nível das garrafas de cachaça e outras bebidas que ficam ali, bem do lado da pia. O que ele não sabe é que o caboclo dá suas bicadas do mesmo jeito – mas depois completa com água!

Boteco vem de botequim, diminutivo de botica, derivado do grego apótheke, palavra cuja origem remonta a milhares de anos no passado e pode ser toscamente traduzida por algo como “casa de bebidas onde se reúnem pés sujos, cachorros, violeiros, cachaceiros e outros sujeitos bons de proseio”.

Apesar de uma tradicional confusão cultural, é importante lembrar que um boteco não é um bar. Nem mesmo um bar ruim, como diria Antonio Prata, estando mais próximo da definição do Leonardo Boff… Etimologicamente eu diria que boteco está para bar assim como moleque para criança, velho para idoso, futebol de rua para pelada. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Mas voltemos ao concurso.

Concluímos que se fôssemos nós a fazer um concurso de Comida de Boteco (“petisco” é muito fresco e “buteco” é uma corruptela que falta para com o respeito tanto à língua portuguesa quanto aos botecos de verdade – na minha nada humilde opinião, é claro), teríamos então que montar uma planilha de quesitos rigorosíssima e com uma pontuação condizente à realidade da coisa.

Já na primeira leva de palpites pensamos em algo específico em relação à comida em si: fragrância (cherança); substância (sustança); crocância (mordança); abundância (êita porção servida!); ignorância (arre égua!!!); e, ao final, é claro, ânsia.

Deveríamos também considerar a situação jurídica do estabelecimento: se possui documentação e impostos em dia; se as coisas tão atrasadas mas é do antigo dono que faleceu; se não sabia que precisava de tudo isso pra abrir um boteco; se tem que enxotar todo mundo e fechar as portas rapidinho sempre quando chega a fiscalização. Pontuação inversamente proporcional à regularidade do local.

Aliás, falando em fiscalização, concordamos de bom grado que se o boteco tiver alvará da Vigilância Sanitária já estará sumariamente desclassificado do concurso, deixará de ser considerado um boteco e ainda sofrerá boicote pelos cachaceiros da cidade!

Outro quesito importante: a chapa. Se tiver chapa. Uma chapa limpa e bem cuidada demonstra um nível de asseio inaceitável para o preparo de uma verdadeira comida de boteco. A graduação da pontuação começaria pela simples análise de quantidade de gordura acumulada, aumentando de acordo com os restos de outros lanches que tenham passado por ali e atingindo sua nota máxima caso sejam encontradas substâncias totalmente desconhecidas e inexplicáveis – mas que ainda assim proporcionam à comida aquele gostinho tão bão…

Já para as frituras serão analisadas a qualidade do óleo e a idade da panela. Caso o mesmo óleo não tenha sido utilizado para pelo menos cinco tipos diferentes de frituras (incluídos aí peixe, pastel e coxinha) não será sequer pontuado. A panela deverá obrigatoriamente possuir crostras negras de idade que remontam a eras geológicas por toda sua volta. Gambiarra no cabo (se tiver cabo) e furos tapados contam pontos extras.

O cozinheiro é um item à parte. Tá certo que existem aqueles botecos em que os donos já trazem “pronto de casa” ou mesmo que compram daquela tiazinha que acorda às quatro da manhã e prepara os salgados pra no mínimo metade dos bares da cidade. Mas não é disso que estamos falando. Ao preparar seus quitutes – quer sejam lanches, porções, frituras ou seja lá o que for (afinal de contas quase tudo levemente comestível ou mastigável pode ser considerado como “comida de boteco”) é importante avaliar tanto a forma de preparo quanto as condições do cozinheiro: se usa luvas descartáveis; se usa luvas NÃO descartáveis; se lavou as mãos; se cortou as unhas; se existe explicação pr’aquele preto debaixo das unhas; se ao menos tem unhas. Panos de prato também serão pontuados à parte de acordo com o nível de cândida acumulado que venha a ser encontrado nas tramas do tecido. Se for encontrada (o que garantiria uma pontuação extra). O manuseio também será avaliado: se o pano de prato permanece dobrado à disposição ali de ladinho; se encontra-se pendurado num gancho próximo; se está preso no lateral da gaveta do caixa; se fica no ombro do cozinheiro e é o mesmo que utiliza para enxugar os copos, limpar o balcão, enxugar o suor da testa, secar o sovaco e, eventualmente, assoar o nariz.

A apresentação tem diversas variantes, passando pela tradicional estufa em cima do balcão, invariavelmente com bandejinhas ostentando pedaços de carnes indefinidas praticando nado sincronizado naquela piscina olímpica de gordura e óleo, como também salgados amanhecidos dos mais diversos tipos (ovos cozidos coloridos, por serem representantes de uma outra época, garantem muitos pontos adicionais) até a simples vitrine com uma ou duas moscas varejeiras do lado de dentro atestando a qualidade do alimento. O suporte pode se dar através de pratos de louça, plástico ou isopor (limpos ou não); guardanapos de papel que podem ou não segurar aquela gordura pingando e escorrendo nos dedos; e mesmo a clássica retirada com uma pinça e entrega diretamente na mão mesmo do cliente. Saquinhos de papel de padaria, ainda que usados e com restos de farelo de pão, bem como pedaços de jornais em tiras podem eventualmente ser aceitos, desde que, neste último caso, seja de no máximo uma semana (não pelo estado de conservação, mas por só trazer notícia velha).

A forma de degustação está diretamente ligada à disponibilidade do ferramental. Explico. Quesitos específicos avaliarão se a iguaria sob análise deve ser apreciada com a utilização de talheres, palitos ou guardanapos. Os quesitos seguintes avaliarão se existem talheres, palitos ou guardanapos. A pontuação continuará de acordo se os talheres são ou não lavados regularmente; se os palitos são comprados, reaproveitados ou feitos em casa; se o guardanapo é de pano, papel absorvente ou aquele negócio de qualidade e origem indecifráveis, que raramente limpa algo e que fica naquelas papeleiras inoxidavelmente enferrujadas bem no meio da mesa. Pontuação extra levará em consideração a necessidade de que, com ou sem ferramentas, as mãos tenham que ser usadas na degustação e se foi possível limpar aquela meleca residual que escorreu por entre os dedos num guardanapo ou, na ausência de guardanapo, na borda da toalha da mesa ou, se a toalha for de plástico, qual foi o tamanho e a consistência da mancha que tenha ficado na calça. Mais pontos extras se nunca mais for possível usá-la.

Acompanhamentos obrigatórios de acordo com o tipo de comida servida podem também render pontos extras, sendo aceitáveis e pontuáveis elementos do tipo suco, refrigerante, cerveja, vinho do garrafão embaixo do balcão, cachaça, azeite, orégano, coentro, pimenta, pimenta forte, pimenta muito forte, pimenta da braba mesmo, água-água-pelamordedeus, Epocler, Eno, e outras variantes. No caso da cachaça ser o acompanhamento, quer seja da tradicional, quer seja da artesanal (hmmm… aquela amarelinha…), aos juízes fica proibida a degustação de mais de três iguarias por sessão, bem como voltar pra casa dirigindo, assim como a utilização de celular para enviar mensagem para aquela ex que não quer vê-lo nem pintado de ouro, mas pela qual ele sempre chora quando está de fogo.

No que diz respeito aos juízes qualquer um pode ser aceito, independentemente de currículo, não importando a cor, a raça, o sexo, a preferência sexual, a religião, o partido político, o time que torce, sendo apenas imprescindível que nenhum desses temas jamais seja discutido no boteco, mesmo sabendo, é lógico, que vão ser. A única exigência é que ao menos um deles, por razões óbvias, tenha que ter o apelido de “avestruz”…

Enfim, meus queridos, brincadeiras à parte, no que diz respeito ao tradicional boteco como o conheço, prefiro mesmo é ficar com as palavras finais daquele excelente texto do Leonardo Boff:

O boteco é um estado de espírito, o lugar do encontro com os amigos e os vizinhos, da conversa fiada, da discussão sobre o último jogo de futebol, dos comentários da novela preferida, da crítica aos políticos e dos palavrões bem merecidos contra os corruptos. Todos logo se enturmam num espírito comunitário em estado nascente. Aqui ninguém é rico ou pobre. É simplesmente gente que se expressa como gente, usando a gíria popular. Há muito humor, piadas e bravatas. Às vezes, como em Minas, se improvisa até uma cantoria que alguém acompanha ao violão.

Ninguém repara nas condições gerais do balcão ou das mesinhas. (…)

Se bem repararmos, o boteco desempenha uma função cidadã: dá aos frequentadores especialmente aos mais assíduos, o sentimento de pertença à cidade ou ao bairro. Não havendo outros lugares de entretenimento e de lazer, permite que as pessoas se encontrem, esqueçam seu status social e vivam uma igualdade, geralmente, negada no cotidiano.

Aliás, em tempo: caso alguém queira se aventurar na cozinha para tentar fazer alguma tradicional Comida de Boteco (quer venha a seguir as regras acima ou não), eis aqui algumas dezenas de receitas para que possa experimentar: Receitas do Festival de Comida de Boteco – BH.

E vê se me chama, hein?

Os 19 remédios para ressaca mais estranhos que existem no mundo

Já tratamos profissionalmente desse tema neste post aqui – em especial acerca dos procedimentos prévios e póstumos…

Mas não pude resistir a este saboros texto do Brent Rose!

Quando você viaja para outro país, tomar umas com o pessoal de lá é um bom jeito de ter alguma noção da cultura local. Mas o consumo excessivo de álcool pode ter consequências fisiológicas. Mas não se preocupe — a ressaca é uma instituição universal e seus amigos locais provavelmente terão uma receita para lidar com os desarranjos do dia seguinte. Aqui estão 19 dos mais estranhos remédios para ressaca que você vai encontrar ao redor do mundo.

1. Roma Antiga

Os romanos da Antiguidade, apaixonados por imensos bacanais repletos de orgia, às vezes acordavam com a sensação de que uma corrida de bigas estava acontecendo em cima de suas cabeças. Plínio, o Velho recomendava fritar um canário e engoli-lo. Existe todo um debate sobre se o pássaro seria decapitado ou engolido inteiro, mas todo mundo parecia concordar que os ossos crocantes eram a melhor parte.

2. Namíbia

Na manhã após uma bebedeira, os namibianos bebem o que eles chamam de “leite de búfala”. Adivinhe qual o ingrediente que não vai na receita? Isso mesmo, leite de búfala. É uma mistura de creme de leite (de vaca), dois tipos de rum e licor de creme. Eles parecem seguir aquela máxima de que beber mais é a melhor cura para a ressaca. Além de colocar mais álcool e laticínios num estômago já combalido, o leite de búfala ainda traz um combo de açúcar para o seu coquetel de bad vibes.

3. Porto Rico

Os bêbados portorriquenhos supostamente encontraram uma maneira de prevenir a ressaca. Antes de uma noite de prazer alcoólico, eles esfregam uma fatia de limão ou lima na axila do braço com o qual eles costumam segurar o copo. Sim, você leu certo. Esse ato supostamente evita a desidratação. Então tá, né.

Algumas observações:

a) Não tem como isso funcionar. Não há ciência que justifique esse ato.
b) Por que só debaixo do braço com o qual você segura o copo? E se você segurar o copo com as duas mãos?
c) Esse remédio para ressaca é muito divulgado por aí, mas nenhum dos portorriquenhos com quem eu falei enquanto pesquisava o assunto já usou o truque do limão. Então chamar de lenda urbana seria generoso. O que me leva a…
d) … ter quase certeza de que isso é fruto de uma piada que alguém fez para ver se conseguia enganar algum amigo idiota e fazer com que ele esfregasse limão na axila. Vai ver que o cara fedia e alguém queria que o futum fosse diminuído antes da festinha.

4. Japão

Depois de exagerar no saquê em um dos bares de Tóquio, os bebedores japoneses comem umeboshi, uma frutinha em conserva que se assemelha a uma ameixa ou um damasco. Mas não é uma conserva qualquer: ela fica maturando por tanto tempo que chega a ficar rugosa. Algumas pessoas jogam a frutinha dentro do chá verde e depois o bebem, para tornar a coisa toda menos concentrada, mas ainda assim o umeboshi é terrivelmente azedo (mesmo a versão mais branda, o umezuke, é difícil de engolir).

Mas nesse caso, pelo menos, existe um pouco de ciência por trás do costume, já que o sal na ameixa pode ajudar a repor os eletrólitos esgotados. Mas como colocar algo azedo em um estômago que já está azedo? Melhor não.

5. Alemanha

Encheu a cara de Bitburger? Hora do katerfrühstück, ou “café da manhã da ressaca”. Prepare-se para um prato de rollmops — basicamente arenque cru enrolado em pedaços de pepino e cebola. Num estômago vazio. Enquanto você está sofrendo daquilo que os germânicos chamam de “o lamento dos gatos”. Eu até gosto de arenque em conserva, mas não. Apenas não. O verbete da Desciclopédia sobre rollmops começa com “Rollmops é uma tradicional porcaria encontrada em botecos e ingerida por pinguços que já não têm mais papilas gustativas, e por isso não percebem a nojeira que estão comendo”.

6. Canadá

No Canadá as pessoas fazem as coisas direito. Para coroar a última rodada de LaBatt, os canadenses param para comer poutine — uma tigela de batatas fritas cortadas grossas junto com pedaços de queijo-coalho canadense, embebidos por molho saboroso feito com grãos de pimenta doce. É ainda mais gostoso do que parece. É tão bom que me dá vontade de morar com a minha ex-namorada canadense e com o marido dela.

7. Sicília

Quatro palavras: Pênis. Seco. De. Touro. Você topa mastigar uma coisa dessas? Está meio fora de moda, mas no passado os sicilianos com ressaca roíam um bom e velho pênis seco de touro. Acreditava-se que a iguaria restauraria a sua vitalidade. Ou talvez seu cérebro simplesmente eliminasse a ressaca o mais rápido possível para fazer com que seu corpo parasse de ingerir pênis.

8. Haiti

Alguns haitianos praticantes de vudu atacam suas ressacas de maneira bem agressiva: eles colocam 13 pinos de cabeça preta na rolha da garrafa que fez com que eles passassem mal. Eu não sou um especialista em vudu, mas acredito que seja uma espécie de vingança contra a garrafa que trouxe esse sentimento horrível no meio da noite. Mas o que eles fazem com garrafas que têm tampas, em vez de rolhas? Não faço ideia.

9. Grécia Antiga

Para não ficar atrás de seus contemporâneos que se alimentavam de canário, os gregos da Antiguidade tratavam suas ressacas com um café da manhã que consistia em pulmões de ovelha e dois ovos de coruja. Ovo de coruja é até ok, mas pulmões de ovelha são extremamente borrachudos (eu tentei comer pulmão de búfalo na Ásia há muito tempo). E eu posso imaginar o estrago que isso causa ao cair num estômago que já está zoado.

10. Irlanda

De acordo com uma lenda irlandesa, a melhor forma de curar uma ressaca é ser enterrado até o pescoço na areia molhada da beira de um rio. A Irlanda não é o que possamos chamar de um país quente, então essa tal areia molhada deve ser um gelo, de modo que teria o mesmo efeito que um banho gelado. Vai te fazer acordar, mas não há evidências médicas de que isso cure a dor de cabeça e a náusea. Na verdade, parece outra daquelas piadas para enganar amigos babacas.

11. Vietnã

Esse aqui é horroroso em vários níveis. No Vietnã, algumas pessoas moem chifre de rinoceronte, colocam o pó na água quente e bebem. Acredita-se que esse “truque” cura tudo, desde alergias até câncer. Como resultado, a demanda por chifres de rinoceronte é tão alta que esses animais são alvo de caçadores e o número de rinocerontes mortos é imenso. É óbvio que não funciona, então as pessoas bem que poderiam parar de caçar os bichos.

12. Turquia

Problemas com seu estômago? Bom, então você precisa de intestino. Essa é a lógica por trás da cura da ressaca na Turquia: sopa de tripas. As vísceras são cozidas com alho e cebola e eles dizem que, se você comer a iguaria sempre, estará prevenindo uma ressaca iminente. Esse remédio também é popular no México e na Romênia. Mas só de pensar no gosto dessa sopa, imagino que ficar com a cabeça estourando de dor nem é tão ruim assim.

13. Mongólia

O rei da reviração de estômago certamente é a Mongólia. Depois de uma longa noite de bebedeira, os mongóis começam o dia seguinte com um coquetel de suco de tomate e… olhos de ovelha em conserva. Em conserva. Globos oculares. De uma ovelha. Dois deles. Misturados com suco de tomate. Não tenho mais nada a dizer.

14 – 18. EUA

14. Ovos crus – Vamos começar com o Prairie Oyster, um coquetel popular dos EUA. Existem muitas variações, mas todas incluem molho inglês, um molho picante, sal, pimenta e um ovo cru. É só engolir. Ingredientes opcionais incluem uma dose de vodca, ketchup ou suco de tomate e vinagre. (E provavelmente um monte de salmonela).

15. Suor – Algumas culturas dos índios americanos, de acordo com a BBC, acreditam que para acabar com uma ressaca você deve fazer uma corrida e suar muito. Depois você (argh) lambe seu próprio suor, bochecha e cospe (credo). O exercício certamente pode ajudar a tirar as toxinas do seu corpo, mas lamber o suor? Melhor pular essa parte.

16. Ressaca do Paraíso – Em Las Vegas, existe um ônibus especial para ressacas que se chama Hangover Heaven. Você entra nele e uma equipe te dá fluidos, vitaminas e outros suplementos, enquanto você dá um passeio. Mais um excelente motivo para fazer turismo por lá.

17. Ovos Benedict – Dizem que, no final dos anos 1800, uma socialite exagerou na festança. Na manhã seguinte, ela pediu que o restaurante do Waldorf-Astoria fizesse um sanduíche com um ovo cozido, presunto e molho holandês, tudo em cima de muffin inglês.

18. Chá de pelotas – Os Estados Unidos são responsáveis por uma das recomendações mais nojentas dessa lista. Na época do Velho Oeste, cowboys com ressaca bebiam um “chá” feito de cocô de coelho. Era só pegar as pelotinhas e jogá-las dentro de água quente. Chá de cocô. Beleza, então.

19. Dica do autor

Por anos eu venho usando um remédio contra a ressaca que nunca deixou de funcionar, embora eu não possa necessariamente recomendá-lo. É melhor você perguntar o que fazer ao seu médico. Bom, depois de uma noitada daquelas, é isso que eu faço quando chego em casa:

1) Bebo a maior quantidade possível de água.
2) Tomo um complexo de vitamina B, porque o álcool esgota essas vitaminas.
3) Tomo duas aspirinas.

Depois de fazer essas três coisas, eu nunca acordo com ressaca. Ok, às vezes eu acordo ainda meio bêbado, mas sem ressaca. No entanto é sempre bom ouvir o que os médicos têm a dizer: tomar aspirina enquanto você ainda está bêbado pode aumentar o risco de uma úlcera; o ibuprofeno e outros analgésicos podem ser ainda mais perigosos e o paracetamol definitivamente não é uma boa ideia, porque pode causar falência hepática.

Então a melhor cura para a ressaca ainda é tomar bastante água, não ficar de barriga vazia e tentar tomar um complexo de vitamina B. Daí em diante, é rezar para a sensação horrível passar.

E você? O que você faz pra combater uma ressaca monstra?

in Gismodo Brasil

 
 

Questão de qualidade?

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( Notícia merecedora de nota no finado blog etílico Copoanheiros… )

Adauto

A notícia veio diretamente roubartilhada daqui:

Diageo, dona do Johnny Walker, compra a marca de Cachaça Ypióca

Dona do Johnny Walker e da Smirnoff compra a cachaça Ypióca

Nessa manhã do dia 28 de maio, diversos jornais do país e blogs especializados no assunto já anunciavam: a tradicional empresa cearense produtora da cachaça Ypióca agora faz parte do rol de bebidas da Diageo.

A empresa britânica, dona do whisky Johnny Walker e da vodka Smirnoff, confirmou o pagamento de US$ 453 milhões (aproximadamente R$ 900 milhões) pela marca brasileira. A compra foi motivada pelo posicionamento da Ypióca no mercado, que desde 2009 ocupa o terceiro lugar, atrás somente da Pitu e da 51. Além disso, das aguardentes chamadas industrializadas, a Ypióca é uma das poucas que controla de ponta a ponta a linha de produção da cachaça, supervisionando desde a plantação da cana até o desenvolvimento de subprodutos, como o etanol, embalagens plásticas, adubo e papelão.

Ypioca no Ceará

A Ypióca foi fundada no Ceará em 1846 e cresceu com a dedicação familiar mantida por cinco gerações e hoje é liderada por Everardo Telles. A empresa possui uma unidade de produção em Paraipaba-CE, uma engarrafadora em Fortaleza-CE, uma distribuidora em Guarulhos-SP e um Museu da Cachaça em Maranguape-CE.

No começo do ano, a Diageo já mostrou que entraria com força no Brasil, divulgando seus produtos com campanhas milionárias e acreditando no crescimento internacional da marca “Made in Brazil”, que tem na cachaça uma excelente representante do “estilo de vida brasileiro”. O país que é moda no mundo todo e está se preparando para ser o palco de grandes eventos esportivos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpiadas de 2016, vem chamando a atenção de investidores estrangeiros e o novo empreendimento da Diageo é mais uma mostra do potencial que a cachaça tem no mercado mundial.

Johnnie Walker X João Andante

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( Publicado originalmente no blog etílico Copoanheiros… )

Bicarato

Quem capota primeiro? O lorde ou o caipira? Apostas ali no escritório, por favor.

Mas, caray, que porre! Esses gringos ainda não sacaram que cachaça é cachaça e uísque é uísque? E que, apesar do fraque e cartola, o lorde é muito mais cafona que o nosso legítimo e sincero e gente-boa e lesgal-pra-caramba e… eu-também-gosto-muitcho-docê-mas-ninguém-me-entende-você-é-um-amigão-mêsss! Dá-mais-uma-aí-Chefia!

Uísque Johnnie Walker tenta derrubar cachaça João Andante

A holding inglesa Diageo, detentora da marca do uísque Johnnie Walker, abriu processo administrativo no Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) contra a cachaça João Andante. A Diageo acusa a empresa mineira de ser “imitação” de sua marca –segundo ela, avaliada em US$ 3,5 bilhões.

Mas o processo gerou publicidade para a cachaça e fez suas vendas dispararem. Nas últimas duas semanas, os pedidos feitos via e-mail já chegam a mil garrafas. Até então, as vendas eram de apenas 200 garrafas por mês.

“Os pedidos estão aumentando muito e nós sempre trabalhamos com margem e volume pequenos”, disse Gabriel Lana, 25, um dos donos.

A João Andante foi organizada em 2008 por quatro jovens que viam a atividade mais como um hobby do que propriamente um negócio empresarial. Cada um deles segue com sua profissão.

O desenho das duas marcas é representado pela figura de um andarilho, embora de classes sociais distintas: enquanto um é lorde, o outro é um jeca, ou capiau, conforme o regionalismo mineiro.

“Apesar de ambos os personagens mostrarem algumas distinções, o uso da expressão ‘João Andante’, que é a tradução literal de ‘Johnnie Walker’, evidencia a intenção de criar uma ‘versão local’ da marca”, argumenta a holding inglesa por meio do escritório de advocacia Dannemann Siemsen.

Os mineiros negam que o uísque tenha sido a inspiração e sustentam que o Walker da marca inglesa nada tem a ver com andar ou caminhar –é um sobrenome.

Afirmam que a ideia é a de um caixeiro-viajante, que é um andarilho, segundo o escritório de advocacia Hidelbrando Pontes e Associados.

[Copy&Paste direto da Folha.com]

Esses gringos, sempre se achando... nhé!

Segunda dose: uai, mas é claro que o João Andante tem sítio-chácara sim. E é bem bacana, óia só aqui. E tem mais causo também lá no Dono do Bar

Sou mais a porrinha

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( Publicado originalmente no blog etílico Copoanheiros… )

Bicarato

No melhor estilo *espírito de porco*, conforme o próprio Luiz Antonio Simas, contador de Histórias Brasileiras, reproduzo aqui um textinho que é daqueles que me da a sensação de *por que não escrevi isso antes?* Tá, ok: não escrevi esse texto porque não tenho o conhecimento necessário, nem as referências culturais e de formação do Luiz — mas uma coisa temos em comum: o verdadeiro espírito democrático e esportista-de-boteco, ainda que eu reconheça que — como os melhores artífices dessa arte da porrinha — esteja um pouco desleixado e fora de forma. Nada, porém, que não possa ser devidamente sanado com poucas horas de boteco. Mas, valeu, Luiz! Te desafio, desde já, pra uma peleja — e te dou o benefício de ser o *mandante* do jogo. É só marcar o local =^)

Esporte de homem não é porrada. É porrinha.

Realmente não sou chegado a ver um bando de homens, dando pinta de que acabaram de escapar de uma gruta em Neanderthal, brigando. Por isso mesmo não assisti ao evento de luta livre (tem uma sigla pro treco, mas estou com preguiça de verificar qual é…) que ocorreu aqui no Rio. A última briga entre cariocas que me interessou foi entre os índios tamoios e temiminós, nos idos do século XVI , nas praias da Guanabara. Depois de Araribóia e Cunhambebe e seus respectivos tacapes eu não respeito homem nenhum saindo no braço.

Porrinha OlímpicaUm conhecido meu, durante um rápido encontro no Centro da cidade, tentou me convencer a assistir o confronto entre os egressos do Paleolítico Inferior com o argumento de que isso sim é “esporte de homem”. Respondi que esporte de homem, pra mim, nem o futebol é. Só mesmo a porrinha disputada nos botequins mais vagabundos merece essa alcunha. É por isso que reproduzo abaixo um texto que escrevi em 2010, logo depois da escolha do Rio de Janeiro como cidade olímpica: Porrinha nas Olimpíadas de 2016! E vai em negrito, pra fortalecer a campanha.

Existem vários tipos de espíritos que podem encostar e pegar o sujeito. Eu, por exemplo, que vim de uma família ligada ao espiritismo em suas vertentes macumbais – umbanda e encantaria – quando era pequeno ouvi da minha avó que era sempre bom pedir auxílio aos espíritos e entidades; eles viriam me ajudar. Tornei-me, então, devoto do espírito mais citado lá em casa: O espírito de porco. Fazia pedidos a ele.

Quando descobri, lá pelos sete anos, que o espírito de porco não era exatamente quem eu imaginava, mergulhei durante meses no mais absoluto materialismo e virei comunista. Foi o seguinte: Tomei um esporro da minha avó no dia em que perguntei a ela qual era o ponto que eu devia cantar para saudar o espírito de porco. Ela achou que era sacanagem minha. Posso, inclusive, confessar algo que só pretendia fazer ao médium de mesa branca depois da morte – o dia em que descobri que o espírito de porco não era uma entidade correspondeu, em termos de impacto, à notícia sobre a inexistência do Papai Noel para centenas de outras crianças.

Parêntese: Vejam como são as coisas. Comecei falando do espírito de porco quando, na verdade, pretendia escrever desde o início sobre outro espírito – o olímpico. Retomo no próximo parágrafo a ideia original.

A escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 20l6 despertou em mim forte vocação esportiva. Entusiasta dos esportes do Brasil, sou fã e praticante amador de um jogo fundamental para nossa gente brasileira, tão sofrida e adepta do desporto como instrumento de inclusão social: a porrinha [ou purrinha], também conhecida como basquete de bolso.

A porrinha é um esporte altamente sofisticado e democrático. Os estádios ideais para a prática são os botequins mais vagabundos. Cada atleta, em geral, inicia a peleja com três palitinhos. A partida começa quando os jogadores escondem uma certa quantidade de palitos numa das mãos e as estendem, fechadas, para a frente. Cada jogador dá, então, o seu palpite sobre quantos palitos estão no jogo. Ganha a rodada quem acertar o número exato de palitos.

A porrinha exige dos esportistas alguns atributos fundamentais: Sorte, inteligência para blefar e perceber o blefe e preparo físico para jogar enquanto quantidades generosas de cervejas e cachaças são consumidas durante o embate. Recomenda-se um trabalho de musculação para o fortalecimento da musculatura do bíceps, que sofrerá o impacto do peso dos palitos durante a refrega. O uniforme ideal para a prática do desporto é simples e consiste em bermuda, camiseta e sandália de dedo.

Pesquisas que fiz em compêndios e dicionários especializados indicam que a provável origem da porrinha é o antigo Império Romano. Os soldados de Roma costumavam praticar, nos intervalos das batalhas mais sangrentas, um jogo conhecido como Morra. O negócio consistia no seguinte: Os jogadores escondiam uma certa quantidade de dedos da mão direita às costas e diziam um número. Aquele que acertasse o número exato era o vencedor. O troço era popularíssimo e há relatos nas crônicas de Seleno de torneios realizados no Coliseu que terminaram em matanças tremendas.

Alguns especialistas defendem que o nome porrinha surgiu de uma expressão proferida por Santo Agostinho no século IV – Porro cum quo micas in tenebris ei liberum est, si veliti, fallere. Tradução: Com certeza, mesmo que avisado, podes enganar aquele com quem jogas morra no escuro. O latim porro, com o tempo, virou porra. A porra virou porrinha.

O Brasil transformou a velha porrinha romana em coisa nossa, como o samba, a prontidão e outras bossas. Introduzimos os palitinhos de dente ou fósforo no babado e consagramos o botequim como palco da disputa. Fizemos a mesma adaptação em relação ao futebol, o jogo sem graça dos ingleses que ganhou a ginga e o balacobaco canarinho.

É por isso que sugiro, com a maior seriedade, campanha em meios de comunicação e o esforço dos formadores de opinião para que a porrinha seja considerada esporte olímpico em 2016. Clamo pelo empenho do Doutor João Havelange, do presidente Lula, de Pelé e demais autoridades físicas e metafísicas para que o Comitê Olímpico Internacional faça justiça com o histórico esporte.

Não precisaremos, pensem nisso, sequer construir estádios. Aqui no Maracanã temos, por exemplo, o Bode Cheiroso, botequim com estrutura para sediar os embates. Imagino até o novo nome do estabelecimento: Complexo Olímpico Bode Cheiroso.

A memória dos grandes e falecidos atletas da porrinha de todos os tempos – Meu avô, Jorge Macumba, Seu Nilton, Manoelzinho Motta, Seu Vovô, Abecedário, João do Vale, Teté, Claudio Camunguelo, Dr. Castor de Andrade, Moisés Xerife, Candonga, Primo Pobre, Querido de Deus, Seu Sete Rei da Lira, Madame Satã, Camisa Preta, Julião Vem Cá Meu Puto, Wilson Batista, Almir Pernambuquinho… – poderá inclusive servir como instrumento de forte campanha de marketing para estimular a prática educativa do esporte entre nossa juventude.

Esporte de homem não é porrada. É porrinha.

Abraços

Beber com os olhos

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( Publicado originalmente no blog etílico Copoanheiros… )

Bicarato

Já dizia o Poetinha: beleza é fundamental. E não seria diferente com a nossa sagrada cervejinha, né não? Sem me render ao apelo fácil (fácil?) de um rótulo bonito, reconheço que um visual bacana instiga o paladar e, por que não?, valoriza a beberagem. Com vocês, portanto, o BierDesign, um blog sobre design de rótulos & afins.

[Dica da Lau]

BierDesign