Nós em Foz – Prelúdio

Diário de bordo. Data estelar: vinte, quatro, treze, doze, ponto, quinze, sete. Fim de ano. A fronteira final. Estas são as viagens da família Miura-Andrade em sua missão de sete dias para explorar novos e estranhos lugares, pesquisar novas formas de divertimento e novas comunidades, audaciosamente indo onde nenhum deles jamais esteve.

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Nossa aventura começa exatamente num “concílio familiar”, onde, logo após um intercolóquio etílico-churrasquístico para comemorar o aniversário do filhote do meio, eu e a Dona Patroa chamamos toda a Tropinha de Elite para uma proposta simples jamais realizada (ao menos não com essa distância): percorrer os aproximadamente 1.200 quilômetros que nos separam de Foz do Iguaçu.

Após algumas discussões curtas, óbvias e básicas – como, por exemplo, a certeza absoluta que tanto nossas contas bancárias quanto nossos cartões de crédito é que a médio prazo iriam sofrer com uma decisão dessas – resolvemos que sim, iríamos enfrentar a estrada. A bem da verdade acompanhando um casal de amigos nossos – Daniela e Wagner – juntamente com seus também três filhos. Até não muito tempo atrás eu costumava dizer que era o único casal com quem nos encontrávamos, no mínimo, seis vezes por ano: nas festas de aniversário dos três filhos deles e nas dos nossos três. Mas agora, com a adolescência batendo à porta dos mais velhos, essa constância já não é tanta…

Mas tergiverso.

A data marcada para lançamento foi fixada para dali a apenas cinco dias, logo após o Natal. Os preparativos começaram quase que imediatamente, pois a fortaleza precisaria ser lacrada, com acesso apenas ao sempre pronto e atento sobrinho de plantão – o Heidy – que se dispôs, durante nossa ausência, a cuidar da nossa prole canina, felina e aquática.

Como iríamos todos, inclusive meu sogro – que, lá pela quarta tentativa (surdo-como-uma-porta-sem-maçaneta) conseguiu entender que viajaríamos -, a primeira providência seria acomodar as malas de todos confortavelmente. Bem, a Spin, com todos os bancos em uso (até porque o último somente rebate em dupla), não deixa muita opção para bagagem, de modo que resolvemos dar uma checada no quanto custaria um daqueles “bagageiros maleiros de teto” – que parece PRA CARAMBA com o caixão-torpedo do Spock em Star Trek II

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A variação foi de 900 contos a mais de dois mil! Dependendo do tamanho e da facilidade de acesso – pois, no caso da Spin, um carro alto, o melhor seria um maleiro que tivesse a abertura pelas laterais – o custo aumenta prodigiosamente. Na boa? Vai é todo mundo apertado mesmo, com mala no colo, colo no colo, tudo espremido ou seja lá o que for! O que não dá é deixar de viajar porque o dinheiro foi todo consumido nos preparativos da viagem. Esse certamente vai ficar para uma próxima viagem…

Outra “novidade” com que a Dona Patroa apareceu foi o tal de “Sem Parar”: uma espécie de assinatura que dá direito a um aparelhinho que serve para reconhecimento automático nos pedágios da vida. Dezessete reais de manutenção mensal e cobrança diretamente em conta-corrente de todos os valores referentes aos pedágios que encontrarmos pelo caminho. A vantagem, nesse caso, para uma viagem longa como a nossa é que pouparemos um grande tempo com relação às filas que certamente enfrentaríamos se não fosse isso.

Aliás, falando em pedágio e viagens, é lógico que fomos dar uma fuçada na Internet para saber um pouco mais sobre dicas e rotas e custos e outros quetais. Um site muito legal para se visitar é o www.mapeia.com.br, que faz o cálculo do total a ser gasto com pedágios (inclusive indicando os locais e valores em cada um deles), do tempo de viagem e até mesmo do gasto estimado de combustível. Ali verificamos que gastaríamos pouco mais de R$150,00 em pedágio (só ida) e até traçamos o roteiro, saindo de São José dos Campos, atravessando a Capital, pegando a Castelo, passando por Ourinhos em direção à Londrina e, dali, rumo a Cascavel e finalmente Foz do Iguaçu.

Aproveitei ainda para atualizar os mapas do meu bom e velho (e trollador) GPS Foston. Baixei quase um giga de arquivos, transferi para a memória do bichinho, atualizei o software e constatei que, definitivamente, ele estava mudo. Nem tanto pelos mapas, mas pelos alertas de radar ele sempre se mostrou útil (ou quase). Que fazer? Bem, tendo verificado que o problema era no alto falante dele a única opção seria utilizá-lo com um fone de ouvido, pois essa saída estava funcional. Incômodo, eu sei – mesmo usando apenas um. Mas como sou eu que vou dirigir e a Dona Patroa que vai ao lado…

Ela só não sabe disso.

Ainda.

Um projetor

Sim, um projetor. No caso, de “slides”.

Hm?

Você não tem nem a mais afastada idéia do que seja isso?

Bem, confesso que já vi muitos slides, utilizei alguns projetores, mas nunca me perguntei o porquê de fazerem aquelas “fotinhos” daquele tamanhinho, já que podiam fazer uma “normal” e revelar…

Mas nada como uma pequena busca na Internet para entender as coisas!

Enfim, o que sempre chamei de slides na realidade eram filmes positivos. Mas até que eu (e toda minha geração) não estava tão errado, pois esse bichinho tem uma infinidade de nomes, sendo conhecido também como cromos, películas positivas, transparências, filmes reversíveis e por aí vai.

São, literalmente, “filmes positivos” (dãããã…), ou seja, ao contrário dos negativos coloridos – que precisam ter suas cores invertidas para mostrar o resultado final – esse tipo de filme (após revelado) ao ser contraposto à luz já permite ver a imagem exatamente como ela deve ser. É uma foto já pronta para ser impressa ou projetada. Sei que nestes tempos de máquinas digitais, câmeras, celulares, tablets, isso pode soar pra lá de esquisito – mas ele tinha lá suas vantagens!

É que essas películas possuíam altíssimo contraste, reproduzindo bem melhor as cores, mantendo ainda uma granularidade muitíssimo boa. Dizem os especialistas que esses seriam os filmes que melhor reproduzem as cores (ainda que comparado aos melhores negativos profissionais).

À sua época foram largamente utilizados nas principais áreas profissionais de fotografia, em catálogos de imagens, publicações de alta definição, grandes ampliações, em exposições, bem como outros trabalhos que exigissem uma expressividade muito boa das cores. Para que as imagens pudessem ser projetadas em série, o filme era cortado e encapsulado em molduras brancas – eis aí os slides! – e, assim, ficavam prontos para para serem colocados na devida ordem no “carrosel” do projetor. Sim, aquela máquina esquisita na foto lá em cima.

Muito bem, era isso.

Assim encerramos a aula de cultura inútil de hoje…

Quatorze

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Caramba!

Quatorze anos!

Pois é, filhote, o tempo passa…

Acho que não preciso repetir tudo que já disse aqui, quando de seus dez anos; nem tampouco preciso colocar novamente todas as fotos de seus aniversários, conforme já tinha feito aqui, quando de seus treze anos.

Mas o registro tem que ficar. Tem que ser feito. O primeiro de três filhos cujo amor não tenho como mensurar – não se ama mais este ou aquele, mas sim a cada um de um modo único e especial.

E hoje é o seu dia especial.

Feliz aniversário, filho.

Aquilo que faz a diferença

E eis que neste final de semana comemorou-se os setenta anos do Doutor Fábio Cesnik.

Uma das pouquíssimas pessoas que faço questão de chamar por esse título. E, para quem me conhece um bocadinho (bem como à minha chatice), sabe o quanto isso significa…

Enfim, eu e Dona Patroa estivemos presentes à festa. Uma delícia! Ainda que não conhecêssemos a maioria das pessoas presentes, era nítido o clima de real alegria, de união familiar, de amizade, de verdadeiro respeito. E um detalhe que faz toda a diferença: aos sete-ponto-zero veio também a aposentadoria compulsória da corporação.

E foi ali, entre pessoas queridas que esse senhor, essa simpatia em pessoa, delegado, benfeitor, artesão, proseador de primeira – foi ali que se deu o causo e a mais singela e emocionante homenagem que já vi.

Que me perdoem todos os demais oradores da noite – e não foram poucos -, aos quais reconheço e credito discursos sinceros e comoventes, cada qual abrangendo uma pequenina faceta da vida do nosso mui digno aniversariante, seja como profissional, como amigo, como pai, como benemérito. Mas o que verdadeiramente me tocou foram as palavras dessa senhora, prima querida e mais velha do Doutor Fábio.

Reescrevo de memória – que nunca foi lá grande coisa (ainda mais depois de quatro ou doze uísques) – as palavras que ecoaram em nossos corações naquela noite:

“Eu sou prima, aqui, do Fábio. Aliás, como sou mais velha – tenho oitenta anos – na verdade ele é que é meu primo já há setenta anos! Apesar de morar em São Paulo e ele aqui, tão pertinho, nos vemos muito pouco. Mas essa frequência não corresponde ao tamanho do amor que sentimos um pelo outro – e há tanto tempo!

Então resolvi comprar alguma coisinha, uma lembrancinha, para esse meu tão amado primo. Fui numa loja que conheço e que adoro muito pela quantidade de badulaques e lembranças diferentes e originais que se pode encontrar. Tem de tudo por lá! Mas, ainda assim, não sabia o que lhe dar de presente. Então uma vendedora veio tentar me ajudar a escolher algo.

– A senhora sabe para qual time ele torce?

– Não, não sei não…

– Tudo bem. Então, que número ele calça?

– Também não sei.

– Talvez o número da camisa que ele usa a senhora saiba?

– Não, também não.

– Certo… E de vinho? A senhora sabe se ele gosta de vinho?

– Não, não sei…

E nessa conversa, quanto mais ela me perguntava parece que menos eu sabia. Fiquei impressionada e, confesso, assustada, ao descobrir que, apesar do amor gigantesco que sinto por esse homem, quão pouco verdadeiramente o conheço. Nos detalhes. Nos pequenos gostos. Naquilo que faz a diferença.”

Bem, de minha parte, confesso que não me recordo mais do final do discurso. Não tinha como. Depois dessa frase minha cabeça entrou numa espiral, reconhecendo a força e a importância dessas palavras, ao mesmo tempo que buscava saber o quanto verdadeiramente conheço quem amo.

E é impressionante a verdade disso tudo. Vivemos com nossas pessoas amadas por anos e anos a fio. Somos criados, criamos, compartilhamos, convivemos. E tão pouco sabemos sobre elas…

Pois, nesse caso, a riqueza – a verdadeira riqueza – está nos detalhes. Nas pequeninas coisas, às vezes do dia a dia, às quais conseguimos ter a delicadeza de perceber. O tipo de roupa que gosta de usar, os autores que gosta de ler, se suave o perfume, se delicada a jóia, se salto ou saltinho, se tinto ou branco, seco ou suave, margarina ou manteiga – até o quanto de leite vai no café. Podemos não perceber e mesmo automatizar um ou outro destes gestos. Mas, ainda assim, continuam tendo seu significado, demonstrando o quanto verdadeiramente conhecemos, respeitamos e queremos simplesmente agradar. De graça. Do nada. Porque amamos. Porque sabemos que faz a diferença.

Então, primeiramente tenho que agradecer sinceramente ao Doutor Fábio. Pois foi por participar dessa reunião de amor fraternal e familiar que tive a possibilidade e a honra de conhecer as palavras de tão profunda sabedoria daquela que é prima há mais de setenta anos. O aniversariante foi ele, mas o presenteado fui eu.

E, no mais, deixo uma pergunta para todo incauto leitor que por aqui passar: quão verdadeiramente você conhece a pessoa que ama?

Pense nisso.

Pense nos detalhes.

Busque, dentro do seu íntimo, a solução.

E, como muitos, perceba suas respostas mudarem.

Ao menos até que consiga enxergar o que verdadeiramente faz a diferença…