Dançando um calango pro Ernesto Villela

Outro dia (ou melhor, outra noite) eu já havia comentado sobre os causos que foram contados e cantados lá no Museu. O que eu não havia comentado era que essa apresentação fazia parte da programação do “Festival Viva Tinguera”, promovido pela Fundação Cultural de Jacarehy neste mês de agosto.

E daí ontem, também em Jacareí, quase que de última hora, fiquei sabendo sobre o lançamento de livros lá na Biblioteca Municipal Macedo Soares. Encantos e Malassombras de Jacareí (Elton Rivas, Érica Turci, Maristela Lemes e Tatiana Baruel) era um – que, inclusive, já tenho! Mas esse outro, Mestre Calangueiro Ernesto Villela (Alcemir Palma) – que estranho – me pareceu familiar… Tocaram sininhos, mas não sabia bem o porquê… Resolvi conferir.

Pequena palestra dos autores regido pela sempre competente Reni, logo na sequência fomos brindados com uma deliciosa peça de teatro, onde foram interpretados vários causos, dentre eles o de Santo Antonio e também o do Saci (tranformado em advogado, não é tudo de bom?). Rendeu boas risadas, boas inclusive pra gente se esquentar um bocadinho na noite fria que fazia. Ao final, pouco antes do coquetel, gratuita distribuição de livros aos presentes (oba!), inclusive o Cultura Popular do Vale do Paraíba (Jacqueline Baumgratz).

Noite perfeita.

Mas…

Ainda me tocavam sininhos…

E fui deitar encucado…

Mas hoje, logo cedo, ao acordar, do nada comecei a cantarolar uma música – e daí a ficha caiu!

Lembrei-me o porquê da lembrança!

Foi por causa da música Um calango pro Pereira, cantarolada pelo Trem da Viração – com o mesmo Deo Lopes lá da Noite no Museu…

É que nos versos finais da música é feita uma homenagem a “esse tal” de Ernesto Villela – e que, agora, tenho o livro!

Tudibão!

Confiram:

 
Olha viola do Pereira da Viola
Ta tocando em Carangola
Ta soando em Araxá
Olha o Pereira da Viola caipira
Ta tocando em Cambuquira
Ta soando em Itajubá
Olha a viola da folia do Divino
Olha o poeta bizantino
Na maneira de cantar
Olha o Pereira na Mantiqueira
Na mangabeira no Ceará
Toca Pereira em Teixeira de Freitas
Teixeira de Freitas quer te ver tocas
Toca Pereira viola na feira
Do Vale Ribeira à Belém do Pará
Toca Pereira peroba parreira
Feijão na peneira
Moinho de fubá
Toca Pereira a vila é menina
A noite é junina é João é Juá
Eu tô falando no calango do juá
Eu tô falando no calango do juá
Eu tô falando no calango do juá
Eu tô falando no calango do juá
Um calango pro Pereira
No calango do Juá
Lá vem a morena da flor de canela
Vem toda serena na saia amarela
Descendo a ladeira, trazendo as panelas
Dançando um calango pro Ernesto Vilela
Dançando um calango pro Ernesto Vilela.

Uma Noite no Museu

Muito bom!

Pra quem não conhece, explico.

Toda sexta-feira de lua cheia a Fundação Cultural de Jacarehy faz a apresentação de “Uma Noite no Museu”. Resgata algum contador para contar causos do folclore da região lá no Museu de Antropologia (um casarão da época do café fantasticabulosamente maravilhoso!). Nessas sessões que ocorrem às oito e às dez da noite (para dar um clima) descortinam-se diversas lendas e estórias (histórias?) de fantasmas, sacis, almas penadas e por aí afora…

E, desta vez, o contador era o Moacyr Pinto, figura conhecida, sociólogo e pesquisador, que nos trouxe “a sabedoria e os causos do seu Zé Pedro, Mestre quilombola da Casa de Farinha de Ubatuba”. Mas, melhor: para acompanhar o fim de cada causo, uma música sobre o que acabou de ser contado, cantada em verso e prosa pelo amigo Deo Lopes (o da viola) mais o Cauíque (o da sanfona).

Casa lotada (o que teve de gente que sentou no chão…), um bom lugar no cantinho da primeira fila e mais hora e meia de proseio. Desfilaram ali em nosso imaginário a macaca Catarina e a Sexta-Feira da Paixão, a traidora cobra avessa à filosofia de que o bem se paga com o bem, aquele que andou por seis horas num só dia, o caiçara que convidou a Morte como madrinha, a certeza de que dinheiro não é mais que gente, o desafio e muito mais. No dedilhado do Deo, então… Realmente muito bom!

E, é lógico, após cada sessão, o público já sai convidado para um café ou chá (de camomila) com direito a biscoito de polvilho e bolo de fubá…