Visualisionariedades

Já nem lembro mais o que estava procurando…

Provavelmente alguma imagem interessante para ilustrar algum texto desinteressante.

E acabei por encontrar uma sequência da chamada Digital Art que me deixou, literalmente, boquiaberto!

Fui atrás de quem seria o autor daquelas perfeições, e eis que a encontrei: Elena Dudina.

Numa curtíssima biografia, basta dizer que nasceu na Rússia e, graças ao pai que era piloto militar, mudou-se um bocado (dentre outros locais, Estônia, Ucrânia e até mesmo Sibéria). Acabou por parar na Espanha, onde casou-se. Desde sempre gostou de pintar, começou até mesmo a fazer esculturas e então, lá por 2008, descobriu o Photoshop. E desde essa descoberta não mais o abandonou, trabalhando exclusivamente nessa área. Em suas próprias palavras, “photomanipulation is my passion but my work too”.

E nesse nosso cantinho virtual, já que as palavras têm teimado em me fugir e as notícias andam tão desinteressantemente amenas, reflexo, talvez, duma nebulosa apatia que perturbadoramente obscurece a alma, resolvi deixar registradas essas imagens fantásticas, uma por dia, dia sim, dia talvez, começando por essa também fantástica artista, mas não a ela se limitando.

Deleitem-se.

Clique na imagem para ampliar!
“Mariposas”

Música do dia

Há não muito tempo eu compartilhei por aqui que “Prefiro a música – pois ela ouve o meu silêncio e ainda o traduz, sem que eu precise me explicar”.

E hoje, ouvindo as músicas d’Essa Menina (um CD lançado por Bruna Caram em 2006), simplesmente me encantei com uma pequena grande verdade contida no refrão da música Sensação. Na minha opinião é bem isso que representa o que sentimos quando nos envolvemos com a música de alguém – não importa o tipo, estilo ou o que quer que seja: é quando uma música torna-se capaz de nos lançar num devaneio que nos enleva e nos transborda, nos envolvendo numa aura de cumplicidade com seu criador, que tão bem parece compreender as necessidades dos ilustres desconhecidos que se deleitam com seu trabalho…

Bem, eis aqui o simples refrão que me comoveu:

E como ator eu canto
Como cantor eu represento
A vida que você quer ter
E não devia mais conter

E eis aqui a música tão bem cantada em tão maviosa suave voz:

Bruna Caram – Sensação

Sexta em Pessoa

Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobresselente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconsequente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro eléctrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos,
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio!…


Álvaro de Campos