O pneu furado

No meu local de trabalho a ala masculina é minoria absoluta. O assim chamado “sexo frágil” reina em todos os setores. Mas… Será mesmo? Dia desses furou o pneu do carro de uma de nossas heroínas…

Bem, não teve como não lembrar um episódio acontecido com este desinfeliz que vos tecla, já há um bom tempo!

Na época, recém-separado e já meio que me engraçando com aquela que viria a ser a Dona Patroa, eu estava acampado morava na casa de meu irmão, que – coincidência das coincidências! – era mais ou menos próxima da casa dela. Trabalhávamos no mesmo escritório de advocacia e, de quando em quando, eu pegava uma carona com ela e o pai dela no bom e velho Golzinho quadrado que ele tinha. Aliás, tem até hoje.

E eis que numa bela manhã de sol, lá estávamos nós a caminho do Centro da cidade, ambos recém-formados, eu já de terno e gravata e ela num lindo tailleurzinho. Passávamos numa das avenidas mais movimentadas, cheias de lojas e comércios diversos, quando, não mais que de repente, o pneu do carro furou.

– FLOP-FLOP-FLOP-FLOP… FLOP… FLOP…

Nós, juntamente com o pai dela, “seu Carlos” (cujo nome na realidade não é esse, trata-se apenas de um “apelido” que ele usa, como boa parte dos japoneses das antigas), descemos do carro para dar uma olhada. Pneu traseiro, lado direito.

– Heh… Furou, né? – Disse ele.

Daí que o bonitão aqui, todo garboso e solícito, em pleno começo de namoro, já foi tomando a dianteira da situação!

– Xácomigo, seu Carlos! Em dois minutos tá resolvido!

Mas eis que ele me vem com essa:

– Non, non. Ela troca, né? Tem que aprender.

Murchei.

Que nem o pneu.

Olhei pra ela, toda arrumadinha, pronta para ir para o escritório, do alto (alto?) de seu metro e meio, unhas feitas, maquiada, cabelo ajeitadíssimo – e simplesmente fiquei boquiaberto…

Como discordar de um pai que tinha uma “lição” para ensinar à filha?

Pior: estando na condição de quem estava querendo me engraçar com a moçoila!

Ainda pra tentar ajudar pelo menos tirei o estepe do porta-malas. Mas todo o resto TEVE que ser feito por ela. E, pra piorar, o pai dela ali, conversando e explicando o que fazer EM JAPONÊS. Pelo menos por alguns momentos eu tive quase que certeza que eu era o tema da conversa, mas talvez fosse apenas neuras de minha parte.

Ou não?

Bem, no final das contas ficamos ali, enquanto ela trocava o pneu. Inúmeros transeuntes passavam e se espantavam ao ver os dois marmanjos parados enquanto a mocinha ralava com a chave de rodas na mão. Vendedores das lojas vinham até a porta e apontavam. Pessoas se apinhavam nas janelas dos prédios para ver. Até o tráfego de carros diminuiu seu ritmo para que os motoristas pudessem contemplar tão insólita situação!

Tá, acho que talvez não tenha sido bem tudo isso, mas que foi – no mínimo – rídiculo, ah isso lá foi!

Saldo final: mãos sujas, roupa amassada, escova seriamente prejudicada, cansaço e suor de um dia quente. Isso às oito da manhã. Antes mesmo de “começar” o dia…

Bem, nem preciso dizer que depois dessa foi a ÚLTIMA vez que ela trocou um pneu NA VIDA.

Dali pra diante, pneus passaram a ser (eternamente) matéria de outrem. Sempre fui eu, ou algum borracheiro, ou até mesmo algum “cavalheiro” que passasse pela rua. Como, aliás, deveria ser norma constitucional para toda e qualquer “dama em apuros”.

Especialmente se de apenas metro e meio de desenvoltura…

😀

Melhor notícia do ano!

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( Publicado originalmente no blog etílico Copoanheiros… )

Ligia

A melhor notícia do ano é que eu, Ligia Ribeiro, mais conhecida aqui na internet por *margaridanegra* vou começar a destilar meu veneno (e em se tratando de copoanheiros, tudo o que é destilado é bom, não?!) nas páginas deste tão querido blog! Uma honra!!!  ;-D

 

E venho trazendo boas novas, pra você que só precisava de uma desculpa pra ir ao bar depois da academia…

Estudo mostra que cerveja hidrata igual à água após prática esportiva

“BRUXELAS – Um estudo apresentado nesta terça-feira, 20, em Bruxelas comprova que o consumo moderado de cerveja após exercícios físicos é tão eficaz quanto a água para a hidratação, segundo especialistas médicos.”

 

Tá feliz agora?  Vai encher a cara se hidratar, meu filho!

🙂

Prometo só trazer notícia boa!

 

Tirado daqui ó.

Aquilo que cativas

– Vem brincar comigo, propôs o príncipe, estou tão triste…

– Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.

– Ah! Desculpa, disse o principezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:

– O que quer dizer cativar ?

– Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?

– Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?

– É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa criar laços…

– Criar laços?

– Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo…

(…)

A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:

– Por favor, cativa-me! disse ela.

– Bem quisera, disse o príncipe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.

– A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me! Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer.

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

Será?

Essa frase – como já devem ter percebido – está na obra O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint Exupéry. A mensagem, que de início parece ser clara, vem sendo cada vez mais e mais “interpretada”, tendo chegado num ponto em que estão a lhe dar uma conotação de responsabilidade em relacionamentos. Mas um tipo de responsabilidade que extrapola – e muito – a intenção da raposa, na estória. Uma responsabilidade de propriedade, meio que amarga, não de compartilhamento, mas sim de fardo…

A questão é: dá pra concordar com esse ponto de vista?

Ser responsável por outrem, por seus sentimentos, por seus pensamentos, pelo seu próprio existir?

Existir…

A existência em si, independentemente de qualquer um, não seria, então, possível?

Parece-me que sim.

Ou que não?

Jogos de palavras às vezes são complicados!

Mas, na prática, o que quero dizer é que, nesse conceito hodierno, ter plena e total responsabilidade “por aquilo que cativa” me soa como uma impossibilidade, uma falácia, outro jogo de palavras fadado a ter uma bonita sonoridade, mas na prática atrelado a uma clara inviabilidade.

Explico.

O que seria cativar, na prática? Cuidar? Criar? Dar carinho? Se apaixonar?

– E quando não houver mais necessidade de cuidados?

– E quando a criatura não mais precisar do criador?

– E se o carinho enfraquecer?

– E se a paixão acabar?

Se o “cativar” estiver atrelado a alguma dessas acepções, ou mesmo qualquer de suas variações – o que me parece o caso nessa maluca interpretação – então, como eu disse, teríamos uma inviabilidade prática.

Desse modo, na minha humilde opinião, essa frase tão bela e tão repetida nos facebooks, twitters e sei lá que outras redes, seria na realidade uma bela duma falácia, um claro dum engodo. Como alguém antes já disse, havemos que lembrar que laços são laços, belos, que atam e desatam – não são nós, não são amarras…

Entendo que toda nossa vida, até ela própria, é marcada e pontuada por ciclos. E todo ciclo, como tudo, tem começo, meio e fim. Ainda que possa parecer confuso, mesmo os ciclos, por vezes, podem ser cíclicos, repetitivos – mas sempre com seu começo, meio e fim.

Assim, definir uma “eterna responsabilidade” pelo fato de que em algum momento da vida cativamos algo, parece-me um contrassenso à ordem natural das coisas.

O que não muda o fato de que, enquanto cativos (e não no sentido de cativeiro), podemos – e até devemos – dedicar toda nossa atenção, criando, cuidando, dando carinho e entregando-nos à paixão do con-viver.

Infinito enquanto dure!

Até que o ciclo se complete.

Ou se rompa.

Pois tudo, TUDO, nesta vida sempre teve, tem e terá…

começo,

meio

e

fim.

Escrever é preciso

No livro Cartas a um jovem poeta, o escritor austro-húngaro Rainer Maria Rilke (1875-1926) se corresponde com o jovem Franz Xaver Kappus, que tinha ambições de se tornar um poeta. De uma humildade sem par e com uma lucidez inenarrável tece conselhos e dá sugestões sobre a “arte” de escrever…

Um pequeno livro, facílimo e delicioso de ser devorado, mas que – por pura falta de tempo – ainda não terminei. Mas eis cá uma palhinha:

O senhor me pergunta se os seus versos são bons. Pergunta isso a mim. Já perguntou a mesma coisa a outras pessoas antes. Envia os seus versos para revistas. Faz comparações entre eles e outros poemas e se inquieta quando um ou outro redator recusa suas tentativas de publicação. Agora (como me deu licença de aconselhá-lo) lhe peço para desistir de tudo isso. O senhor olha para fora, e é isso sobretudo que não devia fazer agora. Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém. Há apenas um meio. Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever? Desenterre de si mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta grave com um forte e simples “Preciso”, então construa sua vida de acordo com tal necessidade; sua vida tem de se tornar, até na hora mais indiferente e irrelevante, um sinal e um testemunho desse impulso. (…)

E se, desse ato de se voltar para dentro de si, desse aprofundamento em seu próprio mundo, resultarem versos, o senhor não pensará em perguntar a alguém se são bons versos. Também não tentará despertar o interesse de revistas por tais trabalhos, pois verá neles seu querido patrimônio natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando surge de uma necessidade. É no modo como ela se origina que e encontra seu valor, não há nenhum outro critério. Por isso, prezado senhor, eu não saberia dar nenhum conselho senão este: voltar-se para si mesmo e sondar as profundezas de onde vem a sua vida; nessa fonte o senhor encontrará a resposta para a questão de saber se precisa criar. Aceite-a como ela for, sem interpretá-la. Talvez ela revele que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso, aceite sua sorte e a suporte, com seu peso e sua grandeza, sem perguntar nunca pela recompensa que poderia vir de fora. Pois o criador tem de ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si mesmo e na natureza, da qual se aproximou.