Sem forças. Chateado. Deprimido. Cansado. Sobretudo, cansado. Triste. Nó na garganta. Puto. Revoltado. Cético. Desgostoso. De saco cheio. Com preguiça. Desanimado. Sem vontade. Vontade de chorar. De gritar. Parar de pensar. Se entregar. Desmoronar. Não se preocupar. Coração apertado. Perdido. Doído. Endoidado. Ansioso. Desnivelado. Desesperado. Em busca de paz. Sem encontrar. Sem acreditar. Sem se esforçar. Sem querer. Sem ter. Descansar. Se largar. Se entregar. Parar. Não mais falar. Nem escrever. Buscar o estado de desligado. Embriagado. Ficar parado. Mas, sobretudo – sobretudo – cansado…
Uma música pra hoje mesmo…
“Hoje eu quero apenas / Uma pausa de mil compassos…”
A música: Para ver as meninas
A cantora: Marisa Monte
A composição: Paulinho da Viola
Música do Dia
Imagine – John Lennon
12:24
Amar é punk
Eu já passei da idade de ter um tipo físico de mulher ideal para eu me relacionar. Antes, só se fosse diferente (bem diferente). Tivesse um figurino único. Gostasse de minha companhia mais que tudo. Tivesse no mínimo cabelos longos (e, talvez, uma tatuagem). Soubesse andar de salto alto. Que fosse do tipo rebelde. E, lógico, portadora de um grande coração…
Uma coisa meio Angelina Jolie.
Hoje em dia eu continuo insistindo nos quesitos “gostar de minha companhia mais que tudo” e “portadora de um grande coração”, mas confesso que muita coisa mudou. É, pessoal, não tem jeito. Relacionamento a gente constrói. Dia após dia. Dosando paciência, silêncios e longas conversas. Engraçado que quando a gente pára de procurar o “amor da vida”, um amor pra vida da gente aparece. Sem o glamour da alma gêmea. Sem as promessas de ser pra sempre. Sem borboletas no estômago. Sem noites de insônia. É uma coisa simples do tipo: você conhece a menina. Começa, aos poucos, a admirá-la. A achá-la FODA. E, quando vê, você tá fazendo declarações açucaradas igual um pangaré. (E escrevendo textos no blog – ainda que através de indiretas – para que ela entenda uma coisa: dessa vez, caríssima, é DIFERENTE).
Adeus expectativas irreais, adeus sonhos de adolescente. Ela vai esquecer sempre aquilo que você já leu e comentou com ela, mas vai se lembrar sempre que você gosta do seu pão na chapa com muita manteiga (e aquele pingado com um pouquinho de leite frio). Ela não vai fazer declarações românticas e propor jantares à luz de velas, mas vai saber que você está estressado com o trabalho no primeiro “Oi”, te perdoando docemente de qualquer frase dita com mais rispidez.
Ah, gente, sei lá. Descobri que gosto mesmo é do tal amor. Da paixão, creio que não. Depois de anos escrevendo e insinuando sobre querer alguém que me tire o chão, que me roube o ar, venho humildemente me retificar. Eu quero alguém que divida o chão comigo. Quero alguém que me traga fôlego. Entenderam? Quero dormir abraçado sem susto. Quero acordar e ver que (aconteça o que acontecer), tudo vai estar em seu lugar. Sem ansiedades. Sem montanhas-russas.
Antes eu achava que, se não tivesse paixão, eu iria parar de escrever, minha inspiração iria acabar e me tornaria simplesmente mais um dos inumeráveis companheiros ranzinzas e conformados, prontos para deixar de viver aventuras em prol da estabilidade. Mas, caramba! Descobri que não é nada disso. Não existe nada mais contestador do que amar uma pessoa só. Amar é ser rebelde. É atravessar o escuro. É, talvez, mudar o conceito de tudo o que já pensei que pudesse ser amor. Não, antes era paixão. Antes era imaturidade. Antes era uma procura por mim mesmo que não tinha acontecido.
Sei que já falei muito sobre amor, acho que é o grande tema da vida da gente. Mas amor não é só poesia e refrões. Amor é reconstrução. É ritmo. Pausas. Desafinos. E desafios.
Demorei anos para conhecer direito e até mesmo concordar com o Cazuza: “eu quero um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida”.
Provavelmente antes, se ouvisse essa música, eu pensaria (e não diria): porra, que tédio!
Ah, Cazuza! Parece que ele sempre soube. Paixão é para os fracos. Mas amar – ah, o amor! – Amar é punk.
Esse texto foi recortado-e-colado-e-adaptado do originalíssimo da Fernanda Mello, que – na sua “versão feminina” – pode ser encontrado aqui. Mas, ainda assim, as garatujas acima são tão verdadeiras quanto o original…
Pétalas de rosa carregadas pelo vento

Hoje, vindo para o trabalho, como a Viatura estava (pra variar) no latoeiro fazendo uns ajustes, seguia eu próximo de casa – a pé – rumo a uma feérica carona, quando notei algo que jamais havia percebido ao passar diariamente de carro pelo mesmo local. Uma roseira. Com rosas rosas. Numa modesta casinha com ar antigo. Daquelas com cacos formando desenhos no piso da varanda.
Mundo mágico esse nosso real que, além das redes, tem o condão de nos transportar para o virtual. E no curto caminho que me restava veio à mente um sem número de imagens, de casinhas tais quais aquela, que exalavam nostalgia, com gosto de avó, de mãe, de infância, de algo perdido que parece não querer mais ser encontrado. A própria casa dos meus pais, com seu alpendre de caquinhos vermelhos, também eles formando desenhos, como as faixas pretas e as flores amarelas de pétalas negras. As três colunas – uma de cada cor – que ainda hoje adornam as muretas internas, refúgio de uma criança hiperativa que brincava sozinha em casa, inventando estripulias e traquinagens. As paredes grossas – tanto quanto a porta da sala, com sua tradicional janelinha (ainda não existia olho mágico), sua fechadura de punho e lingueta pra abrir. O longo corredor com o comprido carpete ótimo para se escorregar. As janelas de duas folhas que dobravam, com venezianas de madeira e vidros guilhotina. O forro de madeira, assim como os tacos e os rodapés – tudo sempre bem envernizado. O jardim quadrado todo gramado (ah, o cheiro da grama cortada que me inunda a memória!), a gigantesca torre da antena, o pé de erva cidreira num cantinho e, bem no meio, imponente e majestosa, triunfava A Roseira – com suas rosas brancas e rosas.
Grandes e suavemente perfumadas rosas com delicadas e macias pétalas, encimando um portentoso caule espinhoso – que pela espessura fazia denotar a sua própria antiguidade. Rosas tão frondosas e em tal quantidade que preenchiam todo o derredor com seu sempre suave perfume…
E todas essas lembranças me vieram com tanta fartura e velocidade, preenchendo de tal maneira os cantinhos vagos do coração com um nostálgico carinho, que, trôpego, momentaneamente esqueci-me onde estava, quem era, pra onde ia…
Mas o mundo real cobra seu preço e num átimo do segundo seguinte eu já seguia meu caminho.
E passei a pensar um pouco nas casas de hoje, essas de subúrbio, verdadeiras caixas de fósforo com arquitetônicas preocupações com um mítico coeficiente de preenchimento absoluto de todos os espaços possíveis de forma aproveitável. Casas sem corredores, com fórmulas matemágicas de ocupação diretamente proporcionais à quantidade de pessoas que ali vivem. A varanda é a garagem, o jardim é a passagem, o quintal é a lavanderia. O ornamental deu lugar ao prático. O ambiente amplo importa em desperdício. Um jardim, um quintal, uma árvore, um gramado não significam outra coisa senão a necessidade de dedicar atenção e cuidados que não encontram espaço em nossa atribulada agenda diuturna. Melhor o concreto, a impermeabilização, o piso que não dá trabalho.
E percebo o quão realmente distante estamos da qualidade de vida que nós, seres humanos hodiernamente práticos e modernos, teimamos em dizer que procuramos.
As coisas – como sempre – são mais simples do que pensamos. Ou achamos. Ou queremos.
A bem da verdade, simples como rosas.
Como as da roseira que lhes falei.
Cujas pétalas foram carregadas pelo vento da memória.
E é onde carinhosamente permanecem.
A roseira.
As rosas.
O perfume.
Rosa.
O bem sempre vence no final
Videoclipe pra lá de gostoso com a sumida Daniella Magalhães (aquela mesma que também estava lá no filme Aparecida).
Só uma coisa, Dani: uma hora dessas você me explica o que é que são essas meias arrastão???
😀
Música do Dia
Além do que se vê – Los Hermanos
12:23

