Terno e gravata serão julgados pelo CNJ

Quem me conhece, sabe meu posicionamento…

RIDÍCULO!!!

Como se já não bastasse o excesso de formalismo processual (ainda que procurem espalhar aos quatro ventos que a “informatização” será a pedra de toque que tudo irá sanar), temos que conviver também com o excesso de formalismo indumentário!

Recortei-e-colei daqui:

O que seria mais uma audiência trabalhista em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, em 23 de fevereiro, terminou em uma discussão que nada tinha a ver com o caso: advogados podem ser obrigados a usar terno para falar com magistrados? Eram 11h30, fazia um calor escaldante e o advogado Fernando César de Souza Monteiro portava camisa de manga comprida e gravata. A juíza responsável se negou a recebê-lo ao notar a ausência do paletó, segundo relata Monteiro. “Ela considerou que seria uma ofensa ao Judiciário.”

O assunto foi parar no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que pode julgar hoje quem é competente para definir a vestimenta usada pelos profissionais do direito nas dependências dos fóruns e tribunais. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) reivindica a tarefa para si. Segundo o estatuto da profissão (Lei nº 8.906, de 2004), os conselhos seccionais definirão, “com exclusividade”, os critérios para o traje dos advogados. A polêmica começa quando a norma esbarra no dia a dia dos magistrados.

Alguns juízes rejeitam qualquer intervenção da Ordem quanto à indumentária usada durante os atos judiciais – como audiências, julgamentos e sessões do júri, cujos procedimentos são tradicionalmente carregados de símbolos. Entre eles está o uso do terno e da toga, além da exigência de que as pessoas presentes se levantem quando os magistrados entram na sessão de julgamento.

Nos últimos dois anos, a seccional fluminense da OAB vem tentando flexibilizar o uso de terno e gravata durante o verão, através de resoluções que tornam a prática facultativa. “Não se trata de ir de sunga ou bermuda”, ressalva Wadih Damous, presidente da OAB-RJ, esclarecendo que a norma obriga o uso de calça e camisa social. “Acho que advogado tem que andar de terno e gravata, não dá pra ser no verão.” Com temperaturas cada vez mais quentes no Rio, que chegam à sensação térmica de 50 graus, Damous diz que passou a receber demandas pela dispensa do traje completo. Há registros de desmaios e alterações na pressão arterial de associados. Segundo a OAB, alguns magistrados se recusam a receber advogados sem paletó.

A OAB-RJ entrou com um procedimento de controle administrativo pedindo ao CNJ que pacifique a questão. Ao analisar o caso monocraticamente, o conselheiro Nelson Braga entendeu que compete ao Poder Judiciário dispor sobre o traje de quem frequenta a Justiça. Os advogados recorreram e o caso entrou na pauta do plenário do CNJ.

O julgamento chama a atenção no Brasil inteiro, especialmente em Estados de clima quente. Em Pernambuco, o Conselho da Magistratura – órgão do Tribunal de Justiça responsável por atos administrativos e disciplinares – invalidou uma resolução da seccional da OAB que tornava o uso do terno facultativo, durante o ano inteiro. “Não cabe à OAB disciplinar o funcionamento das dependências do Judiciário”, afirma o desembargador do TJ-PE Luiz Carlos Figueiredo, autor do voto que barrou a resolução da OAB. “É como seu eu entrasse na sua casa, abrisse sua geladeira, tomasse sua cerveja e deitasse na sua cama.” Segundo ele, advogados podem usar roupa comum para circular no fórum, mas devem usar o terno para atos formais. A OAB informa que discussões semelhantes ocorrem no Piauí, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

Há juízes que entendem que barrar um advogado por causa da vestimenta gera dano moral. Em Juiz de Fora (MG), um advogado processou a União porque, ao comparecer a uma audiência na 3ª Vara do Trabalho, foi impedido de sentar-se à mesa por não trajar beca ou gravata. Teve que acompanhar as discussões próximo à porta. Uma decisão de primeira instância condenou a União a indenizar o advogado em R$ 5 mil. Segundo o juiz federal Leonardo Augusto de Almeida Aguiar, autor da sentença, houve “violação aos direitos da personalidade do autor”.

Os formalismos no Judiciário também afetam o cidadão que assiste aos julgamentos. No Supremo Tribunal Federal (STF), a exigência do uso do blazer volta e meia gera constrangimento. Em maio, a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) foi barrada no plenário ao tentar acompanhar a sessão que liberou a união estável entre casais homossexuais. “A causa é nossa, mas o blazer eu não tinha”, declarou a deputada na época. O uso de calça comprida pelas mulheres nas cortes superiores só foi liberado em 2000. Carmen Lúcia foi a primeira ministra do Supremo a usá-la, sete anos depois. No Tribunal Superior do Trabalho (TST), há relatos de advogados cuja defesa foi ignorada pela falta ou o uso incorreto da capa negra, exigida de quem faz a defesa oral.

Maíra Magro – De Brasília

Modelo fotográfico

– Paiê, olha só, acho que meus dentes estão ficando molinhos…

– Deixa eu ver filho… Nossa! É mesmo!

– Então esse dente vai cair?

– Isso mesmo, já está nascendo outro dentinho por baixo e que está se alimentando da raiz desse aí. Por isso é que fica molinho assim. Ele só vai sair quando o seu novo dente estiver pronto e forte pra aparecer.

– Quer dizer que eu vou ficar banguelinho?

– É…

– LEGAL!!!

– Heh… Só você mesmo… Escuta, então deixa eu tirar uma fotinho do seu sorriso antes de ficar banguelinho?

– Ah, não!

– Deixa, vai?

– Não.

– Só uma fotinho, filho…

– Não quero.

– E seu eu sair junto na foto?

– Do meu ladinho?

– É.

– Então pode.

– Mas você vai sorrir direitinho?

– Vou sim!

– Tãotáintão…

O que faz você feliz?

O que faz você feliz?
A lua, a praia, o mar
Uma rua, passear
Um doce, uma dança
Um beijo ou goiabada com queijo?
Afinal, o que faz você feliz?
Chocolate, paixão
Dormir cedo, acordar tarde
Arroz com feijão, matar a saudade
O aumento, a casa, o carro que você sempre quis
Ou são os sonhos que te fazem feliz?
Dormir na rede, matar a sede
Ler ou viver um romance
O que faz você feliz?
Um lápis, uma letra, uma conversa boa
Um cafuné, café com leite, rir a toa
Um pássaro, um parque, um chafariz
Ou será o choro que te faz feliz?
A pausa para pensar
Sentir o vento
Esquecer o tempo
O céu
O sol
Um som
A pessoa ou o lugar
Agora me diz o que faz você feliz?

O que faz você feliz?
aquela comida caseira,
arroz com feijão
brincar a tarde inteira
o molho do macarrão
ou é o cheiro da cebola fritando que faz você feliz?
o papo com a vizinha,
o bife, a batatinha
a goiabada com queijo
um doce ou um desejo
afinal o que faz você feliz?

O que faz você feliz?
ficar de bobeira
assaltar a geladeira
comer frango com a mão
tomar água na garrafa
passar azeite no pão
ou é namorar a noite inteira que faz você feliz?
rir e brindar a toa
um filme, uma conversa boa
fazer um dia normal virar uma noite especial
afinal, o que faz você feliz?

O que faz você feliz?
comer morango com a mão
por açúcar no abacate
brincar com melão, goiaba, romã, jabuticaba
ou é o gostinho de infância que faz você feliz?
cuspir sementes de melancia
falar besteira, ficar sem fazer nada
plantar bananeira, ou comer banana amassada?
afinal, o que faz você feliz?

Advogados e Magistrados

Recortei-e-colei lá do blog d’A menina que roubava idéias, especificamente daqui. Sei que o texto leva muito jeitão de “piada interna”, pois todo seu humor talvez só possa ser plenamente percebido pelos causídicos da vida…

Mesmo assim taí!

Desajeitado, o magistrado Dr. Juílson tentava equilibrar em suas as mãos, a cuia, a térmica, um pacotinho de biscoitos, e uma pasta de documentos.

Com toda esta tralha, dirigia-se para seu gabinete mas, ao dar meia volta, deparou-se com sua esposa, a advogada Dra. Themis, que já o observava há sabe-se lá quantos minutos.

O susto foi tal que cuia, erva e documentos foram ao chão.

O juiz franziu o cenho e estava pronto para praguejar, quando observou que a testa da mulher era ainda mais franzida que a sua.

Por se tratar de dois juristas experientes, não é estranho o diálogo litigioso que se instaurava obedecesse aos mais altos padrões de erudição processual.

– Juílson! Eu não aguento mais essa sua inércia! Eu estou carente, carente de ação, entende?

– Carente de ação? Ora, você sabe muito bem que, para sair da inércia, o Juízo precisa ser provocado e você não me provoca, há anos!

– Claro, você preferia que o processo corresse à revelia. Mas não adianta, tem que haver o exame das preliminares, antes de entrar no mérito. E mais, com você o rito é sempre sumaríssimo, isso quando a lide não fica pendente… Daí é que a execução fica frustrada mesmo!

– Calma aí, agora você está apelando. Eu já disse que não quero acordar o apenso, no quarto ao lado! Já é muito difícil colocá-lo para dormir. Quanto ao rito sumaríssimo, é que eu prezo a economia processual e detesto a morosidade. Além disso, às vezes até uma simples cautelar pode ser satisfativa!

– Sim, mas pra isso é preciso que se usem alguns recursos especiais. Teus recursos são sempre desertos, por absoluta ausência de preparo!

– Ah, mas quando eu tento manejar o recurso extraordinário você sempre nega seguimento… Fala dos meus recursos, mas impugna todas as minhas tentativas de inovação processual. Isso quando não embarga a execução…

Mas existia um fundo de verdade nos argumentos da Dra. Themis. E o Dr. Juílson só se recusava a aceitar a culpa exclusiva pela crise do relacionamento. Por isso, complementou:

– Acho que o pedido procede, em parte, pois pelo que vejo existem culpas concorrentes. Já que ambos somos sucumbentes vamos nos dar por reciprocamente quitados e compor amigavelmente o litígio.

– Não posso. Agora existem terceiros interessados. E já houve a preclusão consumativa…

– Meu Deus! Mas de minha parte não havia sequer suspeição!

– Sim. Há muito que sua cognição não é exauriente. Aliás, nossa relação está extinta! Só vim pegar apensinho em carga e fazer remessa para a casa da minha mãe.

E ao ver a mulher bater a porta atrás de si, Dr. Juílson fica tentando compreender tudo o que havia acontecido. Após deliberar por alguns minutos, chegou a uma triste conclusão:

– E eu é que vou ter que pagar as custas…

Escritores e escritores

Quem resolve se meter a escrever qualquer coisa que seja – um texto, um post, um livro, um parecer, um tratado, não importa! – tem que estar plenamente preparado para encarar o seguinte fato: alguém no mundo já escreveu exatamente sobre a mesma coisa que você.

E provavelmente melhor.

Ainda que os textos sejam completamente diferentes, a abordagem seja distinta e o próprio palavreado tenha suas próprias matizes, não há como negar a similaridade daquela centelha inicial que o levou a desenvolver algum raciocínio e escrever sobre determinado tema.

Tá certo que se considerarmos que centelhas são simples e, provavelmente, repetitivas, fica então razoavelmente fácil de perceber que o que importa mesmo é o fogo gerado a partir daquela centelha – pois esse fogo vai se comportar de maneira totalmente distinta daquele da fogueira do lado, quer seja pela posição, pela maneira que foi aceso, pelo material de combustão, enfim, mil ou mais motivos distintos.

Transporte essa comparação para o mundo da escrita e entenderão que estamos falando da mesma coisa!

Bem, tudo isso só pra dizer que senti certa familiaridade no tema abordado pelo Mario Prata em uma de suas crônicas. Já há um bom tempo escrevi este texto aqui. Mas agora parece que reconheço a mesma centelha inicial nesse a seguir…

Quem escreve as bulas?
Estadão, 30/03/1997

Quando me perguntam a profissão e eu digo que sou escritor, logo vem outra em cima: de quê? De tudo, minha senhora. De tudo, menos de bula. Romance, cinema, teatro, televisão, crônicas, ensaios, tudo-tudo, menos bula!

Uma vez, num barzinho, uma gatinha me perguntou o que eu escrevia e disse que escrevia bula. Ela não deu a menor atenção para mim. Se dissesse que era cronista do Estadão talvez tivesse mais sucesso. Por que o preconceito contra as geniais bulas? Quando é bula papal todo mundo leva a sério, mesmo que seja para dizer que não se pode fazer amor sem a intenção da procriação (que palavra mais animal!).

Não que eu não aprecie as bulas. Pelo contrário. Adoro lê-las. E com atenção. E, sempre, depois de ler uma, já começo a sentir todas as reações adversas.

Admiro, invejo esse colega que escreve bulas. Fico imaginando a cara dele, como deve ser a sua casa. Que papo tal escrivão deve levar com a mulher e com os vizinhos?

Tal remédio é contra-indicado a pacientes sensíveis a benzodiazepinas e em pacientes portadores de miastenia gravis. Dá vontade de telefonar para o autor e perguntar como é que eu vou saber se eu sou sensível e porador?

Quanto ele ganha por bula? Será que ele leva os obrigatórios 10% de direitos autorais? Merecem, são gênios.

Jamais, numa peça de teatro, num roteiro de filme ou mesmo numa simples crônica conseguiria a concisão seguinte: é apresentado sob forma de solução isotônica (que lindo!) de cloreto de sódio, que não altera a fisiologia das células da mucosa nasal, em associação com cloreto de benzalcônio. Sabe o que é? O velho e inocente Rinosoro.

Vejam o texto seguinte e sintam na narrativa como o autor é sádico: você poderá ter sonolência, fadiga transitória, sensação de inquietação, aumento de apetite, confusão acompanhada de desorientação e alucinações, estado de ansiedade, agitação, distúrbios do sono, mania, hipomania, agressividade, déficit de memória, bocejos, despersonalização, insônia, pesadelos, agravamento da depressão e concentração deficiente. Vertigens, delírios, tremores, distúrbios da fala, convulsões e ataxia. Pronto, tenho que ir ao dicionário ver o que é ataxia: incapacidade de coordenação dos movimentos musculares voluntários e que pode fazer parte do quadro clínico de numerosas doenças do sistema nervoso.

Já tá sentindo tudo que foi descrito acima?

Quem mandou ler?

E que tem úlcera pélvica não pode tomar remédio nenhum. Está condenado à morte? Toda bula odeia essa tal de úlcera pélvica. As demais úlceras entram como coadjuvantes nos textos dos autores buláticos (tem a palavra no Aurélio).

E as gestantes (é como os buláticos chamam a grávida)? Elas não podem tomar nenhum remédio. Os nobres coleguinhas protegem a gravidez.

Para todo remédio uma bula diferente, um estilo próprio, um jeito de colocar a vírgula diferente.

Tudo isso para dizer que outro dia, na cama, com a parceira amada, pego uma camisinha na mesinha e abro. Sabe o que estava escrito lá dentro? Parabéns! Você adquiriu o mais avançado e seguro preservativo do mercado brasileiro. Era uma bula. Escrita por algum conhecedor, é claro, dentro da caixinha da camisinha. Claro que me entusiasmei e segui a leitura deixando a amada de lado. Brochei, é claro. Mas, em compensação, fiquei sabendo que o agente espermicida nonoxinol é contra as DSTs.

Depois dessa informação, aí sim, voltei para a alcova. Mas e a amada, onde estava?

E lembre-se sempre: todo medicamento deve ser mantido fora do alcance das crianças. E não tome remédio sem o conhecimento do seu médico. Pode ser perigoso para a sua saúde.

E pra cabeça!

Agora, falando sério. Admiro os escritores de bula. Assim como invejo os poetas. Talvez por nunca ter sido convidado (nem teria experiência) para escrever uma e nunca tenha conseguido escrever um poema. Sempre gostei de escrever as linhas até o final do parágrafo.

Para mim o poeta é um talentoso preguiçoso. Nunca chega ao final da linha. Já repararam?

Já o bulático, esse sim, é um esforçado poeta!

Mario Prata
Cem Melhores Crônicas (que, na verdade, são 129)
2007