O problema

O problema deste mundo são esses amores não-correspondidos e desperdiçados a toda hora, entende? Como paixões que são despertadas negligentemente, ilusões platônicas que acabam com gosto de soco na alma, noites de sexo mal intepretadas, amores exilados que não encontram seu lugar no mundo, como peças extraviadas de um quebra-cabeça. O problema todo se resume nisso: corações e cérebros não falam a mesma língua. A vida seria muito menos dolorida se a gente tivesse o dom de se apaixonar por aquela pessoa que nos oferece o coração. (…)

Alexandre Inagaki
De seu texto “Bons Amigos”
No livro Blog de Papel

Smallville: o fim

Pois é.

Acabou.

Foram dez temporadas.

Mas acabou.

Tá certo que essa adaptação dos quadrinhos para uma série causou irritação para muitos puristas, mas, particularmente, gostei. De cada um dos episódios de cada uma das dez temporadas. Que chegou ao fim. E, finalmente, Clark Kent vestiu o uniforme…

Como não tenho TV por assinatura em casa (a bem da verdade, atualmente nem mesmo TV aberta…) conto com esse pessoal fantástico que captura o sinal, traduz, monta a legenda e tudo mais – disponibilizando o produto final na Internet. O último episódio da série foi ao ar na TV americana no último dia 13 (sim, anteontem) e graças a eles já pude assistir. Assim, em especial para esse último episódio, meus sinceros agradecimentos para:

Equipe InSUBs

SofieMercer, Oskent e Julex
AbeiaQueen, Clarkingoss e Tessozzi
(Tradução)

SofieMercer, Oskent e Julex
Kryptonic, Clarkingoss e Tessozzi
(Sincronia)

OliverLover, FL0YUTHOR e Haylois
(Apoio Moral)

Tessozzi e Cesar-El
(Revisão)

Jorginn
(Encode)

E aí embaixo, a trilha musical que nos acompanhou por todo esse tempo (basta clicar no Play):

 
Mas acabou… 🙁

Cinta-liga e chicotinho

Este post foi originalmente ao ar em AGO/2005, no finado blog Respira pela Barriga – “Reflexões, aventuras e desventuras de alguém que come com os olhos, fala pelos cotovelos, pensa com o coração e tenta, honestamente, respirar pela barriga”.

Sou a típica moradora low-profile. Quase não transito pelo térreo do meu prédio. Quando passo, estou invariavelmente com pressa. Geralmente saio pela garagem, quase sempre cantando pneu. Nas poucas ocasiões em que cruzo com o porteiro, meus diálogos se limitam a “bom dia” e “obrigada”. Como gosto muito de receber amigos em casa, de vez em quando desço à noite para receber uma pizza, mas mesmo nesses dias é “boa noite e obrigada”. Nada mais. Achava, na minha santa ingenuidade, que era intocável. Errei.

Personagem 1: Marcondes, o porteiro brejeiro. Marcondes é um mulato jeitoso, sorridente e educado. Sempre perfumado e engravatado, tem 5 filhos reconhecidos: 3 meninas e 1 menino com a esposa e outro menino, quase da mesma idade, com a namorada preferida. De dia, dedica-se a seduzir as empregadas do prédio e a dar uma olhada na portaria nas horas vagas.

Personagem 2: a síndica. Uma solteirona taciturna e aposentada de meia idade, que parece ter encontrado um novo sentido na vida: criar burocracias impossíveis e uma muralha de “firewalls” para um simples prédio de classe média, sem qualquer glamour.

Personagem 3: essa que vos escreve. Separada, 2 filhos, 35 anos, pacata, condomínio pago em dia.

Coadjuvantes: os demais porteiros (principalmente os da noite), o zelador (que está no prédio há uns 20 anos), as babás e as empregadas.

Aí, a síndica recém empossada, inebriada pelos eflúvios do poder, resolve aumentar a “segurança” do prédio e “otimizar” o consumo de energia elétrica.

Medida: sensor de presença em todos os andares, na garagem e na portaria. A luz só acende quando o sensor detecta movimento.
Conseqüência: no térreo, os fios do sensor foram ligados na caixa da TV a cabo. De dia, tudo bem. De noite, quando alguém entrava na portaria, a luz acendia e os canais a cabo funcionavam. Quando a pessoa saía, a luz apagava e a TV saía do ar. Levou 10 dias para o técnico entender o que estava acontecendo. E eu perdi um capítulo decisivo de ER!
Outro dia, o sensor da garagem quebrou e todo mundo teve que manobrar “por instrumentos” por dias e dias.

Medida: todo e qualquer prestador de serviço deve ser acompanhado por um morador nas dependências do prédio.
Conseqüência: aí, eu chamo o técnico do fogão e tenho que ir buscar o cara no térreo e trazê-lo até a minha casa. Mesmo que diga, que jure por Deus e por todos os santos para o Marcondes que, sim, eu pedi, efetivamente, um técnico para o fogão. Mesmo que o técnico esteja uniformizado e que porte a carteira funcional da assistência técnica. “Por segurança”, diz a síndica. “Ah, então tá.” Se o técnico do fogão que “eu” chamei for um assaltante, vai se inibir com a minha imponente presença e não assaltará nada. A propósito, quando terminam o serviço, todos os prestadores de serviço descem desacompanhados porque morador nenhum tem saco para acompanhá-los até o térreo.

Medida: todos os funcionários do prédio e funcionários de moradores devem ser devidamente registrados.
Conseqüência: eu e o resto da galera do Mengão tivemos que submeter à Dona Síndica cópias “autenticadas” do RG, CPF e Carteira de Trabalho dos empregados domésticos, inclusive da minha babá, que está comigo há mais de dez anos, bem mais tempo do que a síndica, que se mudou para o prédio há uns dois, no máximo.

Medida: todo visitante deve ser identificado na portaria e apresentar o documento de identidade para cadastramento. Ah, os horários de sua entrada “e” saída são anotados em uma planilha.
Conseqüência: de manhã, quando o Marcondes chega, tem, para seu deleite, um relatório completo do movimento noturno do prédio, que faz questão de partilhar com quem estiver por perto. A coisa funciona mais ou menos assim:

_ Ooooolha, ontem vieram “dois” pro apartamento da Dona Ju. E saíram depois da uma da manhã!

_ Era o barbudo da semana passada? _ pergunta uma empregada, de passagem.

_ Nããããão, Cleuzineide. Eram dois “meninos”. Olha só a data de nascimento. Beeem mais novos que ela! E eles pediram pizza, viu? Olha aqui, o registro do entregador. Quase onze da noite!

_ Ah, essa Dona Ju, depois que se separou… _ emenda o zelador, meneando a cabeça.

_ Justo ela, que parecia tão séria… _ completa a viúva portuguesa do 32.

Detalhe: (informado posteriormente pela minha amiga, Gi) de mulher, eles não pedem qualquer identificação, nem anotam entrada, nem saída.

Dica para assaltar meu prédio: mandem uma mulher.

Meninos, eu vivi:

Aí, uns meses atrás, meu ex-namorado estava em casa e, juntos, esperávamos um amigo, diretor de arte, para discutir um freela meu. Íamos comer uma pizza, os três.

Toca o interfone.

_ Dona Ju…

_ Sim, “porteiro da noite”. Pois não.

_ É… é que tem um rapaz aqui para a senhora…

_ Sim. Quem é?

_ É o “seu” Sérgio.

_ Ok. Pode mandar subir.

_ Mas… mas… é que… o namorado da senhora não está aí?

_ Como assim? COMO ASSIM? COOOOOMMMMOOO ASSSIIIIIMMMMM?
(Quando a vontade era responder:
“_ Está. Vamos fazer uma orgia. Ah, e quando as cabras de cinta-liga, o rapaz de máscara de couro, o travesti de lamê dourado e o meu entregador de ecstasy chegarem, pode mandar subir direto, viu? Nem precisa interfonar.”)

Meu mentor intelectual sugeriu corrompê-los com comida. Disse:

_ Esses porteiros ficam babando com todas aquelas pizzas, sanduíches, comidas chinesas e outras coisas entregues todas as noites nos apartamentos. De vez em quando, compre uma pizza e mande entregar a eles. Você vai ganhar um aliado para toda a vida.

_ O QUÊÊÊÊ? Você está me sugerindo “comprar” o silêncio deles? Como se eu fosse uma criminosa? Como se estivesse fazendo algo errado? Como se devesse satisfações??? Ora, faça-me o favor!!!!

Mas fiquei pensando e acho que tive uma idéia: poderia combinar com “os homens” de deixarem o carro uma quadra antes da minha casa. Aí, eles me ligariam, eu iria buscá-los de carro e os colocaria no porta-malas. Na garagem, só precisaria passá-los para um saco ou mala, para evitar a câmera no elevador. Na saída, faria o mesmo, ao contrário.

Difícil vai ser esconder as cabras de cinta-liga…

Êta mundinho machista, coronelista, chauvinista, de cocô, xixi e meleca! Pronto. Disse.

Nota: Post (re)publicado com o consentimento (até agora) da autora…

Fire Rainbow

“O arco-íris de fogo (fire rainbow) é um dos fenômenos meteorológicos mais raros e bonitos da natureza.”

Concordo.

Tive a oportunidade de que um “arco-íris de fogo” tenha passado pela minha vida. Realmente é um fenômeno tão raro quanto empolgante… Depende, antes de mais nada, de você estar no lugar certo na hora certa. E, mais: existem diversos fatores – talvez até improváveis – que devem estar sincronizados e combinados de uma maneira tal que permita que tal situação exista! Foi realmente uma sensação única poder estar diante dessa presença e curtir muito de seus detalhes…

Bem, a explicação técnica diz que nesse tipo de fenômeno “com aparência similar a um arco-íris horizontal, a refração da luz ocorre dentro dos cristais de gelo encontrados em nuvens cirrus. (…) Esse é um fenômeno muito raro dado a quantidade de fatores que precisam ser combinados para ele acontecer. O Sol precisa estar bem alto (pelo menos 58° acima da linha do horizonte), a presença de nuvens cirrus também é imprescindível e os cristais de gelo das nuvens têm de estar todos alinhados horizontalmente. / A luz que entra nos cristais é separada num espectro de cores, como num prisma, dando a impressão de que toda a nuvem é um arco-íris em chamas.”

Mas, como qualquer grande fenômeno da natureza, apesar de seu encanto, foi passageiro e, diria até, fugaz… Com certeza deverá continuar a se manifestar em outras paragens, mostrando toda sua exuberância contida e, provavelmente, proporcionando uma saudável sensação de paz. Isso porque,  até mesmo pela distância que mantém deste nosso mundinho, não é da natureza do arco-íris causar estragos – ao contrário de nós, pequenos mortais imersos em nossas questiúnculas do dia a dia. Percebo agora o quão privilegiado fui de estar em sua presença e quão tolo fui de não parar, descer do veículo, e simplesmente curtir, me dar ao luxo de me perder em todos seus detalhes enquanto estava por ali…

Paciência.

Assim é a vida.

O verdadeiro ponto a se destacar é a necessidade de sempre tentar manter a capacidade de olhar adiante. Olhar pra frente e procurar não deixar passar despercebidos os arco-íris que surjam em nossas vidas. E, enquanto em sua presença, absorver cada detalhe cada segundo que for possível. Pois nunca saberemos quanto tempo isso irá durar…

Mas esse arco-íris em especial passou.

E, como já disse – e como é de sua natureza -, não volta mais.

Adeus, Fire Rainbow…