Ainda o do meio…

Hoje de manhã, só pra contrariar o último post, ele foi o primeiro dos três a acordar. Acabei de preparar o café da manhã, tudo na mesa – inclusive ele – e também preparei seu Toddy (apesar da tentação de não falar de marcas de produtos, não adianta: Toddy é Toddy, Nescau é Nescau e assim por diante; esse negócio de “achocolatado em pó” é muito esquisito pra mim). Perguntei-lhe:

– E aí filho, como é que tá o Toddy?

– Cumassim? (e olha que ele nunca leu o blog da Ju…)

– Tá muito quente? Tá muito frio? Como é que tá?

– Ah… Tá muito morno.

E eu venço esse povinho?

Insolência legal

E então? Lembram-se que outro dia estava justamente comentando acerca de meu filho do meio? Pois é. Dos três filhotes o que sempre dorme melhor é ele. Normalmente, à noite, é o primeiro que capota e, de manhã, o último que chega à mesa para o café. E não tem tempo ruim, não! Se o sono chegar, onde ele estiver, foi! Não importa a situação ou a posição. Nem que seja de ponta-cabeça, desafiando até mesmo a Lei da Gravidade!

Segue a prova…

Espirais sem fim

Por um acaso você já teve um daqueles sonhos tétricos em que pensa que acordou, mas ainda está dormindo? Normalmente vem acompanhado de alguma situação terrível, quando você tenta gritar para chamar a atenção de alguém, para que percebam que você simplesmente quer acordar e não consegue, e que, apesar de estar gritando a plenos pulmões, na vida real você não está dando mais que alguns resmungos…

Pois é, hoje tive um desses.

Mas foi pior.

Lá estava eu, na minha situação terrível, quando percebi que estava sonhando. Foi então que simplesmente deu aquele estalo: “basta acordar”, pensei. E acordei. Pra variar, dormi na frente do computador. Mesmo assim, fiquei aliviado. Mas, quando fui fazer outras coisas, percebi que estava noutra enrascada, ainda pior. E, depois de algum tempo (sabe-se lá se horas ou minutos: o conceito de tempo fica meio maluco nos sonhos), percebi que ainda estava dormindo.

E o curioso é que dessa vez tive essa noção já na minha cama. E eis que surge nova luta pra acordar, o que se deu a muito custo. Acordei, olhei para os lados e – novamente – fiquei aliviado. Mas alguma coisa ainda estava estranha. De alguma forma eu estava preso ali e não conseguia sair. E percebi que continuava dormindo.

E, daquele novo resquício de sonho em que eu estava na minha cama, após nova e brava luta, finalmente consegui acordar. Resfolegando. Assustado. Tonto. E com receio de estar em outro sonho…

E agora estou eu aqui, a escrever estas linhas, sem ter a plena certeza de que realmente já acordei ou não. E como tudo aquilo pelo que passei não foi real, nem na primeira, nem na segunda e nem na terceira vez – e se agora também não o for? E se tudo isso for um muito bem elaborado subproduto da minha mente? Dá pra pirar, não dá?

Lembro-me de ter lido, já há muito tempo, uma estória de um sábio que dormiu e sonhou que era uma borboleta. E seu sonho foi tão perfeito e tão real que, quando acordou, já não tinha certeza se era um homem que sonhou ser uma borboleta, ou se era uma borboleta sonhando ser um homem…

Realmente, espirais sem fim que dão nó na cabeça da gente!

E olha que nem andei assistindo Matrix por esses dias, hein?

Ainda sobre mudanças

Apesar do romantismo no ar que tem assolado este humilde integrante de um CPLF (leia-se: Casal Pra Lá de Feliz), o tema “Mudanças” continua perene, impregnado à minha volta. E, curiosamente, ainda que por vias transversas, hoje tive contato com um texto muito bom que também tem a ver com o tema em pauta e foi publicado lá no Anjos de Prata, um site que vem disponibilizando textos desde 2000. Segue o conto.

Auto-retrato

Tem dias em que a gente se sente como quem partiu ou morreu. Provavelmente o poeta urbano deve ter tido um dia daqueles quando versou esta preciosidade. Por outro lado, já sem o peso das laboriosas decisões que fazem a roda do nosso mundinho girar, peso que a morte me desobriga carregar agora, talvez eu consiga finalmente falar sinceramente sobre mim. Finalmente estou me sentindo mesmo como quem partiu ou morreu.

Cá estou eu, espectadora do meu próprio velório. Já acompanhei todo o perereco do transporte do meu corpo até São Paulo. Fui sentadinha no banco de passageiros tentando puxar conversa com o motorista que insistiu sistematicamente em ignorar-me. Não esqueçam meu último endereço em vida: Joinville/SC. Portanto, foram quase dez horas de rejeição até o velório municipal de Rio Claro/SP. Magnífico exercício de paciência para quem tem a mania da perfeição forjada pelo desejo irracional e constante de ser aceita neste mundo véio sem porteira. Interessante notar que a gente continua com exatamente os mesmos defeitos quando morre. Nem queria que ele me respondesse mesmo. Aposto que ele tinha bafo e um papo chatíssimo. Me desculpem o comentário maldoso, mas ainda estou ligada às coisas terrenas, sabem como é.

Passeando entre as pessoas presentes no meu velório, fico realmente espantada com a multidão. Será que sou mesmo uma defunta querida? Claro que a maior parte são curiosos cronicamente mórbidos que migraram dos velórios vizinhos. Morreu um bocado de gente esta noite. Mas de longe o meu velório parece ser o mais concorrido dentre as capelas. Afinal, sou uma defunta importada, vim do sul! Noto uma senhora de cabelos obviamente tingidos de loiro-escuro-médio-238 com um escandaloso avental florido. Descascando batatas duma bacia imensa aos seus pés, transborda-se numa torrente desatada e chorosa de lamúrias que parece ter origem num tempo em que o próprio tempo ainda ensaiava existir. “Merda, bosta e cagalhão, que gajo atropelou minha estrela? Também, sempre aluada, ensimesmada, menina calada, só podia dar com os burros, merda, bosta e cagalhão…”. Minha avó. Encosto a cabeça no seu colo e sorrio. Só ela sobre a terra foi capaz de colocar tanta porcaria na mesma frase. Salvo talvez George W. Bush.

Rindo dos poucos modos de minha avó, beijo-lhe as mãos e afasto-me atrapalhadamente. Assim como teria feito se estivesse viva: tropeçando em todos os pés que aparecem e que imagino aparecer no caminho. Uai, morto tropeça, sim! Estabanada a vida inteira não seria diferente na morte. Sempre tive coleção de hematomas pelo corpo. Um jeito pouco salutar mas eficaz de chamar a atenção: todos riam de mim enquanto eu imaginava que riam para mim. A necessidade atroz de ser aceita.

Pode até ser que minha auto-estima sempre foi meio baixa, mas por incrível que possa parecer, nunca tive problemas com ela. Bem, ou quase isso. Sentimentos que considerava menores nunca tomaram conta de mim. Mas não por possuir sentimentos ou alma elevados. Teimosia pura mesmo. Vou lá eu deixar de fazer minhas coisas por causa dessas bobagens? Meto o pé e vou em frente! Mas aviso ao navegantes: isso é ruim, viu? E agora que sou só alma e não tenho mais o corpo a reclamar por desejos imperiosos que desviam minha atenção das dores da alma… ui! A gente devia morrer e levar o analista junto, porque tudo é mais intenso agora.

Me vi no centro de um grupo de primos, muitos que não via há anos, contando piadas sujas e escondendo o riso das tias carpideiras. Eu mesma já participei desta rodinha muitas vezes. Era só tio fulano bater as botas e nos encontrávamos. Minha família é uma das famílias paulistanas mais espalhadas que já se viu. Todo mundo nasce e é enterrado em São Paulo (depois do meu irmão, sou o segundo membro da família que não é enterrado na capital!). Mas tem gente espalhada em Minas, Espírito Santo, Mato Grosso. Tem até um tio avô maluquérrimo, abandonado no altar pela noiva o que o levou a nunca mais bater bem dos pinos, que mora em Roraima. Velório e meio ele aparece. De repente bate um medo-pânico de ser citada na rodinha… É claro que gostavam de mim… precisam gostar de mim! Mas o tom das risadinhas e os olhares na direção do caixão não me encorajam a continuar por ali. Negar sempre foi muito mais confortável do que encarar a realidade. Mania a minha desistir de tudo que começa a ficar mais difícil. Meu mundo era cor-de-rosa sabiam? Estaria com uma taquicardia louca se meu coração não estivesse lá bem mortinho com o meu corpo no caixão. E por falar nisso (fuga estratégica), ainda não fui me espiar. Deixa ver.

Fora um roxão no queixo, tudo em ordem. Tô bonita lá! Tô usando aquele vestido de lã que guardei por anos e só consegui inaugurar quando me mudei para Santa Catarina. Nossa! Nunca pensei que tivesse olhos tão grandes… Todo mundo vive dizendo que são puxadinhos, e para mim puxadinhos ficaram sendo. Ou o espelho me enganou por anos, ou meus olhos cresceram depois que morri. Olha só, estou de batom! Ao menos tiveram o pudor de não usar os vermelhos que usava quando ainda era viva. Sempre achei melhor chamar atenção para a boca do que para o que saía dela. Vai que alguém descobrisse que eu era apenas normal? Vai que alguém descobrisse que nunca entendi nada sobre os arcos góticos perniceais na arquitetura ao sul de Flandres? Jamais!

Minha mãe está sentada na cabeceira de meu caixão. Séria, abatida, mas muito bonita. Sempre achei minha mãe bonita em meio a tragédias. Não que estar morta, para mim, seja uma tragédia. Não que minha família tenha passado por muitas. Até porque tragédias só o são quando acontecem com o vizinho. Ela não chora e fica linda assim. Aprendi com ela e por isso também não estou chorando agora, e olha que quem morreu fui eu, hein? Lágrimas desidratam a pele. Além do mais a gente nasce com um estoque limitado de água para chorar. Se chorar a toa, não sobra lágrima para chorar por um grande amor. Morri sem chorar por um grande amor.

E por falar em amor, olha lá meu primeiro namorado! Ah, se eu soubesse namorar na época teria dado um bom trato no sujeito. Ele parece muito envelhecido. Ou será que minha memória congelou aos 12 anos? Sabe por que nosso namoro acabou? Eu dei um soco nele. Bem no centro do nariz. Pau! Minhas amigas me disseram que ele estava espalhando que tinha me beijado de língua. Fiquei cega de raiva. Essa foi a primeira vez que me deixei dominar por um sentimento tão ruim. A segunda e última foi quando despejei uma menina que morava comigo. Abri a janela e joguei tudo que achei pela frente: copo, discos, livros, cama, vídeo cassete, só não joguei a menina porque a cegueira passou na hora H e sai correndo com ódio de mim e vergonha do mundo. Dentre vários outros fatores ainda não descobertos pela ciência, esses dois rasgos de irracionalidade me fizeram uma pessoa controlada. Emoção é coisa de gente de cortiço, oras!

Ih! Estão fechando o caixão! Ainda não vi meu marido, ou meu viúvo, ou sei lá eu. Imaginava-o compungido e chorando muito. Ele sempre chorou muito. Acho lindo homem que chora. Acho que foi por isso que me casei, alguém tinha que chorar na família, porra! Onde estará nesta…

Sinto alguém me segurando pela mão. Olho para trás. Um moço muito branco, de pestanas muito grandes, lábios muito vermelhos. Seus olhos são iluminados e tem um fio de sangue escorrendo pelo nariz. Meu irmão! Ele ri, e diz como se fosse a revelação que salvará a humanidade: “Se a gente coloca a letra B na frente de Estados Unidos fica ‘Bestados Unidos!’ Mas se a gente coloca a letra B na frente de Egito fica ‘Begito!'”. E me sapeca um em cada bochecha para que não restem dúvidas. Em seguida quase re-morre de falta de ar. Meu irmão sempre teve um senso de humor muito particular.

Saímos dali de mãos dadas. Ele me pergunta se não vou ver o enterro. Dou de ombros. Que diferença faz agora? Nada do que fui poderá ser mudado. O que me resta agora é esperar o próximo bonde. E rogar a Deus para que eu reencarne mais humilde da próxima vez.

Aviso: esta louca que lhes escreve encontra-se sob tratamento médico e sob o efeito de drogas fortíssimas; não representa nenhum perigo para integridade física, psicológica ou moral dos que convivem com ela ou para a sociedade.

Ainda não.

LUCIANA PRIOSTA

Ah… L’amour…

Clark Gable & Vivien Leigh. Richard Gere & Julia Roberts. Patrick Swayze & Demi Moore. Antonio Banderas & Catherina Zeta Jones. James Stephens & Samantha. Bruce Willis & Cybill Shepherd (quem lembra da “Gata e o Rato”?). Neo & Trinity. Sr. Fantástico & Sue Storm. Fantasma e Diana Palmer. Clark Kent & Lois Lane (e antes mesmo disso, pra quem conhece quadrinhos – ou assiste SmallVille -, Lana Lang). “V” & Eve. Peter Parker & Mary Jane Watson.

Tudo bem que são apenas estórias, seriados, personagens e HQs. Tudo do mundo ficcional. Mas, se pensarmos em vida real, que estou bem acompanhado, ah, estou!

A transcrição / A coragem por baixo do pano

Tendo aprendido o caminho para o Blog do Mino Carta, por indicação do Zé Luiz, e pra não ter que repetir o que já foi dito pelo próprio lá no Lente do Zé do dia 15, bem como no Alfarrábio do dia 17 sobre o comentário do Luis Nassif acerca do episódio publicado na revista Carta Capital (e mais ainda pode ser visto no site Vermelho), seguem dois interessantes comentários do Mino feitos hoje:

Paulo Henrique Amorim divulga em seu blog, no iG, a transcrição da gravação da conversa do delegado Bruno com os repórteres da Globo, Folha, Estadão, O Globo e Jovem Pan. Naquela fatídica véspera do primeiro turno, quando o Jornal Nacional divulgou a foto do dinheiro do dossiê, antecipando a imagem à noticia do acidente com o avião da Gol. Ali morreram 154 pessoas, mas a turma do plim-plim achou a foto da lavra do próprio Bruno mais importante. Aqui vai outra informação das mais representativas dos comportamentos globais. No dia 28 de setembro, o infatigável delegado entregou as fotos ao repórter da Globo que atende pelo sobrenome de Tralli, o qual, solerte, as entregou aos superiores. Logo a emissora tomou a decisão de evitar ser acusada de repetir a ação golpista perpetrada contra Lula em 1989, na vergonhosa manipulação do debate com Collor. Donde, sugeriu ao Bruno que chamasse os repórteres de outros jornais e emissoras, e que repartisse o tesouro entre eles. Diligente, o delegado atendeu a sugestão no dia seguinte.

Estou a descobrir o valor da Internet. A reportagem de capa de Carta Capital, de autoria de Raimundo Pereira, conta aí com uma repercussão impressionante. para este velho jornalista ainda preso à Olivetti e temeroso do computador, capaz de engolir a humanidade em peso pela bocarra do vídeo, é surpresa encantadora. É deslumbre. Mesmo porque a larga maioria daqueles que se manifestam louva a reportagem de CartaCapital. Algo assim como 95%.

Além disso, o meio se oferece à aprovação de alguns entre os jornalistas que honram o jornalismo brasileiro, tão feroz na defesa dos interesses da minoria pela ação de tantos outros.

Cito, entre os colegas que respeito e agradeço, Paulo Henrique Amorim, Luís Nassif, Tão Gomes Pinto, Teresa Cruvinel. Quero também citar Luiz Weiss, de quem não tenho, infelizmente, boas lembranças, remotas, a bem da verdade, e que neste momento porta-se, a meu ver, com extrema dignidade.

O jornalismo on-line, ao menos no Brasil, é melhor do que o impresso e o eletrônico.

“Sometimes love is too big to be told”

Ontem, após (mais) um cansativo dia de trabalho, e também após a Dona Patroa ter voltado de uma reunião na escola dos filhotes, já lá pelas oito da noite, estávamos todos largados nos sofás, assistindo um filme pra relaxar – Asterix e Cleópatra.

De repente, não mais que de repente, lá do meu canto comecei a admirar aquela mulher que estava ali sentada abraçadinha com nosso filhote do meio, compenetrada na estória que se desenrolava na telinha. Pensei no tempo em que já estamos juntos, como éramos antes, como estamos agora. Constatei a felicidade da mera existência de nossos três filhos. Verifiquei o quanto mudamos nesse meio tempo, às vezes engordamos, às vezes emagrecemos, os cabelos ficaram (mais) brancos e algumas linhas surgiram em nossos rostos.

E, ainda assim, uma onda avassaladora, aconchegante e quente invadiu o meu coração e meu deu a certeza absoluta de que estou no lugar certo na hora certa e com a pessoa certa. Eu a amo de uma forma tão absoluta que não há como expressar em simples palavras.

E então, já tendo decorrido uma noite inteira de sono, sentado agora aqui no computador e repassando as mensagens, notícias e causos dos blogs alheios, encontro um post no É o seguinte… Tá bem? acerca da beleza da mulher madura e mais uma pequena história sobre o encanto de se conversar com os olhos nos olhos. O que já me deixou feliz, pois não só corroborou meus sentimentos da noite anterior como ainda me acresceu uma pontinha de orgulho (pois só sei conversar olhando diretamente nos olhos de alguém)…

Mas o que me deixou mais feliz foi um post no Fala, Lala!, que nada mais foi que o título do presente: “sometimes love is too big to be told”. Comecei a tecer naquele site um comentário acerca do que considero a diferença entre paixão e amor, como um dilacera e outro é perene, etc, etc, etc.

De repente parei. Percebi o tamanho da idiotice que estava fazendo. Se alguém está feliz com seus sentimentos, que importa o nome que se dê? Se é paixão, amor, tesão, seja lá o que for – não importa! Basta estar feliz. Como eu estava ontem à noite, ao admirar minha querida, linda, amada, idolatrada, salve, salve esposa.

E lembrar disso me trouxe aquele sentimento de volta.

E com esse sentimento aqui, palpitando, terei um dia bem melhor.

Pois é. Bastou resgatar um breve momento que já havia esmaecido após uma noite de sono.

Obrigado Lala!