Maioridade blogal

Dezoito anos!

Quem diria?…

O que para mim sempre foi – e continua sendo – uma brincadeira de escrevinhação; pois bem, eis que agora atingiu sua maioridade: dezoito aninhos.

Desde o começo de tudo, em 16 de janeiro de 1998, muita coisa já aconteceu neste nosso mundo virtual – e também no real. Formatamos e reformatamos, nomeamos e renomeamos, incluímos, apagamos, mudamos, até que este blog atingiu uma existência – e aparência – mais ou menos estável. É o que está aí, hoje. Mais ou menos como na vida real, pois de 98 para cá, tive não só um, nem tampouco dois, mas três filhos. E, de igual maneira, eles também nasceram, cresceram, aprenderam, se alteraram e agora estão numa fase mais ou menos estável…

E meu filhote do meio, talvez cedo demais querendo estar mais próximo do mundo adulto que do mundo da infância (ah, essa adolescência!), resolveu fazer uma bela de uma faxina em seu quarto. Coisa jamais vista antes nesta casa! E dentre o dispensar de uma quantidade inominável de tralhas, rabiscos, brinquedos e muitos outros “tesouros” que um dia fizeram seus olhos de criança brilhar – mas que hoje já não mais lhe interessam – percebi uma pedra.

Isso mesmo, uma pedra. Qual criança nunca se encantou com uma pedra? Seja pelo formato, pelo significado, por suas características tão próprias e específicas que, em algum momento, chamaram a atenção do pequeno petiz o suficiente para que resolvesse guardá-la em seu baú de tesouros.

Mas hoje, não mais.

Voltou a ser apenas uma pedra.

Ao menos para ele, pois para mim ainda é um tesouro – e por isso mesmo arrebatei-a!

É que trata-se de um “olho de tigre”.

É uma pedra com características muito especiais, de cor mel-amarelada (e muito apreciada pelos esotéricos); você nunca consegue vê-la duas vezes seguidas da mesma forma, pois, conforme incide a luz, seu brilho e sua tonalidade variam num sutil degradê – o que a torna única.

O que, por sua vez, me fez lembrar do “lápis lázuli”, uma pedra de cor azul, também com características, beleza e brilho próprios, que já vem sendo utilizada em joias ornamentais há milhares de anos. Sim, eu disse milhares.

E qual a correlação entre essas duas gemas, tão distintas entre si?

É que numa outra vida existiu um casal, assim meio leve, meio hippie, meio hipster, que tinha um grande apreço por essas pedras e as adotaram para simbolizar seu afeto e seu relacionamento. Invariavelmente procuravam joias e adornos feitos desse material. Ela tinha a pedra lápis lazúli como sua pedra preferida, principalmente por sua aura mística, com um elo histórico que remetia ao antigo Egito e até mesmo antes. Já o olho de tigre era a minha.

Mas como tudo passa, tudo isso também passou. Portas se fecharam e portas se abriram, pessoas se aproximaram, pessoas se distanciaram e tudo que existiu e tudo o que ocorreu nos trouxeram a este inafastável aqui e agora. Que é onde estou e quando quero estar. Em especial com quem estou.

As lembranças são legítimas e são parte intrínseca da minha personalidade – aliás, esta mesma só o é como é por conta do que já foi e do que já fui. Fiquei feliz de (re)encontrar essa pequena pedra, não mais pertencente aos tesouros de meu filhote. Mas vou guardá-la num cantinho, no fundo de alguma gaveta, pois ainda é um de meus tesouros. Na realidade não preciso de sua presença física, pois os sentimentos que representa calam fundo em minh’alma – tal qual o replicante de Blade Runner: “I’ve seen things you people wouldn’t believe”.

E boa parte disso tudo está aqui, neste blog. Que hoje comemora sua maioridade. Este “nosso cantinho” que é mais do que um espaço de opiniões, mas uma verdadeira memória virtual deste que vos tecla, de modo a ficar claro que nada disso se perdeu, pois em algum momento foi compartilhado com alguém, que por sua vez compartilhou com outro alguém e assim por diante.

E ao menos uma fração daquilo que eu disse, do que pensei, do que imaginei, perpetuará em suas memórias e nas memórias alheias. Uma pequena chama de uma pequena vela que, compartilhada, representa meu pequenino esforço de perpetuar minhas ideias no tempo, de manter essa mesma chama acesa a iluminar os andanças d’outrem.

Este sim talvez seja um bom caminho para imortalidade…

Dez perguntas que você sempre quis fazer sobre o socialismo (mas deveria ter vergonha de perguntar)

(Roubartilhei lá da Socialista Morena…)

(Poster do artista húngaro Sándor Pinczehelyi, 1973)

Dada a imensa ignorância e falta de leitura sobre o socialismo que grassa nas redes sociais, resolvi fazer um rápido P & R (pergunta e resposta) sobre a ideologia que qualquer pessoa minimamente preocupada com a igualdade entre os seres humanos consegue entender – e amar.

1. Para ser socialista é preciso gostar do Taiguara ou da Mercedes Sosa?

No socialismo que sonhamos, o democrático, não tem essa de música obrigatória ou música proibida. Pode ouvir Chico Buarque, Taiguara ou Lobão, até porque somos contra a censura (ao contrário do que ocorria aqui na ditadura militar, o regime capitalista que a direita adora defender). Acreditamos no livre-arbítrio e na liberdade cognitiva e, por isso, muitos de nós também somos a favor da descriminalização de todas as drogas.

2. Se o socialismo vencer, terei que abrir mão do meu iPhone?

É o oposto: em um socialismo ideal, todas as pessoas teriam iPhone, não apenas as ricas. O socialismo, porém, prevê educar as pessoas para entender que o consumismo é ruim para o planeta e que é perfeitamente possível viver sem possuir tantas coisas. Pessoalmente, não tenho um iPhone ou smartphone e não sinto a menor falta. Mas me parece um comportamento totalitário exigir dos outros que pensem igual a mim.

3. Com o socialismo, o Brasil ficaria igual a Cuba, Coreia do Norte ou Venezuela?

Basta raciocinar um pouco para chegar à conclusão que é impossível um país ficar igual ao outro. Cada país tem sua história, suas características, seu povo. Dizer que o Brasil ficaria igual à Venezuela com o socialismo é o mesmo que dizer que os Estados Unidos são iguais ao Iraque, ao Japão ou à Indonésia, que também são países capitalistas. Quanto à Coreia do Norte, ninguém sabe exatamente que regime é aquele. Socialista é que não é.

4. O socialismo significa fim da democracia, como na União Soviética?

Experiências socialistas fracassadas não são sinônimos de socialismo. O socialismo é uma ideia, não um governo. A experiência socialista no Chile, por exemplo, foi bem diferente da cubana e da russa, primeiro porque não houve revolução; o socialista Salvador Allende chegou ao poder pelo voto. Existiam jornais e liberdade de imprensa –tanto é que foram eles que derrubaram Allende, com o apoio dos Estados Unidos. A sangrenta ditadura militar que veio a seguir, capitalista, fechou todos os jornais contrários ao regime, instaurou a censura, torturou e matou opositores. É preciso que se diga que, diferentemente dos capitalistas, os socialistas possuem autocrítica e aprendem com os erros do passado.

5. Com o socialismo haverá o fim da propriedade privada?

Muitos socialistas atuais, como eu, não acreditam em modelos implantados à força, como aconteceu no Camboja ou na China. Na verdade, mesmo na China (que só é chamada de “comunista” quando se fala de atentados aos direitos humanos) existe propriedade privada. No meu ponto de vista (explicitado aqui), o socialismo é, principalmente, uma maneira de tornar o capitalismo menos cruel e um caminho para uma sociedade menos desigual. Tanto é que, antes de o socialismo aparecer, as pessoas trabalhavam até 18 horas por dia, inclusive mulheres e crianças. Não havia férias nem jornada de oito horas e por isso muitos morriam antes dos 40 anos de idade.

6. O socialismo defende a intervenção do Estado na economia?

Sim. Achamos que deixar a economia nas mãos do mercado favorece as desigualdades, como, aliás, está ocorrendo atualmente entre os países mais desenvolvidos no mundo, onde o fosso social cresce cada vez mais –ao contrário dos países criticados como “bolivarianos” da América do Sul, onde a pobreza e a desigualdade diminuíram. O curioso é que os defensores do livre mercado e do “Estado mínimo” aceitam de forma bovina quando os bancos são socorridos pelo Estado com bilhões nos momentos de crise.

7. Com o socialismo os homens seriam massacrados pelas feministas?

O socialismo defende que homens e mulheres possuem direitos iguais. Ou seja, nenhum dos sexos está acima do outro. Atualmente, os homens ganham mais do que as mulheres ainda que ocupem o mesmo posto de trabalho e detêm a maioria dos cargos de mando. O socialismo não aceita essa disparidade.

8. A descriminalização do aborto é uma ideia socialista?

Os primeiros socialistas sempre defenderam o direito da mulher ao aborto como uma prática de saúde pública e como um direito feminino a decidir sobre o próprio corpo. No entanto, o aborto também é legalizado em países capitalistas como os Estados Unidos ou a Espanha. Na Venezuela o aborto é proibido e em Cuba, não. A legalização do aborto parece estar mais relacionada à maturidade de uma determinada sociedade do que à ideologia.

9. Todo mundo será obrigado a ser homossexual no socialismo?

Ao contrário: todo mundo poderá ser o que quiser, inclusive homossexual, sem ser xingado, ameaçado ou espancado por isso. Cuba, que os reaças adoram citar, já perseguiu homossexuais no passado, mas hoje a filha do presidente Raul Castro, Mariela, é uma das maiores personalidades mundiais em defesa dos direitos LGBTs. A cirurgia de mudança de sexo, por exemplo, pode ser feita gratuitamente na rede pública cubana.

10. Se o socialismo fracassou na União Soviética, por que seguir uma ideologia assim?

Porque enquanto houver miséria e desigualdades no mundo sempre haverá um socialista para criticar o sistema e sonhar com outro mundo possível, onde todos tenham o que comer, o que vestir e oportunidades verdadeiramente iguais. Quando vemos uma criança pedindo esmola, não fechamos o vidro do carro nem nos satisfazemos em dar uma moedinha para ela: não queremos caridade, queremos que o sistema melhore. Abra o olho: não existem capitalistas críticos do capitalismo. Quem aponta as crueldades do sistema somos nós, os socialistas. Na verdade, em vez de nos xingar, muitos deveriam nos agradecer por existir.