Testando a paternidade

E eis que nestes tempos interessantes em que vivemos, em que a economia simplesmente não tem como diferenciar Chico de Francisco, só posso concluir que não tá fácil pra ninguém quando, em letras garrafais, leio a manchete do jornal: “Governo prevê fechar 2016 no vermelho”. Daí penso: “Grande coisa. Eu também.”

E continuo em uma das mais prosaicas atividades de meu dia-a-dia, ou seja, pagar contas em atraso. É uma questão de seleção natural: somente as imprescindíveis e primeiro as mais antigas. A felizarda da vez foi a escola de meus filhos, de modo que deixei de lado os carnês e puxei os três envelopes com os boletos atualizados que a direção da escola teima em entregar para cada um deles, digamos, a cada três ou quatro dias.

Aliás, nota mental para mim mesmo: será que isso não beira o assédio moral? Só porque não dou conta de pagar a conta no dia, meus filhotes têm que ficar expostos a receber esses envelopes com cobrança na frente de outras pessoas? Acho que vou pensar em algo…

Enfim, peguei o envelope com o boleto do filhote nº 3: vencimento 31 de agosto. Acesso meu banco pela Internet e efetuo o pagamento. Ato contínuo, o envelope com o boleto do filhote nº 2. Idem, ibidem. Mas quando pego o envelope do filhote nº 1 (o mais velho), constato que a data de vencimento que consta no boleto é 27 de agosto! E pela Internet não tem como pagar contas em atraso.

Diacho.

Ligo pra casa e o caçulinha atende.

– Oi, filho. Chama seu irmão mais velho pra mim.

– Tá.

Provavelmente ele deve ter me entregue o envelope errado e o correto ficou na mochila. Tudo bem, penso eu. Basta que, por telefone mesmo, ele me passe os números do boleto e eu consigo pagar.

– Oi, pai.

– Oi, filho. Seguinte: sabe o envelope da escola que você deixou em cima de minha mesa? Então. Dentro dele tinha o boleto para pagamento em atraso e eu preciso pagar hoje, só que esse boleto está com o vencimento do dia 27. Dá pra você ver se tem algum outro envelope com você?

– Mas pai, hoje é dia 31…

– EU SEI, filho. Mas como o boleto está com data do dia 27 não tem como eu pagar hoje. Não tem nenhum outro envelope nas suas coisas que você não tenha me entregue?

– Não, pai, não tem não.

– Filho, isso é importante. Você tem CERTEZA ABSOLUTA?

– Pai…

Pronto. Pelo tom de voz, pela deixa, pelas visíveis reticências verbais via telefone, já imaginei que ele fosse se desculpar e dizer que sim, tinha um envelope com ele, que se esqueceu de me entregar, que sentia muito e coisa e tal. Sem problemas. Bastava que me passasse os números e tudo estaria resolvido. Tudo isso me passou pela cabeça em milésimos de segundo e já lhe respondi, pacientemente:

– Oi, filho.

– “Certeza absoluta” é pleonasmo.

(…)

Definitivamente.

É sangue do meu sangue.

Jamais perde a piada…

A cola certa

Dia desses estava levando os filhotes para escola, no bom e velho Opalão (também conhecido pelo pomposo nome de Cruzador Imperial), quando, do nada, o guizo do penduricalho que fica no retrovisor – na forma de um dragão – simplesmente caiu.

O mais velho, que ia ao meu lado, resgatou o guizo do assoalho, viu que a argola estava meio aberta e recolocou-o no lugar. E daí me veio com essa:

– Pô, pai, seu carro tá desmanchando, hein?

– Que nada! Tá vendo o porta-luvas ali? Então. Outro dia a fechadura simplesmente pulou fora! Tive que achar todos os pedaços e remontar tudo de novo…

É lógico que ele não podia deixar essa passar.

– Caramba! Pai, com que cola seu carro tá preso pra se manter inteiro?

– Fé.

O verdadeiro inimigo

Estamos de mal. Desde as eleições. Já brigamos pelo face, soltamos farpas uns contra os outros, deletamos os chatos online, colocamos claramente nossas posições, fomos pra rua em lados opostos, xingamos os políticos de ambos os lados, batemos panelas, tocamos corneta, assistimos o noticiário , ouvimos as rádios e continuamos nas trincheiras.

Eu fico me perguntando, a quem interessa essa situação? Quem está ganhando com isso? Os especuladores do mercado financeiro, com certeza! Cada notícia vende jornais, sites , propaganda! Cada negociação para retomar o controle, a tal governabilidade implica em mais verbas , cargos, dinheiro desperdiçado.

Temos um presidente do congresso implicado na Lava Jato com denúncia de recebimento de 5 milhões de dólares. Temos um presidente do senado já denunciado no supremo pelo esquema Mendes Júnior. Uma lista de 53 congressistas implicados na Lava Jato.

Temos a própria Lava jato, vazando informações que interessam somente a um lado.

Todos nós sabemos diferenciar o certo do errado. Nas nossas atitudes, com nossos filhos, amigos e parentes. Eu deixo um desafio aos amigos, responder a pergunta, a quem interessa tudo isso? Quem ganha com esta situação?

Devemos denunciar as ratazanas que se escondem por trás de ambições pessoais ou ressentimentos por derrotas. Devemos ter consciência de nossas próprias mazelas e não nos deixar iludir por magia, que basta eliminar o alvo que o país estará sanado. Devemos aproveitar esta oportunidade de crise para discutir de verdade as grandes questões, porem sem ódio ou preconceito.

Esta crise está sendo criada por nós, pela nossa descrença em tudo, pelo ódio, por interesses políticos, pessoais e financeiros.

A grande pergunta que temos que fazer é para quem estamos entregando este país com esta atitude. E quanto tempo isso vai levar? A cada dia de crise política, são pessoas perdendo os empregos, o país paralisado, a economia idem.

Eu vou trabalhar. Cuidar de meu emprego, da minha cidade, da minha familia e dos meus amigos. Sou um otimista e batalhador por natureza, assim como tenho certeza que o povo brasileiro é . Espero que as pessoas voltem a realidade e enxerguem que não é um governo que dirige suas atitudes (pelo menos numa democracia, que alguns querem que acabe) e sim elas mesmas. O governo é efemero, dura quatro anos ou oito. Sou engenheiro, acredito na crueza dos números e eles me dizem que os números apresentados mostram que tivemos melhoras nos últimos 24 anos, algumas mais acentuadas outras nem tanto.

As pessoas sensatas, com opinião própria, sabem que temos que avançar pelos meios legais, sem soluções mágicas ou golpistas.

O governo já admitiu os erros do passado, a justiça está fazendo o seu papel, as instituições existem, vamos trabalhar e deixar birrinhas infantis de lado e pensarmos como adultos e cuidar de nossas vidas e de nosso país!

Eleições existem a cada dois anos, para podermos nos manifestar sobre qual governo queremos , não existe ainda no país uma outra forma, perdemos a oportunidade ( e no momento histórico, ainda não estavamos preparados para ele ) de implantarmos o parlamentarismo, que talvez resolvesse esta crise.

Temos que acreditar nas boas intenções dos poucos que restaram , Que tenham força para levar este país para frente. Devemos dar um voto de confiança neste governo, já que o elegemos, mesmo não tendo votado nele.

Derrubamos uma ditadura. Derrubamos um presidente inventado pela mídia. Esta presidenta não é uma ditadora, ela foi uma guerrilheira contra a mesma. Esta presidenta não foi inventada pela mídia , ela apanha da mesma todo o santo dia, desde o início deste mandato. Esta presidenta não interfere na ação da polícia e da justiça, nunca houve tantas condenações, prisões de todas as classes sociais em nenhum governo anterior, somente nas ditaduras, onde as pessoas eram presas pelo seu pensamento, não por desvio de verbas do governo.

Eu me lembro da música Geni do Chico. O ódio é irracional. Insuflado leva aos genocídios, a guerra, a história tem milhares de exemplos. Eu não odeio ninguem. Não combina com um cristão. Não combina comigo, com o homem que eu sou.

Eu não odeio a Dilma, o Lula, O PT, o Fernando Henrique, O Serra, o Aécio, o Eduardo Cunha, O PSDB, O Renan. Acho que eles são personagens de um drama, protagonistas sobre o palco que todos nós assistimos, seguindo textos e colocando um “caco” aqui outro lá. Quem me preocupa de verdade, são os autores da peça, que nos deram 30 anos de esperança de um país melhor, e agora decidiram que é a hora de voltarmos para trás. Vamos tirar a cortina de fumaça de nossos olhos e enxergar quem é o verdadeiro inimigo. Quem não tem compaixão. Quem não tem solidariedade. Quem não tem honra. Quem não é honesto. Quem é aproveitador. Quem pensa em si e não consegue pensar nos outros. Quem é covarde. Quem é manipulador. Quem não tem escrúpulos. Quem é preconceituoso.

São eles os “Eles”.

Vamos enxergar o “Nós”.

Tomaz Santalucia

Questão de orgulho

Conversa de outro dia entre o filhote mais novo e a Dona Patroa:

– Sabe mãe, hoje lá na escola teve capela e foi falado sobre vários tipos de pai: o pai mandão, o pai preguiçoso, o pai violento, o pai desligado, etc. Mas o pai de casa não se encaixa em nenhum deles, pois ele é legal e descolado!

É… Acho que continuo fazendo um bom trabalho… 🙂

Sense8

Sei que é um título estranho para um post, mas essa “palavra”, Sense8, é nada mais que um trocadilho com a palavra inglesa sensate, ou seja, alguém consciente, com apelos sensoriais.

E é também uma série de ficção que muitas pessoas já tinham me recomendado e até há pouco tempo eu não estava com disposição de assistir… Coisa de quem já acompanha uma pancada de séries! Mas rendi-me ao inevitável, numa bela manhã de domingo procurei na Rede e numa tacada só já baixei os 12 episódios da primeira temporada, cada um com aproximadamente uma hora. Comecei a ver o primeiro ali, no computador mesmo, e de repente percebo uma sombra em pé logo atrás de mim: meu filhote mais velho. Depois de uns quinze minutos e já presos pela curiosidade, parei, passei todos os arquivos para um pendrive e fomos assistir mais confortavelmente na TV da sala. Só fomos parar no NONO episódio – ainda assim só porque precisávamos jantar!

A série conta a história de oito estranhos, cada qual de uma cultura diferente, espalhados pelo mundo. Começa quando, subitamente, todos têm a mesma visão da violenta morte de uma mulher misteriosa e, a partir de então, passam a perceber que estão mental e emocionalmente ligados um ao outro, sendo capazes de se comunicar, sentir e apoderar-se do conhecimento, linguagem e habilidades entre eles, independentemente da distância que os separa.

E, a cada episódio, vai aumentando essa conexão e, ao mesmo tempo, revelando o mistério por trás dessa relação, inclusive com o surgimento de outros sensitivos misteriosos, bem como a existência de uma organização que caça pessoas como eles.

Mas hoje não estou aqui somente para recomendar essa série. Estou aqui para mostrar uma delícia de vídeo que “mostra” essa conexão, um que tirei lá do quarto episódio, com a música What’s going on, do grupo 4 Non Blondes.

Deleitem-se!

De si para si

Alexandre Zaballa Dias é geógrafo, funcionário do Tribunal de Justiça e trabalha com a Dona Patroa – não necessariamente nessa ordem de importância…

E não, ele não é o cara dessa foto aí de cima!

Dia desses ela me trouxe uma carta – na verdade, um par delas – que ele elaborou de si para si mesmo. Escrever uma carta para você mesmo no futuro é semelhante a uma cápsula do tempo: ficará arquivada, talvez escondida, aguardando seu eu do futuro recebê-la, talvez com mensagens de esperança, lembranças ou advertências sobre coisas importantes.

Da mesma forma, escrever uma carta para você mesmo no passado é uma forma de gerar reflexões importantes sobre sua própria vida, compreender melhor os rumos que o levaram até o dia (e a pessoa) de hoje e até mesmo inspirar outros indivíduos.

Mas, neste caso, o interessante não é só a carta que ele mandou para o amanhã, mas, também, que foi respondida!

Acompanhem com que leveza e objetividade ele desenvolve estes saborosos textos…

Caro Alexandre mais velho:

Aqui quem te escreve é o Alexandre de muitos anos atrás. O motivo desta mensagem é o seguinte: eu já sei o que quero ser quando crescer. Quero ser caminhoneiro. Amo viajar, contemplar as paisagens, ver a beleza que é o nosso país. A prova disso é que amo ir para a casa de nossa avó no Rio Grande do Sul, não durmo na viagem, sempre atento a tudo. Nossos irmãos são divertidíssimos, gostamos de brincar de tudo, às vezes brigamos, mas logo voltamos a brincar. Mudamos para esta cidade nova e na nova escola me apaixonei pela Fernanda, uma menina linda, quero muito namorar com ela e casar. Nossa mãe é muito brava, nos coloca para estudar a toda hora e fazer deveres de casa, como lavar louça, arrumar o quarto e varrer a casa. Detesto isso, acho que ela não me ama. Gosto muito de gibis, principalmente da Turma da Mônica. Nossos primos são muito legais, mas agora estamos em outra cidade, quase não os vejo. Nosso pai foi embora de casa, nunca mais o vi, tenho saudades.

É por isso que te escrevo, Alexandre-mais-velho. Para te esclarecer algumas coisas sobre o futuro. Em primeiro lugar, nunca deixe de ter um coração de criança, brincar com seus irmãos e primos, ler gibis da Mônica e sonhar. Envelheça parecido com nossos avós, que são super legais, faça coisas diferentes e seja muito feliz.

E, aqui, sua resposta!

Caro Alexandre mais novo:

É com muito desconforto que te escrevo essa mensagem. Para começar, só temos a nossa avó, mãe do nosso pai, os outros morreram. Dá pra acreditar? Sei que é uma surpresa, mas as pessoas morrem. Não adianta perguntar, não vou conseguir responder, mas as pessoas legais do mundo morrem. O fato é que não sou quem você esperava ser, não me tornei caminhoneiro. Aquela menina que você conheceu, a Fernanda, você foi apaixonado por ela até os 15 anos, um dia ela mudou (não sei para onde) e você nunca disse a ela o que sentia. Você se afastou da família do seu pai, passou 32 anos sem ver ninguém, acredita nisso? Dos nossos irmãos, cada um tomou um rumo e você só os encontra me ocasiões especiais. Sim, meu amiguinho, o tempo muda as pessoas. Você se casou e tem duas filhas, continua a ler gibis da Mônica, só que agora para elas – são maravilhosas! Sua mãe continua brava, mas agora você entende porque ela é assim. Apanhou muito dos pais que não queriam que ela estudasse. Ela, contrariando as expectativas, tem três graduações, pós, fala espanhol e está aprendendo inglês. Ela faz tudo isso com você porque te ama e quer o seu melhor. Por muito tempo você foi acomodado, não terminava nada que começava e ainda por cima carregou malas indesejadas como o rancor, ódio, frustração, não sabia perdoar. Você se separou, entrou em depressão, aí conheceu seu melhor amigo: Jesus.

Começou e terminou sua graduação, trabalha no Tribunal de Justiça em São José dos Campos, em um cartório maravilhoso, onde tem aprendido muito. Você agora tem sonhos palpáveis, você tem planos de crescer espiritualmente e financeiramente. Aprendeu que você só colhe o que planta, então você está semeando novas sementes. Não carrega mais pesos desnecessários e valoriza muito sua mãe, filhas e amigos.