A crença dos motoqueiros

Não, eu não disse “motociclistas”.

Eu disse “motoqueiros”.

E quem sabe a diferença, sabe a diferença.

Esse vídeo já tem alguns anos – mas só agora eu vi. Mas só agora gostei…

Nós acreditamos em seguir nosso próprio caminho, não importa qual caminho o resto do mundo está seguindo.

Nós acreditamos em lutar contra o sistema criado para esmagar indivíduos como insetos num pára-brisa.

Alguns de nós acreditamos na autoridade lá de cima, todos nós acreditamos em resistir contra as autoridades aqui em baixo.

Nós acreditamos no céu e nós não acreditamos em tetos-solares.

Nós acreditamos em liberdade.

Nós acreditamos em poeira, mato, búfalo, montanhas e pilotar em direção ao pôr-do-sol.

Nós acreditamos em alforjes e nós acreditamos que os caubóis sabiam das coisas.

Nós acreditamos em recusar a derrota para qualquer um.

Nós acreditamos em vestir preto porque a cor não mostra sujeira. Ou fraqueza.

Nós acreditamos que o mundo está ficando mole e então não vamos ficar junto com ele.

Nós acreditamos em encontros de motocicletas que duram uma semana.

Nós acreditamos em atrações de beira de estrada, cachorros-quentes de postos de gasolina e descobrirmos o quê há depois da próxima colina.

Nós acreditamos em motores barulhentos, pistões do tamanho de latas de lixo, tanques de gasolina projetados em 1936, faróis do tamanho de trens de carga, cromo e pintura personalizada.

Nós acreditamos em chamas e caveiras.

Nós acreditamos que a vida é o que você faz dela, e nós fazemos uma viagem e tanto.

Nós acreditamos que a máquina sobre a qual você se senta pode dizer ao mundo exatamente sua posição.

Nós não nos importamos no que os outros acreditam.

Amém

 

Des e montando um motor

Calma aos afoitos! Até porque o motor do nosso querido Titanic ainda está na UTI…

Mas quando assisti este vídeo – e já tem um bom tempo – eu pensei comigo mesmo: “Comigo mesmo, é exatamente isso que eu quero fazer!”

Infelizmente, como já disse aquele cara, a vida é algo que nos acontece enquanto fazemos outros planos. E faltou-me tempo, capacidade e (sempre) dinheiro para tentar algo assim. Mas que seria MUITO legal se eu conseguisse, ah, seria!

Então, com vocês, eis o delicioso vídeo de um caboclo que desmontou e montou o motor de seu carro, colocou uma música de fundo muito propícia – e com direito a um pequeno drama no final!

O título original? Também muito bom: “11 meses, 3.000 fotos e um monte de café”

Harley-Davidson 883 Roadster

Não, não, você não está no blog errado, não. Aqui continua sendo o nosso cantinho virtual para os opaleiros de plantão. Mas como as coisas andam bem calmas no tocante aO Projeto, então resolvi compartilhar com os harleyros de plantão um pouco do que “aprendi” sobre a minha própria moto. E pra que ninguém me acuse de plágio, saibam que tudo foi praticamente recortado-e-colado daqui.


A menor e mais leve das Harleys não é pequena e nem leve.

Apesar de ser a menor das Harley ela não é pequena e seu motor não é fraco. Com 883 cm³ de cilindrada em dois cilindros em V, essa digna representante das Sportster possui atributos interessantes e agrada mesmo aos críticos do estilo.

Ela é uma moto para uso cotidiano em asfalto urbano ou estradas. Permite trafegar com certa liberdade entre os carros desde que haja espaço para o guidão, bastante largo. Outro cuidado nesta condição é com manobras, pois o entre-eixos é longo. Contudo, para os admiradores e consumidores da marca Harley isso não importa. Uma Harley-Davidson é uma motocicleta para apaixonados, que curtem a tradição da marca e suas características especiais e distintas de todas as outras motos. O visual inconfundível, muitos cromados e a qualidade indiscutível dos componentes fazem dessa marca pioneira nos EUA um ícone e uma lenda das motocicletas. No fundo é esse o fator decisivo e mais atraente em qualquer Harley-Davidson. Quando você passa com uma Harley, pode ter certeza que será notado.

O tanque “tear drop” dá o toque retrô das Sportster modificadas dos anos 60, reforçado pela sua localização elevada em relação ao canote da direção. Os canos dos escapes brilham por causa do cromo esmerado. É a tradição das Harley-Davidson. O som inconfundível do V2 é um prazer à parte. Em baixas rotações as batidas graves dos cilindros produzem um som imponente que sai pelos dois escapes e marca presença dentro dos limites. Também tradicional, a vibração é grande e por isso o motor é suportado por coxins de borracha que absorvem boa parte desta “característica”. Porém, este é o preço que se paga pela pulsação do grande V2 como representação do seu grande poder.

Andando nela se percebe o seu tamanho logo ao dar na partida. O som do engate do motor de partida é alto, percebe-se a sua robustez. A posição do condutor é confortável e natural. Mas ao parar em qualquer situação, quando você coloca os pés no chão percebe que as pedaleiras atrapalham. A sugestão seria diminuir a largura das pedaleiras ou colocá-las mais adiante. Esta situação torna-se até perigosa e em algumas circunstâncias assusta procurar o chão para apoiar os pés e encontrar a pedaleira no caminho.

Na cidade

Não é o seu forte, apesar de ser possível andar sem maiores problemas, pois a posição das pedaleiras incomoda quando se quer apoiar os pés no chão e pelo seu porte e peso, se tornam complicadas as manobras na cidade.

Em movimento, entretanto, o seu peso não se faz tão presente e o torque do motor facilita muito as retomadas e arrancadas mais frequentes nas cidades. E o câmbio, muito suave para o tamanho da moto, é bem preciso nas mudanças e permite um uso do motor na sua gama mais ampla de rotações, a partir da marcha lenta ela já empurra com suavidade e acelera rápido até a hora de trocar de marcha de novo.

As suspensões são bem calibradas mas, de novo, nas cidades esburacadas do nosso país essa não é a moto mais apropriada para o nosso piso. A impressão que dá é que as suspensões dão um duro danado para manter o controle das rodas pesadas. E nos casos extremos ela perde contato quando a velocidade do movimento da roda é grande, causado por um impacto maior. Essa característica, do grande peso das rodas, faz com que os impactos grandes sejam transmitidos em certo grau ao piloto, mas o sistema hidráulico dá conta do recado sim.

Nas estradas

Tecnicamente um teste de uma Harley é difícil de se fazer porque essa não é uma marca que se preocupa simplesmente com performance. As motocicletas Harley-Davidson levam consigo a identificação de um mito, uma marca dentre poucas (algumas marcas de automóveis ingleses são assim) que se orgulha de sua tradição e faz disso o seu destaque. São as qualidades intangíveis da marca que procuramos levar em consideração.

Nas estradas a Harley-Davidson 883R (de Roadster) diz a que veio: muito prazer em duas rodas. A tocada é suave, o ronco grave e meio surdo dos escapamentos somados à aceleração imponente do motor 883 é o que dá maior destaque nessa moto. Curvas ela faz e até bem para a categoria, mas a frente, como a de qualquer custom, não tem a destreza de uma street, naked ou esportiva. De fato, ela é bastante neutra se considerarmos a sua geometria estilo “chopper” que preza mais a estabilidade e conforto de retas como as intermináveis “inter states” da sua terra natal. Para viagens são necessários acessórios como um sissy bar e alforjes laterais. Caso contrário, apenas a mochila nas costas é que vai funcionar. A placa da moto fica no caminho de qualquer outra bagagem e pontos para fixar os elásticos não estão disponíveis. Ao garupa esses acessórios vão colaborar bastante. Se não os colocar, esqueça o(a) garupa.

Avaliação Técnica


Uma moto clássica tem geometria clássica – Valoriza estabilidade em retas e conforto

Motor

Seu nome é torque, muito torque. Baixas rotações e construção robusta. Muitos criticam a falta de comando no cabeçote mas para a sua configuração e proposta de curva de torque e potência essa construção com tuchos hidráulicos e válvulas no cabeçote cumprem bem a sua função, principalmente por causa da durabilidade que esse motor consegue. Desenvolvido e evoluído em décadas de pesquisa e produzido aos milhares esse é um motor que pode-se dizer que é feito para durar uma vida. “A Life time”, coisa da tradição americana que para ser confiável um produto deve ser grande, robusto e durar uma vida. Se for bem conservada e se você quiser, pode deixar a sua Harley 883 Roadster para o seu filho.

Câmbio e transmissão final

Seguindo a linha da robustez, o câmbio é excelente. Engates precisos, escalonamento perfeito para a faixa útil do motor e se não fosse a quinta marcha, uma “overdrive” que deixa o motor em rotação mais branda que o normal, você acabaria por se esquecer dela. Vai usá-la somente nas estradas, para uma velocidade de cruzeiro. A transmissão por correia é referência do mercado. Pioneira no seu desenvolvimento a Harley-Davidson conseguiu com essa tecnologia terminar com o ruído da corrente e minimizar a manutenção quase tão bem quanto um cardã, mas sem a sua complexidade. Várias outras marcas seguiram essa ideia.

Freios

Muito potentes, dão conta do grande peso da moto, sem problemas. Têm boa sensibilidade e consegue-se travar as rodas se desejável, sem perder a modularidade. É duplo na frente e de bom diâmetro. Na traseira é disco único com pistão simples.

Ciclística

Característica de uma Harley-Davidson é o chassi tubular em aço com os chamados “gussets” ou reforços que são “vestidos” nos tubos em cada união. No canote da direção por exemplo, se vê essas peças soldadas, muito bem soldadas por sinal, formando uma grande estrutura triangulada sobreposta aos tubos que seguem para as partes mais baixas do chassi.

Sua configuração em berço duplo acomoda o motor por meio de coxins de borracha, de forma que a vibração do motor fica amortecida por essas peças. A geometria também é bastante conservadora permitindo um rake de 29,7º e um longo trail de 112mm. Assim é que se configura a grande estabilidade e conforto para as retas intermináveis – que também existem no Brasil.

Nas condições brasileiras entretanto a grande estrutura sofre um pouco pelas flexões que podem ser amplificadas pelos grandes choques que provocam a buraqueira brasileira. A estrutura da balança e suspensão traseira é que parece ser mais afetada por esse problema.

Em curvas o sintoma se confirma mas apenas nos maiores choques. Em condições normais a moto oferece boa estabilidade e a maneabilidade é bem melhorada com a presença do largo guidão, em movimento a moto fica bastante leve.

Suspensão

Bem calibradas as suspensões absorvem bem as irregularidades do piso sem problemas. Apenas em terreno muito acidentado é que a característica do peso da moto se faz transparecer, quando as suspensões chegam ao limite, seja no curso ou na capacidade de absorver impactos muito quadrados.

Levando-se em conta que essa é uma moto custom e seu habitat é nas estradas a absorção dos impactos pela suspensão pode ser considerado muito bom e os 105mm de curso na dianteira resulta em um deslocamento preciso. Já o ajuste da pré carga nos amortecedores traseiros permite se adequar à carga.

Acabamento

Por ser uma moto de estilo espartano o seu acabamento deve-se considerar excelente. A qualidade da pintura, cromo e outros tratamentos de superfície estão acima da média da indústria. Percebe-se a preocupação da montadora em manter os padrões internacionais quando interna o produto para montagem CKD (“Complete Knocked Down” ou “totalmente desmontada”).

Equipamentos

Como a maioria das Harleys essa também precisa de alguns acessórios. A fábrica estimula a personalização oferecendo uma ampla gama de acessórios para melhorar o conforto como os sissy bars, bancos mais estofados, guidões de curvatura diferentes e pedaleiras avançadas. Sem falar nos outros detalhes como espelhos e faróis auxiliares.

Consumo

Para um motor de quase 900 cilindradas movimentando uma moto de 250 Kg a média de 19,23 Km/litro pode ser considerada muito boa, mesmo sendo indicada apenas a gasolina premium. A Harley-Davidson fez um excelente trabalho no mapeamento da injeção eletrônica, combinando com os catalizadores duplos nos escapes.

Procurando um câmbio no câmbio

Depois de quase duas semanas sem encontrar com o Seo Waltair, eis que transantontem (leia-se “na quinta”) finalmente conversamos.

O carro continua lá na oficina, paradinho. Empoeirado, até.

O motor continua sabe-se lá Deus onde, no retifiqueiro de confiança dele, aguardando sua vez.

Ele continuo tendo a maior paciência do mundo.

E eu continuo sem pressa nenhuma de que acabe logo essa etapa.

Pois minha conta-corrente continua me exigindo mais do que tenho, aquela esfomeada!

Enfim, tudo normal.

A paciência dele, agora, é justamente na procura de um câmbio perfeito. Às vezes eu acho que é até um “desafio pessoal” pra ele brincar com o Titanic… Sabe, sair do trivial, do dia a dia de uma oficina? Então.

Segundo ele, câmbio de quatro marchas para um motor de seis cilindros tem aos montes por aí. Mesmo algum mais moderno, que não seja varetado como o que eu tenho. E, também, câmbio de cinco marchas para motor de quatro cilindros é fácil. Agora, um câmbio de cinco marchas para um motor de seis cilindros… Bem, daí a coisa fica um pouco mais complicada. Difícil de achar quem tenha um disponível e que esteja em bom estado. Na avaliação dele, poderíamos até colocar o do quatro cilindros, mas o risco de quebra constante seria grande, pois o motor exigiria demais do coitado. Bem, apesar da sugestão do Ricardo nos comentários do último post, penso que um câmbio original de Opala, por mais difícil que seja de achar, ainda seria mais fácil que um de Dodge. E 100% compatível. E como não tenho pressa…

Bem, por enquanto é isso. Essa talvez seja uma das etapas mais caras de toda essa “brincadeira” – o que me faz lembrar que uma hora dessas preciso atualizar os quadros de custos aí do lado. Por isso mesmo, e com a filosofia de fazer certo desde a primeira vez, de baixo pra cima, de dentro pra fora, é que continuo sem pressa nenhuma. Se é para botar ele para funcionar, quando o estiver, será na sua melhor forma!

Simples assim.

E a vida continua!

E como continua!

No âmbito particular, que diz respeito ao meu trabalho, muito – MAS MUITO, MESMO – atribulada. Mas faz parte do pacote e, no final, acaba sendo divertido!

No âmbito público, que diz respeito a este nosso cantinho virtual, também vai tudo muito bem, obrigado, mas num ritmo bem menos alucinante.

Depois de entregar o motor para o Seo Waltair, voltei somente às visitas semanais ao nosso querido convalescente Titanic. Nem sempre o encontro por lá (o Seo Waltair, não o Titanic) pois muitas vezes está fora procurando peças para ele (o Titanic, não o Seo Waltair).

E uma dessas é um câmbio de 5 marchas. Sim, caríssimos, pela experiência com o Cruzador Imperial ficou claro para mim que um câmbio “mais longo” é o ideal para toda a potência que vai pairar debaixo daquele capô. Até porque o que está nele ainda é um daqueles “varetados”, que invariavelmente encavalam, obrigando-nos a, literalmente, entrar debaixo do carro para desatravancar a bagaça. Ele vai, no ritmo dele, buscando um que esteja a contento, sem pressa, desde que esteja bom. Mais ou menos como já foi com o esquema da direção hidráulica, lembram?

No mais o motor já está totalmente desmontado!

E sim, conforme esperado, a retífica vai ser ampla, geral e irrestrita. Nem tinha como ser diferente. Se o motor já estava com problemas com o óleo subindo no sexto cilindro, depois de ficar ANOS parado, não teria como a situação melhorar, não é mesmo?

Bem, pra não perder o costume, abaixo temos algumas imagens, ainda do início de maio, quando estavam apenas iniciando os trabalhos com ele. Reparem no tamanho da criança, multiplicado por seis! A última foto, a dos óculos escuros, serve bem para ter a real dimensão do tamanho de cada caneco…

E daí vocês me perguntam: a quantas anda tudo isso, agora?

E eu lhes respondo: devagar e sempre. O que, para mim, está ótimo! Pois, dia desses, estive lá e fui informado que o motor já foi encaminhado para a retífica, mas, como eles estavam com muito serviço e sabiam que eu não tinha pressa, ficou por lá mesmo, para quando der uma esvaziada. Nesse meio tempo vou pagando os boletos do cartão e diminuindo o saldo devedor, para, quando estiver tudo pronto, ter fôlego o suficiente para honrar esses compromissos. É, cambada, não é fácil não…

Nesse meio tempo, àqueles que estivessem curiosos com o desfecho da bateria arriada da Harley, bastou tirá-la e dar uma carga e tudo voltou ao normal. Mas acreditem quando digo que sem o manual seria humanamente impossível tirar aquela bateria! Ô negocinho encravado, sô!

Bateria descarregand…

Adoro meu Opala Comodoro 89, modelo 90, carinhosamente apelidado de Cruzador Imperial.

Mas também adoro a minha moto Harley Sportster 2008, carinhosamente ainda sem apelido algum.

Então, numa breve consulta aos sites meteorológicos de plantão para saber como estaria o clima (mais uma questão de fé que de ciência, na minha opinião), ficamos com o tempo assim: domingo frio, segunda com chuva, terça fechado e quarta aberto.

Ok, ainda é terça. Mas já tem UM TEMPÃO que não saio de moto, pô!

Papelada, contas, tablet, notebook e celulares na mochila, jaqueta de couro, luvas cano longo, capacete, tudo pronto! Empurrei os 250 kg de moto para fora, dei a partida e… nada.

Não, “nada” é mentira. Ela pegou mas não pegou. Ameaçou funcionar e morreu. De imediato lembrei-me último posto em que parei para abastecer, há coisa de uns quinze dias atrás, última vez que andei com ela. Parece que eu estava adivinhando…

Insisti. Nada. Ameaça, mas não vai. Insisti de novo. Mais uma vez. Outra vez. E daí começou a um “clec-clec-clec” na partida, claramente indicando que a bateria arriou. Só então parei de insistir.

Merda.

Só me restou empurrar os 250 kg de moto rampa acima, de volta para a garagem, desvestir toda a indumentária, pegar o Opalão e bóra trabalhar. Fazer o quê?

E a moto ficou lá, parada, largada, arriada… 🙁