Natal e Ano Novo

Em resposta a uma mensagem que encaminhamos ontem (que, diga-se de passagem, foi criada pela Dona Patroa e adaptada por mim), recebi da amiga Elenara o seguinte verso como retribuição:

Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!
Mas se fosses mágico,
Penetrarias até ao fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera do Natal
Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.

by Manuel bandeira

Ah, Natal…

Uma ótima época para deixarmos nossas intransigências de lado e buscarmos nossa verdadeira humanidade…

Procura-se

Esta noite tive um sonho tão complexo, tão detalhado, com tantas minúcias, de tal maneira cheirando a antiguidade – que por certo não poderia ser só meu. Creio que eu devia estar apenas visitando plagas muito antigas de algum sonho alheio, o qual deve ter se desgarrado de seu verdadeiro dono.

E aí? Alguém perdeu um sonho assim?…

Esquisitices

Sempre costumo dizer que na hora de trabalhar, vamos trabalhar; na hora de brincar, vamos brincar; mas se pudermos trabalhar brincando – ótimo! Na faxina de e-mails que aproveitei pra fazer nesse fim de semana, achei a seguinte pérola, recebida do amigo Marcelo, de um setor chamado Gerência de Contratos, em MAR/2004:

“1º) A Clarice da empresa X disse que conversou contigo, e que vc já tinha uma posição sobre o contrato. Tem ? Qual ?

2º) Já tem Aditamento ref. contrato X/02 – transporte de alunos?

3º) Pq, apesar do sabão ou sabonete ter diversas cores, a espuma é sempre branca ?

Preciso dessas respostas urgente !”

Ao que respondi:

“Buenas.

1º. Já respondido à V. Santidade pessoalmente, no decorrer desta manhã.

2º. Também já respondido à V. Santidade pessoalmente, no decorrer desta manhã.

3º. Diante dos inúmeros questionamentos com posicionamento filosófico-cultural acerca de grandes verdades internetísticias da vida, creio que, mais ainda que vislumbrar eventuais apoteóticas respostas acerca dos mesmos, cabe, na realidade, uma análise mais profunda procurando a busca do verdadeiro conhecimento e enriquecimento espiritual do ser humano enquanto pessoa. Então, diga-me você: Por que o mês tem mais dias que o salário? Por que a fila do lado sempre anda mais rápido? E por que se mudarmos para essa fila, automaticamente ela fica lenta em detrimento daquela em que estávamos, que passou a ficar rápida? Para onde vão todos os guarda-chuvas que perdemos, se nunca encontramos nenhum? Quem conhece alguém que já ganhou na tele-sena? Por que os cachorros não fazem nada quando, finalmente, os carros, ou motos, ou bicicletas param após exaustiva perseguição? Por que, de todas as revistas do mundo, seu filho sempre vai pegar aquela que você mais gosta para fazer o trabalhinho de escola? Por que as mulheres quando dizem não querem dizer sim, quando dizem talvez querem dizer não e quando dizem sim querem dizer talvez? Quem, afinal de contas, matou Odete Roitman? Por que o ICMS das contas de energia elétrica são calculados com a alínea de 25% sobre o valor da conta somado com o próprio ICMS de 25% – e como eles fazem pra chegar nesses primeiros 25%? Onde está Wally? E, finalmente, a mais apoplética e traumatizante pergunta de todas…

… AS FACAS GINSU CONSEGUEM CORTAR AS MEIAS VIVARINA??????

[ ]s!”

Slow down

Então.

Já vou avisando que a produção literária (ou devo dizer “blogária”?) dos próximos dias será bastante restrita. Lembram-se do malfadado acidente do final do ano passado? Ainda continua rendendo “frutos”…

Ontem fiz uma pequena cirurgia para retirar um cisto que cresceu no pulso direito em função do trauma da batida. E isso é só uma preparação para a próxima: reconstruir o ligamento do joelho esquerdo.

Heh… Agora eu sei como se sentia o “homem de seis milhões de dólares” – todo remendado…

Como é horrível ter que ficar digitando só com uma mão, limitar-me-ei mais a referências que a textos propriamente ditos. Mas, ainda assim, tentarei não faltar por aqui!

Quente, quente, muito quente

Numa ligeira caminhada debaixo de um sol escaldante para pegar minha moto na oficina após uma indispensável retífica no motor (sim, motos precisam de óleo), pude rememorar com saudade meus tempos de infância.

Nos verões insuportáveis de outrora – uns vinte e tantos anos atrás – a molecada costumava se reunir com suas bicicletas e pegar a chamada “Estradinha de Monteiro” (que vai pra cidade de Monteiro Lobato) pra dar uns mergulhos no rio.

Eram bicicletas de todos os tipos: Monareta, Berlineta, Barra-circular, Barra-forte, Caloi 10, Sprint 10, BMX (sem tanquinho) e as invejadas Caloicross… Toda a tropa pedalava coisa de uns cinco a dez quilômetros até chegar na hoje extinta ponte de madeira do Rio Buquira, onde nadávamos por toda a tarde.

Nós chegávamos, empilhávamos todas as bicicletas na margem do rio, arrancávamos a roupa (não toda, o short ficava), e nos posicionávamos sobre o corrimão da ponte para o merecido mergulho após toda aquela árdua pedalada.

Lembro-me como se fosse hoje. O sol quente batendo nas costas, ainda arfando e suando devido ao trajeto de bicicleta, eu subia no corrimão (sei lá a quantos metros de altura do rio) e preparava-me para o mergulho. Esticava-me todo, numa pseudo-preparativa (como um nadador olímpico), abaixava-me, jogando os braços para trás e… IMPULSO!

Indescritível aquele momento de vazio, em pleno ar, antevendo as águas geladas do rio…

O próprio “cair”, totalmente envolvido pelo vento, já era o início do processo para refrescar…

E então o choque!

O corpo mergulhava totalmente na água e – por um breve momento – todos os problemas do mundo simplesmente não existiam. Ainda submerso, tudo que importava era aquele frescor vivenciado num momento de puro êxtase.

É lógico que tínhamos que voltar à superfície algum dia. Muitas vezes perdíamos a noção do tempo e quando emergíamos já estávamos adiantados, sendo arrastados pela correnteza, além da curva do rio. O chato era ter que voltar até a ponte, pela margem, a pé. O divertido era que podíamos começar tudo de novo.

Ah, bons tempos…

Solidariedade – últimas notícias

Pois é gente. As manifestações estão tomando conta das ruas! No nosso último encontro foram mais de duas mil pessoas, segundo a Polícia Militar! Fico extremamente feliz que tudo tenha corrido bem, sem nenhum incidente – mesmo assim na hora sempre dá um friozinho na barriga… Seu Chico está recebendo apoio de boa parte da população, que aderiu a essa causa justa.

Infelizmente esqueci de levar minha câmera, e o máximo que consegui foi esse instantâneo obtido pelo celular de baixa resolução de um transeunte. Também, o Evandro tinha que sumir justo nessa hora! Segue a foto.

Caso alguém tenha conseguido tirar fotos melhores, me mandem que eu publico, ok? E lembrem-se: “Seu Chico Merece!”

Zazén

Para qualquer um que ainda tenha a mais leve dúvida de que HQ (História em Quadrinhos) também é cultura, recomendo a leitura da última edição do Lobo Solitário (volume 23), ainda nas bancas.

Num rápido resumo, a estória do Lobo Solitário diz respeito a um guerreiro samurai que viaja pelo Japão feudal à procura de trabalho (como assassino), carregando seu filho pequeno a tiracolo. Eles são conhecidos como Lobo Solitário e Filhote. Seus nomes reais: Itto Ogami e Daigoro. Seu serviço é caro, e ele exige saber o motivo antes de realizar o trabalho. Se seus empregadores tentarem eliminá-lo, ele os eliminará antes. Seu filho pequeno eventualmente faz parte dos seus planos para eliminar seus adversários, de uma forma ou de outra. Um confia totalmente no outro, sempre, mesmo não havendo muitas palavras na frieza samurai típica de Ogami.

Itto Ogami era o ceifador oficial do Shogun. Seu trabalho se dava durante as cerimônias de Harakiri, onde ele desferia o golpe final no Lorde que morreria. De uma habilidade extrema com a espada, era invejado por todos e sua posição era cobiçada por muitos. Em especial, pelo clã Yagiu, cuja posição no Shogunato era inferior à de Ogami. Para ascender na hierarquia, eles decidem realizar uma trama cruel e perversa, resultando na morte da esposa de Ogami e em sua incriminação como traidor.

Itto jura então se vingar de todos os que tramaram contra ele e mataram sua esposa. Ele passa então a ser um fugitivo, sempre oferecendo seus serviços a quem puder pagar, sejam os pagadores cruéis ou não, e independente do fato de seus alvos merecerem ou não a morte. Nessa tarefa carrega consigo seu único filho, Daigoro, vivendo ambos o chamado “Caminho do Meifumadô”.

Não só os traços dos desenhos, todos em nanquim, são excelentes, como também o são o contexto dos diversos contos e situações vividas pelos personagens. Bem, informações detalhadas podem ser encontradas lá no Fanboy.com.br.

Quanto àquela pérola de cultura a qual me referia, segue o texto:

Para o Zen-Budismo, é necessário um árduo treinamento, muito mais físico que mental, para se alcançar a iluminação. Trata-se de controlar o corpo e suas fraquezas com a força de vontade do praticante.

O zen-budista crê que o ideal é ser o soberano das próprias necessidades, é ser capaz de adaptar o mundo a si e não o contrário.

Deve-se possuir a riqueza e não ser possuída por ela, deve-se usufruir da diversão e não ser controlado por ela. A seguir, o praticante deve ser capaz de submeter o próprio corpo às escolhas feitas por sua mente, uma vez que mesmo sabendo o que é o melhor a ser feito, o corpo tem a tendência em manter-se fiel aos vícios aos quais estava acostumado. Assim, tanto a determinação da soberania sobre o corpo quanto o controle dos vícios são fundamentais para o zen-budista, pois a fama, a ganância, o orgulho e a intolerância formam as quatro paredes que encarceram o pobre de espírito. O que nos leva ao terceiro passo, que é ter controle sobre as próprias paixões, isto é, o ideal é que o praticante não se abale nem com o infortúnio nem com a boa sorte, permitindo que se concentre em seu real objetivo, a iluminação.

Ao que parece, não só Itto e Retsudô como o próprio Daigoro dominam a prática zazén, a meditação sedente, prática mental que busca o esquecimento do próprio Eu, combatendo o egoísmo e procurando a integração com o mundo ao redor. Tal prática permitiria ao zen-budista manter-se inabalável diante das mais terríveis intempéries, ou das mais inebriantes paixões, fazendo com que, aos olhos dos leigos, ganhassem aparência sobrenatural. Ou seja, ser capaz de encarar com naturalidade ou mesmo com indiferença aquilo que choca ou paralisa as pessoas normais.