Halloween com Saci!

Dentro do rol de temas que aguçam minha curiosidade, juntamente com o tema “história”, sou também um fissurado em estórias, contos, lendas, causos, e folclore em geral. Recentemente ganhei do amigo Bicarato (sempre ele!) um livro chamado O que se conta daqui… Nas palavras das autoras, Érica Turci e Tatiana Baruel, trata-se de um reencontro com o fascinante imaginário do jacareiense, através dos “causos” da cidade, num livro que mistura fatos verídicos e ficção, personagens históricos e seres sobrenaturais.

Fiquei surpreso ao ver causos ali contados – como o do “corpo seco” – que eu mesmo ouvia de minha bisa quando era pequeno. O que para mim comprova que toda essa região está definitivamente ligada com o sul de Minas, e também com a herança cultural deixada pelos bandeirantes que por aqui passaram.

Ainda assim é curioso que, mesmo com tanta riqueza cultural, a molecada de hoje (leia-se crianças e adolescentes) tenham mais afinidade com o norte-americano halloween que com as tradições da terrinha…

Apesar da bem-humorada figura ali de cima, tenho que esclarecer que não, não sou adepto da xenofobia, até porque tem muita coisa divertida e interessante além do nosso próprio quintal. Porém sou da opinião que há espaço para todos – afinal de contas que mal faria para as escolas e outras entidades, ao comemorar o Dia de Todos-os-Santos, fazer uma saudável mescla de ambas (ou mais) culturas? Creio que, culturalmente falando, somente teríamos a ganhar com isso! Ademais o folclore é (e realmente deve ser) dinâmico, ou seja, não temos que nos prender somente em tradições estáticas do passado: elas devem evoluir como todo o restante do mundo. É saudável e recomendável que guardemos suas raízes e origens, mas não podemos manter nossas tradições estagnadas.

Tem gente que já percebeu isso e vem fazendo o possível para demarcar esse território. Por exemplo: pra grande alegria da turma da SOSACI – Sociedade dos Observadores de Saci, temos que foi oficialmente criado o Dia do Saci. Segundo a Wikipedia:

O Dia do Saci é um evento criado pelo governo do Brasil em 2005, de caráter nacional, elaborado pelo então líder do governo Aldo Rebelo (PCdoB – SP) e Ângela Guadagnin (PT – SP) com o objetivo de resgatar figuras do folclore brasileiro, em contraposição ao “Dia das Bruxas”, ou “Halloween”, da tradição cultural dos Estados Unidos da América. Por isso é celebrado em 31 de Outubro. Anteriormente, o projeto de lei já havia sido aprovado na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo e na Câmara Municipal de São Paulo.

E, só por curiosidade, também segundo a Wikipedia, o Halloween – chamado de “Dia das Bruxas” nestas terras tupiniquins – tem suas remotas origens nas tradições celtas, quando se comemorava o fim do verão. Entre o pôr-do-sol do dia 31 de outubro e o amanhecer de 1º de novembro, ocorria a noite sagrada, ou seja, a Hallow Evening, palavra que através dos tempos deve ter sido deturpada para Hallowe’en, e, finalmente, Halloween.

Enfim, particularmente acho que há espaço pra todos. Afinal trata-se do imaginário popular, ou seja, do folclore, do saber do povo – do inglês folk (povo) e lore (saber) – que, repito, deve ser dinâmico.

De minha parte, juntamente com os filhotes, nesse feriado quero ver se consigo ir até São Luiz do Paraitinga pra tentar encontrar algum saci…

Coyote vs. Acme

CoyotePra não perder o costume o site do copoanheiro Bicarato, sempre cheio de novidades, brindou-nos com a notícia do lançamento da revista piauí. Realmente um material de primeira, como pude conferir na versão impressa (depois de gentilmente tomá-la das mãos do Bica e sair em desabalada carreira pelo corredor). Um dos pontos interessantes é a sessão Questões Jurídicas, que trouxe a hipotética ação movida pelo Coyote (aquele mesmo, do desenho do Papa-Léguas) contra a empresa Acme. A leitura é longa, mas vale a pena! Fica também lançada a idéia/susgestão de montar uma ação parecida com personagens tupiniquins…

Coyote vs. Acme

Ian Frazier

No Tribunal Distrital dos Estados Unidos,
Distrito do Sudoeste, Tempe, Arizona
Caso: no B19294,
Juíza: Joan Kujava
Wile E. Coyote [ Autor] vs. ACME Company [Ré]

Declaração inicial do dr. Harold Schoff, advogado do sr. Coyote: meu cliente, o sr. Wile E. Coyote, residente no Arizona e estados contíguos, vem por meio desta propor ação indenizatória para reparação de perdas e danos contra a Acme Company, fabricante e distribuidora no varejo de mercadorias variadas, fundada no Delaware e ativa em todos estados, distritos e territórios dos Estados Unidos da América. O sr. Coyote pretende compensação por danos materiais e estéticos, lucros cessantes e perturbações mentais, diretamente produzidos por atos e/ou negligência grosseira da companhia citada, nos termos do Título 15 do Código Civil Americano, capítulo 47, seção 2.072, subseção (a), que define a responsabilidade do fabricante por seus produtos.

O sr. Coyote afirma que, em oitenta e cinco ocasiões distintas, adquiriu da Acme Company (doravante referida apenas como “Ré”), através do Departamento de Reembolso Postal da empresa, certos produtos que lhe causaram as lesões físicas mais diversas em decorrência de defeitos de fabricação ou da falta de advertências claras ao consumidor estampadas nas respectivas embalagens. Os recibos de venda em nome do sr. Coyote, apresentados como prova de compra, foram devidamente encaminhados ao Tribunal e rotulados como Prova A. As lesões supra sofridas pelo sr. Coyote resultaram na restrição temporária de sua capacidade de sustentar-se com seu ofício de predador. O sr. Coyote é autônomo e, portanto, não faz jus ao Auxílio-Desemprego por Invalidez.

O sr. Coyote afirma que, no dia 13 de dezembro, recebeu a entrega postal de um Trenó a Jato da Acme. A intenção do sr. Coyote era utilizar o referido Trenó a Jato para ajudá-lo na perseguição e captura da sua presa. Ao receber o Trenó a Jato, o sr. Coyote na mesma hora removeu o produto da embalagem de madeira e, avistando sua presa ao longe, ativou a ignição. Quando pôs suas mãos no local indicado e cuidou de segurar firme o veículo, este acelerou com uma força tamanha e tão repentina que esticou os membros anteriores do sr. Coyote a uma extensão de quinze metros. Em seguida, o restante do corpo do sr. Coyote foi puxado para a frente com um repelão violento, o que submeteu suas costas e seu pescoço a um esforço extremo de tração e resultou no seu inesperado deslocamento para bordo do referido veículo. Desaparecendo no horizonte tão depressa que só deixou para trás uma diminuta nuvem de fumaça, graças ao Trenó a Jato o sr. Coyote logo emparelhou com a sua presa. Nesse exato momento, contudo, o animal perseguido descreveu uma curva brusca e inesperada para a direita. O sr. Coyote fez o possível para acompanhar a manobra mas não conseguiu, por culpa do projeto inadequado do sistema de direção do Trenó a Jato – para não falar de seu dispositivo de frenagem, defeituoso ou mesmo inexistente. Pouco depois, o avanço contínuo e incontrolável do Trenó a Jato levaria tanto o veículo quanto o sr. Coyote a uma colisão frontal com a borda de um precipício.

O primeiro parágrafo do Laudo Médico (Prova B) preparado pelo dr. Ernest Grosscup, devidamente credenciado como perito médico judicial, descreve as múltiplas fraturas, lacerações e lesões corporais sofridas pelo sr. Coyote em decorrência da colisão acima referida. O tratamento demandou a aplicação de uma bandagem completa de atadura a toda volta do crânio (com a exceção das orelhas), a adoção de um suporte ortopédico especial para o pescoço e o uso de aparelhos de gesso completos ou parciais em todas as quatro patas.

Com os movimentos tão tolhidos por todo esse aparato terapêutico, o sr. Coyote ainda assim se via obrigado a prover seu sustento e, com tal finalidade, adquiriu da Ré, como forma de auxílio à sua locomoção, um par de Patins a Jato Acme. Todavia, ao tentar empregar o referido produto, envolveu-se num acidente notavelmente similar ao ocorrido com o Trenó a Jato. Aqui, a Ré reincidiu na venda direta pelo reembolso postal, sem dar-se ao cuidado de qualquer advertência ao consumidor, de um produto em que usa potentes motores a jato (dois, no caso em pauta) na propulsão de veículos inadequados para tal, marcados pela insuficiência ou mesmo a ausência completa dos devidos dispositivos de segurança para o passageiro. Prejudicado pelo peso de seus aparelhos de gesso, o sr. Coyote perdeu o controle dos Patins a Jato logo depois de prendê-los aos pés, colidindo tão violentamente com um cartaz de beira de estrada que nele produziu um recorte na forma de sua silhueta completa.

O sr. Coyote afirma ainda que, em ocasiões numerosas demais para detalhar no presente requerimento, sofreu os mais variados infortúnios com explosivos adquiridos à Ré: o Buscapé “Gigantinho” Acme, a Bomba Aérea Auto- Guiada Acme, etc. (Para uma relação completa, ver o Catálogo Acme de Explosivos pelo Reembolso Postal e o depoimento do queixoso sobre esse aspecto da questão, anexados ao Processo como Prova C.) De fato, é possível afirmar com toda a segurança que nenhum dos explosivos adquiridos da Ré pelo sr. Coyote jamais exibiu o desempenho que dele se esperava. Para citar apenas um exemplo: à custa de muito tempo e intenso esforço pessoal, o sr. Coyote construiu, ao longo da orla externa de uma elevação isolada, uma calha inclinada de madeira que começava no alto da referida elevação e ia descendo em espiral, descrevendo voltas em seu redor, até poucos metros acima de um x preto pintado no chão do deserto. A calha inclinada foi construída de tal maneira que um explosivo esférico do tipo vendido pela Ré pudesse descer rolando rápido e facilmente por ela até o ponto de detonação, indicado pelo X. O sr. Coyote cobriu o x com uma generosa pilha de alimento para aves, e então, carregando a Bomba Acme Esférica (número 78-832 do Catálogo), subiu até o alto da supracitada elevação. A presa do sr. Coyote, ao ver a pilha de alimento, aproximou-se, ao que o sr. Coyote acendeu o pavio do engenho explosivo Numa fração de segundo, porém, o pavio queimou até o fim, provocando a detonação da bomba.

Além de anular todo o meticuloso esforço construtivo do sr. Coyote, a detonação prematura do produto da Ré resultou nos seguintes danos estéticos ao sr. Coyote:

1. Chamuscamento grave dos pêlos da cabeça, do pescoço e do focinho;

2. Empretecimento facial pela fuligem;

3. Fratura da orelha esquerda na base, causando o tombamento do dito apêndice, logo em seguida à detonação, com um rangido claramente audível;

4. Combustão total ou parcial dos bigodes, produzindo seu enroscamento, desmanche no ar e desintegração em cinzas;

5. Arregalamento radical dos olhos, devido ao calcinamento das pálpebras e sobrancelhas.

E tratemos agora dos Calçados a Mola Acme. Os vestígios de um par do referido produto adquirido pelo sr. Coyote no dia 23 de junho constituem a Prova D encaminhada pelo Autor da presente ação a esta Corte. Alguns fragmentos foram encaminhados para a devida análise ao Laboratório de Metalurgia da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, onde até hoje, todavia, não foi encontrada qualquer explicação para o súbito e radical mau funcionamento do produto. No anúncio da Ré, os referidos Calçados a Mola são de extrema simplicidade: duas sandálias de madeira e metal, cada uma delas presa a uma mola de aço forjado de alto poder tensiométrico, mantida em posição de grande compressão por um mecanismo cujo desarme pode ser comandado por um gatilho de cordão. O sr. Coyote julgava que tal aparato teria como capacitá-lo a capturar sua presa com curtíssimo tempo de perseguição, num momento inicial da caça em que os reflexos rápidos são fator decisivo.

A fim de aumentar ainda mais a força propulsora dos referidos calçados, o sr. Coyote prendeu-os pela sola à face lateral de um volumoso rochedo. Em posição adjacente a este rochedo, ficava um caminho que a presa do sr. Coyote costumava percorrer regularmente. O sr. Coyote calçou suas patas traseiras nas sandálias de madeira e metal e agachou-se em preparação, segurando com firmeza o cordão de disparo em sua pata dianteira direita. Dali a pouco tempo, a presa do sr. Coyote de fato apareceu no caminho, rumando em sua direção. Sem desconfiar de nada, deteve-se muito perto do sr. Coyote, claramente ao alcance da extensão total das molas. O sr. Coyote avaliou a distância com todo o cuidado e puxou o cordão.

A essa altura, o produto da Ré deveria ter impelido o sr. Coyote para diante e para longe do rochedo. Ao invés disso, contudo, por razões desconhecidas, os Calçados a Mola Acme empurraram o rochedo para longe do sr. Coyote. Enquanto a presa visada assistia incólume, o sr. Coyote ficou imóvel por alguns instantes, suspenso em pleno ar. Em seguida, foi puxado com toda a força pelo retrocesso das molas, o que provocou uma violenta colisão de seus pés com o rochedo em que todo o peso da cabeça e de seus quartos anteriores recaiu sobre suas extremidades posteriores.

A força desse impacto, por sua vez, determinou uma nova extensão das molas, em virtude da qual o sr. Coyote viu-se impelido dessa vez verticalmente para o alto. O que foi acompanhado de um segundo retrocesso e uma segunda colisão. Nesse ínterim, o rochedo supracitado, de forma aproximadamente ovóide, começara a rolar aos solavancos encosta abaixo com uma velocidade crescente, aumentada pelos sucessivos vaivéns da mola. A cada retrocesso, o sr. Coyote se chocava com o rochedo, ou o rochedo se chocava com o sr. Coyote, ou os dois se chocavam com o solo. Uma vez que o declive era bastante longo, tal processo se estendeu por um tempo considerável.

A sequência dessas colisões resultou numa série de lesões físicas de ordem sistêmica ao sr. Coyote, a saber: achatamento dos ossos cranianos, destroncamento lateral da língua, redução do comprimento das pernas e do torso e compressão geral das vértebras, da base da cauda até a cabeça. A ocorrência desses choques repetidos ao longo do eixo vertical produziu uma série de dobramentos horizontais regulares nos tecidos corporais do sr. Coyote – condição rara e extremamente dolorosa em virtude da qual o sr. Coyote passou a expandir-se e contrair-se alternadamente no comprimento quando andava, emitindo um desafinado som de acordeão a cada passo. A natureza altamente perturbadora e embaraçosa desse sintoma acabou por constituir-se, para o sr. Coyote, em importante empecilho para uma vida normal em sociedade.

Como este Tribunal deve saber, a Ré detém o monopólio virtual da manufatura e da distribuição das mercadorias necessárias ao trabalho do sr. Coyote. Afirmamos que a Ré abusa de sua posição privilegiada no mercado, em detrimento do consumidor de seus produtos especializados como o pó-de-mico, as pipas de papel tamanho gigante, as armadilhas para tigre birmanês, a bigorna e os elásticos de borracha de cinquenta metros de comprimento. Por mais que tivesse perdido a confiança nos produtos da Ré, não existia outra fonte de suprimento a domicílio à qual o sr. Coyote pudesse recorrer. Só podemos tentar imaginar o que nossos parceiros comerciais da Europa Ocidental e do Japão iriam pensar de situação semelhante, na qual se permite que uma empresa gigantesca vitime seu consumidor vezes sem conta, da maneira mais descuidada e malévola que se possa conceber.

O sr. Coyote vem requerer, com todo respeito, que este Tribunal considere essas implicações econômicas mais amplas e obrigue a Ré ao pagamento de danos punitivos no montante de dezessete milhões de dólares. Ademais, o sr. Coyote pede reparação de danos materiais (refeições perdidas, despesas médicas, dias indisponíveis para sua ocupação profissional) no valor de um milhão de dólares; e de danos morais (sofrimento mental, perda de prestígio) no valor de vinte milhões de dólares; além de honorários advocatícios no valor de setecentos e cinquenta mil dólares. Pedido total: trinta e oito milhões, setecentos e cinquenta mil dólares. Concedendo ao sr. Coyote o montante requerido, este Tribunal irá penalizar a Ré, seus diretores, funcionários, acionistas, sucessores e procuradores, na única linguagem por eles compreendida, reafirmando o direito individual do predador à proteção equitativa da lei.

Segunda-feira

– Paiê, sabia que você parece com o Senhor Incrível?

Ainda era de manhãzinha, eu me preparando pra sair, a criançada assistindo um filme na televisão e meu filhote de sete anos me vem com essa.

Todo orgulhoso – afinal de contas MEU PRÓPRIO FILHO estava me comparando a um super-herói – caí na besteira de lhe perguntar por quê.

– Por três motivos. É que você amassou todinho o carro da mamãe e ele também amassou o carro naquela hora que chegou na casa dele. E também porque você vive levando bronca da mamãe, que nem quando ele chega em casa à noite, escondidinho…

Mesmo vendo minhas expectativas de super-pai se esvaírem pelo ralo, ainda fui idiota o suficiente pra fazer uma derradeira pergunta:

– Tá filho. Tá. Mas e o terceiro motivo?

– Ah! É mesmo. É quando ele desce na ilha e se espreguiça e aparece o barrigão…

DEFINITIVAMENTE.

Vai ser uma looooonga semana…

Cabô?…

Cabô? Assim, tão fácil? E onde estaria agora aquele tal de vidente que previu um resultado diferente desse? Onde estão as galhofas e ofensas acerca do Presidente? Onde está a arrogância? Onde está o ar de superioridade?

De minha parte não sei, nem quero saber. Cada qual tem a justa consciência de seus atos. Tudo que quero (e que espero) é uma continuidade do que vem sendo feito pelo social neste país que tanto amo. E que, doravante, todos consigam sentar à mesma mesa e resolver pacificamente as intransigências políticas que, com certeza, haverão de surgir.


(Discurpa, mas ieu num pudi arresisti…)

A gota d’água

Há apenas dois dias recebi (assim como uma grande quantidade de internautas) um texto chamado “É assim que me sinto, e você?”, supostamente de autoria de Arnaldo Jabor. Pelo próprio palavreado chulo utilizado, de imediato já daria pra quaisquer pessoas – até as menos esclarecidas – perceberem que o texto é um embuste. Pra mim trata-se de mais um dos famosos casos de autores apócrifos que não têm a coragem de sequer sustentar a própria palavra e procuram nomes famosos numa tentativa de dar credibilidade a pensamentos ignóbeis.

Mas, pior que isso, são as pessoas que crêem piamente em tais lorotas e ajudam a difundir pela Internet como se fosse a mais sagrada verdade…

Não, não vou reproduzir o tal texto aqui. Basta dizer, numa apertada síntese, que o autor desceu a lenha no Lula (num nível de xingamento, mesmo), dizendo que vota no outro candidato porque ele (autor) não recebe nenhum dos benefícios sociais do governo, apenas se considera um “fornecedor de dinheiro” e, em suma, tem vergonha de morar neste país.

Acontece que minha amada, idolatrada, salve salve Dona Patroa também recebeu esse texto. E enfureceu-se (como ela tem 1,53m de altura, e como todos sabem que baixinhos são invocados, bem… dá pra imaginar, né?). Simplesmente reduziu a termo toda sua indignação e postou de volta pra lista de todos que haviam recebido o tal texto.

Abaixo transcrevo essa resposta:

Como estamos num país democrático, discutir é salutar, ao contrário do colega que se manifestou abaixo, discordo da sua posição por vários motivos: A sociedade é como um corpo humano, se um dos membros padece, todo o resto vai mal, porque queiramos ou não, fazemos parte de um todo. Já se perguntou o porquê da violência, da criminalidade, etc? É porque a grande parcela da população é pobre ou miserável, não tiveram a oportunidade de estudar, ter um emprego decente, e como vc mesmo disse, sequer tem alguma cultura discernitória. E o que cabe à quem detêm o poder? Ao menos amenizar o grande abismo da desigualdade social, estamos num país onde muitos poucos detêm riqueza e a grande maioria sequer tem acesso a atendimento básico como saúde e educação. Apoio o governo petista, não porque seja Lula, até porque um partido não se faz só de uma pessoa, mas de um conjunto de ideologias, e a ideologia do PT não se restringe a um José Dirceu, ou qq maçã podre que sempre tem no meio. Mas ao ideal de uma sociedade mais justa, onde a riqueza seja distribuída, onde a pequena classe de privilegiados não seja apenas o opressor e explorador, onde o governo seja interventor para que o povo tão sofrido e desprovido de quaisquer recursos, sejam eles materiais, educacionais, institucionais, seja o agente ao menos atenuador do sofrimento do povo, e creia-me meu amigo, as pessoas simples que moram no sertão do nordeste ou nas favelas de São Paulo não o são por opção, mas sim por falta de opção. O governo deve prezar para que o povo tenha um mínimo de dignidade, que a educação, principalmente, deve ser acesso de todos, para que o povo tenha o discernimento, inclusive político. E numa progressão continuada como o do Estado de São Paulo, onde crianças se formam no colegial, analfabetas (e isso é fato), onde os professores não tem sequer autoridade para educar seus alunos, a coisa vai mal, muito mal. Se todos não deixássemos de olhar o seu próprio umbigo, e olhar para o corpo todo, não precisaríamos morar em casas com grades, com uma espécie de toque de recolher. Talvez os bandidos que estão a sua espreita, ou o menino de rua que lhe pede trocado, lhe incomodando, estivessem trabalhando e produzindo se toda a sociedade contribuísse para que o acesso aos meios de seu desenvolvimento lhe fosse permitido. Sim, apoio o Lula, porque nesse país de miseráveis, nunca houve tantos programas sociais para que todos os membros da nossa sociedade tenham o direito de estudar, comer, ser atendido na saúde. Caso vc não se lembre, até um tempo atrás, o finado INPS só tinha acesso quem pagasse a previdência, a Universidade pública era somente para aqueles que tinham condições de pagar uma escola particular e o caríssimo cursinho vestibular; é preciso sim, interferência do governo, porque sem isso, o abismo da desigualdade social só tende a crescer, e vc terá que colocar mais grades na sua janela. Pense menos no seu umbigo e pense mais no social”.

ELIANA MIEKO MIURA

Lúcida. Ferina. Brilhante.

E aí? Deu pra entender o porquê amo tanto essa baixinha?…

Sinal dos tempos

Um dos momentos em que você percebe que está ficando velho é quando fala de seriados e desenhos antigos da tv que ninguém mais se lembra. Entretanto, você tem certeza que está ficando velho quando acha na Internet esses seriados e desenhos e quase tem uma síncope de felicidade. Com lágrimas de alegria pairando em seus olhos, você contempla aquelas imagens e pensa: “afinal de contas existiam mesmo…”

Pois é. Apesar de ter passado por ele por mero acaso, foi mais em função da sempre curiosa amiga Milena que acabei descobrindo o site http://www.infantv.com.br, onde encontrei não só imagens mas também explicações detalhadas de muitos dos desenhos que eu cresci assistindo. Tem realmente MUITA coisa por lá – até mesmo o jingle das balas Kids (vamos lá, quem se lembrar que cante: “roda, roda, roda baleiro, atenção…”).

Taí um pequenino rol de dez dos desenhos que eu adorava na minha mais tenra idade, sendo que, inclusive, alguns eram da extinta TV Tupi (tá, tá, já sei, tô velho…). Foi difícil fazer uma lista tão concisa, deixando de fora algumas pérolas como Speed Racer e A Pantera Cor-de-Rosa, mas busquei falar daqueles que quase ninguém mais se lembra…

Pela ordem: Super Dínamo, que praticamente só eu me lembro; Sawamu, que também tinha sua musiquinha (“ele se julgava o demolidor…”); A Princesa e o Cavaleiro, com as aventuras da Princesa Saphire, Nylon, Duque Duralumínio, etc; O Judoka, um que até eu já estava me esquecendo; Fantomas, onde tinha o Zeeeeeeroooo; Don Drácula, que, tenho certeza, passava na também extinta Rede Manchete; George, O Rei da Floresta, um desenho totalmente non-sense que ganhou uma excelente versão cinematográfica com Brendan Fraser; Bom-Bom & Mau-Mau, que tinha tiradas curtas, hilárias e sacanas; Mr. Magoo, o velhinho bem-humorado, sortudo e quase que cego (também ganhou uma boa versão cinematográfica com Leslie Nielsen); e, lógico, Batfino, cujo bordão era “suas balas podem me atingir, mas minhas asas são como uma couraça de aço” (esse foi pra você, Bica).

Revendo essa querida lista percebi uma coisa. A maioria dos desenhos que eu adorava era de origem japonesa. Será que eu já tinha essa tendência pra gostar de uma coisinha oriental desde pequeno?… 😉

Questão de meio ambiente

E então meu filhote mais velho tem que fazer uma tarefa para escola referente aos animais em extinção. É lógico que este pai sempre zeloso – após um ligeiro trabalho de convencimento por parte da Dona Patroa (tudo bem, devo parar de mancar em poucos dias) – se pôs à disposição do petiz.

Com uma idéia na cabeça, uma vontade no coração e o Google à mão, rapidamente localizei a página do Ministério do Meio Ambiente, a qual traz um pequenino texto (!) sobre o tema, bem como uma lista enoooooorme dos animais ameaçados de extinção, lista essa dividida em diversas categorias, tais como vulnerável, em perigo, criticamente em perigo, etc.

Não se preocupem. Eu tenho noção de que a tarefa é DELE e tem que ser feito com as palavras DELE. Sentamo-nos ontem à noite e, seguindo mais ou menos o roteiro do texto, expliquei seu teor com palavras inteligíveis a uma criança de sete anos; ou seja, falei sobre como funciona um ecossistema, sobre a extinção das espécies – com uma pincelada acerca dos dinossauros (essa parte ele adorou), sobre os atos do ser humano que podem causar extinção dos animais, quer seja por destruir os bichinhos ou seu habitat – isso eu não precisei explicar, ele já sabia – quer seja por introduzir novas espécies num local estranho. Enfim, ressaltei a importância de se manter um ecossistema equilibrado. Tudo isso pra que ele recontasse com suas próprias palavras as impressões que guardou da “aula”.

O porquê deste post? Sinceramente não sei. Acho que nunca dei real importância a essa coisa de meio ambiente. Mas ali, ao explicar ao filhote todos os detalhes dessas coisas que são até óbvias, e dando exemplos compatíveis com sua cabecinha, pintou um quê de preocupação. Acho que deve ter sido pelo fato de que alguns dos exemplos que dei dizem respeito a situações próximas, as quais presenciei ou vivenciei. Isso acaba por tornar o enfoque meio que diferente. Acho que não vou conseguir mais ver essa questão ambiental com aquele distanciamento seguro e confortável que até então eu ostentava.

Pois é. Como já dizia o filósofo: “normalmente ensinamos melhor aquilo que mais precisamos aprender”