Politicamente incorreto

O texto a seguir é um pequeno exemplo da criatividade elevada a sua enésima potência… Seu autor, Marco Aurélio Gois dos Santos, do site Jesus me chicoteia, vem fazendo uma sátira da Bíblia desde o Gênesis. Ah, e sim, tenho certeza ABSOLUTA que os mais carolas vão se sentir ofendidos não só com esse texto, mas com tudo o mais que estiver lá.

Ainda assim o bom humor do politicamente incorreto é inegável…

NOÉ

Se logo na sua segunda geração a humanidade já promovia tamanha zona, imaginem a esculhambação depois de dez gerações. E olhe que neguinho vivia muito naquela época. Adão, o primeiro homem, viveu 930 anos! Enoque, que deve estar lá pela sétima geração, viveu 365 anos e foi levado pro céu sem morrer, e seu filho, Matusalém, viveu 969 anos. E pensar que hoje em dia chamamos qualquer um que chegue aos oitenta de Matusalém, pobres velhinhos…

Mas é de Noé que quero falar. Noé é o décimo dos patriarcas, como podemos ver naquelas intermináveis genealogias bíblicas que parecem o Para Todos do Chico Buarque, com Noé cantando: O meu pai era Lameque/Meu avô, Matusalém/ O meu bisavô, Enoque/ Meu tataravô, Jarede, bom vocês já sabem onde isso vai parar, dez caras que viveram pra cacete em ordem cronológica inversa até Adão.

Quando Noé estava com 500 anos (recém saído da adolescência, portanto), deus o chamou para tomar umas e conversar. Perguntou da patroa, das crianças, Noé disse que Sem, Cam e Jafet eram os filhos que ele tinha pedido a deus, aliás queria muito aproveitar a ocasião para agradecer, e sua família, seu deus, como é que vai? E deus disse que não tinha família, aliás, tinha um filho, mas era uma carta que ele queria jogar só em último caso, o que levava ao assunto que o trouxera até ali: Estava arrependido de ter criado o mundo e a humanidade, os homens portavam-se de forma escandalosa, matavam-se uns aos outros, enganavam-se, traíam-se, blasfemavam contra deus, e aposto cem ovelhas com você como botaram água nesse ketchup. Resumindo, deus resolvera destruir tudo com uma grande inundação, matar todo mundo afogado. Mas Noé era um cara legal, boa praça, e deus determinara que ele seria o pai da nova humanidade.

Pegou um guardanapo e começou a desenhar: “Tá aqui, ó. Você vai construir essa caixa grande, botar uma porta, uma janelinha, uma rampa e encher a caixa com um casal de cada espécie de todos os animais”. Noé olhou o desenho, olhou pra deus pra ver se ele não estava brincando, olhou pro desenho de novo, coçou a barba e disse “Tudo bem”. Deus ficou muito feliz, pediu outra rodada e deu um prazo de cem anos para que Noé concluísse a empreitada.

No dia seguinte, com mil britadeiras dentro da cabeça e uma sede que dava vontade de beber todo o dilúvio, Noé se deu conta da sinuca de bico em que havia se enfiado. Era tarde demais para lamentar, no entanto, então chamou os filhos e perguntou o que eles achavam de um cruzeiro marítimo só de casais. Os três, claro, acharam supimpa. “Então peguem as ferramentas, que vamos construir o raio do barco”.

E passaram-se cem anos. Na hora de botar os animais dentro da arca, Noé percebeu que ali é que começava o trabalho de verdade. Tomou um porre homérico, embora Homero nem sonhasse em nascer naquele tempo, e foi pegando uns bichos a esmo. Pegou uns cachorros, umas cabras, umas vacas, galinhas, enfim, esses bichos de criação. Deus olhou lá de cima, viu que era trabalho demais pro cara e resolveu dar uma força. Sabia que seria impossível, por mais que quisesse, enfiar tudo quanto era animal na tal arca de Noé. Então fez uma seleção dos bichos que mais gostava, botou todo mundo em fila e foram entrando na arca.

Bom, é claro que na arca já viviam os animais de sempre, cupins, formigas, traças, lesmas, baratas de todos os tipos, ratos. E os animais carregavam suas pulgas, carrapatos, vermes. Com essa nem deus contava.

Mas o negócio é que começou a chover, inundou tudo e Noé, sua esposa, seus filhos e suas noras passaram 40 dias navegando sem rumo. Depois desse tempo, as águas começaram a baixar e a arca encalhou no monte Ararat, na Armênia. A família ainda levou um tempo para sair, pois tinham uma partida de pôquer para terminar (“Ninguém sai! Ninguém Sai!”). Mas acabaram por sair, pois precisavam repovoar a terra. Além do mais, o cheiro da bicharada tornava-se insuportável.

Saíram e deram de cara com o arco-íris no céu. Deus explicou a Noé que aquele arco representava o pacto que ele fazia com a humanidade a partir de então, de nunca mais destruir a terra pelas águas (inventando aí, de quebra, o contrato com letras miudinhas: “O que não me impede de, quando me der na telha, destruí-la pelo fogo, pelos terremotos, pela fome, pela peste ou outro meio que me aprouver”).

Todos viveriam felizes, se Noé meses depois não plantasse uma vinha, enchesse a cara mais do que nunca e amaldiçoasse um de seus filhos. Viu deus que tudo recomeçava, fez “tsk, tsk, tsk” e começou a se arrepender de novo. Ah, e Noé viveu até os 950 anos.

Versões

Volta e meia recebo algum texto cuja autoria é creditada a Luís Fernando Veríssimo. Já, há muito, aprendi a duvidar desse tipo de informação. O texto a seguir é mais um desses…

Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido.

Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito “sim”, dito “não”, ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste… Agora mesmo neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz – aliás, o nome do bar é Imaginário. Sentou um cara do meu lado direito e se apresentou:

– Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo.

E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo.

– Por que? Sua vida não foi melhor do que a minha?

– Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei a seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia…

– Eu sei, eu sei… disse alguém sentado ao lado dele.

Olhamos para o intrometido. Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que nós. Ele continuou:

– Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.

– Como é que você sabe?

– Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como mandei para o ataque com tanta perfeição que fizemos o gol da vitória. Fui considerado o herói do jogo. No jogo seguinte, hesitei entre me atirar nos pés de um atacante e não me atirar. Como era um “herói”, me atirei.

Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido nos pés do atacante…

– Ele chutaria para fora.

Quem falou foi o outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se apresentou:

– Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença. Não seria gol. Minha carreira continuou. Fiquei cada vez mais famoso, e agora com fama de sortudo também. Fui vendido para o futebol europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na Europa.

Embarquei com festa no Rio…

– E o que aconteceu? perguntamos os três em uníssono.

– Lembra aquele avião da VARIG que caiu na chegada em Paris?

– Você…

– Morri com 28 anos.

– Bem que tínhamos notado sua palidez.

– Pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo…

– E ter levado o chute na cabeça…

– Foi melhor, continuou, ter ido fazer o concurso para o serviço público naquele dia. Ah, se eu tivesse passado…

– Você deve estar brincando – disse alguém sentado a minha esquerda.

Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e desanimado.

– Quem é você?

– Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.

Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas por versões de mim no serviço público, uma mais desiludida do que a outra.

As conseqüências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas, pequenas traições, promoções negadas e frustração.

Olhei em volta. Eu lotava o bar.

Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto, ali, era eu mesmo. O barman fez que sim com a cabeça, tristemente.

Só então notei que ele também tinha a minha cara, só com mais rugas.

– Quem é você? perguntei.

– Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.

– E?

Ele não respondeu.

Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo …

“As dez mais”

Numa conversa de ontem estávamos – pra variar – falando mal da vida alheia… Aí me lembrei de um e-mail que tinha escrito e enviado já há algum tempo sobre o tema em questão. Fuçando nas catacumbas de meu computador, achei-o! Foi enviado originalmente em 25/05/2004, pontualmente às 17h05min. Assim, ipsis litteris, direto do Túnel do Tempo, ei-lo:

Muitas vezes nós meros mortais ficamos chateados (pra não dizer emputecidos) com algumas atitudes tomadas pelos profissionais do departamento de informática.

Mas acontece que o que ninguém sabe é que existe um treinamento secreto padrão ao qual todos são submetidos antes de começar qualquer tipo de atendimento.

Assim, visando esclarecer alguns pontos controversos na prestação de serviços por parte dos profissionais de qualquer departamento de informática de qualquer empresa, seguem algumas explicações.

Todo profissional de atendimento enquadra-se, basicamente, em dois tipos:

a) “Testemunha de Jeová”. Senta em seu computador e NUNCA MAIS sai. Clica daqui, clica dali, abre janela, fecha janela, reinicia a máquina, começa de novo e… nada. Não adianta implorar, chorar, espernear, gritar, ou ameaçar. Somente após testar todas as possibilidades (como se verá a seguir) é que – talvez – ele devolva sua máquina para utilização. E ainda assim a deixará desfragmentando ou passando um anti-vírus, o que, segundo ele, não poderá ser interrompido em hipótese alguma, senão ele não se responsabiliza.

b) “Mocinha da Zona Azul”. Não adianta procurar. Não adianta ligar. Não adianta esperar. NUNCA vai aparecer ninguém, a menos, é lógico, que você saia de sua sala – que é quando alguém PODERÁ aparecer e dizer: “Ué, não tem ninguém aqui? Mas avisa que eu vim, tá?”.

Fora isso, temos os dez posicionamentos padrão que são adotados sempre que seu computador está com problemas:

1. “É vírus.”
2. “Já reinicializou a máquina?”
3. “É, tá muito estranho. Depois do Scandisk vou desfragmentar pra ver se resolve…”
4. “É que caiu a rede.”
5. “Ah! O problema é que esse programa não é original.”
6. “A placa está com problema.”
7. “Quem foi que mexeu na configuração?”
8. “Vamos ter que enviar para manutenção.”
9. “Com certeza o problema não é aqui. Deve ser no servidor deles.”
10. “É que a rede tá com vírus.”

Particularmente, hoje eu acrescentaria mais dois posicionamentos:

11. “Ah, o seu é Linux? Então vou ter que chamar outra pessoa.”
12. “Vai ter que formatar…”

Virus Genealogicus

E, pra quem não sabe, há anos venho montando a árvore genealógica de nossa família. Já consegui muito material e informação, não só relativo aos parentes atuais, como também dos antepassados. E olha que isso não é pouco, considerando que meu pai é o mais velho de doze irmãos, que meu avô materno se casou três vezes, assim como meu bisavô (também três vezes), sendo que só de um desses casamentos teve dezoito filhos.

Na linha direta dos “Andrade”, por enquanto, consegui rastrear até fins do século XVII, e nas linhas auxiliares já cheguei na Idade Média. Ainda preciso explorar mais o lado da Dona Patroa, pois ela é descendente legítima de verdadeiros samurais da época feudal do Japão – acho que isso explica seu temperamento…

Sim, isso é coisa de doido. É um hobbie que não tem fim. Mas não tem como explicar. A esse respeito, do muito que já li em diversos textos e obras me identifiquei com o posicionamento do Padre Reynato Breves, no artigo Novas Revelações da Genealogia, publicado no Jornal da Cidade, de Barra do Piraí, em sua edição de 12 de setembro de 1998. Diz o seguinte:

Há pessoas que não apreciam ‘Genealogia’, não se interessam por saber quem é seu avô, bisavô ou trisavô; não querem saber de onde vêm, quais são os seus ascendentes. Ora, a Genealogia é a Ciência da nossa racionalidade, da marca indelével das nossas origens; diz de onde viemos, diz quem somos, diz quais são as nossas raízes, mostra-nos a nossa importância. A Genealogia exige paciência, perseverança e intercâmbio, mostra a necessidade da comunicação com outros Genealogistas e causa grandes surpresas e grandes emoções. Enfrenta grandes obstáculos, terríveis barreiras, surpreendentes interrogações. A Genealogia é uma paixão e quem nela entra dela não sai mais. A Genealogia é amor; amor aos antepassados. A Genealogia é gratidão; gratidão aos que nos antecederam nesta vida. A Genealogia é memória imperecível. A Genealogia quase se confunde com a Heráldica. A Genealogia atesta a importância de uma Família. A Genealogia é como o Livro; conserva a memória das gerações passadas contra a tirania do tempo e contra o esquecimento dos homens, que ainda é a maior tirania, e enaltece as gerações hodiernas. A Genealogia move os ânimos e causa grandes efeitos.

Pois é. Ainda voltaremos a falar sobre isso por aqui…

Horror, horror, horror!

Empregador é condenado por exibir partes íntimas ao empregado

Publicado em 4 de Julho de 2006 às 15h58 no clipping da Síntese Publicações

Em audiência realizada no dia 28/06, o Juiz do trabalho, Marcelo Segal, da 26ª VT/RJ, julgou procedente o pedido de indenização por dano sofrido pelo empregado, em decorrência da prática dolosa do empregador contra a sua moral.

Na inicial, o autor afirmou que era maltratado pelo gerente da empresa e pelo titular da acionada, que “tinha o péssimo hábito de mostrar seu pênis em estado rígido para o autor e demais empregados, com a finalidade de se exibir, dizendo sempre que possuía uma enorme hérnia”.

Ao prestar depoimento, a testemunha da própria empresa confirmou os fatos ao dizer que o titular da empresa ficava excitado diante dos empregados, mostrando o seu órgão sexual a todos e que isto era feito para descontrair o ambiente. Não vejo nada demais nisso,- declarou. Em sua defesa, a empresa negou todos os fatos.

De acordo com Marcelo Segal, se o titular da empresa tem uma atitude desse quilate, não espanta que seu gerente seja a pessoa cruel que destrata e humilha os empregados. No mais, a testemunha do empregado, confirmou integralmente os fatos descritos em relação a ambos (gerente e titular da empresa).

Para o magistrado, pelo aspecto jurídico, danos morais são lesões sofridas pelas pessoas em algum aspecto da personalidade. Traduzem-se, via de regra, em constrangimentos, dores íntimas ou situações vexatórias. É de clareza o dano intencionalmente praticado contra a moral do reclamante, que se obrigou através de contrato a labutar nas tarefas para as quais foi contratado. Porém, o empregado não pode se ver obrigado a periodicamente deparar-se com as partes íntimas de seu patrão.

Sentenciou o Juiz pela existência do dano moral, e acrescentou que “a condenação também poderá se revelar um poderoso impotente sexual, o que também atende aos reclames da justiça, ainda que por via reflexa”. Na decisão, a empresa foi condenada ao pagamento de indenização fixada em R$ 10.000,00 (dez mil reais) em favor do reclamante. (dados do processo não informados na fonte)

Fonte: Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região

E não é que Orwell tinha razão?

Página no Orkut é citada em decisão que negou assistência judiciária gratuita

Publicado em 30 de Junho de 2006 às 13h40 no clipping da Síntese Publicações

“Verifica-se que a situação financeira dos agravantes (…) efetivamente não é verdadeira – isso porque, quem passa por dificuldades financeiras, evidentemente, não tem condições de efetuar viagens ao Velho Continente anualmente, consoante demonstram as fotos obtidas no site www.orkut.com (…) em cidades como Veneza, em junho de 2005 e 2006, e Paris em junho de 2005”. A Desembargadora Elaine Harzheim Macedo assim considerou e depois arrematou em seu voto: “Ou seja, para se valer do erário público, não há condições financeiras, situação diversa quando se trata de viagens à Europa”.

A magistrada, entendendo que não houve comprovação da necessidade de assistência judiciária gratuita, havia negado seguimento ao recurso contra a decisão da Justiça de Esteio que indeferira o pedido de um casal que discute a compra e venda de um imóvel. Contra a decisão, as partes propuseram recurso ao Colegiado da 17ª Câmara Cível.

O entendimento da Desembargadora foi acompanhado pelos Desembargadores Alexandre Mussoi Moreira e Alzir Felippe Schmidt. (dados do processo não informados na fonte)

Fonte: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

Curiosidades

E o que fazer num feriado prolongado? De minha parte tive que acertar algumas pendências da vida profissional, bem como resolvi também colocar parte da leitura em dia. Assim, pude ler (na verdade dar uma passada crítica d’olhos) cerca de 4.000 mensagens pendentes das listas de discussão de genealogia das quais participo. Também rendeu uma pequena (até que enfim!) atualização do site, especificamente no link O BUCÉFALO, onde coloquei mais algumas dicas para quem gosta de escrever.

E, com tanta leitura, obtive algumas pérolas de curiosidades, que nunca interessam a ninguém, mas que me ajudam a manter o título de “Príncipe da Cultura Inútil” – entendo que a coroa ainda é do meu amigo e recém-pai, Sylvio…

1. Genealogia de verdade

Para os bantos (ou mesmo não-bantos, como os iorubas da Nigéria que ocuparam a Bahia), a linhagem é tudo – os ancestrais perduram nos vivos e a reencarnação ocorre no clã, o avô reencarnado no filho e nos netos – até quando ainda vivo.

2. Índio, de bobo, não tem nada

Entender a linha dos índios e adaptar conceitos para promover o cristianismo nos trópicos não foi suficiente para os jesuítas portugueses e espanhóis serem assimilados. Encontraram muita resistência pela frente. Eles precisavam procurar os detalhes, as nuances e as expressões que evidenciassem a superioridade católica. Nem sempre conseguiam.

Uma manhã os caciques dos charruas procuraram o missionário de plantão para dizer que não queriam nada com um Deus que “vê tudo e sabe tudo o que nós fazemos”. E foram embora, deixando o jesuíta com cara de bobo. Com sincera surpresa e muitas risadas, os índios da fronteira do Brasil com o Paraguai se deram conta de que estavam fadados ao inferno, quando foram os brancos que mataram Jesus Cristo. O crime não era deles, afinal. E quando alguns tupis e guaranis descobriam que, após a morte, os portugueses e os espanhóis também iriam para o céu, perdiam o interesse na ressurreição. Não queriam tal companhia por toda a eternidade.

3. Guinada de 180 graus

O termo “abrigo” significava “estar exposto ao sol” nos tempos do imperador Nero, o exato oposto do sentido atual dado à palavra. O termo vem de apricare (aquecer ao sol), que por sua vez gerou apricus (exposto ao sol para retirar a umidade). Com o tempo, a idéia deslizou para o sentido mais específico de “pôr em lugar seguro” e, por fim, o de “agasalhar, proteger”.

4. Língua Brasílica

O Brasil tem cerca de 180 línguas nativas que ainda são usadas. Já foram mais de 1.200 no século 16. O tupi reinava nos primeiros séculos de Brasil. Deu a primeira unidade nacional até o século 17. Numericamente inferior e tendo de relacionar-se e tocar negócios com os índios, o colonizador passou a usar tupi, mas ao seu modo. Os invasores europeus passaram a usar um dialeto prático para a comunicação imediata, misto de português e tupi, o tupinambá, língua geral, brasílica ou nheengatu. No século 17, acredita-se que só dois de cada cinco moradores da cidade de São Paulo falassem português. Em meados do século 18 só um terço da população usava o português e todos eram bilíngues.