Namore um cara que lê

Namore um cara que se orgulha mais da biblioteca que tem, que do carro, das roupas ou do penteado. Ele também tem e se interessa por essas coisas, mas sabe que não é isso que vai torná-lo interessante aos seus olhos. Namore um cara que tenha uma pilha de quatro ou doze livros na cabeceira e que lembre com carinho do nome da professora que o ensinou as primeiras letras. Namore um cara que tem uma lista de livros que quer ler e que ainda possui aquele mesmo cartão de biblioteca desde que tinha doze anos – mesmo que, hoje, prefira ter seus próprios livros.

Encontre um cara que lê. Não é difícil descobrir: ele é aquele que tem a fala mansa e os olhos inquietos. Ele é aquele que sempre entra numa livraria, ainda que só para olhar um bocadinho. Você vai reconhecê-lo na figura do sujeito que olha com carinho e ternura para as prateleiras da livraria, o único que surta (ainda que em silêncio) quando encontra o livro que quer. Você está vendo um cara estranho cheirar as páginas de um livro antigo em um sebo? Esse é o leitor. Nunca resiste a cheirar as páginas, especialmente quando ficaram amarelas.

Ele é o cara que não tem medo de se sentar sozinho num café, num bar, num restaurante. Mas, se você olhar bem, ele nunca está sozinho: tem sempre um livro por perto. O rosto pode ser sério, mas é só porque está absorto, provavelmente perdido em um mundo criado pelo autor. Sente-se na mesa ao lado, estique o olho para enxergar a capa, sorria de leve. É bem fácil saber sobre o que conversar.

Pergunte se ele está gostando do livro. Descubra que outros livros que ele já leu. Fale sobre sobre alguns novos lançamentos e de novas traduções que andam saindo por aí. Mas entenda que se ele quiser começar a lhe explicar como deve ser compreendida alguma obra complexa, isso é só para parecer inteligente. Neste caso, fuja. Um cara que realmente lê não precisa ser chato, muito menos arrogante. Caso contrário, pergunte o que mais ele está lendo – e tenha paciência para escutar, a resposta nunca é assim tão fácil…

É fácil namorar um cara que lê. Ofereça livros no aniversário dele, no Natal e em comemorações de namoro. E até mesmo no Dia das Crianças – por que não? Afinal, um cara que lê jamais abandona aquela pontinha de vontade de entrar num mundo de fantasia. Ofereça poesia, crônica, contos, histórias. Deixe que ele saiba que você entende que as palavras são amor. Normalmente, por tudo que já leu, ele vai entender um pouco melhor o seu universo. Entenda que ele sabe a diferença entre os livros e a realidade mas tenha certeza que ele vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco como seu livro favorito. E se ele conseguir não será por sua causa, mas porque ele é assim. Não sabe ser de outro jeito.

Por isso seja você mesma, você mesmíssima, porque ele sabe que são as complicações, os poréns, os porquês, que fazem uma grande heroína. Um cara que lê pode vir a enxergar em você todas as personagens de todos os romances.

E você também ganhará um ou outro livro de presente. No seu aniversário ou no Dia dos Namorados ou numa terça-feira qualquer. Não existe um padrão. E já fique sabendo que o mais importante não é bem o livro em si, mas o que ele quis dizer quando escolheu justo aquele. Um cara que lê não dá um livro por acaso. E escreve dedicatórias. Sempre.

Um cara que lê não tem pressa, sabe que as pessoas aprendem com os anos, que qualquer um dos grandes autores tem parágrafos ruins, que alguns começaram a escrever já velhos, que outros melhoram a cada romance, que sempre existirão aqueles famosos que podem soar sem sentido e que para chegar ao final de algumas obras é necessária muita paciência. Os caras que leem sabem que as pessoas, tal como os personagens, evoluem.

Ao conviver com um cara que lê você corre o risco de encontrá-lo acordado às duas da manhã, irrequieto e desconfiado, talvez até andando de um lado para outro; pode procurar, pois certamente haverá algum livro aberto por perto. Prepare um café, deixe-lhe um beijo e tudo certo. Entenda que de vez em quando ele precisa de um tempo sozinho, mas não é porque quer fugir de você. Você pode perdê-lo por um par de horas, mas ele sempre vai voltar para você. E falará como se os personagens do livro fossem reais – até porque, durante algum tempo, são mesmo.

Ao namorar com um cara que lê, você vai sorrir tanto, terá tanto contentamento, que acabará por se perguntar por que é que o seu coração ainda não explodiu lá dentro do seu peito. Ele não só vai transformar sua vida numa história, como também vocês escreverão a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos mais estranhos ainda. Ele vai apresentar aos seus filhos os personagens de vários mundos de fantasias – provavelmente misturando-os todos. Não por não conhecer as histórias, mas só pelo prazer de arrancar um brilho dos olhos e um sorriso dos lábios dos pequeninos. E do seu, também. Vocês vão atravessar juntos os invernos de suas velhices, e ele recitará poemas enquanto, enrolados num cobertor, saboreiam um chocolate quente. Ou, talvez, chá.

Enfim, namore um cara que lê porque você merece. Merece um cara que pode lhe proporcionar uma vida mais colorida do que você possa imaginar. Por vezes com a força envolvente dos grandes romances e por vezes com a beleza singela dos melhores poemas. Mas se você quiser uma companhia superficial, uma coisinha só para quebrar o galho por um tempo, então talvez ele não seja a melhor escolha. Então talvez seja até melhor ficar sozinha. Mas se quiser o mundo e outros além, em especial aquela parte do “e eles viveram felizes para sempre”, não tenho dúvidas: namore um cara que lê.

Ou, melhor ainda, namore um cara que escreve.

Rosemary Urquico escreveu
“Namore uma garota que lê”;
Gabriela Ventura traduziu e adaptou;
Bruno Palma e Silva fez uma adaptação
para “Namore um cara que lê”;
e eu adaptei a adaptação do jeito que quis…

Cinéfilas Valtinescas

Essa é mais uma daquele excelente fotógrafo lambe-lambe (que odeia ser chamado assim), uma das pessoas mais foras de série que eu conheço. Para não expor sua verdadeira identidade vamos chamá-lo de Valtinho

É o único que com suas tiradas tem o poder de transformar um simples conversê de dia-a-dia num memorável proseio, dando sabor as olhos e um verdadeiro colírio para os ouvidos!

E eis que o parceiro de trabalho comenta que assistiu o filme Jurassic World numa, digamos, “cópia para avaliação perpétua” que não estava lá muito boa. E o caboclinho, todo solícito, já solta que também tem esse filme e, que se quisesse, poderia emprestar.

– Mas Valtinho, diga lá: essa cópia é dublada?

– Ih, cara, não. Ela é legendária!

– Ai! Tá bom, tá bom… Mas e você? Gostou do filme?

– Ah, eu não assisti tudo não mas pelo que eu vi na sinapse parece que é muito bom!

– Caramba, Valtinho!

– Aliás, dia desses assisti um filme muito bom também, das antigas. Aquele dos ventos ruivantes

– Cê tem certeza que era esse o nome?

– É sim! É aquele que tem aquela cena daquela moça que segura na mão a terra vermelha de Tara!

– Valtinho! Esse aí é outro filme! Esse é “E o vento levou”!

– Ih, cara! Será?…

A essa altura do campeonato já deu pra perceber que ele é um caso perdido…

Aliás, outro dia numa apresentação de todo o pessoal do trabalho, ainda teve outra do Valtinho, mas sem o Valtinho. Um por um lá foram eles dizer quem eram e o que faziam.

– Oi, eu sou o fulano e minha função é cuidar da área de jornalismo.

– Olá, eu sou o beltrano e minha função é cuidar da área de publicidade.

– Tudo bem? Eu sou o sicrano e minha função é cuidar das mídias digitais.

– Oi. Eu sou o peixano e minha função é cuidar do Valtinho

Tu-dum! Tsss…

A plateia vem abaixo e, rápido, cai o pano.

De si para si

Alexandre Zaballa Dias é geógrafo, funcionário do Tribunal de Justiça e trabalha com a Dona Patroa – não necessariamente nessa ordem de importância…

E não, ele não é o cara dessa foto aí de cima!

Dia desses ela me trouxe uma carta – na verdade, um par delas – que ele elaborou de si para si mesmo. Escrever uma carta para você mesmo no futuro é semelhante a uma cápsula do tempo: ficará arquivada, talvez escondida, aguardando seu eu do futuro recebê-la, talvez com mensagens de esperança, lembranças ou advertências sobre coisas importantes.

Da mesma forma, escrever uma carta para você mesmo no passado é uma forma de gerar reflexões importantes sobre sua própria vida, compreender melhor os rumos que o levaram até o dia (e a pessoa) de hoje e até mesmo inspirar outros indivíduos.

Mas, neste caso, o interessante não é só a carta que ele mandou para o amanhã, mas, também, que foi respondida!

Acompanhem com que leveza e objetividade ele desenvolve estes saborosos textos…

Caro Alexandre mais velho:

Aqui quem te escreve é o Alexandre de muitos anos atrás. O motivo desta mensagem é o seguinte: eu já sei o que quero ser quando crescer. Quero ser caminhoneiro. Amo viajar, contemplar as paisagens, ver a beleza que é o nosso país. A prova disso é que amo ir para a casa de nossa avó no Rio Grande do Sul, não durmo na viagem, sempre atento a tudo. Nossos irmãos são divertidíssimos, gostamos de brincar de tudo, às vezes brigamos, mas logo voltamos a brincar. Mudamos para esta cidade nova e na nova escola me apaixonei pela Fernanda, uma menina linda, quero muito namorar com ela e casar. Nossa mãe é muito brava, nos coloca para estudar a toda hora e fazer deveres de casa, como lavar louça, arrumar o quarto e varrer a casa. Detesto isso, acho que ela não me ama. Gosto muito de gibis, principalmente da Turma da Mônica. Nossos primos são muito legais, mas agora estamos em outra cidade, quase não os vejo. Nosso pai foi embora de casa, nunca mais o vi, tenho saudades.

É por isso que te escrevo, Alexandre-mais-velho. Para te esclarecer algumas coisas sobre o futuro. Em primeiro lugar, nunca deixe de ter um coração de criança, brincar com seus irmãos e primos, ler gibis da Mônica e sonhar. Envelheça parecido com nossos avós, que são super legais, faça coisas diferentes e seja muito feliz.

E, aqui, sua resposta!

Caro Alexandre mais novo:

É com muito desconforto que te escrevo essa mensagem. Para começar, só temos a nossa avó, mãe do nosso pai, os outros morreram. Dá pra acreditar? Sei que é uma surpresa, mas as pessoas morrem. Não adianta perguntar, não vou conseguir responder, mas as pessoas legais do mundo morrem. O fato é que não sou quem você esperava ser, não me tornei caminhoneiro. Aquela menina que você conheceu, a Fernanda, você foi apaixonado por ela até os 15 anos, um dia ela mudou (não sei para onde) e você nunca disse a ela o que sentia. Você se afastou da família do seu pai, passou 32 anos sem ver ninguém, acredita nisso? Dos nossos irmãos, cada um tomou um rumo e você só os encontra me ocasiões especiais. Sim, meu amiguinho, o tempo muda as pessoas. Você se casou e tem duas filhas, continua a ler gibis da Mônica, só que agora para elas – são maravilhosas! Sua mãe continua brava, mas agora você entende porque ela é assim. Apanhou muito dos pais que não queriam que ela estudasse. Ela, contrariando as expectativas, tem três graduações, pós, fala espanhol e está aprendendo inglês. Ela faz tudo isso com você porque te ama e quer o seu melhor. Por muito tempo você foi acomodado, não terminava nada que começava e ainda por cima carregou malas indesejadas como o rancor, ódio, frustração, não sabia perdoar. Você se separou, entrou em depressão, aí conheceu seu melhor amigo: Jesus.

Começou e terminou sua graduação, trabalha no Tribunal de Justiça em São José dos Campos, em um cartório maravilhoso, onde tem aprendido muito. Você agora tem sonhos palpáveis, você tem planos de crescer espiritualmente e financeiramente. Aprendeu que você só colhe o que planta, então você está semeando novas sementes. Não carrega mais pesos desnecessários e valoriza muito sua mãe, filhas e amigos.

Dia Nacional do Escritor – último dia!

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Sabiam que hoje é o Dia Nacional do Escritor?

E que, também, é o último dia de descontos de até 25% lá no Clube de Autores?

Estão esperando o quê? Se estavam por aí contando as moedinhas, agora tá fácil de comprar meus best-sellers pessoais:

* Filosofices de um Velho Causídico – São 400 páginas com a coletânea de textos e crônicas deste meu blog na qual, através dos tópicos Coisas de Casal, Criança dá Trabalho, Juridicausos, Vida Besta, Martelando o Teclado e Filosofices eu disponibilizo textos no geral curtos ou curtíssimos – só que às vezes não – onde falo um pouquinho da vida conjugal, da difícil arte de ser pai, de causos jurídicos, das bestagens que fazemos na nossa vida, de contos, pontos de vista, cultura inútil e coisas de antigamente, bem como também compartilho um tanto de elucubrações mentais que volta e meia passam por esta minha cabeça já atordoada por tanta vivência…

* Criança dá Trabalho – Essa criança que um dia você já foi – regra universal insuperável – é a mesma que existe em todas as casas de todo o mundo. Com a mesma imaginação, criatividade, brincadeiras, disparates, carinho sincero, risada solta ou até mesmo choro sentido. E é disso que tratam as mais de 100 páginas desse livro. Algumas aventuras e desventuras, contos, causos, situações, tiradas e sacadas que só teriam como existir saídos da convivência e da fértil imaginação desses pequeninos seres iluminados.

Diversão garantida ou… Bem, diversão garantida!

No boleto, depósito, cartão, parcelado – do jeito que quiserem!

E meu uisquezinho de final de tarde agradece… 😀

Candidata por candidata…

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Tudo começou com o beijocado do Vítor, meu sobrinho, filho de meu irmão.

Ele postou essa foto lá no Facebook e depois de muitos comentários, curtidas e gracinhas, a mãe dele me mandou essa mensagem: “Oi. Você viu o seu sobrinho? Sua cara!!! Não tem como não lembrar!!!”.

Explico.

Conheço a mãe dele desde as mais priscas eras, quando vivíamos num outro mundo e numa outra vida, ela ainda namorava meu irmão na adolescência e eu era a criança pentelha que vivia perturbando os dois… Crescemos todos meio que juntos e quando tinha lá meus vinte e poucos anos, ainda sem os cabelos grisalhos ou a barba branca dos dias de hoje (e com uns vinte quilos a menos), até que eu era um tipão… Assim como meu sobrinho atualmente, que, segundo dizem, é MUITO parecido com o meu eu daquela época.

A foto mais antiga que consegui encontrar barbado ainda assim já é com uns trinta e poucos anos anos – dez a mais do que ele, agora. Comparem:

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Mas esse ainda não é o ponto.

O ponto é que, de minha parte, também resolvi compartilhar a foto do meu sobrinho pimpão lá na minha timeline – até pra perguntar para o povo se realmente encontravam alguma semelhança – o que também rendeu sua cota de curtidas e comentários.

O interessante é que, offlinemente falando, comecei a ser assediado por “candidatas a sobrinha” das mais variadas espécies! Dentre elas, uma amiga, a Mohini, uma linda e alta morena, que após ver a foto do jovem mancebo, num tom divertido e com uma piscadela, me veio com essa:

“Chefe… Vamos combinar que eu sou a primeira da fila como candidata a sua sobrinha, tá bom?”

Rimos, trocamos comentários irônicos e tudo bem.

Bem, nem tudo.

Um pouco mais tarde, noutro departamento lá do trabalho, outra amiga – a Nenoca, outra linda e alta, só que loira – me veio exatamente com o mesmo comentário! Disse-lhe que sentia muito, mas a Mohini já tinha chegado antes. Ao que, nada boba, com sua carinha de lambeta, ela me saiu com essa:

“Bom, chefe, então tá bom. Mas acho que entre ser candidata a sua sobrinha e a Mohini ser candidata a minha sogra, prefiro ficar com a segunda opção…”

Ri litros.

Naquele mesmo instante já liguei pra Mohini e perguntei-lhe dessa disponibilidade. Tudo que ouvi do outro lado da linha foi:

“OI???”

(Nota: para quem não conhece, esse “oi” dela é um negócio meio que atordoado e definitivo, quando a pessoa parece querer ganhar tempo para uma resposta, mas, na realidade, é que o cérebro travou e ainda vai levar alguns momentos para voltar a pegar no tranco…)

Talvez vocês não estejam entendendo a graça disso tudo, não é mesmo? Bem, por mais que eu me esforce na escrita, não tem jeito: uma imagem vale mais que mil palavras. Confiram por vocês mesmo uma foto com o filhote da Mohini, um garotinho de tenros dezoito aninhos e raspando nos dois metros de altura…

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É… Acho que esse menino ainda vai dar trabalho…

Aliás, ambos! 🙂

Meu Mundo Perfeito

No meu mundo perfeito eu sou casado. Sim, pois por mais que eu goste de meus momentos de solidão, por mais que aprecie poder ter a paz de espírito de me largar em devaneios e sempre reavaliar tudo que ocorre à minha volta, ainda assim eu gosto de companhia. Gosto de poder acordar – ou ser acordado – logo pela manhã e ter alguém para ver, abraçar, aninhar. Gosto de ouvir e ser ouvido. Gosto de debater sem ser julgado. Gosto de fazer pequenas surpresas e de ser gentilmente surpreendido. Gosto de cuidar. Gosto de ser cuidado.

No meu mundo perfeito eu tenho filhos. Minhas crianças, sempre, não importa que idade tenham. São bonitos, inteligentes e amorosos. Gostam de perguntar, de tentar entender como o mundo funciona e apreciam a minha opinião acerca disso. São alegres, divertidos e espirituosos. E eu os amo profundamente – não porque são meus filhos, mas porque eu os criei, cuidei, sofri e me regozijei com cada pequenino novo momento e etapa de suas tenras vidas.

No meu mundo perfeito eu trabalho naquilo que gosto. E, curiosamente, não é preciso chamar isso de “trabalho”. Vejam só: eu faço aquilo que gosto, me dão condições mínimas necessárias para fazê-lo, tenho uma equipe capacitada e dedicada e ainda me pagam por isso? Não, realmente eu não tenho um trabalho e – definitivamente – não tenho um “emprego”. Eu faço aquilo que gosto e ponto final.

No meu mundo perfeito eu ganho o suficiente. Não preciso ser rico. Nunca quis isso. É necessário, sempre, ter limites para que saibamos que eles existem. Ganho o suficiente para sustentar o modo de vida que escolhi. Às vezes pode ter algum aperto daqui, alguma dificuldade dali, mas sempre existem saídas. Sempre é possível dar a volta por cima. Sempre.

No meu mundo perfeito eu tenho amigos. Não importa a idade, o credo, a cor, o sexo, a orientação sexual, o posicionamento político ou seja lá o que for. São amigos. Não estou falando de “colegas”, mas sim de amigos. Aqueles que me são fiéis na mesma proporção em que lhes sou, que me dão apoio e a quem apoio, que me escutam e a quem oriento, que tanto me divertem quanto lhes faço rir, sem cobranças, sem trocas, sem dedos em riste. Como diria Quintana: “a amizade é um amor que nunca morre”. Meus amigos são imortais.

No meu mundo perfeito nada é perfeito. Existem crises – para que as contornemos. Existem fracassos – para que possamos vencer. Existe tristeza – para que possamos nos alegrar. Existem brigas – para que nos reconciliemos. Existe dor – para que possamos ter alívio. Existem distâncias – para que nos reaproximemos. Existe ódio – para que possamos amar. Esse meu mundo é binário (por mais nuances que possam existir entre um limite e outro), pois para cada negativo haverá sempre um positivo. Basta que prestemos atenção o suficiente que conseguiremos enxergá-lo.

E então resolvo sair da utopia e encarar a realidade. E comparando meu mundo perfeito com essa imperfeita vida que levo, na qual reclamo, me entristeço, me revolto, me deixo levar, me deprimo e sabe-se lá o que mais pode caber dentro do coração e da cabeça de um ser humano, percebo finalmente a verdade que não está lá fora, mas aqui dentro: não existe mundo perfeito. Pois todos os mundos são perfeitos. Nós é que somos imperfeitos ao encarar nosso dia-a-dia e, muitas vezes, simplesmente não ter a coragem suficiente de relaxar, sorrir e compreender que o mundo perfeito daquele que está ao seu lado não é melhor ou pior que o seu, pois é dele e a ele pertence. E sim, a vida é um caos – mas de alguma maneira, no final, tudo sempre dará certo. E, chavão dos chavões, se ainda não deu certo é porque ainda não chegou no final.

E um dia de cada vez é o que temos que encarar.

Vivendo, cada qual, em seu mundo perfeito.

Imperfeitamente, é claro.